Capítulo 9 — O Baile, a Sombra e o Detetive

Monteville amanheceu cinzenta naquela quarta-feira. O tipo de céu que pressagia desastre. A cidade parecia segurar a respiração, e a St. Augustine High estava mais silenciosa que o normal — como se os próprios corredores estivessem escutando.

Na sala dos alunos do último ano, panfletos sobre o Baile de Outono estavam em cada mesa. Folhas decoradas com folhas secas e glitter dourado. Tudo parecia encantador… se alguém realmente tivesse cabeça pra festa.

— Eu não vou — disse Cassie, lançando o panfleto no lixo. — É surreal pensar em dançar como se nada tivesse acontecido.

— Concordo — rebateu Evelyn, apoiada na janela. — A escola tá escondendo coisa demais pra gente fingir que isso aqui é um filme da Disney.

Mila, por outro lado, mantinha o panfleto nas mãos, com o olhar distante.

— Eu entendo vocês, mas… talvez seja exatamente por isso que a gente precise ir — disse ela, com a voz calma. — Fingir que a vida continua é a única forma de sobreviver a tudo isso. Se a gente parar, o medo engole a gente.

Cassie revirou os olhos.

— Poético. Mas realismo é melhor. Savannah ainda tá desaparecida. E agora temos bilhetes, fotos, mensagens. Não é hora de dançar.

— Mas pode ser hora de observar — disse Jules, entrando na conversa. — O Baile vai reunir todo mundo. Todos os suspeitos no mesmo lugar. Inclusive ele. Quem quer que ele seja.

No meio da manhã, a diretora bateu na porta da sala de aula de História.

— Mila Hart. Pode me acompanhar, por favor?

Todos os olhos se voltaram para ela. Até o professor ficou tenso.

Ao sair no corredor, Mila viu um homem parado ao lado da diretora. Alto, com blazer escuro, olhos atentos demais. Não era professor. Nem pai de aluno.

— Detetive Marcus Hale — ele disse, estendendo a mão. — Estou investigando oficialmente o desaparecimento de Savannah Hart. Precisamos conversar.

Mila olhou para a diretora, que apenas assentiu.

— Tudo bem — respondeu ela, engolindo em seco.

A sala da diretoria foi transformada em uma pequena sala de interrogatório improvisada.

— Você era próxima da Savannah? — perguntou o detetive, anotando algo num caderno.

— Próxima… é uma palavra forte. Éramos parte do mesmo grupo. Mas a Savannah… ela era difícil — Mila respondeu.

— Difícil como?

— Cruel, às vezes. Ela sabia machucar as pessoas com palavras. E parecia gostar disso.

Marcus Hale anotou mais.

— Então você diria que ela tinha inimigos?

— Eu diria que… quase todo mundo aqui tinha motivo pra não suportá-la.

O detetive a encarou com atenção.

— Inclusive você?

Silêncio.

Mila desviou o olhar.

— Eu não gostava dela. Mas nunca desejei mal. E acho que falo isso por muitos aqui.

Enquanto isso, Cassie voltou correndo pra casa no intervalo, alegando dor de cabeça. Mas, na verdade, havia outro motivo.

Desde que o irmão do garoto que morava temporariamente com ela invadira seu quarto por engano, ela vinha observando aquele menino estranho e calado. O nome dele era Theo. E sua irmã, uma menina de rosto sempre escondido e andar curvado, parecia estar sempre… ouvindo.

Cassie subiu direto para o quarto. Mas não esperava encontrar um bilhete sob sua porta:

“Se os olhos dela viram demais, talvez a boca dela seja a próxima a sumir.”

Ela engoliu o grito.

Saiu correndo pelos corredores da casa até dar de cara com Theo no corredor.

— Você deixou isso? — perguntou, mostrando o papel.

Theo franziu a testa.

— O quê?

Ela viu a confusão nos olhos dele. Ou era um ótimo ator… ou não sabia de nada.

— Se alguém aqui estiver brincando com isso, você vai me dizer.

Ele apenas ficou em silêncio, parecendo assustado.

Na escola, Evelyn também foi chamada para conversar com o Detetive Hale.

— Srta. Bloom, você recebeu um bilhete com ameaças, correto?

— Sim. E uma foto da Savannah. No dia em que ela sumiu.

— Você acha que alguém do grupo está envolvido?

Evelyn demorou para responder. O detetive olhava fixo demais. Como se a resposta certa estivesse em seu rosto.

— Acho que todo mundo tem algo a esconder — respondeu ela por fim. — Mas não sei se isso faz de alguém culpado.

Marcus anotou mais algumas coisas e, antes de dispensá-la, disse:

— Acredite, segredos têm o péssimo hábito de escorregar pela boca errada, na hora errada.

No fim do dia, os cinco amigos se encontraram no mesmo banco de sempre, perto do portão dos fundos. O sol se punha atrás das árvores secas do outono, lançando sombras longas no chão.

— O policial me perguntou se eu era próxima da Savannah — disse Mila.

— Me perguntou se alguém do grupo parecia culpado — completou Evelyn.

— Eu… não fui chamado — disse Jules. — Ainda.

Rafe, por fim, apareceu. Os olhos fundos, a barba por fazer.

— Eu fiquei fora porque fui chamado também. Pela polícia. Eles foram na minha casa.

Todos se viraram pra ele.

— O que eles perguntaram? — quis saber Cassie.

— Sobre onde eu estava no dia do desaparecimento. E sobre o meu celular.

— Eles acham que você tem algo a ver com isso? — Evelyn perguntou, tensa.

— Eu não sei mais o que pensar.

Silêncio.

Até que todos os celulares vibraram. Ao mesmo tempo.

Uma nova mensagem:

“Vocês podem se arrumar pro Baile…” “Mas quem vai limpar o sangue do palco?”

— R

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!