Verão de Cinzas

Verão de Cinzas

Capítulo 6 — Um Lugar Onde Segredos Não Morrem

A St. Augustine High era uma escola tradicional, de arquitetura gótica e regras rígidas, com paredes grossas de tijolos envelhecidos e janelas altas que filtravam o sol em feixes dourados e tristes. Apesar da aparência severa, ninguém ali jamais imaginaria que cinco alunos do último ano estariam vivendo um suspense silencioso a cada passo entre os corredores.

Mila entrou no colégio com passos tensos, os olhos escondidos sob óculos escuros. Não era estilo. Era estratégia. Ela mal tinha dormido depois das mensagens enviadas ao grupo sobre o celular do Rafe. E agora, o fato de que ele ainda não tinha aparecido tornava tudo mais estranho.

— A diretora vai me chamar hoje. Tenho certeza — disse Jules, aparecendo ao lado dela. Ele segurava o café que havia pegado no quiosque da entrada.

— Por quê? — ela perguntou, ajeitando a alça da mochila.

— Porque eu tô com cara de quem sabe de um crime — ele disse com um sorriso irônico. — E você também, aliás.

Ela revirou os olhos, mas ele não estava errado. Os dois pareciam… culpados de alguma coisa.

No armário ao lado, Cassie batia a porta com força, o que já não era novidade. Desde a discussão sobre o Rafe, ela estava impaciente.

— Ele devia estar aqui — ela disse, sem se virar. — Como se nada tivesse acontecido. Tipo: “Oi, galera, sou o R. Me odeiem.”

— Cassie, ninguém disse que ele é o R — Mila respondeu, baixando o tom.

— Então o quê? Que ele é só um anjo caído do céu que escondeu fotos da Savannah e uma frase sinistra rabiscada na parede?

Mila suspirou. Evelyn ainda não tinha chegado. E isso a preocupava.

Na primeira aula, a de Literatura, o professor Sr. Duncan era conhecido por sua mente afiada e seu jeito de ler os alunos como livros abertos.

Hoje, ele parecia particularmente atento.

— Nossa próxima análise será sobre segredos em tragédias — disse ele, cruzando os braços diante da turma. — Começamos com “Macbeth”, mas me interessa mais o comportamento das personagens quando confrontadas com algo que escondem. Como o peso disso muda tudo ao redor.

Mila sentiu a pele formigar.

Sr. Duncan olhou diretamente para ela. Depois para Cassie. Depois para Jules.

— Alguém aqui quer falar sobre segredos?

Silêncio.

— Não? Que surpresa.

Alguém riu nervoso no fundo da sala. Jules. Claro.

— Segredos, meus caros — disse o professor, andando entre as fileiras de carteiras — são como vidro trincado. Eventualmente, tudo quebra.

A campainha tocou logo depois. E o alívio foi quase palpável.

No corredor, Mila e Jules foram interceptados por uma voz irritada.

— Vocês não vão nem responder minhas mensagens?

Evelyn.

Ela estava com os olhos arregalados, o cabelo preso com pressa e um papel amassado na mão.

— Eu mandei mensagem ontem. Três vezes — ela continuou. — Mas vocês sumiram.

— Achei que você quisesse espaço depois do que aconteceu com o celular do Rafe — disse Mila.

Evelyn soltou uma risada nervosa.

— “Espaço”? Vocês tão se afastando de mim como se eu fosse ele!

— A gente não sabe quem é ele, Eve — disse Jules. — E o Rafe sumiu. Você também. E agora… isso aqui tá começando a parecer um tabuleiro com peças fora do lugar.

— Tá tudo fora do lugar — ela respondeu, entregando o papel para Mila.

Era uma carta. Recortada com palavras de jornal.

“Se ela não tivesse abrido a boca, talvez ainda estivesse viva.”

E no final:

“Isso não acabou.”

— Isso foi deixado no meu armário hoje cedo — Evelyn disse. — E tem mais: tinha uma foto presa por baixo.

Ela tirou o celular e mostrou.

A imagem mostrava a praia, o grupo todo, e Savannah ao fundo, sozinha, olhando para o mar.

— Isso foi tirado naquele dia. — Evelyn falava como se precisasse convencer a si mesma.

— Alguém da escola? — sussurrou Jules.

— Alguém de dentro — completou Mila. — Ou pelo menos que tava lá.

Na aula seguinte, Educação Física, ninguém teve foco. Cassie se recusou a participar da partida de vôlei, e ficou sentada nas arquibancadas olhando o celular.

Mensagens não lidas de Rafe.

Um “visto por último” que não mudava desde três dias atrás.

Ela não queria admitir, mas… estava com medo dele. E com saudade.

O professor Ruan tentou puxar conversa, mas ela o ignorou. Só quando ele ameaçou mandar um bilhete à diretora, ela se levantou e foi embora direto para o banheiro feminino.

Foi lá, trancada em uma das cabines, que ela viu a nova frase escrita na porta:

“Alguém no seu grupo não é quem finge ser.”

A letra era vermelha. Nova. Fresca.

Cassie arregalou os olhos e saiu correndo do banheiro. Quase trombou com Mila no corredor.

— A gente tá cercado — ela disse, arfando. — Isso tá acontecendo dentro da escola.

No final do dia, a diretora chamou Evelyn na sala dela.

— Evelyn Bloom? Entre, por favor.

A sala era minimalista. Fria. Sem afeto.

— Chegou até mim que você anda... dizendo que se sente ameaçada dentro da escola — disse a diretora, ajustando os óculos.

Evelyn arregalou os olhos.

— Como é que é?

— Professores ouviram você dizer isso nos corredores. E como ainda estamos lidando com a ausência não resolvida da aluna Savannah Hart, precisamos ter muito cuidado com esse tipo de comentário.

— Eu recebi uma carta — ela rebateu, tirando o papel da mochila. — Isso foi colocado no meu armário. E tem uma foto também.

A diretora pegou os papéis, examinou com frieza.

— Parece montagem. Alguém tentando brincar com você.

— Isso não é brincadeira.

— Evelyn, você está abalada. Eu entendo. Mas até que tenhamos provas concretas, não posso acusar ninguém da escola. Nem levar isso à polícia de novo. Já recebemos atenção demais.

— Você tá dizendo que... que isso vai ficar assim?

— Estou dizendo que mantenha-se segura, evite provocar e — principalmente — não leve o nome da escola para fora desse campus. Está entendido?

No fim do dia, os cinco não estavam mais unidos.

Cassie, Mila, Jules e Evelyn se encontraram perto dos portões, mas ninguém dizia nada. Todos queriam saber o mesmo:

Cadê Rafe?

Mas antes que pudessem se dispersar, os celulares vibraram ao mesmo tempo.

Uma nova mensagem.

“Agora a escola também virou palco, e vocês são os atores principais.”

“Só cuidado com quem tá escrevendo o roteiro.”

-- R

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!