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Casamento Arranjado Com o Ceo Frio

Capítulo 1 – A Queda de Bella. O Espelho Não Mente, Mas Machuca.

O vestido não fechava.

E eu juro que ele tinha fechado na semana passada.

Fiquei ali, no provador abafado da loja, lutando com o zíper que insistia em travar no meio das minhas costas. Me esticando, suando, tentando sugar a barriga pra dentro como se fosse mágica. Mas mágica não funciona em corpos como o meu. Só em contos de fadas, e eu estava presa em um pesadelo de espuma bege, espelho cruel e luz fluorescente que mostrava cada curva com detalhes impiedosos.

— Senhorita, precisa de outro número? — a vendedora perguntou do lado de fora, com aquela voz fingidamente doce que carregava julgamento.

— Não! — respondi rápido demais, o orgulho apertando mais que o vestido — Eu… vou levar esse mesmo.

Mesmo sabendo que não servia. Mesmo sabendo que ia doer.

Engoli em seco. Vesti meu casaco por cima e saí da cabine tentando não cruzar o olhar com ninguém. Algumas mulheres magras estavam perto do caixa rindo entre si. Uma delas me lançou um olhar rápido, daqueles que dissecam, pesam, comparam, e depois descartam.

Se elas soubessem que eu estava comprando aquele vestido para ser pedida em casamento… talvez rissem mais alto.

Ou talvez não se importassem. Gordas apaixonadas também eram motivo de piada, não eram?

Cheguei em casa com as mãos tremendo e o coração inquieto. Passei um perfume doce, arrumei o cabelo, coloquei o vestido mesmo apertado. Me olhei no espelho uma última vez. Não era perfeita. Nunca fui. Mas era real.

Ele sabia disso. Sempre soube.

Ou… pensei que soubesse.

Bati na porta do apartamento dele com um sorriso hesitante no rosto. Queria fazer surpresa. Havia decorado mentalmente cada detalhe da noite: a garrafa de vinho que ele disse que compraria, a playlist romântica, o olhar dele enquanto se ajoelhava… a porta estava encostada. Ele nunca fazia isso.

Entrei. O som de risos e gemidos veio do quarto.

Meu estômago virou pedra.

Cada passo que dei foi como andar sobre cacos. O riso feminino aumentou. Um estalo de cama. Uma voz masculina, dele, dizendo algo que eu não entendi.

Até que entendi.

Porque quando abri a porta do quarto e vi os dois na cama, tudo ficou mudo. Ele estava com a minha vizinha. A ex. Aquela que ele jurava que não fazia mais parte da vida dele.

Ela estava montada nele, cabelos soltos, unhas cravadas no peito dele. E ele… rindo. Relaxado. Como se aquilo fosse a coisa mais natural do mundo.

— O quê… — foi só o que consegui dizer.

Os dois se viraram. Ela sorriu. Ele franziu a testa… e então bufou.

— Droga, Bella… Por que não bateu antes de entrar?

— Porque eu sou sua noiva! — minha voz saiu alta, trêmula, cortante — Ou era. Pelo visto…

— Não dramatiza. — ele murmurou, se levantando com o lençol na cintura — A gente já não estava funcionando há tempos. Você só não quis ver.

Senti o ar sumir.

— Você me disse que me amava.

Ele deu de ombros.

— Disse. Mas amar não é suficiente quando você não sente mais atração pela pessoa.

Um silêncio mortal se instalou.

— E você não sente por mim… porque eu engordei?

Ele me encarou com um olhar seco, vazio.

— Bella, seja honesta… Olha pra você. Você acha mesmo que eu consigo me manter excitado por uma mulher que está sempre acima do peso? Eu sou homem, não santo.

Um tapa teria doído menos.

Eu queria sumir. Queria gritar. Mas só consegui virar as costas e correr.

A rua parecia um borrão. O vestido me machucava, os sapatos arranhavam os calcanhares, e meus olhos estavam tão cheios d’água que eu mal via onde pisava. Entrei no primeiro bar que encontrei. Escuro, com cheiro de uísque velho e desespero.

