Saí do jeito que estava e fui andando até a casa de um conhecido que
sempre arrumava uns bicos pra mim em obras. Só que minha viagem não
foi bem-sucedida. Rogério me informou que até tinha uma em vista, mas
que o cliente cancelou por falta de dinheiro para os materiais. Voltei murcho
pelo caminho e com o cérebro fritando, pensando no que iria fazer.
Nessa hora me lembrei do meu pai, do homem forte que ele havia sido,
que cuidou muito bem de sua família em vida. Meu pai não desperdiçava
nenhum trabalho, pegava tudo que vinha. Infelizmente sempre teve uma
vida sofrida, não concluiu os estudos e com isso sempre foi autônomo. Não
deixou nenhuma pensão pra gente, não deu tempo.
— Presta atenção na rua, seu gostoso. — Olhei pra frente e vi Ricardo,
um carinha que eu estava saindo, mas tínhamos dado um tempo.
— Oi, Ricardo.
— Que cara é essa?
— Preocupação. Preciso de trabalho.
— Eu tava nessa, mas minha tia me chamou pra trabalhar pra ela numa
barraca de hambúrguer. Ela estava com preguiça de ficar lá e me contratou.
— Que bom! Não tenho uma tia dessa. — Ri do meu próprio
comentário.
— Mas mudando de assunto, bem que a gente podia sair de novo. O
que você acha?
— Ricardo, a gente já conversou. Minha mãe quase pegou a gente e
estamos com problemas demais agora pra eu trazer mais um.
— Você não pensa em falar pra ela sobre você, Fernando?
— Penso, mas tenho um medo do caralho. Se minha mãe me rejeitar,
eu fico sem rumo, Ricardo. Preciso cuidar dela e da Ju, elas só têm a mim.
— E se esquece nesse caminho?
— Quando tudo se acalmar eu penso nisso. Mas nem é só por ela que não vou aceitar sair com você de novo, é porque do jeito que estou preocupado, nem vou ser boa companhia.
— Vem cá, rapidinho. — Ricardo me puxou para um beco que tinha na nossa rua e que agora estava mais escondido por uma kombi que estava na frente.
Assim que entrei com ele, o safado me beijou e ele tinha um beijo delicioso. Logo eu me via imprensado na parede, tendo minha boca atacada,enquanto ele se esfregava de forma gostosa em mim. Conheço Ricardo
desde molequinho e minha primeira vez tinha sido com ele, mas a gente
nunca levou pro lado do romance, era uma brotheragem, aquela pegação
gostosa quando dava vontade.
Logo fiquei duro, o fogo me lambeu a pele, mas o empurrei de leve e
ele juntou nossas testas.
— Desculpa, eu precisava desse beijo gostoso, mas respeito a sua
decisão.
— Gostei dele, não esperava. Mas agora preciso ir em busca de
trabalho.
Meu celular começou a tocar e era um número que eu não conhecia,
mas atendi.
— Alô.
— Bom dia, gostaria de falar com Fernando Viana.
— É ele, pois não.
— Bom dia, senhor Fernando. Meu nome é Flávia e sou da AGM
Construtora. Através da agência de empregos, seu currículo foi selecionado
pra gente conforme nossa procura. Estou ligando para uma entrevista. —
Olhei sorrindo para Ricardo, pois o safado ainda me beijava pelo pescoço e
o empurrei de leve para prestar atenção na moça. Fiz sinal de que a gente se
falava depois. Saí andando com a moça ao telefone comigo.
— Claro! Podemos marcar sim. De que empresa você é mesmo? Seria
para qual trabalho?
— Somos da AGM Construtora e seria para a área de limpeza da
empresa. Vi em seu currículo que o senhor já trabalhou para uma empresa
terceirizada em um shopping. Aqui nós iremos efetivar direto. — A
pronúncia do nome da empresa me fez travar na hora. Não tinha me ligado
na primeira vez porque Ricardo me distraía. Meu coração acelerou no peito.
Esse nome nunca tinha saído da minha cabeça. Fiquei um mês sem
acessar a internet após a morte do meu pai. Só se falava do acidente e do
CEO que estava envolvido no desastre. Ele não tinha morrido, estava em
coma, mas aquilo me machucava tanto, ainda mais por sempre vir acompanhado das fotos horríveis do dia.
Quando tomei coragem para acessar a internet de novo, se aparecia o nome dessa empresa, eu nem olhava, mudava de página. E assim eu fiz ao longo de todos esses anos. Minha mãe então tinha crise de choro se ouvia algo com o nome desse lugar. A família do CEO meio que culpou meu pai,
mesmo tendo sido comprovado de que foi um acidente.
— Senhor Fernando, ainda está aí?
— Desculpe, estou sim, o sinal tinha ficado fraco.
— Posso marcar a sua entrevista para hoje, às 13 horas? — Fechei meus olhos com o coração aos pulos. Não sabia que porra a vida estava fazendo comigo, mas sabia que precisava de dinheiro e um emprego batia na minha porta. Tentei a todo momento me lembrar que tudo foi um acidente, que o CEO não teve culpa, que meu pai não teve culpa e muito menos a AGM Construtora. Minha mãe culpou a todos, mas era uma esposa desesperada pela perda do marido e assim não podia pensar com clareza. E por fim, suas palavras de mais cedo voltaram na memória.
“Botei comida em casa, Fernando. Sua irmã não tinha nem merenda, a escola não está dando nada. Não podia mandar minha filha pra escola e ela passar fome.”
— Pode marcar, dona Flávia. Estarei aí.
Respondi à mulher do outro lado da linha e a partir de agora eu tinha mais uma coisa que esconderia da minha mãe. Nenhuma era um crime, mas
ambas eu sabia que a fariam sofrer. Só que ou era isso ou estaríamos na rua daqui a 30 dias.
— Você pode anotar o endereço? Se não puder, envio para o e-mail que está em seu currículo.
— Pode mandar para ele, por favor. Estou na rua.
— Ok. Aguardaremos o senhor, bom dia.
— Bom dia e obrigado.
Não tardou para o meu celular apitar mostrando que eu recebia o email. Fui para casa me preparar psicologicamente. Não sabia quem ia me
entrevistar, mas imaginava que diante de tudo, talvez o homem envolvido no acidente nem estivesse mais na empresa, sei lá. Que Deus me ajudasse a
conseguir esse emprego.
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Atualizado até capítulo 122
Comments
Erica Diniz
Como o mundo dá voltas! Quem imaginaria que duas famílias, que não se conhecem, envolvidas em um acidente há 8 anos irão se encontrar coincidentemente. Só essa autora maravilhosa mesmo!
2024-05-15
3
Celina Daltro
cheiro de amor no ar!!
2024-05-06
2