Capítulo 2 — Aquilo Que Não Foi Dito

Verão de Cinzas

"Você era a líder, Eve. Mas foi a única que não viu o fim se aproximando. – R."

As palavras ainda queimavam na tela do celular de Evelyn como se tivessem sido escritas em fogo. A sala antiga dos Penhascos estava envolta em silêncio, pesado como neblina. Nenhum deles conseguia fingir que aquilo era só mais uma coincidência.

A mensagem havia sido enviada para todos. E vinha assinada com uma única letra: R.

Sentados num velho sofá afundado, eles encaravam a escuridão da sala, como se esperassem que Savannah entrasse a qualquer momento pela porta da frente. Mas ela não viria. Não naquela noite. E talvez nunca mais.

— Isso tem que ser uma brincadeira — Cassie disse por fim, quebrando o silêncio. — Algum maluco que descobriu nossos números e resolveu brincar de psicopata.

— Mas por quê? — Mila perguntou. Sua voz saiu trêmula, e ela apertava o próprio celular como se ele fosse escorregar de suas mãos. — Quem mais saberia dessas coisas?

— Ninguém — disse Evelyn, firme. — A não ser que…

Ela parou. Seus olhos vagaram até Rafael Navarro, o único ali que não reagira. Sentado na ponta do sofá, de capuz e mãos cruzadas, ele encarava o chão, os olhos escondidos pelas sombras do gorro.

— Vai dizer que não tá surpreso? — perguntou Jules, se inclinando para frente. — Você recebeu a mensagem também?

Rafe olhou para ele devagar.

— Recebi.

— E não vai dizer nada?

— O que vocês querem que eu diga?

— Talvez que você não é o tal “R.”, seria um bom começo! — explodiu Cassie, levantando-se.

— Por que eu seria “R.”?

— Você vive escondendo o que faz no computador! Vive mexendo em coisas que ninguém entende!

Rafe ergueu uma sobrancelha.

— E você vive gritando como se isso te deixasse mais certa.

— Gente, calma! — Evelyn interveio, firme. — Isso não é hora pra guerra civil.

Cassie bufou e sentou de volta, cruzando os braços. Rafe voltou a olhar para o chão, como se estivesse tão desconectado quanto sempre.

Jules se levantou, andou até a parede. Olhou para o símbolo manchado de vermelho — o R escrito de forma grotesca, como se alguém tivesse passado os dedos sujos de sangue ou tinta espessa. Ele se aproximou e passou o dedo por cima.

— É tinta. Ainda fresca.

— Então foi hoje — sussurrou Mila.

— Ou alguém sabia que voltaríamos hoje — disse Evelyn, engolindo seco.

Cassie se inclinou.

— Quem teria acesso ao grupo? Quem sabia do nosso pacto?

Ninguém respondeu.

Jules se virou.

— Talvez devêssemos sair daqui. Isso tudo tá dando errado.

— E deixar a pessoa vencer? — retrucou Evelyn. — Foi isso que fizemos ano passado. Fingimos que tava tudo bem. Fugimos. Deixamos Savannah virar estatística. Não de novo.

Mila se encolheu. Seus olhos encheram de lágrimas.

— Eu não fugi. Eu chorei por ela todos os dias.

— Eu também — disse Jules, num tom mais suave.

— Então vamos fazer algo agora — Evelyn insistiu. — Precisamos rever tudo. Juntos. Detalhe por detalhe. Aquela noite. O que cada um viu. O que sentiu. O que não contou.

Cassie bufou.

— Você fala como se fosse uma detetive.

— E se for isso que eu quiser ser?

Um silêncio constrangedor pairou por um momento.

— Começa então — disse Jules. — Já que é a líder. Conta o que você viu naquela noite.

🌫️ FLASHBACK — Um ano antes

Evelyn estava do lado de fora da casa dos Penhascos, encostada no parapeito do deck, observando a festa. Luzes de fada balançavam ao vento. Músicas ecoavam. Gritos e risadas se misturavam com o som distante das ondas. E no centro de tudo... Savannah Moreau.