Perfeito.

Me sentei no fundo, pedi algo forte e deixei queimar a garganta. Queimava menos que as palavras dele.

— Você acha mesmo que eu consigo me manter excitado…?

O que há de errado comigo? Por que ser como eu incomoda tanto as pessoas?

Foi quando senti o olhar.

Um arrepio percorreu minha espinha. Um homem, a poucos metros, me observava. Alto, impecavelmente vestido, com uma aura de silêncio perigoso. Olhos azuis tão claros que pareciam gelo. Mas havia algo quente ali também… como uma faísca contida.

Desviei o olhar. Tomei outro gole.

Mas ele continuava olhando.

E então se levantou.

Passos lentos. Precisos. Um predador vindo em minha direção.

— A cadeira está vazia? — ele perguntou com a voz baixa e firme, apontando para o banco ao meu lado.

Assenti, sem coragem de encará-lo.

Ele se sentou.

Ficamos em silêncio por longos segundos, até que ele disse, sem rodeios:

— Você não parece o tipo de mulher que chora por qualquer coisa.

Olhei para ele, surpresa. Meus olhos ainda ardiam.

— E você não parece o tipo de homem que se importa.

Ele sorriu de canto.

— Talvez não me importe com todo mundo. Mas hoje… eu me importo com você.

Meu coração deu um pulo estranho. Porque pela primeira vez naquela noite… eu me senti vista. Mas ainda não sabia o preço disso.

Eu não sabia o que aquele homem queria comigo. Mas, naquela noite, eu também não sabia mais o que queria de mim mesma.

Apenas fiquei ali, encarando o copo vazio, ouvindo o som da minha respiração tentando voltar ao ritmo. Do lado, o estranho misterioso parecia mais real do que qualquer coisa que vivi nos últimos meses.

— Por que você está aqui? — perguntei, tentando parecer mais firme do que estava.

— Porque você está! — ele respondeu, como se isso fosse razão suficiente.

Suspirei e revirei os olhos, ainda que por dentro algo se contraísse com aquele tom.

Quase como se… ele me desejasse. Mas isso era impossível.

Ninguém desejava mulheres como eu. Não de verdade.

— BELLA?

A voz veio cortando o ar como uma faca. Congelada, virei lentamente a cabeça. E ali estavam eles. Como dois pesadelos vivos em carne, osso e veneno.

O meu ex-noivo, ainda com o cabelo bagunçado do sexo, a camisa aberta no peito e aquele olhar de desprezo no rosto, e ela, a vizinha, a ex dele, com um vestido minúsculo e riso debochado nos lábios vermelhos demais.

— Que coincidência. — ela disse, fingindo surpresa — Viemos comemorar nossa noite especial. E você… sozinha?

Quase ri. Que tipo de monstro precisa perseguir a própria vítima depois de esmagá-la?

— Não estou sozinha. — respondi com a voz firme, mesmo sentindo o estômago se revirar — E nem tenho do que comemorar.

Meu ex deu um passo à frente, o olhar cruzando com o do homem ao meu lado, que continuava sentado ao meu lado, observando tudo em silêncio absoluto. Mas havia algo nos olhos dele… um aviso contido.

— Ah, então é esse o novo brinquedinho? — o idiota provocou — Ele sabe o que está comprando? Ou você ainda está fingindo que se ama o suficiente pra seduzir alguém?

Senti meu rosto arder. Minha garganta secou. Cada palavra era uma agulha cravando na pele. Mas antes que eu respondesse, o homem se levantou.

E o mundo pareceu congelar.

O ar ao redor dele mudou. Ele era alto, muito mais do que meu ex. Ombros largos, postura impecável, olhos gélidos como aço recém-saído do fogo.

— Repita o que disse. — ele pediu, com a voz baixa e perigosa.

Meu ex riu.

— Olha, cara, não é da sua conta. A Bella e eu temos um histórico. Ela sabe do que eu tô falando. Ela sempre foi… sensível demais. E insegura. Não sabe brincar de mulher fatal.

