Capítulo 10 – O Que Os Olhos Não Veem

A manhã em Monteville estava pesada, como se as nuvens soubessem o que cada um carregava por dentro. Na St. Augustine High, o silêncio dos corredores parecia o presságio de mais um dia tenso. Evelyn Bloom entrou pela porta da frente como um raio discreto: olhos atentos, cabeça erguida e o celular sempre na mão.

Cassie Blake, com seu estilo gótico e olhar afiado, a alcançou no corredor dos armários. “Você viu?”, perguntou, sem rodeios. Evelyn respondeu apenas com um aceno.

Rafael “Rafe” Navarro já os esperava perto da sala de química. O loiro, normalmente calado, estava pálido. “A diretora quer ver a gente… todos nós. Agora.”

— “Os cinco?”, questionou Jules, que acabara de se juntar ao grupo, o tom brincalhão sumido por completo.

— “Sim. E parece que tem a ver com… a polícia,” completou Rafe, sem conseguir esconder a tensão na voz.

Eles seguiram em silêncio até a sala da diretora. Ao entrarem, foram surpreendidos por um homem de terno marrom escuro, olhar duro, caderno de anotações na mão. Seu distintivo dizia “Detetive Graham Sawyer”.

— “Sentem-se,” ele disse, com voz firme. “Vamos falar sobre Savannah Holloway.”

A sala congelou.

Cassie cruzou os braços. Mila Hart tentou disfarçar o nervosismo mexendo nos anéis. Evelyn olhava fixamente para o detetive como se tentasse decifrá-lo. Jules engoliu em seco, e Rafe manteve o olhar baixo.

— “Sabemos que Savannah não era exatamente... amada,” disse Graham, andando pela sala. “Mas também sabemos que ela estava envolvida, de alguma forma, com todos vocês.”

Ele pousou uma foto em cima da mesa. Era Savannah, em uma festa. Cassie estava ao lado dela, visivelmente irritada. Evelyn, ao fundo, os braços cruzados. Jules e Mila dançando, e Rafe... observando tudo de longe.

— “Quem tirou essa foto?”, perguntou Evelyn.

— “Não é isso que importa agora. Eu quero saber quem estava com Savannah no dia anterior ao seu desaparecimento.”

Silêncio.

— “Alguém vai falar?”, insistiu ele.

— “Ela estava… estranha”, confessou Mila, hesitante. “Falava coisas sobre gente querendo calar ela, sobre ter descoberto algo.”

Cassie bufou. — “Ela sempre falava isso. Fazia drama por tudo. Sabia manipular.”

— “Manipular? Como?” — perguntou o detetive, anotando algo.

— “Dizia que ia expor segredos, que tinha prints, vídeos… Coisas que poderiam acabar com a vida de qualquer um,” respondeu Cassie, encarando o detetive com firmeza. “Ela gostava de ver as pessoas com medo.”

Graham estreitou os olhos. — “Ela mencionou algum nome?”

Todos se entreolharam. Foi Rafe quem respondeu.

— “Ela disse uma vez que estava com algo guardado... em backup. Disse que só soltaria se alguma coisa acontecesse com ela.”

O detetive anotou rapidamente.

— “E onde estaria esse backup?”

Rafe hesitou. — “Eu... não sei.”

Mas Evelyn soube que ele estava mentindo. Ela conhecia aquele olhar. E, se ele sabia... por que estava escondendo?

Quando saíram da sala da diretora, Cassie puxou Evelyn pelo braço.

— “Você viu o olhar dele? Ele sabe mais do que diz.”

— “Todos nós sabemos,” respondeu Evelyn, seca. “Mas só ele mexe com computadores.”

— “E o ‘R’ nas mensagens?”, perguntou Mila, se aproximando. “E se for ele mesmo? Ele sempre foi mais próximo da Savannah do que a gente achava.”

Jules entrou na conversa.

— “Ei, calma! Vocês tão acusando um dos nossos?”

— “Não é acusar,” rebateu Cassie. “É raciocinar. Quem teria acesso a tudo? Quem sabia dos segredos? Quem poderia apagar rastros?”

Evelyn olhou para o corredor, onde Rafe desaparecia sozinho. Pela primeira vez, duvidar de alguém do grupo parecia... necessário.

Na hora do almoço, a escola estava cheia de cochichos. Um bilhete havia sido colado na porta da sala de arte:

“Todo mundo tem algo a esconder. Mas nem todo mundo sabe esconder tão bem quanto Rafe. -R”

Cassie foi a primeira a ver.

— “Isso tá ficando pessoal.”

— “Ou ele quer que a gente pense isso,” disse Evelyn, tirando uma foto do bilhete.

Mais tarde, ao voltar pra casa, Evelyn encontrou uma caixa parda na porta. Sem remetente. Apenas seu nome escrito com uma caligrafia apressada.

Dentro, um celular queimado. E um post-it escrito:

“Ela sabia demais. E agora você também sabe.”

O sangue dela gelou. Evelyn não sabia se aquele celular era da Savannah. Mas o medo que tomou conta de seu corpo era o mesmo que sentira na noite em que Savannah sumiu.

Ela respirou fundo, trancou a porta, e olhou para o quadro de cortiça onde guardava todas as pistas do caso. Fotos, horários, mensagens, datas. Agora, com a caixa e o celular queimado, ela tinha mais um item a acrescentar.

Mas o que aquilo significava?

E... quem estava brincando com eles?

A única certeza era: alguém estava por perto. E estava assistindo tudo.

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