Hospitais têm um cheiro que gruda na alma. Uma mistura de álcool, dor e esperança se esvaindo.
Entrei correndo, tropeçando nas palavras, no orgulho e no lençol de hotel que ainda grudava na minha memória.
— Senhora Greehen? — a recepcionista me chamou — Sua mãe está na UTI. Ela chegou com traumatismo e hemorragia interna. Está inconsciente, mas… viva.
Respirei fundo.
— E a cirurgia?
Ela olhou para mim com um pesar automático, como quem já sabe que está prestes a destruir mais alguém.
— É delicada. E urgente. Mas custa caro. Muito caro. O hospital precisa de uma garantia para seguir com o procedimento.
— Quanto?
Ela me passou o papel. Meus olhos varreram os números e travaram. Eu não tinha esse dinheiro. Nem perto disso.
Engoli em seco, sentindo a garganta apertar e as lágrimas arderem, mas não permiti que caíssem. Não ali. Não diante de estranhos.
Olhei para o teto. Para Deus. Para o nada. E por fim… para o nome que queimava no fundo da minha garganta. Ele me passou seu número antes de eu sair correndo do hospital. Peguei o celular.
— “Diga.” — a voz dele era neutra, impassível. Como se nada da noite passada tivesse existido.
— “A proposta ainda está de pé?” — perguntei, firme.
— “Depende. Vai dizer sim? A cirurgia da sua mãe… o valor está em sua conta agora.”
— “Você nem me perguntou quanto é.”
— “Não importa.” — ele pausou por um segundo — “O dinheiro é um bônus. O que eu quero mesmo… é o seu sim.”
Fechei os olhos. O ar preso nos pulmões.
— “Então sim.
— “Estarei no hotel. Venha até mim.”
Ele desligou. E eu quis quebrar o celular contra a parede.
Quando voltei ao hotel, a diferença era gritante. Não estava mais entrando como mulher que desejava, mas como uma que precisava.
E ele sabia disso.
Ethan me esperava de pé, junto à janela do quarto. Camisa impecável, cabelo penteado para trás, um copo de uísque na mão. O mesmo homem que me fez tremer de prazer horas antes… agora era um estranho frio com um contrato sobre a mesa.
— Pode ler. — ele disse, apontando com o queixo para os papéis.
Me aproximei com os dedos tensos. Cada página do contrato parecia mais densa que a anterior.
— Casamento válido por doze meses. Usar o mesmo quarto obrigatório. Participação em eventos familiares e corporativos como esposa legalmente reconhecida. Cláusulas de toque e afeto permitidos em público. Beijos quando necessário. Abraços. Proximidade constante. Zero envolvimento emocional exigido.
Ri. Um riso seco, ácido, que saiu antes que eu pudesse controlar.
— Você realmente colocou no contrato quantas vezes eu tenho que sorrir e beijar na frente dos outros?
— Para parecer real. — ele respondeu sem hesitar.
— E se eu recusar isso?
— Então você está fora. E sua mãe…
— Não ouse usá-la como moeda.
— Eu estou usando o que posso. Você também está.
Aquilo doeu. Mas era verdade. Continuei lendo. Na última página, os termos financeiros: $200.000 dólares mensais, por doze meses. Cobertura total do tratamento da minha mãe, sem abatimentos do valor mensal. Proteção jurídica total para ambas as partes em caso de escândalo ou exposição.
Fechei os olhos por um segundo.
Duzentos mil dólares por mês.
Era mais do que qualquer coisa que eu sonhei em toda minha vida. Mas o custo… não vinha no rodapé. Ele estava ali, em pé, me observando com aqueles olhos frios de quem calcula cada passo, mesmo quando está nu por dentro.
— Tem uma caneta? — perguntei, depois de um silêncio longo.
Ele entregou com um gesto contido. Assinei com a mão trêmula. Bella Greehen. Ou melhor… a futura Bella Tate. Deixei a caneta cair sobre o contrato e encarei Ethan.
— Eu aceito. Mas que fique claro: isso não tem nada a ver com você… e nunca terá.
O canto da boca dele tremeu. Mas não sei se era raiva, sarcasmo… ou só ego.
Eu me virei e fui para o quarto de hóspedes da suíte, mesmo sabendo que não poderia dormir lá. Porque a cláusula era clara. Mesma cama. Mesmo quarto. E nenhuma parte disso seria confortável. Mas minha mãe ia viver.
E isso, no fim das contas, era o único pedaço de mim que ainda importava.
Fechei a porta do quarto de hóspedes. Era automático. Eu precisava de uma barreira, ainda que simbólica, entre ele e eu. Entre quem eu fui ontem e quem sou agora.
Mas a barreira durou menos de cinco minutos.
— Bella. — a voz veio do outro lado, baixa, autoritária.
