Casamento Arranjado Com o Ceo Frio
O vestido não fechava.
E eu juro que ele tinha fechado na semana passada.
Fiquei ali, no provador abafado da loja, lutando com o zíper que insistia em travar no meio das minhas costas. Me esticando, suando, tentando sugar a barriga pra dentro como se fosse mágica. Mas mágica não funciona em corpos como o meu. Só em contos de fadas, e eu estava presa em um pesadelo de espuma bege, espelho cruel e luz fluorescente que mostrava cada curva com detalhes impiedosos.
— Senhorita, precisa de outro número? — a vendedora perguntou do lado de fora, com aquela voz fingidamente doce que carregava julgamento.
— Não! — respondi rápido demais, o orgulho apertando mais que o vestido — Eu… vou levar esse mesmo.
Mesmo sabendo que não servia. Mesmo sabendo que ia doer.
Engoli em seco. Vesti meu casaco por cima e saí da cabine tentando não cruzar o olhar com ninguém. Algumas mulheres magras estavam perto do caixa rindo entre si. Uma delas me lançou um olhar rápido, daqueles que dissecam, pesam, comparam, e depois descartam.
Se elas soubessem que eu estava comprando aquele vestido para ser pedida em casamento… talvez rissem mais alto.
Ou talvez não se importassem. Gordas apaixonadas também eram motivo de piada, não eram?
Cheguei em casa com as mãos tremendo e o coração inquieto. Passei um perfume doce, arrumei o cabelo, coloquei o vestido mesmo apertado. Me olhei no espelho uma última vez. Não era perfeita. Nunca fui. Mas era real.
Ele sabia disso. Sempre soube.
Ou… pensei que soubesse.
Bati na porta do apartamento dele com um sorriso hesitante no rosto. Queria fazer surpresa. Havia decorado mentalmente cada detalhe da noite: a garrafa de vinho que ele disse que compraria, a playlist romântica, o olhar dele enquanto se ajoelhava… a porta estava encostada. Ele nunca fazia isso.
Entrei. O som de risos e gemidos veio do quarto.
Meu estômago virou pedra.
Cada passo que dei foi como andar sobre cacos. O riso feminino aumentou. Um estalo de cama. Uma voz masculina, dele, dizendo algo que eu não entendi.
Até que entendi.
Porque quando abri a porta do quarto e vi os dois na cama, tudo ficou mudo. Ele estava com a minha vizinha. A ex. Aquela que ele jurava que não fazia mais parte da vida dele.
Ela estava montada nele, cabelos soltos, unhas cravadas no peito dele. E ele… rindo. Relaxado. Como se aquilo fosse a coisa mais natural do mundo.
— O quê… — foi só o que consegui dizer.
Os dois se viraram. Ela sorriu. Ele franziu a testa… e então bufou.
— Droga, Bella… Por que não bateu antes de entrar?
— Porque eu sou sua noiva! — minha voz saiu alta, trêmula, cortante — Ou era. Pelo visto…
— Não dramatiza. — ele murmurou, se levantando com o lençol na cintura — A gente já não estava funcionando há tempos. Você só não quis ver.
Senti o ar sumir.
— Você me disse que me amava.
Ele deu de ombros.
— Disse. Mas amar não é suficiente quando você não sente mais atração pela pessoa.
Um silêncio mortal se instalou.
— E você não sente por mim… porque eu engordei?
Ele me encarou com um olhar seco, vazio.
— Bella, seja honesta… Olha pra você. Você acha mesmo que eu consigo me manter excitado por uma mulher que está sempre acima do peso? Eu sou homem, não santo.
Um tapa teria doído menos.
Eu queria sumir. Queria gritar. Mas só consegui virar as costas e correr.
A rua parecia um borrão. O vestido me machucava, os sapatos arranhavam os calcanhares, e meus olhos estavam tão cheios d’água que eu mal via onde pisava. Entrei no primeiro bar que encontrei. Escuro, com cheiro de uísque velho e desespero.
Perfeito.
Me sentei no fundo, pedi algo forte e deixei queimar a garganta. Queimava menos que as palavras dele.
— Você acha mesmo que eu consigo me manter excitado…?