O homem deu um passo à frente. Os dois estavam frente a frente. A tensão era física, quase palpável.

— Se eu ouvir você falar dela nesse tom novamente. — o homem disse, devagar — Juro que será a última frase inteira que sua boca arrogante vai conseguir formar sem cuspir dentes.

A amante arregalou os olhos, puxando o ex pelo braço.

— Vamos embora, isso aqui tá ficando patético.

— Isso aqui tá ficando perigoso. — ele corrigiu, olhando com raiva para o homem ao meu lado. Depois para mim — Mas tá bom. Aproveita, Bella. Só cuidado pra não quebrar a cama.

Ele riu. Eu tremi. Mas o homem ao meu lado apenas olhou para mim, estendeu a mão e disse:

— Vamos sair daqui.

E eu fui. Andamos até o lado de fora. O ar da noite estava gelado, mas meu rosto ainda queimava.

— Desculpa. — falei, com vergonha — Você não precisava se meter nisso.

— Eu não “me meto”. — ele respondeu — Eu escolho. E escolhi não deixar aquilo continuar.

Fiquei em silêncio.

— Eles sempre foram assim com você? — ele perguntou depois de um tempo, a voz mais baixa agora.

— Não todos. — respondi, olhando para o chão — Mas a maioria… sim. Tem gente que acha que mulher gorda tem que ser grata por qualquer migalha de atenção. Como se a gente fosse invisível ou… uma piada.

— Você não é uma piada.

— Não? — olhei para ele, incrédula — Por que estaria aqui, então?

— Porque você é a única coisa interessante nesse lugar inteiro.

Aquilo me desmontou.

Nos minutos seguintes, o homem me levou para um restaurante discreto anexo ao bar, onde podíamos conversar com mais privacidade. A atmosfera era acolhedora, as luzes baixas. Eu me sentia deslocada ali… como sempre. Mas ele parecia no controle.

— Qual seu nome? — perguntei, tentando retomar o chão.

Ele tirou o paletó, afrouxou a gravata e me encarou com olhos perigosamente intensos.

— Ethan Tate.

— Tate? — engasguei. — Como o grupo Tate das holdings?

Ele assentiu. Nem um sorriso. Claro. Claro que o homem que me defendeu era um Ceo bilionário. Porque minha vida precisava ser ainda mais surreal.

— E você, Bella… — ele murmurou, encostando os braços na mesa — não devia permitir que ninguém fale de você como aquele idiota falou.

— Eu já estou acostumada. — sussurrei, envergonhada.

Ele se inclinou para frente. Sua voz desceu um tom.

— Acostumar-se à dor não significa que ela deve continuar.

— Você fala como se soubesse o que é isso.

— E sei.

Ficamos em silêncio de novo. Mas não era um silêncio vazio. Era um silêncio carregado. Ele me olhava como se… me quisesse. De verdade. E isso me assustava mais do que qualquer humilhação daquela noite.

Porque, no fundo, eu não sabia se estava pronta para ser desejada. Mas meu corpo estava. Cada centímetro dele.

Quando saímos, ele chamou um motorista e segurou a porta para mim.

— Obrigada… por tudo hoje. — murmurei, entrando no carro.

— Ainda não acabou, Bella.

— Como assim?

Ele sorriu de lado. Um sorriso que dizia tudo e nada ao mesmo tempo.

— Amanhã. Quero te ver de novo. Me deixe jantar com você.

— Isso parece… um convite estranho.

— Não é um convite. — ele respondeu — É o início de um acordo.

— Que tipo de acordo?

Ele se inclinou pela porta antes de fechá-la.

— Um que pode mudar sua vida inteira.

E então, fechou a porta. E meu coração bateu como se algo estivesse prestes a começar… algo perigoso.

Algo inevitável.

Capítulo 2 – A Noite Queimou Mais Que a Pele. Antes do Acordo, Ela Queimou Meu

Escolhi o hotel mais discreto de Manhattan. E o andar mais alto.

