— O rapaz estava passando mal? — Saulo perguntou.
— Não, por quê?
— Você perguntou se ele estava bem.
— Eu fui ignorante com ele sem querer e Fernando é uma boa pessoa.
Senti uma pontada de dor e ele veio me acudir. Correu para pegar água
quando eu disse que precisava tomar meu remédio. Aí disse que gostava de
fazer minhas tarefas sozinho. Depois disso ele ficou constrangido e
acelerado.
— Ele não te conhece e agiu como qualquer pessoa normal. Você que
anda muito estressado. E eu já falei o que é isso.
— Ah não, Saulo! Nem vem com esse papo de novo. Já falei que não quero nem tentar me relacionar com ninguém. Não tenho mais a mínima paciência para o desprezo e a falta de tato das pessoas.
— Você só se relacionou com dois após seu acidente, Caique.
— Que valeram por mil. A decepção foi tanta, que já estou farto. E
meu estresse não tem nada a ver com isso e você sabe muito bem. Estou
cansado de lutar.
— Não fale isso, Caique. Está me estressando já.
— Você que precisa transar. Está muito estressadinho por tudo. Cadê a
Camila ou o Jorge?
— Hum, nem um e nem o outro. A Camila, mesmo sem me falar nada,
percebi que estava se apegando muito e não quero fazê-la sofrer. Não estou
apaixonado e nem pretendo. E quanto ao Jorge, aquele ali é como eu, só
quer foda mesmo.
— Então, é como você mesmo.
— Mas não quero a foda com ele e nem sei por quê. Cansei. O bom é
que ele não liga e a gente segue em frente. Por mais que eu não queira me
prender a ninguém, estou cansado de pessoas vazias.
— Não sou a melhor pessoa do mundo para falar de sentimentos com
você, mas acho você um cara muito foda para ficar apenas nesses encontros
por aí ou com esse pensamento de não se prender.
— Você também é foda.
— Já fui.
— Ah, para! Mas mudando de assunto, o que foi aquilo que deu na sua
mãe?
— Só mais uma exibição da pessoa preconceituosa que ela é. Implicar
com o Fernando por ele ser negro e não o considerar digno de trabalhar no
setor da Presidência? Sério isso?
— CAIQUE! — Matheus entrou gritando em minha sala e Saulo
revirou os olhos. Ele era o deboche em pessoa.
— Isso é jeito de entrar aqui, Matheus?
— Não venha com essa historinha de presidente pra cima de mim. Sou
tão dono dessa porra quanto você. A nossa mãe está toda nervosa e
chateada pela forma que você falou com ela.
— Ela te disse o porquê?
— Claro, explicou do cara que a incompetente da sua secretária colocou aqui no setor.
— E você como advogado, acha certo o rapaz não servir para trabalhar aqui só por que ele é negro? — Matheus engoliu em seco e ficou sem argumentos. — Fernando é muito qualificado. O currículo dele é muito bom, está trabalhando aqui na limpeza da empresa porque foi o que
apareceu e ele precisava. É um trabalho digno como qualquer outro, mas
claro que nossa querida mãe só enxergou a cor da pele dele. Então você
abaixa o seu tom comigo porque não vou aturar os preconceitos dela aqui
dentro e muito menos os seus chiliques para defendê-la.
— Eu já conversei com ela sobre esses lances de preconceito. — Ele
tentou disfarçar. — Esse povo fica cheio de “mimimi” e logo rola processo.
— Ele já poderia rolar só por essa sua fala. Se você não tem mais nada
de útil para falar, me deixe trabalhar, Matheus.
— E você não trabalha, Saulo? — Meu amigo olhou com desdém para
meu irmão.
— Já atendi oito clientes e nem meio-dia é. E você? Bateu ponto hoje
só para defender sua mãe? Ou veio contribuir com seu trabalho realmente?
— Não me enche o saco. — Matheus saiu pisando duro e bateu a
porta. — Respirei fundo.
Alguns segundos depois, outras batidas anunciaram a entrada de
Flávia.
— Diga, Flávia.
— Senhor Caique, me desculpe. O senhor Matheus nem me deixou
anunciar a chegada dele e nem permitiu que eu me levantasse da cadeira.
— Ele disse alguma gracinha pra você?
— Apenas que nem me levantasse já que eu não sabia exercer minha
função direito.
— A partir de hoje você tem total autonomia para responder a ele ou a
minha mãe caso lhe faltem com respeito. Não admito isso aqui.
— Sim, senhor.
— Não se esqueça, Flávia.
— Pode deixar. Queria aproveitar e pedir uma coisa para o senhor.
— Diga.
— Tenho um exame da minha coluna marcado para daqui a dois dias
pra saber se vou precisar operar minha hérnia de disco.
— Claro que você pode ir.
— Mas não queria deixar o senhor descoberto e pensando já com
antecedência, caso a cirurgia venha ocorrer, se o senhor quiser, tenho uma
pessoa de confiança para indicar para o meu lugar quando me ausentar para
exames ou até mesmo pra cirurgia. Não sei o que o senhor pretende fazer.
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Atualizado até capítulo 122
Comments
Celina Daltro
Fernando vai subir de cargo na empresa
2024-05-06
3
Tete Medeiros
e tudo bem elaborado
2024-05-04
0
Anita Alves
e a coisa vai ficar dificil/Shhh//Shhh//Shhh//Shhh//Shhh//Shhh/
2024-05-02
0