O que há de errado comigo? Por que ser como eu incomoda tanto as pessoas?
Foi quando senti o olhar.
Um arrepio percorreu minha espinha. Um homem, a poucos metros, me observava. Alto, impecavelmente vestido, com uma aura de silêncio perigoso. Olhos azuis tão claros que pareciam gelo. Mas havia algo quente ali também… como uma faísca contida.
Desviei o olhar. Tomei outro gole.
Mas ele continuava olhando.
E então se levantou.
Passos lentos. Precisos. Um predador vindo em minha direção.
— A cadeira está vazia? — ele perguntou com a voz baixa e firme, apontando para o banco ao meu lado.
Assenti, sem coragem de encará-lo.
Ele se sentou.
Ficamos em silêncio por longos segundos, até que ele disse, sem rodeios:
— Você não parece o tipo de mulher que chora por qualquer coisa.
Olhei para ele, surpresa. Meus olhos ainda ardiam.
— E você não parece o tipo de homem que se importa.
Ele sorriu de canto.
— Talvez não me importe com todo mundo. Mas hoje… eu me importo com você.
Meu coração deu um pulo estranho. Porque pela primeira vez naquela noite… eu me senti vista. Mas ainda não sabia o preço disso.
Eu não sabia o que aquele homem queria comigo. Mas, naquela noite, eu também não sabia mais o que queria de mim mesma.
Apenas fiquei ali, encarando o copo vazio, ouvindo o som da minha respiração tentando voltar ao ritmo. Do lado, o estranho misterioso parecia mais real do que qualquer coisa que vivi nos últimos meses.
— Por que você está aqui? — perguntei, tentando parecer mais firme do que estava.
— Porque você está! — ele respondeu, como se isso fosse razão suficiente.
Suspirei e revirei os olhos, ainda que por dentro algo se contraísse com aquele tom.
Quase como se… ele me desejasse. Mas isso era impossível.
Ninguém desejava mulheres como eu. Não de verdade.
— BELLA?
A voz veio cortando o ar como uma faca. Congelada, virei lentamente a cabeça. E ali estavam eles. Como dois pesadelos vivos em carne, osso e veneno.
O meu ex-noivo, ainda com o cabelo bagunçado do sexo, a camisa aberta no peito e aquele olhar de desprezo no rosto, e ela, a vizinha, a ex dele, com um vestido minúsculo e riso debochado nos lábios vermelhos demais.
— Que coincidência. — ela disse, fingindo surpresa — Viemos comemorar nossa noite especial. E você… sozinha?
Quase ri. Que tipo de monstro precisa perseguir a própria vítima depois de esmagá-la?
— Não estou sozinha. — respondi com a voz firme, mesmo sentindo o estômago se revirar — E nem tenho do que comemorar.
Meu ex deu um passo à frente, o olhar cruzando com o do homem ao meu lado, que continuava sentado ao meu lado, observando tudo em silêncio absoluto. Mas havia algo nos olhos dele… um aviso contido.
— Ah, então é esse o novo brinquedinho? — o idiota provocou — Ele sabe o que está comprando? Ou você ainda está fingindo que se ama o suficiente pra seduzir alguém?
Senti meu rosto arder. Minha garganta secou. Cada palavra era uma agulha cravando na pele. Mas antes que eu respondesse, o homem se levantou.
E o mundo pareceu congelar.
O ar ao redor dele mudou. Ele era alto, muito mais do que meu ex. Ombros largos, postura impecável, olhos gélidos como aço recém-saído do fogo.
— Repita o que disse. — ele pediu, com a voz baixa e perigosa.
Meu ex riu.
— Olha, cara, não é da sua conta. A Bella e eu temos um histórico. Ela sabe do que eu tô falando. Ela sempre foi… sensível demais. E insegura. Não sabe brincar de mulher fatal.
O homem deu um passo à frente. Os dois estavam frente a frente. A tensão era física, quase palpável.
— Se eu ouvir você falar dela nesse tom novamente. — o homem disse, devagar — Juro que será a última frase inteira que sua boca arrogante vai conseguir formar sem cuspir dentes.
