A manhã seguinte caiu como uma névoa sobre St. Augustine High. O céu estava encoberto, e a chuva fina tingia as janelas com uma melancolia densa — como se a própria escola lamentasse os segredos que cresciam dentro de suas paredes.
Evelyn Bloom, com seus cabelos presos em um coque desalinhado e expressão de quem dormira menos de três horas, entrou pelos corredores principais sob olhares curiosos. Depois da conversa com a diretora no dia anterior, tudo parecia mais tenso. Como se estivessem sendo observados por algo — ou alguém — invisível.
No pátio, Jules esperava encostado na pilastra da entrada, tomando um suco de caixinha e balançando a perna com impaciência.
— Você viu isso? — perguntou ele, assim que Evelyn se aproximou, mostrando a tela do celular.
Era uma notícia publicada discretamente no jornal local:
> “Famílias questionam segurança na St. Augustine High após caso Savannah Hart.”
A matéria não tinha muitos detalhes, mas mencionava “mensagens anônimas”, “direção hesitante” e “pais insatisfeitos com o silêncio da escola”.
— Minha mãe leu isso e surtou — Jules disse. — Ela quer me tirar da escola.
Evelyn sentiu o estômago afundar. Não podia perder mais ninguém.
— A minha mãe também ficou em alerta. Disse que vai vir falar com a diretora hoje. Que tá cansada de eu esconder coisa.
— E você vai contar?
Ela ficou em silêncio. Olhou para o prédio da escola. Para as janelas. Como se uma delas estivesse prestes a se abrir e alguém saltasse de dentro com mais uma revelação.
— Se a gente começar a falar… — ela sussurrou — pode ter alguém esperando justamente por isso.
—
Na aula de História, o professor Bennett — rígido, exigente e sempre com sua pasta de couro desgastada — estava particularmente atento.
Mila entrou atrasada, com os olhos inchados. Sentou-se ao lado de Cassie sem dizer uma palavra. Ambas pareciam diferentes do dia anterior. Como se o silêncio entre elas fosse mais seguro do que qualquer conversa.
O professor olhou a turma como quem avalia um tribunal:
— Hoje vamos discutir as consequências da omissão. O que acontece quando quem pode intervir… escolhe se calar.
Mila sentiu o coração bater mais forte. Cassie cruzou os braços, desconfiada.
— Me parece — continuou o professor — que até nas grandes tragédias históricas, sempre houve alguém que sabia de algo… mas escolheu o silêncio. Por medo, por conveniência, ou por pura covardia.
A sala ficou muda.
Era como se todos soubessem que aquelas palavras estavam sendo direcionadas — ainda que indiretamente — a um grupo específico.
—
Durante o intervalo, Rafe finalmente apareceu.
Com a mochila pendurada num ombro, o cabelo bagunçado e a expressão carregada de cansaço, ele caminhava como se estivesse voltando de uma guerra.
Cassie foi a primeira a se levantar do banco. Marchou até ele e o encarou como se esperasse uma resposta.
— Onde você estava?
— Em casa — ele respondeu. — Sem celular. Sem nada. Meu pai confiscou tudo depois que a matéria saiu. Ele surtou.
— Três dias sem dar sinal?
— Eu não sabia nem o que tava acontecendo — disse Rafe. — Até hoje de manhã.
Mila se aproximou, Evelyn e Jules logo atrás.
— A gente achou que você fosse o R — disparou Evelyn, seca.
— Vocês acham isso? — ele perguntou, rindo sem humor. — E por que exatamente?
— Porque o seu celular tinha fotos da Savannah. E uma mensagem naquela parede. Porque você sumiu. E porque… você sabe coisas que ninguém mais sabe — respondeu Jules.
Rafe fechou os olhos por um instante, respirando fundo.
— O que vocês encontraram no meu celular não era meu. Era do meu irmão.
Todos se entreolharam.
— Irmão? — perguntou Cassie. — Você tem irmão?
— Tinha. O Nathan. Ele se formou há dois anos. Nunca falei dele porque… ele foi expulso da St. Augustine. Por coisas que ninguém nunca provou. Depois, ele morreu num acidente.
Silêncio. Total.
Rafe continuou:
— O celular era dele. Meu pai guardou numa caixa junto com outras coisas. Eu só... fiquei curioso. Quis entender por que ele fazia certas anotações. Por que tinha foto da Savannah, mesmo sem nunca tê-la conhecido.
— Isso não faz sentido — murmurou Mila. — Nada disso faz.
Rafe tirou do bolso uma folha dobrada.
— Achei isso junto das fotos. Alguém mandou isso pra ele anos atrás.
Ele desdobrou a folha e mostrou:
> “St. Augustine sempre escondeu o que não quer que vejam. E quem descobre… desaparece.”
No canto, uma letra solitária em vermelho:
R.
—
Na saída da escola, Evelyn foi chamada pela mãe, que a esperava no carro. Ela entrou, ainda em choque com as revelações do dia.
— Filha, a diretora me ligou. Disse que você tá envolvida com… grupos errados.
— Grupos errados? — Evelyn franziu a testa. — Ela disse isso?
— Ela falou que você e outros alunos estão espalhando rumores. E que isso pode afetar a reputação da escola.
— Mãe… tem coisa acontecendo aqui dentro. Coisas que vão além da Savannah. Alguém tá jogando com a gente.
A mãe dela olhou pela janela, o maxilar tenso.
— A polícia não encontrou nada. A escola não confirma nada. E você… tá cada vez mais paranoica.
Evelyn sentiu as palavras cortarem.
— Eu não tô louca.
— Então prova. Prova que o que você diz é verdade. Ou eu mesma te transfiro de escola.
—
Naquela noite, no grupo de mensagens, todos receberam mais uma notificação ao mesmo tempo.
Dessa vez, veio acompanhada de um vídeo.
A filmagem mostrava o corredor do segundo andar da escola… vazio.
Até que alguém passava correndo. Um vulto. Parecia uma garota. Atrás dela, uma sombra. Silenciosa. Implacável.
A legenda:
> “A primeira a correr… nunca chegou a tempo.”
> “A próxima a tentar fugir… vai cair ainda mais fundo.”
E, no fim, só uma assinatura:
— R
🔚 FIM DO CAPÍTULO 7
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 26
Comments