Ela era perfeita. Vestido azul, cabelos soltos, olhos brilhando com algo que Evelyn não conseguia decifrar. Algo entre euforia e tristeza.

— Ela vai estourar a qualquer momento — disse Jules, surgindo ao seu lado.

— Ela tá fingindo. Como sempre.

— Talvez a gente devesse fingir junto.

Evelyn suspirou.

— Eu sinto que vai acontecer alguma coisa.

Jules a olhou. Pela primeira vez naquela noite, ele pareceu sério.

— Tipo o quê?

Ela demorou para responder.

— Tipo o fim.

🕰️ De volta ao presente

Evelyn encarava o vazio, como se ainda estivesse naquele deck, olhando Savannah dançar.

— Eu senti. Senti que ela ia desaparecer. Que algo ia dar errado. Mas não fiz nada.

— Você não podia saber — disse Mila, gentil.

— Mas eu sabia — Evelyn respondeu, sem encará-la. — Eu só não queria aceitar.

Jules coçou a nuca.

— Tudo bem… minha vez, né?

Ele andou até a lareira apagada, se encostou no canto. Parecia prestes a contar uma piada — mas dessa vez, não havia piada.

— Eu briguei com a Savannah naquela noite.

Todos se viraram.

— Você o quê? — Cassie perguntou.

— Ela me viu com… alguém. Ficou com raiva. Disse que eu era um traidor.

Evelyn franziu a testa.

— Com quem ela te viu?

Jules hesitou.

— Isso não importa agora.

— Claro que importa! — disse Cassie.

Mila ficou branca.

— Foi comigo.

O silêncio voltou a cair como um trovão.

— Eu... eu e Jules estávamos ficando — confessou Mila, quase em um sussurro. — Era segredo. Ninguém sabia. Só ela descobriu. E ficou arrasada.

— Porque ela era apaixonada por você — disse Evelyn, encarando Jules.

Jules ficou paralisado.

— Como é que é?

— Você não sabia? Ela me contou meses antes da festa.

Cassie se levantou.

— Isso tá virando uma novela. Todo mundo apaixonado, todo mundo traído.

— E você? — perguntou Evelyn, encarando Cassie.

— Eu o quê?

— Você brigou com ela também naquela noite. Foi vista saindo da casa gritando.

Cassie apertou os olhos.

— Sim. Porque ela invadiu meu quarto e leu meu diário.

— O que ela descobriu?

Cassie hesitou. Mordeu os lábios. Depois respondeu, com amargura:

— Que eu... eu amava alguém do grupo. E não era ela.

Rafe finalmente se levantou. Os olhos ainda baixos, mas agora com um brilho contido.

— Vocês perceberam?

— O quê? — Mila perguntou.

— As mensagens. O “R.”. Elas são personalizadas. Individualmente. É alguém com acesso a mais do que só rumores. Alguém entre nós.

Todos se entreolharam.

— Isso é uma acusação? — perguntou Cassie, de pé.

— É uma constatação — ele respondeu.

Evelyn deu um passo à frente. Os olhos firmes.

— Então vamos jogar o jogo. Do jeito certo, dessa vez. Vamos voltar atrás. Rastrear tudo. Entrevistar. Vasculhar. Desenterrar. Porque se o “R.” quer brincar… vai ter que encarar a verdade.

Ela encarou a parede.

A letra vermelha ainda escorria.

E pela primeira vez em um ano, alguém decidiu fazer alguma coisa.

