Ela andava pela minha cobertura como se tivesse nascido ali. Como se as colunas de mármore e os sofás de couro fossem parte do seu mundo, e não do meu.
E aquilo me irritava mais do que deveria.
Bella Greehen não se intimidava com os espaços que assustavam mulheres bem treinadas para sorrir em jantares de gala. Não fingia ser alguém que não era. Mas, por algum motivo, fingia que não me notava.
Como agora.
— Café? — ela perguntou com a voz ainda rouca do sono, já servindo duas xícaras antes mesmo de eu responder.
Usava uma camisola preta de alça fina e uma blusa minha aberta por cima. O laço solto da cintura não escondia nada. As coxas estavam à mostra. E os pés descalços faziam um som suave contra o piso de madeira, como se cada passo dela tivesse sido coreografado para testar meu autocontrole.
— Vai me encarar o café inteiro ou vai dizer bom dia? — ela perguntou, erguendo uma sobrancelha.
Pigarreei, pegando a xícara como quem tenta se proteger.
— Bom dia.
— Que formal. Se continuar assim, vou achar que nosso casamento vai durar mais que um ano.
— Impossível.
Ela riu. Aquela risada torta que dizia:
— “Você não me assusta, Ethan Tate.”
E talvez fosse isso que me incomodava. Ela não me temia. E nem tentava me agradar. A maioria das pessoas fazia uma ou outra coisa. Às vezes as duas.
Bella… não fazia nenhuma.
Passei a manhã lendo relatórios no escritório da cobertura, enquanto ela explorava os cômodos, abrindo portas, vasculhando armários e comentando alto sobre tudo que via. Como se fosse um passeio em um museu moderno de arte e ego.
Às duas da tarde, decidi que precisava lembrá-la de que aquele contrato tinha regras, e que essa era a minha casa, mesmo que agora fosse o palco de uma encenação absurda.
Mas ela chegou primeiro.
— Estava pensando… — disse, encostada no batente da porta, com um caderno de anotações nas mãos — Já que vamos fingir um casamento perfeito, precisamos estabelecer nossas mentiras favoritas.
Larguei a caneta sobre a mesa.
— Que tipo de mentiras?
— Tipo “como nos conhecemos”. Nosso prato favorito juntos. Qual a música do casamento. Essas coisas bobas que pessoas normais perguntam e que seu avô certamente vai cobrar.
Inclinei a cabeça.
— E você se preocupa com o que ele vai perguntar?
— Não com o que ele pergunta. Com o que ele observa.
Ela estava certa. Maldita mulher esperta.
— Então, qual vai ser nossa história?
— A mais improvável possível. — ela disse, sorrindo — Que você me viu dançando em um bar e se apaixonou à primeira vista.
— Ridículo.
— Exatamente por isso vai parecer real. Porque ninguém esperaria isso vindo de você.
À noite, vesti uma camisa social preta e sentei no sofá da sala com o celular em mãos. O número do meu avô já estava na tela.
— Vai querer ouvir? — perguntei, sem encará-la.
— Claro. Tenho curiosidade em saber de onde veio essa sua frieza hereditária.
Liguei no viva-voz.
— “Ethan?” — a voz do velho soou rouca, firme, cortante. — “Já está casado?”
— “Estamos cuidando dos trâmites.”
— “Trâmites?”
— “Casamento civil nos próximos dias. Você pode vir, se quiser.”
Houve silêncio do outro lado.
— “Posso falar com a sua esposa?”
Bella olhou pra mim. Depois sorriu. Um sorriso lento, encantador e perigoso.
— “Olá, senhor Tate. É um prazer finalmente conversar com o patriarca da família.”
— “Você tem sotaque de Nova York.”
— “Cresci no Brooklyn. Mas juro que tenho modos.”
— “E você sabe onde está se metendo?”
— “Sei que estou me casando com um homem exigente, brilhante e… difícil. Mas também sei que nenhum desafio vale mais do que cuidar da pessoa que se ama. E, neste caso, estou disposta a aprender a cada dia.”