A amante arregalou os olhos, puxando o ex pelo braço.
— Vamos embora, isso aqui tá ficando patético.
— Isso aqui tá ficando perigoso. — ele corrigiu, olhando com raiva para o homem ao meu lado. Depois para mim — Mas tá bom. Aproveita, Bella. Só cuidado pra não quebrar a cama.
Ele riu. Eu tremi. Mas o homem ao meu lado apenas olhou para mim, estendeu a mão e disse:
— Vamos sair daqui.
E eu fui. Andamos até o lado de fora. O ar da noite estava gelado, mas meu rosto ainda queimava.
— Desculpa. — falei, com vergonha — Você não precisava se meter nisso.
— Eu não “me meto”. — ele respondeu — Eu escolho. E escolhi não deixar aquilo continuar.
Fiquei em silêncio.
— Eles sempre foram assim com você? — ele perguntou depois de um tempo, a voz mais baixa agora.
— Não todos. — respondi, olhando para o chão — Mas a maioria… sim. Tem gente que acha que mulher gorda tem que ser grata por qualquer migalha de atenção. Como se a gente fosse invisível ou… uma piada.
— Você não é uma piada.
— Não? — olhei para ele, incrédula — Por que estaria aqui, então?
— Porque você é a única coisa interessante nesse lugar inteiro.
Aquilo me desmontou.
Nos minutos seguintes, o homem me levou para um restaurante discreto anexo ao bar, onde podíamos conversar com mais privacidade. A atmosfera era acolhedora, as luzes baixas. Eu me sentia deslocada ali… como sempre. Mas ele parecia no controle.
— Qual seu nome? — perguntei, tentando retomar o chão.
Ele tirou o paletó, afrouxou a gravata e me encarou com olhos perigosamente intensos.
— Ethan Tate.
— Tate? — engasguei. — Como o grupo Tate das holdings?
Ele assentiu. Nem um sorriso. Claro. Claro que o homem que me defendeu era um Ceo bilionário. Porque minha vida precisava ser ainda mais surreal.
— E você, Bella… — ele murmurou, encostando os braços na mesa — não devia permitir que ninguém fale de você como aquele idiota falou.
— Eu já estou acostumada. — sussurrei, envergonhada.
Ele se inclinou para frente. Sua voz desceu um tom.
— Acostumar-se à dor não significa que ela deve continuar.
— Você fala como se soubesse o que é isso.
— E sei.
Ficamos em silêncio de novo. Mas não era um silêncio vazio. Era um silêncio carregado. Ele me olhava como se… me quisesse. De verdade. E isso me assustava mais do que qualquer humilhação daquela noite.
Porque, no fundo, eu não sabia se estava pronta para ser desejada. Mas meu corpo estava. Cada centímetro dele.
Quando saímos, ele chamou um motorista e segurou a porta para mim.
— Obrigada… por tudo hoje. — murmurei, entrando no carro.
— Ainda não acabou, Bella.
— Como assim?
Ele sorriu de lado. Um sorriso que dizia tudo e nada ao mesmo tempo.
— Amanhã. Quero te ver de novo. Me deixe jantar com você.
— Isso parece… um convite estranho.
— Não é um convite. — ele respondeu — É o início de um acordo.
— Que tipo de acordo?
Ele se inclinou pela porta antes de fechá-la.
— Um que pode mudar sua vida inteira.
E então, fechou a porta. E meu coração bateu como se algo estivesse prestes a começar… algo perigoso.
Algo inevitável.
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Atualizado até capítulo 40
Comments
ALINE ASSIS ♡♡♡♡
NOGENTO MISERÁVEL SE FOSSE EU DAVA UMA SURRA NELA E NELE EU DAVA UM MURO PRA QUEBRA OS DENTRES
2025-07-11
4
Jenny Hilda
Autora já estou gostando dessa história, estou achando que ele era um gordinho na era mais novo e sofria preconceito também por isso e até foi desprezado por uma garota que ele gostava na adolescência.
2025-07-10
2
Damares🧚🍃
viu só... o problema não é você! só basta abrir os olhos e ver o quanto a oportunidades🌸
2025-07-08
2