A felicidade da minha mãe foi tão contagiante que, por instantes, a
agonia que eu sentia foi aplacada. Na mesma hora ela ligou para a
imobiliária e avisou que eu tinha conseguido um emprego e que logo
acertaríamos tudo. Até um jantar especial ela fez pra gente.
— Você vai trabalhar de terno, Fê?
— Não, Ju. Vou trabalhar de macacão. Sou funcionário da limpeza.
— Mas vai ser bonito o seu macacão também, não é?
— Com certeza, sim, lá é tudo muito chique.
— Ela está empolgada, meu filho. Agora você que parece não estar.
— Impressão sua, mãe. Estou também. É que fiquei tão nervoso na
hora, que acho que agora meu corpo resolveu me cobrar e me sinto cansado.
— Vamos jantar e você descansa. Tenho uns trocadinhos ali e amanhã você vai ajeitar esse cabelo.
— Ele nem está grande, mãe.
— Mas o pezinho que cresce primeiro está. Se eles são tão chiques,
irão reparar em tudo.
Naquela noite custei a dormir. Fiquei pensando em toda minha vida.
Tudo mesmo. Da infância e adolescência com meus pais aqui comigo. Me
lembrei dos meus amigos e bagunças na época de escola. De quando me
toquei que gostava de meninos e do primeiro beijo que dei em um menino
escondido no banheiro do colégio. Da vergonha que senti depois, mas
também da felicidade que fiquei em me entender e aceitar. Me lembrei da
minha primeira vez com o Ricardo, que foi muito boa apesar de dolorida.
Da desconfiança da minha mãe sobre minha orientação sexual e seu
semblante de desagrado, uma das coisas mais tristes pra mim, pois o
resultado disso é ter que namorar escondido, sem poder ser quem sou de
verdade.
Não consegui evitar me lembrar do acidente do meu pai, das fotos
horríveis na internet e da pior tarefa que já me deram na vida: reconhecer o
corpo dele. Minha mãe não tinha condições nenhuma e foi minha essa
responsabilidade.
Daí me lembrei da chegada de Roberto em nossas vidas e da única
coisa maravilhosa que ele nos deu: minha irmã. Amava muito a minha
pequena e faria sempre tudo por ela.
Por fim, o Caique veio em meus pensamentos e nele, ele seria apenas
Caique, sem o “senhor”. Mas na empresa precisava ter todo o respeito,
afinal, ele era meu superior e dono de tudo aquilo. Não conseguia nem
imaginar tudo que ele passou naquele acidente horrível, o durante e o
depois, principalmente.
Dormi chateado e ansioso.
Quatro dias depois...
Pensei que não chegaria à empresa para o meu primeiro dia de trabalho. Aconteceu um tiroteio horrível. Eu não morava dentro da comunidade, mas, minha casa ficava bem na entrada dela e por ali andava uma violência danada.
Neste momento eu estava pegando meu uniforme de trabalho e sendo guiado até o vestiário dos funcionários. Ele parecia aqueles banheiros de academia, mas claro, muito bonito, cheio de armários, chuveiros e cabines
de banheiro mesmo. Recebi uma chave e um cadeado para guardar meus
pertences. Tinha até meu nome gravado em uma plaquinha, na porta do
armário e achei bem chique.
Após guardar tudo e trocar de roupa, fui até um grande espelho que
tinha ali e me olhei. Fiquei maneiro com a roupa que não tinha cor berrante
e sim de um azul mais escuro. As botas eram confortáveis e macias.
Assim que saí do vestiário, uma mulher que se chamava Vanessa, que
seria minha coordenadora, me mostrou o meu carrinho de trabalho e me
ensinou que eu era responsável por tudo nele. Inclusive de reabastecê-lo
sempre com antecedência para nunca me faltar nada e eu ter que sair do
meu setor para pegar. Ele era bem equipado e com materiais de boa
qualidade.
Vanessa me informou que eu ficaria responsável pelo setor da
Presidência e isso já me deixou nervoso, mas apenas concordei. Ela não era
mal-educada, mas senti que era bem rigorosa.
— Tudo entendido, Fernando?
— Tudo sim, dona Vanessa.
— Seu setor é apenas o da Presidência, no décimo terceiro andar. Não
precisa limpar nenhum outro. Naquele andar além da sala do presidente,
tem mais três de reuniões, banheiro feminino e masculino, a copa, uma sala
de vídeo conferência e a sala do vice-presidente.
— Sim, senhora. Entendi.
— Vou com você até lá hoje porque é seu primeiro dia. A senhora
Flávia você já conhece, não é?
— Sim, a conheço.
Assim que chegamos, tirei meu carrinho do elevador de serviço e logo
vi Flávia na recepção. Ela me deu um lindo sorriso.
— Bom dia, Fernando. Seja bem-vindo novamente.
— Bom dia, dona Flávia. Obrigado.
— Pode deixá-lo comigo, Vanessa. Os outros já estão em seus setores?
— Sim, Fernando foi o último que encaminhei.
— Ótimo. Agora você fica fazendo a fiscalização, ok?
— Ok, com licença. — Percebi que era o primeiro dia da Vanessa também.
Assim que ela se retirou, Flávia se dirigiu a mim novamente.
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Atualizado até capítulo 122
Comments
Tete Medeiros
perfeita
2024-05-04
3
Anita Alves
ummmmmm muito boazinha tenha cuidado Fernando
2024-05-02
0