O casamento aconteceu numa sala impessoal de um cartório luxuoso, escondido no coração da cidade. Frio. Rápido. Burocrático. Nada de flores, de promessas sussurradas ou música romântica. Apenas papel, caneta, testemunhas desconhecidas e flashes de câmeras dos advogados de Ethan. Eu me sentia como uma personagem mal escalada no próprio enredo da minha vida.
O vestido justo arranhava a pele sob o calor abafado da sala. Os saltos altos doíam mais que a alma. Minhas mãos tremiam, mas mantinham-se firmes sobre o colo. Ethan estava ao meu lado, impecável. Terno sob medida, olhar fixo nos documentos. Nenhuma expressão de empolgação. Nenhum sinal de nervosismo.
Mas ele me olhava. Com aqueles olhos de gelo, que queimavam como brasa quando se demoravam demais. Como se cada curva minha fosse um campo de batalha silenciosa.
— Sra. Bella Greehen, aceita o Sr. Ethan Tate como seu legítimo esposo, sob os termos acordados?
Minha garganta secou. Por um segundo, vi o rosto da minha mãe adotiva entubada, o som dos monitores no hospital, a expressão desesperada do médico. Vi meu coração sangrando e engoli a dor.
— Aceito. — respondi, quase num sussurro.
Ethan assinou sem hesitar. Eu assinei em seguida. As testemunhas também. E pronto. Estava feito. Eu era a esposa do homem que mais me confundia no mundo.
Quando os flashes das câmeras recomeçaram, ele segurou minha mão e se inclinou até meu ouvido.
— Agora você é oficialmente minha... mesmo que diga que não quer ser. — sussurrou, com um leve toque de arrogância nos lábios.
Fechei os olhos. Respirei fundo. Mantive o sorriso forçado enquanto a alma gritava. Ele não fazia ideia do quanto doía ser desejada por razões erradas.
No carro, o silêncio era denso. As ruas passavam pela janela como memórias de uma liberdade que eu já não tinha. O vestido apertado, o anel brilhando no dedo e o homem ao meu lado parecendo mais um contrato do que um marido.
— Está tudo bem? — ele perguntou, com voz baixa.
Olhei para ele. A perfeição do rosto, a firmeza da postura, a confiança irritante.
— Tudo incrivelmente normal para quem acabou de vender a própria vida. — retruquei com amargura.
Ele não respondeu. Apenas encarou a paisagem lá fora.
A cobertura dele ficava em um dos prédios mais caros da cidade. O hall de entrada tinha paredes em preto fosco e detalhes em dourado. O elevador reconheceu sua digital e subiu até o último andar.
Quando as portas se abriram, eu prendi a respiração.
Era um palácio suspenso. Piso em mármore branco, paredes de vidro com vista para a cidade inteira. Sofás em tons escuros, luminárias modernas, uma lareira acesa mesmo fora do inverno. Um piano de cauda repousava ao canto da sala.
— Uau... — foi tudo que consegui dizer.
Ethan sorriu de leve, como se aquilo fosse comum demais.
— Venha, vou mostrar seu... nosso quarto.
Aquela pausa entre as palavras não passou despercebida.
O quarto era amplo, decorado com tons neutros e uma cama gigante no centro, com lençóis de cetim escuro. Ao lado, uma porta levava a um closet... e foi lá que meu coração parou por segundos.
Roupas. Muitas. Vestidos elegantes, casacos, calças sociais, lingeries finas, tudo em meu tamanho. Sapatos em dezenas de pares, bolsas de grife, perfumes caros.
— Como...? — comecei, sem entender.
— Eu tive acesso ao seu histórico com marcas. Pedi para profissionais cuidarem de cada detalhe. Achei que você gostaria de se sentir... parte disso.
Parte disso?
Não sabia se me sentia grata ou invadida. Mas uma parte de mim... sorriu. Uma parte que nunca foi vista. Nunca foi valorizada.
Voltei para o quarto, sentindo o peso do novo mundo sobre os ombros. Me virei para ele, que já estava tirando o paletó e afrouxando a gravata.
— Então é isso... — falei, olhando ao redor — Vou dormir aqui. Com você.
Ele se aproximou lentamente.
— Você vai dormir onde quiser. Mas esse quarto é o que meu avô quer ver ocupado. Por nós dois. Como um casal de verdade.
Senti um arrepio.
Não por medo. Mas por algo mais confuso. Algo quente. Algo que eu estava tentando não aceitar desde o primeiro momento em que aquele homem entrou no bar e me viu como nenhum outro havia feito.
— Que comece o show, Sr. Tate... — falei, encarando-o.
E ele sorriu. Como quem já sabe que vai ganhar.
A porta do quarto se fechou com um estalo suave. Era estranho estar ali, em um lugar onde cada detalhe gritava o nome dele, mas onde agora eu também precisava existir.