O quarto era amplo, com janelas que iam do chão ao teto, exibindo uma vista absurda da cidade. Cortinas pesadas em cinza carvão, mesa posta com louça branca e taças de cristal. No canto, um bar discreto com garrafas que só saíam da prateleira por ordens minhas. Iluminação suave, aquecida, como se tudo ali tivesse sido pensado para dizer: nada aqui é por acaso.

Porque não era.

Eu precisava que ela dissesse sim, mas antes… eu precisava que ela confiasse. Ou ao menos… que ficasse.

Ela chegou às oito e meia. O vestido vinho abraçava suas curvas com uma elegância que não pedia desculpas. E o batom combinava com a cor da bebida que ela aceitou da minha mão.

— Uísque? — perguntei, já sabendo a resposta.

— Duplo. — ela respondeu, sem piscar.

Sentei-me à frente dela, observando como suas mãos tremiam levemente ao pegar a taça. Fingiu firmeza, mas seus olhos denunciavam o turbilhão que ela tentava disfarçar.

— Você sempre traz mulheres aqui pra fazer propostas misteriosas? — ela perguntou, depois da terceira dose.

Sorri.

— Só quando encontro alguém que me interessa de verdade.

Ela deu uma risada seca.

— Um Ceo interessado numa mulher como eu. Deve ter perdido uma aposta.

— Não diga isso. — sussurrei, firme — Não faça pouco de si mesma.

— Eu faço antes que os outros façam.

Ela bebeu a quarta dose com a rapidez de quem já apanhou demais. E então me olhou. Com aquele olhar… de quem já perdeu tudo. De quem não espera mais nada. Talvez por isso… eu tenha parado de fingir controle naquele momento.

Ela se levantou, tirando os sapatos. Andou descalça pelo carpete felpudo, com a bebida na mão e a alma à mostra. A camisa aberta no meu peito não era nada perto da vulnerabilidade estampada no corpo dela.

— Você me olhou ontem como se eu fosse desejável. — ela disse, sem me encarar — E hoje… ainda tá me olhando assim. Isso é real?

— É tão real que tá me matando por dentro.

Ela riu, amarga.

— Você não parece o tipo de homem que sofre.

Levantei. Me aproximei.

— Você não parece o tipo de mulher que precisa de aprovação.

— Mas preciso. — ela sussurrou.

Encostei meus dedos no queixo dela e a fiz me encarar.

— Eu não vim aqui pra te avaliar, Bella. Eu vim pra te ter.

O quinto gole de uísque desceu pela garganta dela. E então ela se jogou em mim. O beijo não foi delicado. Foi brutal. Foi exigente. Foi quente. Ela me beijava como quem pedia socorro e mordia como quem queria marcar território.

Desci as mãos pela curva generosa de sua cintura e puxei seu corpo contra o meu, sentindo as coxas roçarem minha calça de alfaiataria. A cada toque, o controle que me fazia Ceo desmoronava.

Ela arrancou minha camisa. Eu puxei o zíper do vestido. Os tecidos caíram no chão como se nunca tivessem tido importância alguma.

— Você é linda. — sussurrei contra o pescoço dela — E eu vou te provar isso com a boca.

Empurrei-a contra a parede acolchoada ao lado da cortina, deixando-a de calcinha e sutiã preto. A pele dela era macia, quente, viva. Beijei seu pescoço, seu colo, sua barriga. Ela tentou cobrir com as mãos, mas eu segurei seus pulsos com firmeza e murmurei:

— Aqui não se esconde nada.

— Mas eu sou…

— Shh… deixa eu cuidar disso.

Ajoelhei diante dela. Beijei sua barriga como quem honra um altar. Depois, desci a calcinha devagar, sentindo o perfume doce da sua pele. Quando minha língua a tocou, ela gemeu alto.

Deixei minha boca provar cada gemido. Lambia com precisão. Sugava devagar. Alternava ritmos como um maestro conduzindo a sinfonia do prazer.