Respirei fundo antes de abrir.
Ele estava encostado no batente, sem gravata, com a camisa branca arregaçada nos antebraços e aquele maldito olhar de predador civilizado.
— Esqueceu a cláusula? — perguntou, quase com ironia — Mesmo quarto. Mesma cama.
Cruzei os braços.
— Achei que isso só valesse quando estivéssemos sob os olhos do seu avô ou da imprensa.
— Começa hoje. — ele respondeu, firme — Um papel sem prática é só uma farsa mal escrita.
Bufei e voltei para o quarto principal, passando por ele com o que restava da minha dignidade.
— Ótimo. Então vamos conversar sobre… limites.
Ele fechou a porta, se aproximando com passos lentos, como se já soubesse onde queria me levar, mesmo sem encostar em mim.
— Limites são interessantes… principalmente quando você começa quebrando eles.
— Eu não quebrei nada. — retruquei — Eu fui levada até a borda.
— E pulou de bom grado.
— Foi antes do contrato. Agora temos regras.
Ele sorriu de canto. Aquilo me irritava. Aquele sorriso dizia: "você acha que manda alguma coisa aqui?"
— Então me diga… o que é permitido dentro do nosso quarto?
Engoli em seco.
— Nada sem consentimento. Toques só quando necessário para manter a farsa. Sem invasões.
Ele se aproximou um passo.
— Defina "invasão", Bella.
— Você me entenderá quando passar do limite. Eu saberei te mostrar.
Ele riu. Não debochado, mas impressionado.
— Você acha que pode me provocar e sair ilesa, Greehen?
— Você acha que é o único que sabe brincar com o perigo, Tate?
Estávamos a centímetros. Os corpos quase colados. A respiração acelerada demais para um simples “acordo”.
— E se eu quiser mais do que toques para manter a farsa? — ele provocou.
— Vai ter que me convencer com mais do que cláusulas, Ceo.
A mão dele subiu até minha cintura, mas parou antes de tocar. Ficou no ar, me deixando sentir o calor da pele dele, sem realmente me alcançar.
— Você está molhada só com isso, não está?
Corei até os ossos. Mas não recuei.
— E você está duro desde que me viu nessa roupa. — retruquei — Quer comparar autocontrole?
Ele inclinou o rosto, tão perto que meu nariz quase tocava o dele.
— Você vai ceder primeiro.
— Só se quiser assistir um espetáculo… de decepção.
— Você não faz ideia do que eu posso fazer com um simples toque.
— E você não faz ideia do que acontece comigo quando sou provocada no limite. Eu deixo de brincar.
Silêncio.
Ele inclinou um pouco mais, quase encostando a boca na minha. O calor entre nós era físico. A tensão… sexual e crua. Eu queria tocá-lo. Queria empurrá-lo. Queria beijar e morder ao mesmo tempo. Mas aí…
TOC, TOC.
— Serviço de quarto! O champanhe chegou, senhor Tate.
Droga.
Ethan se afastou com um suspiro controlado.
— O universo é muito mal-humorado.
— Ou talvez só esteja nos dando tempo pra pensar.
Ele foi até a porta, pegou o balde com gelo e a garrafa envolta em guardanapo branco. Duas taças.
Preparou tudo como se tivesse ensaiado. Como se tudo ali, até o champanhe, fizesse parte de um jogo. Ele me entregou a taça com elegância. Os olhos ainda quentes, como se quisessem me despir de novo.
— Um brinde. — ele disse, erguendo a própria taça.
— A quê?
Ele pensou por um segundo. E então disse:
— Até que você se renda, Bella Greehen.
Eu ergui minha taça também. Sorri. Devagar. Com veneno.
— Até que você implore por um toque meu, Ethan Tate.
As taças se encontraram no ar com um leve tilintar. E naquele brinde, nenhum dos dois disse em voz alta o que ambos sabiam: Isso não era apenas um contrato.
Era o início de uma guerra.
Uma guerra de toque, desejo, orgulho… e o primeiro a ceder, perderia tudo.
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Atualizado até capítulo 40
Comments
Maria Sena
Esse Ethan vai ser mais um dos muitos que vai me dar muito ranço, porque ele tá achando que ela vai implorar por ele por se achar o último biscoito do pacote. Tomara que ela não se deixe humilhar, mesmo sentido tesão. Tem que jogar o jogo dele com as mesmas regras.
2025-07-23
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Jack koneo
Parece que a Bella está mais segura de si.
Não parece em nada c/ a bobona que saiu correndo do quarto do noivo, ao invés de botar fogo nele e na amante.
2025-07-21
0
Marilena Yuriko Nishiyama
hahaha esses dois,quem será que vai ceder primeiro,a minha opinião será os dois,mas pelo visto este contrato logo nao existirá 🤣😂
2025-07-07
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