Ethan Tate.
Meu marido.
Meu algoz.
Meu salvador temporário.
E minha nova rotina de sobrevivência começava com um closet do tamanho do meu antigo apartamento. Estava repleto de roupas feitas sob medida, lingeries absurdamente sensuais, saltos que pareciam pertencer às vitrines da Champs-Élysées. E tudo, absolutamente tudo, cabia em mim. Com perfeição desconcertante.
Ele não apenas comprou roupas. Ele estudou meu corpo.
O cheiro dele estava por toda parte. Ligeiramente adocicado. Masculino. Invadindo meus sentidos mesmo quando eu queria odiar.
— O jantar está servido. — a voz dele ecoou da sala, firme como sempre. Sem pedir. Sem perguntar. Apenas afirmando.
Eu desci as escadas do segundo andar da cobertura com passos lentos. O vestido justo de casamento ainda colado ao corpo. Ele me esperava à cabeceira da mesa longa, onde havia apenas dois lugares servidos. Um jantar íntimo e elegante. Luz baixa. Taças já preenchidas.
— Estava me esperando? — ironizei, puxando a cadeira.
Ele não sorriu. Apenas me observou.
— Eu sempre espero por você, Bella. A questão é: até quando você vai me fazer esperar pelo que já é meu?
Engoli o vinho num gole, antes de responder:
— Não confunda papel passado com consentimento. Só porque carrego seu sobrenome, não significa que carrego você em mim.
Ele riu de leve. Um som grave, provocador.
— Ainda não. Mas vai carregar. E vai gostar.
A comida era divina, mas eu mal sentia o gosto. O ar entre nós era elétrico, tenso, lotado de palavras não ditas e faíscas escondidas. Ele me observava como se me despisse com os olhos. Como se soubesse exatamente o que fazer para me desmoronar.
E talvez soubesse mesmo.
Terminamos o jantar em silêncio. Ele levantou primeiro. Foi até a estante de bebidas e serviu um licor forte em taças menores.
— Proponho um brinde. — disse, me entregando uma das taças.
— A quê? — perguntei.
Ele ergueu a dele e respondeu:
— Ao fogo que você tenta esconder.
Ergui a sobrancelha. Mas bebi. Estava quente. Doce. Perigoso. Como ele.
Minutos depois, eu subi para o quarto e ele veio logo atrás. Estávamos no mesmo espaço, e o contrato dizia: quarto compartilhado.
Ele se encostou na porta e cruzou os braços, me observando tirar os brincos diante do espelho.
— Algum limite que queira impor? — perguntou, com voz baixa.
Virei de frente, encarando-o.
— Sim. Nada de se aproveitar da confusão da minha vida para conseguir o que quer.
Ele deu um passo.
— E se o que eu quero for te fazer esquecer essa confusão por uns minutos?
— Ethan...
— Diga. — Ele estava perto agora. Perto demais.
— Eu não vou ser sua distração sexual para o tédio de Ceo ferido.
— E eu não vou ser o vilão da sua história, Bella. Mas também não vou fingir que não desejo cada centímetro seu.
Meus joelhos amoleceram. Sua mão tocou levemente meu queixo. A respiração dele estava quente. O olhar queimava.
Eu podia beijá-lo. Podia me entregar. Mas não fiz. Ainda não. Apenas sorri com desafio e sussurrei:
— Não sou uma chama pra você brincar, Tate.
Ele se aproximou mais, colando os lábios ao meu ouvido:
— E eu não sou o tipo de homem que se queima sem querer.
O desejo era quase insuportável. Mas eu venci. Me afastei e me joguei na cama do lado oposto ao dele.
— Boa noite, marido.
E ele, deitado ao lado, respondeu:
— Isso ainda vai me matar, esposa.
Sorri no escuro. E o jogo continuava.
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Atualizado até capítulo 40
Comments
Celi
autora ela vai emagrecer e dá a volta por cima ou vai ser gordinha a estória toda?
2025-07-07
6
Maria Sena
Nossa autora, você tá lacrando hem, tô amando essa sua atriz, fora do padrão da sociedade, mas também fora da casinha. Amando a mulher forte, destemida, segura, mesmo querendo atacar o safado gostoso 😋😜 mas tá agindo com firmeza. Ele achou que pegando ela antes da proposta, ela ia se tornar um carpete pra ele pisar. Se deu mal, o que ele achou que seria fácil tá ferindo o ego dele.
2025-07-23
1
adelice miranda de aguiar
autora a história está linda. muito interessante o tema, segundo livro que eu leio sobre esse assunto, todos os livros falam de mulheres esculturais
espero que ela não entre na loucura de querer emagrecer, foi assim que ele a conheceu
2025-07-08
1