— Ethan… meu Deus…

— Olha pra mim. Quero ver seus olhos quando você gøzar.

Ela olhou.

E gøzou.

Ali mesmo, apoiada na parede do hotel, com a cidade inteira atrás da janela… e a alma dela exposta só pra mim.

Peguei-a no colo, deixando-a surpresa com minha força, e levei até a cama. Sem pudor. Sem pausa. Tirei minha calça. Estava duro, latejando. Ela me puxou pelas costas, cravando as unhas como quem queria gravar a sensação de ter sido finalmente desejada.

Entrei nela de uma vez. Quente. Muito apertada. Molhada. Feita pra mim.

— Você é tudo, Bella — grunhi entre estocadas — Tudo.

Ela gemeu. Arqueou o corpo. Pedia mais sem palavras. E eu dei. Dei tudo. Dei forte. Dei fundo. Dei como um homem que sabia que nunca mais teria paz depois daquela mulher.

Mudamos de posição. Ela por cima. Seiøs balançando. Cabelos desgrenhados. Pele suada. Olhos selvagens. Linda. Indomável. Real. Um mulherão da porr4.

Ela gøzou de novo.

E então eu explodi dentro dela, sentindo a respiração travar, o mundo parar e o sangue pulsar no peito com força demais.

Deitamos ofegantes.

Ela deitou sobre meu peito. E eu passei a mão nos cabelos dela. Não disse nada. Porque eu sabia que se falasse agora… diria coisas que não estava pronto pra sentir.

Mas sentia.

E antes que o sono nos pegasse, ela disse:

— Ethan…

— Fala?

— Eu acho que… não sei mais quem eu sou depois disso.

Apertei seu corpo contra o meu.

— Talvez agora seja a hora de descobrir.

***

Ela ainda dormia quando me levantei. Seus cabelos estavam espalhados no travesseiro, os lábios entreabertos, os lençóis deslizando pelas curvas como se até o tecido soubesse da sorte que tinha em tocá-la.

E mesmo assim, eu vesti a armadura.

Coloquei a camisa branca de volta, abotoei devagar, como se cada botão me lembrasse de quem eu era. Ceo. Ethan Tate. O herdeiro que não podia errar. O homem que não podia amar.

Dei um passo para trás e a observei nua.

Linda.

Real.

E completamente vulnerável. Foi aí que senti, não culpa, não arrependimento, mas… desconforto.

Porque o que fizemos na noite passada não estava nos meus planos. E Bella não era só mais uma distração. Ela era um risco.

Precisava colocar as regras na mesa antes que ela começasse a criar esperanças onde não existiam. E onde eu… não podia permitir que existissem.

— Bella. — chamei, firme.

Ela se mexeu na cama, os olhos abrindo aos poucos, confusos, ainda pesados de sono e resquícios de prazer.

— Que horas são?

— Hora o bastante pra gente ser direto.

Ela se sentou, puxando o lençol para cobrir os seiøs, que seiøs. O sorriso tímido morrendo ao perceber minha expressão neutra. Fria. Profissional.

— O que aconteceu?

— O que aconteceu foi incrível. Mas não muda o que vim te propor desde o começo.

Ela franziu o cenho.

— Você está… diferente.

— Estou sendo quem eu sou.

Caminhei até a escrivaninha e peguei meu relógio. Coloquei no pulso com calma antes de me virar para ela.

— Eu preciso me casar.

Ela piscou devagar, como se não tivesse ouvido direito.

— Você… o quê?

— Preciso de uma esposa. E rápido. Meu avô tem pouco tempo de vida, segundo os médicos. E, se eu não estiver casado até lá, ele vai doar tudo o que temos para uma instituição de caridade.

— Tudo?

Assenti.

— As empresas. As ações. As propriedades. O dinheiro do banco. A Tate Holdings deixará de existir como conhecemos.

Bella deslizou os pés para fora da cama, ainda envolta no lençol, como se a realidade estivesse batendo com força demais depois de uma noite quente demais.

— Então você quer que eu… finja ser sua esposa?

