A casa dos Penhascos parecia respirar ao redor deles. Cada tábua do chão rangia como se fosse um aviso. Cada sombra nas paredes parecia observar.
Evelyn permanecia de pé diante da letra “R” pintada na parede. O vermelho já começava a escorrer, engrossando como sangue seco. Ela não piscava. Não tremia. Mas por dentro, era como se cada batida do coração ecoasse no peito com o peso de um trovão.
— Então o que fazemos agora? — Jules perguntou, cruzando os braços. — Saímos e fingimos que nada aconteceu? Porque essa fórmula deu super certo da última vez.
— A Evelyn tem razão — disse Rafe, ainda de pé. — Alguém está jogando com a gente. Mas o que essa pessoa quer... é que a gente se desestabilize. Divida. Brigue.
— Bom, parabéns pra ele então — retrucou Cassie, amarga. — Porque isso aqui já virou uma zona.
— Cass — disse Mila com cuidado — ninguém aqui está contra você.
— Não? — Ela se virou para Evelyn. — Então me diz por que você me olhou daquele jeito quando o Rafe falou que o culpado pode estar entre a gente.
— Porque eu desconfio de todos. Até de mim mesma — respondeu Evelyn, com uma franqueza gelada. — E se você não fizer o mesmo, pode ser a próxima a desaparecer.
A frase ecoou.
Ninguém respondeu. Só o som das ondas quebrando ao longe.
—
Meia hora depois, o grupo se dividiu para vasculhar a casa. Evelyn não gostava da ideia de se separar, mas algo em seu instinto dizia que ali dentro ainda existia alguma coisa. Um fragmento. Um erro. Uma pista.
Ela subiu as escadas devagar, os degraus gemendo sob seus pés. Tudo estava do mesmo jeito de um ano atrás. A poeira acumulada, os quadros tortos, os móveis cobertos por lençóis envelhecidos. Mas havia algo diferente naquela noite: a sensação de que alguém já estivera ali antes deles.
Ao passar pela porta do antigo escritório, Evelyn sentiu um calafrio. A janela estava entreaberta. A cortina balançava. E havia uma folha no chão. Sozinha. Fora de lugar.
Ela se abaixou e pegou.
Era uma foto.
Uma foto de Savannah.
O coração de Evelyn disparou. A imagem mostrava Savannah sorrindo em frente à escola, usando a jaqueta vermelha que ela sempre amava. Mas havia algo estranho no verso da foto.
Uma frase escrita à mão, em tinta preta:
> "Ela sabia demais. Mas agora, alguém sabe ainda mais."
— R.
Evelyn engoliu seco. Então ele esteve ali. R. esteve na casa. Talvez ainda estivesse.
Ela guardou a foto no bolso e correu escada abaixo.
—
Na sala, todos estavam reunidos novamente. Jules estava vasculhando uma pilha de livros antigos. Mila limpava uma moldura caída. Cassie mexia no telefone. Rafe, como sempre, observava em silêncio.
Evelyn entrou ofegante.
— Encontrei isso.
Ela estendeu a foto.
Cassie se aproximou.
— Isso tava onde?
— No escritório do andar de cima.
— Eu revirei aquele escritório antes da festa do ano passado — disse Jules. — Isso não tava lá.
— Então alguém deixou pra gente.
— E assinou com R. — murmurou Rafe.
Mila passou os dedos sobre a frase.
— “Ela sabia demais.” Quem ela? Savannah?
— Ou… outra pessoa? — sugeriu Jules. — Alguém antes dela?
Cassie balançou a cabeça.
— Isso tá indo longe demais. Eu me recuso a viver um filme de terror adolescente.
— Muito tarde pra isso — murmurou Evelyn.
Ela se aproximou da lareira. Observou os restos da festa de um ano atrás ainda espalhados pela casa: garrafas vazias, um tênis esquecido atrás do sofá, papéis amassados… memórias congeladas. E entre os papéis, algo chamou sua atenção.
Um envelope branco.
Ela o pegou com cuidado. Não tinha remetente, nem destinatário. Apenas uma letra escrita à mão na frente:
“Para Evelyn.”
— O quê… — sussurrou ela.
— Que isso? — perguntou Mila.
Evelyn abriu devagar. Dentro, havia uma única folha.
Sua caligrafia era reconhecível.
Era uma carta.
> “Eve, se você está lendo isso, é porque eu não consegui fugir.
Eu sei que você sempre foi mais esperta. Mas por favor, não tente fazer tudo sozinha.
Há coisas que você não sabe.
Coisas que ninguém sabe.
Ele está mais perto do que você imagina.”
— S.
— É da Savannah — Evelyn disse, com a voz embargada.
— Como assim? — perguntou Rafe. — Ela te escreveu uma carta?
— Eu… eu não recebi isso. Nunca vi isso. Alguém escondeu.
Cassie se aproximou.
— “Ele está mais perto do que você imagina.” — ela leu em voz alta. — Quem é ele?
— Alguém que a Savannah conhecia. E que a ameaçava — disse Rafe. — E que provavelmente ainda está aqui.
— Esperando a próxima chance — murmurou Mila, quase sem voz.
—
Naquela noite, o grupo deixou a casa em silêncio.
Evelyn guardou a carta no bolso do casaco. A foto, na mochila. Mas na mente dela, nada estava no lugar. Tudo estava prestes a ruir. Porque agora ela sabia com certeza:
> Savannah tentou avisar.
E eles não ouviram a tempo.
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Atualizado até capítulo 37
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