Capítulos
1 Capítulo 1 — A Noite do Último Verão
2 Capítulo 2 — Aquilo Que Não Foi Dito
3 Capítulo 3 — A Primeira Pista
4 Capítulo 4 — A Sombra com R no Nome
5 Capítulo 5 — Testemunhas Silenciosas
6 Capítulo 6 — Um Lugar Onde Segredos Não Morrem
7 Capítulo 7 — As Máscaras Caem
8 Capítulo 8 — Ecos do Passado
9 Capítulo 9 — O Baile, a Sombra e o Detetive
10 Capítulo 10 – O Que Os Olhos Não Veem
11 Apresentação dos personagens do verão de cinzas
12 CAPÍTULO 11 – “Nada É o Que Parece”
13 Capítulo 12 — “Espelhos Não Mentem”
14 Capítulo 13 — “O Lago Sabia de Tudo”
15 Capítulo 13 (Parte 2) — “Segredos Afundam”
16 Capítulo 14 — “O Olho da Tempestade
17 CAPÍTULO 15 — O SUSSURRO DE DINA
18 Capítulo 16 — "O Eco dos Loucos"
19 Capítulo 18 – “As Alas Fechadas Nunca Estão Realmente Fechadas”
20 Capítulo XIX – "Asas no Corredor, Silências que Gritam"
21 Capítulo XX – “As Portas Fechadas Também Falam”
22 capítulo 20 - PORTAS FECHADAS TAMBÉM FALAM
23 Capítulo XXI – Estilhaços
24 Capítulo XXII – Truques Pessoais
25 Capítulo XXIII – Você Está Sozinha, Mila
26 Capítulo 24 — Vozes Queimam em Silêncio
27 Capítulo 25 — Silêncios Que Queimam
28 Capítulo 26 — Paredes que Observam
29 Capítulo 27 — A Última Dança
30 Capítulo 28 — Entre Luzes e Suspeitas
31 Capítulo 29 — Divididos
32 Capítulo 30 – A Voz por Trás da Máscara
33 Capítulo 31 — Vozes Atrás da Parede
34 Capítulo 32 — O Corpo Atrás da Parede
35 Capítulo 33 — O Jogo Virou
36 Capítulo 34 — O Visitante
37 Capítulo 35 — O Diário de Savannah
Capítulos

Atualizado até capítulo 37

1
Capítulo 1 — A Noite do Último Verão
2
Capítulo 2 — Aquilo Que Não Foi Dito
3
Capítulo 3 — A Primeira Pista
4
Capítulo 4 — A Sombra com R no Nome
5
Capítulo 5 — Testemunhas Silenciosas
6
Capítulo 6 — Um Lugar Onde Segredos Não Morrem
7
Capítulo 7 — As Máscaras Caem
8
Capítulo 8 — Ecos do Passado
9
Capítulo 9 — O Baile, a Sombra e o Detetive
10
Capítulo 10 – O Que Os Olhos Não Veem
11
Apresentação dos personagens do verão de cinzas
12
CAPÍTULO 11 – “Nada É o Que Parece”
13
Capítulo 12 — “Espelhos Não Mentem”
14
Capítulo 13 — “O Lago Sabia de Tudo”
15
Capítulo 13 (Parte 2) — “Segredos Afundam”
16
Capítulo 14 — “O Olho da Tempestade
17
CAPÍTULO 15 — O SUSSURRO DE DINA
18
Capítulo 16 — "O Eco dos Loucos"
19
Capítulo 18 – “As Alas Fechadas Nunca Estão Realmente Fechadas”
20
Capítulo XIX – "Asas no Corredor, Silências que Gritam"
21
Capítulo XX – “As Portas Fechadas Também Falam”
22
capítulo 20 - PORTAS FECHADAS TAMBÉM FALAM
23
Capítulo XXI – Estilhaços
24
Capítulo XXII – Truques Pessoais
25
Capítulo XXIII – Você Está Sozinha, Mila
26
Capítulo 24 — Vozes Queimam em Silêncio
27
Capítulo 25 — Silêncios Que Queimam
28
Capítulo 26 — Paredes que Observam
29
Capítulo 27 — A Última Dança
30
Capítulo 28 — Entre Luzes e Suspeitas
31
Capítulo 29 — Divididos
32
Capítulo 30 – A Voz por Trás da Máscara
33
Capítulo 31 — Vozes Atrás da Parede
34
Capítulo 32 — O Corpo Atrás da Parede
35
Capítulo 33 — O Jogo Virou
36
Capítulo 34 — O Visitante
37
Capítulo 35 — O Diário de Savannah

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