— Exatamente.

— Por quanto tempo?

— Um ano. Nada mais. Nada menos.

Ela me olhou como se eu tivesse arrancado o próprio lençol da cama.

— E por que eu?

— Porque você não faz parte da minha roda social. Porque ninguém esperaria que eu me casasse com você. Porque ontem à noite… eu percebi que você é mais forte do que aparenta.

Ela riu. Um riso de puro desgosto.

— Você transa comigo e depois me oferece… um contrato?

— Bella, não é pessoal. É lógico. Racional. Eu sei como fazer isso funcionar.

— Ah, claro. — ela se levantou de vez, nua, orgulhosa, furiosa — O Ceo bilionário sabe controlar tudo. Até a mulher com quem divide a cama.

— Eu nunca prometi nada. — falei, duro.

— Você me olhou como se prometesse o mundo.

— Eu te olhei como um homem olha uma mulher que deseja. E desejei. Mas desejo e compromisso são coisas diferentes.

Ela me encarou. Despida. Não só do corpo, mas da ilusão.

— O que mais está no contrato?

— Só uma exigência inegociável.

— Qual?

— Durante esse um ano… vamos dormir no mesmo quarto.

Ela empalideceu.

— Está brincando.

— Meu avô pode ligar a qualquer momento. Ele vai fazer perguntas, testar, aparecer. Ele é cruel. Ele sabe quando as coisas são falsas. Dormirmos separados colocaria tudo a perder.

— Você está me oferecendo um ano da minha vida como se fosse um… um negócio.

— Porque é.

O silêncio cortou o quarto como uma faca. Ela virou de costas, os ombros tremendo. Quando se abaixou para pegar o celular jogado no chão, pensei que ela diria algo. Mas o aparelho vibrou em sua mão.

Ela atendeu automaticamente.

— “Alô? Sim… sou eu.”

O silêncio dela mudou. Ficou gelado. Duro.

— “O quê? Como assim acidente? Em que hospital?! Mas… esse valor… é impossível… ela vai sobreviver?

Eu fiquei imóvel. Bella soltou o celular da mão como se ele queimasse.

— Ela vai… viver. Mas com sequelas. E precisa da cirurgia hoje.

— Quem?

— Minha mãe adotiva. A única pessoa no mundo que me amou de verdade. A única que… — a voz falhou — que nunca me chamou de peso.

Ela se sentou no chão, as pernas moles, o olhar perdido. Eu caminhei até ela, mas ela levantou a mão, pedindo distância.

— Você me usou, Ethan.

— Não.

— Usou, sim. Me levou pra cama, me fez sentir como se fosse… bonita. E agora quer me comprar por um ano de mentira.

— Eu ofereci uma solução. Não manipulação.

— E se eu disser não?

— Você é livre pra ir. Mas se ficar… sua mãe vive.

Ela me olhou então.

Pela primeira vez, realmente me olhou. E não havia luxúria nos olhos dela. Não havia mais fogo. Só havia dor. E lágrimas silenciosas caindo sobre o lençol amarrotado.

E eu soube, naquele segundo:

Ou ela diria sim… ou eu a perderia pra sempre.

Capítulo 3 – A Esposa Que Veio da Dor

Hospitais têm um cheiro que gruda na alma. Uma mistura de álcool, dor e esperança se esvaindo.

Entrei correndo, tropeçando nas palavras, no orgulho e no lençol de hotel que ainda grudava na minha memória.

— Senhora Greehen? — a recepcionista me chamou — Sua mãe está na UTI. Ela chegou com traumatismo e hemorragia interna. Está inconsciente, mas… viva.

Respirei fundo.

— E a cirurgia?

Ela olhou para mim com um pesar automático, como quem já sabe que está prestes a destruir mais alguém.

— É delicada. E urgente. Mas custa caro. Muito caro. O hospital precisa de uma garantia para seguir com o procedimento.

— Quanto?

Ela me passou o papel. Meus olhos varreram os números e travaram. Eu não tinha esse dinheiro. Nem perto disso.

