Monteville amanheceu cinzenta naquela quarta-feira. O tipo de céu que pressagia desastre. A cidade parecia segurar a respiração, e a St. Augustine High estava mais silenciosa que o normal — como se os próprios corredores estivessem escutando.
Na sala dos alunos do último ano, panfletos sobre o Baile de Outono estavam em cada mesa. Folhas decoradas com folhas secas e glitter dourado. Tudo parecia encantador… se alguém realmente tivesse cabeça pra festa.
— Eu não vou — disse Cassie, lançando o panfleto no lixo. — É surreal pensar em dançar como se nada tivesse acontecido.
— Concordo — rebateu Evelyn, apoiada na janela. — A escola tá escondendo coisa demais pra gente fingir que isso aqui é um filme da Disney.
Mila, por outro lado, mantinha o panfleto nas mãos, com o olhar distante.
— Eu entendo vocês, mas… talvez seja exatamente por isso que a gente precise ir — disse ela, com a voz calma. — Fingir que a vida continua é a única forma de sobreviver a tudo isso. Se a gente parar, o medo engole a gente.
Cassie revirou os olhos.
— Poético. Mas realismo é melhor. Savannah ainda tá desaparecida. E agora temos bilhetes, fotos, mensagens. Não é hora de dançar.
— Mas pode ser hora de observar — disse Jules, entrando na conversa. — O Baile vai reunir todo mundo. Todos os suspeitos no mesmo lugar. Inclusive ele. Quem quer que ele seja.
—
No meio da manhã, a diretora bateu na porta da sala de aula de História.
— Mila Hart. Pode me acompanhar, por favor?
Todos os olhos se voltaram para ela. Até o professor ficou tenso.
Ao sair no corredor, Mila viu um homem parado ao lado da diretora. Alto, com blazer escuro, olhos atentos demais. Não era professor. Nem pai de aluno.
— Detetive Marcus Hale — ele disse, estendendo a mão. — Estou investigando oficialmente o desaparecimento de Savannah Hart. Precisamos conversar.
Mila olhou para a diretora, que apenas assentiu.
— Tudo bem — respondeu ela, engolindo em seco.
—
A sala da diretoria foi transformada em uma pequena sala de interrogatório improvisada.
— Você era próxima da Savannah? — perguntou o detetive, anotando algo num caderno.
— Próxima… é uma palavra forte. Éramos parte do mesmo grupo. Mas a Savannah… ela era difícil — Mila respondeu.
— Difícil como?
— Cruel, às vezes. Ela sabia machucar as pessoas com palavras. E parecia gostar disso.
Marcus Hale anotou mais.
— Então você diria que ela tinha inimigos?
— Eu diria que… quase todo mundo aqui tinha motivo pra não suportá-la.
O detetive a encarou com atenção.
— Inclusive você?
Silêncio.
Mila desviou o olhar.
— Eu não gostava dela. Mas nunca desejei mal. E acho que falo isso por muitos aqui.
—
Enquanto isso, Cassie voltou correndo pra casa no intervalo, alegando dor de cabeça. Mas, na verdade, havia outro motivo.
Desde que o irmão do garoto que morava temporariamente com ela invadira seu quarto por engano, ela vinha observando aquele menino estranho e calado. O nome dele era Theo. E sua irmã, uma menina de rosto sempre escondido e andar curvado, parecia estar sempre… ouvindo.
Cassie subiu direto para o quarto. Mas não esperava encontrar um bilhete sob sua porta:
“Se os olhos dela viram demais, talvez a boca dela seja a próxima a sumir.”
Ela engoliu o grito.
Saiu correndo pelos corredores da casa até dar de cara com Theo no corredor.
— Você deixou isso? — perguntou, mostrando o papel.
Theo franziu a testa.
— O quê?
Ela viu a confusão nos olhos dele. Ou era um ótimo ator… ou não sabia de nada.
— Se alguém aqui estiver brincando com isso, você vai me dizer.
Ele apenas ficou em silêncio, parecendo assustado.
—
Na escola, Evelyn também foi chamada para conversar com o Detetive Hale.
— Srta. Bloom, você recebeu um bilhete com ameaças, correto?
— Sim. E uma foto da Savannah. No dia em que ela sumiu.
— Você acha que alguém do grupo está envolvido?
Evelyn demorou para responder. O detetive olhava fixo demais. Como se a resposta certa estivesse em seu rosto.
— Acho que todo mundo tem algo a esconder — respondeu ela por fim. — Mas não sei se isso faz de alguém culpado.
Marcus anotou mais algumas coisas e, antes de dispensá-la, disse:
— Acredite, segredos têm o péssimo hábito de escorregar pela boca errada, na hora errada.
—
No fim do dia, os cinco amigos se encontraram no mesmo banco de sempre, perto do portão dos fundos. O sol se punha atrás das árvores secas do outono, lançando sombras longas no chão.
— O policial me perguntou se eu era próxima da Savannah — disse Mila.
— Me perguntou se alguém do grupo parecia culpado — completou Evelyn.
— Eu… não fui chamado — disse Jules. — Ainda.
Rafe, por fim, apareceu. Os olhos fundos, a barba por fazer.
— Eu fiquei fora porque fui chamado também. Pela polícia. Eles foram na minha casa.
Todos se viraram pra ele.
— O que eles perguntaram? — quis saber Cassie.
— Sobre onde eu estava no dia do desaparecimento. E sobre o meu celular.
— Eles acham que você tem algo a ver com isso? — Evelyn perguntou, tensa.
— Eu não sei mais o que pensar.
Silêncio.
Até que todos os celulares vibraram. Ao mesmo tempo.
Uma nova mensagem:
“Vocês podem se arrumar pro Baile…” “Mas quem vai limpar o sangue do palco?”
— R
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Atualizado até capítulo 26
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