RENÚNCIA POR AMOR
A Janela da Vida
Isadora Rivera Walsh cresceu cercada por perdas maiores do que promessas. Desde o primeiro instante de vida, a morte lhe tocou os ombros como uma sombra inevitável. Sua mãe, María Rivera, uma jovem espanhola que atravessara o oceano em busca de uma vida digna, morreu no parto. Restou apenas a filha loira, de olhos verdes intensos, entregue ao mundo nas mãos trêmulas de um viúvo precoce.
Edward Walsh tinha apenas vinte e quatro anos quando recebeu a filha nos braços e perdeu o amor da sua vida no mesmo dia. O coração, dilacerado, jamais se recuperou por inteiro. Trabalhou duro, mas nunca mais foi o mesmo. Durante os primeiros anos, esforçou-se em ser pai e mãe ao mesmo tempo, alternando entre o volante de seu carro de motorista particular e os braços acolhedores em casa.
Ele fora empregado de uma família espanhola abastada, que vivia nos Estados Unidos com o conforto de quem carregava consigo riqueza antiga. Edward levava os patrões para compromissos, festas, jantares de gala, enquanto deixava Isadora aos cuidados de uma vizinha idosa que a tratava como neta. Ainda assim, todas as noites, voltava correndo para casa, abraçava a filha e tentava preencher com carinho a ausência insubstituível da mãe.
Quando os patrões retornaram à Europa, ofereceram a Edward a chance de acompanhá-los. Mas ele recusou. Como poderia abandonar o túmulo de María? Como poderia arrancar Isadora das raízes frágeis que começava a criar? Ficou. Preferiu a simplicidade de uma vida difícil, mas próxima da memória da esposa, a uma estabilidade distante em outro continente.
Foi nessa atmosfera de ausência e amor silencioso que Isadora cresceu. Desde menina, aprendeu a observar o mundo com reserva. Via a vida pela janela estreita de sua casa simples: a grama mal aparada do jardim, as crianças brincando na rua, os vizinhos indo e vindo. Ela não era como as outras garotas que sonhavam alto; sua vida era pautada pelo real, pelo presente, pelo esforço do pai em colocar comida na mesa.
Edward, embora amoroso, trazia nos olhos a melancolia que nunca se dissipava. Os aniversários eram silenciosos, as datas festivas marcadas mais por lembranças doloridas do que por presentes. Mesmo assim, havia ternura: ele penteava os cabelos loiros da filha antes da escola, ajudava com as lições de casa, e se emocionava cada vez que percebia nela traços da mãe perdida.
A adolescência de Isadora foi marcada por um contraste doloroso. Era uma jovem alta — 1,75m —, de corpo cheio, plus size, e de uma beleza natural que chamava atenção. Mas a própria Isadora não se via dessa forma. A timidez a fazia esconder-se em roupas largas, manter distância dos olhares, evitar conversas desnecessárias. Enquanto as colegas experimentavam maquiagem e sonhavam com bailes de formatura, Isadora sonhava apenas com a estabilidade emocional do pai.
Quando completou dezoito anos, a vida apresentou sua decisão mais dura. Ela havia sido aprovada para a faculdade — um orgulho raro para a família —, mas a realidade se impôs de maneira cruel. Edward já estava completamente consumido pela depressão. Dias inteiros passava no quarto, sentado diante da janela, o olhar perdido no horizonte.
Os remédios eram caros. As contas acumulavam. O dinheiro que Edward recebia de pequenos trabalhos ocasionais não era suficiente para sustentar a casa. Foi então que Isadora, com lágrimas nos olhos e uma coragem forjada no sacrifício, tomou a decisão de renunciar à faculdade. Guardou as cartas de aceitação em uma gaveta, junto com os sonhos que nunca se realizariam.
Em vez de livros e aulas, abraçou o uniforme de camareira. Conseguiu emprego em um hotel de luxo próximo ao centro, limpando quartos, arrumando camas e polindo espelhos que refletiam vidas que não eram suas. Durante o dia, entregava-se ao trabalho árduo; à noite, aceitava turnos extras, sacrificando o descanso para colocar mais alguns dólares em casa.
Seu corpo cansado, suas mãos ásperas pelo uso constante de produtos de limpeza, eram sinais de batalha. Ainda assim, mantinha o semblante firme. Era a filha que Edward precisava. Era o pilar que sustentava aquele lar desmoronado.
Os dois anos seguintes moldaram Isadora em silêncio. Aos vinte anos, ela já não era apenas uma jovem; era uma mulher forjada por responsabilidades precoces. Cada ruga de preocupação em sua testa era o reflexo de noites mal dormidas, cada suspiro carregava o peso de sonhos adiados. Mas em seus olhos verdes ainda brilhava algo indestrutível: uma força silenciosa, a capacidade de resistir.
Foi nesse cenário, entre sacrifício e rotina, que o destino resolveu intervir.
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Atualizado até capítulo 125
Comments
Vera Campos
Ao renunciar os estudos ela se resignou ao destino do pai dela, perdendo a oportunidade de mudar o rumo da sua história. Agora vive amargurada igual ele... Quem se agarra demais na dor perde outras oportunidades que a vida lhe reserva.
2025-09-11
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Rosi Boska
gosto de autores que recebem críticas... são muito inteligentes .. as críticas são uma espécie de escolas e colaboração...amooo autores que têm a simplicidade de aceitar críticas...
2025-08-27
3
lua 🌙
já amei de primeira impressão
2025-08-11
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