Silêncio do outro lado. Eu… fiquei sem palavras. Ela soava como uma atriz vencedora do Oscar. Mas não havia falsidade no tom dela. Havia brilho. Inteligência. Autenticidade fingida com perfeição. Meu avô pigarreou.
— “Boa noite, então. Espero que esse casamento não seja um teatro.”
— “Se for, senhor Tate…” — ela disse — “É um com final feliz.”
Ele desligou. Bella me devolveu o celular com calma.
— O que foi isso? — perguntei.
— Você precisava de uma esposa convincente. Eu apenas entreguei o serviço.
— Isso foi… surreal.
— É o que acontece quando você subestima uma mulher ferida.
Me levantei devagar, cruzando a sala até ela.
— Você ensaiou isso?
— Eu finjo melhor quando estou com raiva.
A frase ficou entre nós como um desafio. Meu olhar desceu para o decote da blusa dela. Para a curva da clavícula. Para os lábios ainda maquiados de vermelho escuro.
Quis beijá-la. Mas recuei. Porque era isso que ela esperava. Que eu perdesse o controle. E, pørra… talvez eu estivesse a um passo de perder mesmo.
Eu devia estar preocupado com a nova fusão da empresa. Com os acionistas. Com o inferno que seria manter meu avô convencido de que esse casamento era real.
Mas não.
Estava preocupado com os quadris dela. Com o cheiro dela. Com aquele olhar que parecia rir de mim mesmo quando ela estava calada.
Bella Greehen não era uma mulher comum. Ela era o tipo de problema que vinha com perfume doce e um sarcasmo na ponta da língua. E por algum motivo que eu ainda me recusava a admitir, eu estava disposto a ser consumido por isso.
Depois da ligação com o meu avô, ela foi até o quarto. Eu a segui, como se minhas pernas tivessem vontade própria.
— Se quer manter a encenação, acho que precisamos falar de limites, Tate. — disse, tirando os brincos e soltando os cabelos — Dentro do quarto, quero regras.
— Regras? — encostei na parede, cruzando os braços.
— Nada de toques não autorizados. Nada de me observar dormindo. E nada de invadir meu lado da cama.
— Você quer dividir a cama, mas com uma muralha imaginária no meio?
— Exatamente.
— Então deixa eu te perguntar algo, Bella. — me aproximei. Ela não recuou — Quem vai te impedir quando for você quem quiser cruzar essa muralha?
Os olhos dela brilharam.
— Eu não sou mulher de implorar, Ethan.
— Que bom. Porque eu sou homem de provocar até o último segundo.
Ela deu um passo, encostando os dedos no meu peito.
— Até que eu me renda, Ethan Tate?
— Até que você implore por um toque meu, Bella Greehen.
Havia fogo entre nós. Um silêncio denso e quente. Um quase-beijo prestes a acontecer. Então bateram na porta.
— Senhor Tate, seu vinho solicitado.
Eu fechei os olhos por um segundo. Bella riu baixo.
— Salvo pelo vinho.
Abri a porta, recebi a bandeja e dispensei o funcionário com um aceno. Quando voltei, ela já segurava duas taças. Enchi as duas. Entreguei uma a ela. Nos encaramos. Brindamos.
— A Falsa vida de casada, Ethan Tate.
— Ao seu desejo de me sentir dentro de você mais uma vez, Bella Greehen.
E quando ela deu um gole com aquele olhar atrevido… eu soube: esse jogo estava apenas começando. E nenhum de nós sairia ileso.
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Atualizado até capítulo 40
Comments
Marilena Yuriko Nishiyama
sinceramente esses dois foram feitos um para o outro
2025-07-07
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Maria Sena
Isso Bella, se tem que vender a alma só diabo que venda caro, mas muuuiiiito caro mesmo. Quebra esse safado, faz ele cair de joelhos e rastejar pedindo arrego. ADOOOORO!!! 😄😄😄👏👏👏
2025-07-23
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Jamily
Como q ela foi de humilhada pelo ex e sociedade a essa pessoa? em 24 horas kkkk (essa pessoa q eu digo é provocante e tals, e não a coitadinha tímida)
2025-07-19
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