Engoli em seco, sentindo a garganta apertar e as lágrimas arderem, mas não permiti que caíssem. Não ali. Não diante de estranhos.

Olhei para o teto. Para Deus. Para o nada. E por fim… para o nome que queimava no fundo da minha garganta. Ele me passou seu número antes de eu sair correndo do hospital. Peguei o celular.

— “Diga.” — a voz dele era neutra, impassível. Como se nada da noite passada tivesse existido.

— “A proposta ainda está de pé?” — perguntei, firme.

— “Depende. Vai dizer sim? A cirurgia da sua mãe… o valor está em sua conta agora.”

— “Você nem me perguntou quanto é.”

— “Não importa.” — ele pausou por um segundo — “O dinheiro é um bônus. O que eu quero mesmo… é o seu sim.”

Fechei os olhos. O ar preso nos pulmões.

— “Então sim.

— “Estarei no hotel. Venha até mim.”

Ele desligou. E eu quis quebrar o celular contra a parede.

Quando voltei ao hotel, a diferença era gritante. Não estava mais entrando como mulher que desejava, mas como uma que precisava.

E ele sabia disso.

Ethan me esperava de pé, junto à janela do quarto. Camisa impecável, cabelo penteado para trás, um copo de uísque na mão. O mesmo homem que me fez tremer de prazer horas antes… agora era um estranho frio com um contrato sobre a mesa.

— Pode ler. — ele disse, apontando com o queixo para os papéis.

Me aproximei com os dedos tensos. Cada página do contrato parecia mais densa que a anterior.

— Casamento válido por doze meses. Usar o mesmo quarto obrigatório. Participação em eventos familiares e corporativos como esposa legalmente reconhecida. Cláusulas de toque e afeto permitidos em público. Beijos quando necessário. Abraços. Proximidade constante. Zero envolvimento emocional exigido.

Ri. Um riso seco, ácido, que saiu antes que eu pudesse controlar.

— Você realmente colocou no contrato quantas vezes eu tenho que sorrir e beijar na frente dos outros?

— Para parecer real. — ele respondeu sem hesitar.

— E se eu recusar isso?

— Então você está fora. E sua mãe…

— Não ouse usá-la como moeda.

— Eu estou usando o que posso. Você também está.

Aquilo doeu. Mas era verdade. Continuei lendo. Na última página, os termos financeiros: $200.000 dólares mensais, por doze meses. Cobertura total do tratamento da minha mãe, sem abatimentos do valor mensal. Proteção jurídica total para ambas as partes em caso de escândalo ou exposição.

Fechei os olhos por um segundo.

Duzentos mil dólares por mês.

Era mais do que qualquer coisa que eu sonhei em toda minha vida. Mas o custo… não vinha no rodapé. Ele estava ali, em pé, me observando com aqueles olhos frios de quem calcula cada passo, mesmo quando está nu por dentro.

— Tem uma caneta? — perguntei, depois de um silêncio longo.

Ele entregou com um gesto contido. Assinei com a mão trêmula. Bella Greehen. Ou melhor… a futura Bella Tate. Deixei a caneta cair sobre o contrato e encarei Ethan.

— Eu aceito. Mas que fique claro: isso não tem nada a ver com você… e nunca terá.

O canto da boca dele tremeu. Mas não sei se era raiva, sarcasmo… ou só ego.

Eu me virei e fui para o quarto de hóspedes da suíte, mesmo sabendo que não poderia dormir lá. Porque a cláusula era clara. Mesma cama. Mesmo quarto. E nenhuma parte disso seria confortável. Mas minha mãe ia viver.

E isso, no fim das contas, era o único pedaço de mim que ainda importava.

Fechei a porta do quarto de hóspedes. Era automático. Eu precisava de uma barreira, ainda que simbólica, entre ele e eu. Entre quem eu fui ontem e quem sou agora.

Mas a barreira durou menos de cinco minutos.

— Bella. — a voz veio do outro lado, baixa, autoritária.

Respirei fundo antes de abrir.

Ele estava encostado no batente, sem gravata, com a camisa branca arregaçada nos antebraços e aquele maldito olhar de predador civilizado.

— Esqueceu a cláusula? — perguntou, quase com ironia — Mesmo quarto. Mesma cama.

Cruzei os braços.

— Achei que isso só valesse quando estivéssemos sob os olhos do seu avô ou da imprensa.

— Começa hoje. — ele respondeu, firme — Um papel sem prática é só uma farsa mal escrita.

Bufei e voltei para o quarto principal, passando por ele com o que restava da minha dignidade.

— Ótimo. Então vamos conversar sobre… limites.

Ele fechou a porta, se aproximando com passos lentos, como se já soubesse onde queria me levar, mesmo sem encostar em mim.

— Limites são interessantes… principalmente quando você começa quebrando eles.

— Eu não quebrei nada. — retruquei — Eu fui levada até a borda.

— E pulou de bom grado.

— Foi antes do contrato. Agora temos regras.

Ele sorriu de canto. Aquilo me irritava. Aquele sorriso dizia: "você acha que manda alguma coisa aqui?"

— Então me diga… o que é permitido dentro do nosso quarto?

Engoli em seco.

— Nada sem consentimento. Toques só quando necessário para manter a farsa. Sem invasões.

Ele se aproximou um passo.

— Defina "invasão", Bella.

— Você me entenderá quando passar do limite. Eu saberei te mostrar.

Ele riu. Não debochado, mas impressionado.

— Você acha que pode me provocar e sair ilesa, Greehen?

— Você acha que é o único que sabe brincar com o perigo, Tate?

Estávamos a centímetros. Os corpos quase colados. A respiração acelerada demais para um simples “acordo”.

— E se eu quiser mais do que toques para manter a farsa? — ele provocou.

— Vai ter que me convencer com mais do que cláusulas, Ceo.

A mão dele subiu até minha cintura, mas parou antes de tocar. Ficou no ar, me deixando sentir o calor da pele dele, sem realmente me alcançar.

— Você está molhada só com isso, não está?

Corei até os ossos. Mas não recuei.

— E você está duro desde que me viu nessa roupa. — retruquei — Quer comparar autocontrole?

Ele inclinou o rosto, tão perto que meu nariz quase tocava o dele.

— Você vai ceder primeiro.

— Só se quiser assistir um espetáculo… de decepção.

— Você não faz ideia do que eu posso fazer com um simples toque.

— E você não faz ideia do que acontece comigo quando sou provocada no limite. Eu deixo de brincar.

Silêncio.

Ele inclinou um pouco mais, quase encostando a boca na minha. O calor entre nós era físico. A tensão… sexual e crua. Eu queria tocá-lo. Queria empurrá-lo. Queria beijar e morder ao mesmo tempo. Mas aí…

TOC, TOC.

— Serviço de quarto! O champanhe chegou, senhor Tate.

Droga.

Ethan se afastou com um suspiro controlado.

— O universo é muito mal-humorado.

— Ou talvez só esteja nos dando tempo pra pensar.

Ele foi até a porta, pegou o balde com gelo e a garrafa envolta em guardanapo branco. Duas taças.

Preparou tudo como se tivesse ensaiado. Como se tudo ali, até o champanhe, fizesse parte de um jogo. Ele me entregou a taça com elegância. Os olhos ainda quentes, como se quisessem me despir de novo.

— Um brinde. — ele disse, erguendo a própria taça.

— A quê?

Ele pensou por um segundo. E então disse:

— Até que você se renda, Bella Greehen.

Eu ergui minha taça também. Sorri. Devagar. Com veneno.

— Até que você implore por um toque meu, Ethan Tate.

As taças se encontraram no ar com um leve tilintar. E naquele brinde, nenhum dos dois disse em voz alta o que ambos sabiam: Isso não era apenas um contrato.

Era o início de uma guerra.

Uma guerra de toque, desejo, orgulho… e o primeiro a ceder, perderia tudo.

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