ISadora Rivera Walsh cresceu conhecendo mais perdas do que promessas. Sua mãe, uma imigrante espanhola que cruzou o oceano em busca de dignidade, morreu no parto. Criada por um pai viúvo e melancólico, Isadora viu o mundo pela janela da simplicidade. Edward Walsh, seu pai, trabalhou como motorista de uma família espanhola até ser dispensado quando os patrões voltaram à Europa. Ele preferiu ficar nos Estados Unidos, onde sua esposa descansava, e onde nasceria sua maior razão de viver.
Mas o luto o consumiu com o tempo. Quando Isadora completou dezoito anos, Edward já era um homem afundado em depressão. Ela, com coragem e sensibilidade, abandonou seus sonhos, desistiu da faculdade e começou a trabalhar como faxineira durante o dia e à noite em um hotel de luxo, em troca de um salário que mal cobria as contas — mas que sustentava amorosamente a casa e o pai.
Foi nesse hotel que o destino decidiu reescrever tudo.
Stephanos Theodorakis Vasilis, um magnata grego de trinta e dois anos, estava em solo americano para fechar contratos milionários com o governo, envolvendo navios e submarinos. Alto, imponente, educado e absolutamente inacessível… até que cruzou o olhar com Isadora. Ele ficou encantado por aquela jovem de beleza natural, olhos azuis marcantes e um sorriso tímido, escondido entre a timidez e o cansaço.
Apesar da diferença social e da idade, um romance inesperado nasceu. Intenso. Proibido. Real.
Stefanos não apenas se apaixonou: ele ajudou Edward, internando-o em uma clínica de qualidade, e prometeu a Isadora que voltaria para ela. Queria levá-la para a Grécia, apresentá-la à sua família, construir um futuro ao lado dela.
Mas nem todo amor é deixado em paz.
Jenny Marcapolos Estravos, uma mulher envolvida com o irmão de Stephanos e marcada pela rejeição, viu em Isadora uma ameaça. Invejosa, cruel e acostumada a conseguir tudo o que queria, contratou um homem perigoso para ameaçar a jovem americana. A ordem era clara: ou ela desaparecia da vida de Stephanos, ou seu pai pagaria o preço com a própria vida.
Grávida e desesperada, Isadora tomou a decisão mais difícil de sua vida. Fugiu sem dizer nada. Voltou para casa. Retirou o pai da clínica, e, com ele, reconstruiu sua base. Quando contou sobre a gravidez, Edward — abalado, mas já se reerguendo — apenas disse:
— Agora sou eu que preciso ser forte por você.
Meses depois, vieram ao mundo Eva e Elyse — gêmeas idênticas, saudáveis e lindas. Edward, avô orgulhoso, renasceu com elas. Passou a trabalhar, cuidar da casa e apoiar Isadora em tudo.
Um ano depois da separação.
Stephanos voltou aos Estados Unidos. Agora noivo por conveniência, tentava seguir a vida, mas nunca esqueceu aquela jovem mulher. E, por ironia do destino, a viu novamente — por acaso, no mesmo hotel. Ela estava diferente. Mais mulher. Mais decidida. Mais mãe?
Ele a seguiu sem que ela o visse. Foi até o endereço antigo. A casa simples de sempre. E lá, diante da porta, viu o pai dela, com duas bebês nos braços.
Estático, não soube reagir. Voltou para o hotel e contratou um detetive. Precisava saber: ela havia se casado? Aqueles bebês eram dela, e dele?
Renúncia por Amor é uma novela romântica e dramática sobre segredos, sacrifício, maternidade e o reencontro de almas que o tempo tentou separar.
É a história de uma mulher que renunciou ao amor para proteger quem amava.
E de um homem que vai descobrir que, às vezes, o verdadeiro amor nunca foi perdido.
Apenas escondido.
ISADORA
Eu estava exausta. Como sempre.
Naquela noite, a lavanderia industrial do hotel tinha parado de funcionar, e o turno da noite estava desfalcado. Eu, que já tinha limpado quatro suítes e dobrado mais lençóis do que gostaria de contar, fui chamada para repor toalhas nos andares superiores.
— Quarto 1105. Executivo. Cliente internacional. Vai com cuidado — disse Marcie, a supervisora, me entregando o kit de luxo com as toalhas bordadas.
Subi o elevador empurrando o carrinho de reposição, tentando ignorar o cansaço nas pernas e a leve dor na lombar. Meu uniforme simples estava impecável, mas meus olhos denunciavam as noites mal dormidas. Ser faxineira não era o que eu sonhava. Mas entre isso e ver meu pai afundar de vez na depressão...a escolha estava feita.
A porta do 1105 estava entreaberta. Toquei duas vezes, como instruído, e anunciei:
— Serviço de quarto. Vim repor as toalhas.
Nenhuma resposta. Estranhei, mas empurrei devagar.
O quarto estava mergulhado em silêncio. As luzes da sacada estavam acesas e a janela de vidro aberta, deixando a brisa morna da noite entrar. Lá fora, de costas para mim, um homem alto, vestindo apenas calça social e uma camisa parcialmente aberta, observava a cidade como se carregasse o peso de um império nas costas.
Não sabia quem ele era. Ainda.
Coloquei as toalhas no lugar com discrição e me preparava para sair, quando ouvi sua voz pela primeira vez.
— Você trabalha aqui há muito tempo?
Sua voz era grave, firme, com um leve sotaque que eu não soube identificar de imediato.
Me virei, surpresa. E ali, pela primeira vez, nossos olhos se encontraram.
Ele era… impressionante.
Moreno, olhar cinza penetrante, barba bem feita e um ar de quem estava sempre à frente de tudo. Mas havia cansaço nos ombros dele. Uma tristeza silenciosa nos traços do rosto.
— Um ano e meio… mais ou menos — respondi, com a voz baixa. — Posso ajudá-lo com algo mais?
Ele me encarou por mais tempo do que qualquer hóspede jamais havia feito.
— Já me ajudou — disse, com um meio sorriso. — Você trouxe silêncio.
Engoli em seco. Não era uma cantada. Era quase um pedido de paz.
Agradeci com um aceno tímido e saí, sentindo as bochechas queimarem. A porta fechou atrás de mim. Eu não sabia, mas ali começava tudo.
O nome dele?
Stephanos Theodorakis Vasilis.
E naquela noite… o magnata grego entrou na minha vida sem pedir permissão.
ISADORA
Tentei não olhar para trás. Mas a verdade é que nunca me senti tão… vista.
Não era como os olhares rápidos dos homens na rua. Nem como os flertes desrespeitosos que algumas funcionárias sofriam dos hóspedes bêbados. O que aquele homem fez foi me observar como se estivesse procurando algo. E, por algum motivo que eu não sabia explicar, parecia que ele havia me encontrado em mim.
Voltei para o elevador com o coração acelerado e as mãos suadas. Meus pensamentos giravam ao redor daquele nome que vi mais tarde no sistema de hóspedes:
"Stephanos T. Vasilis – suíte executiva 1105. Estadia: 7 dias. Nacionalidade: grega."
Era só mais um hóspede. Devia ser. Eu não podia me permitir pensar diferente. A vida que eu levava era prática, simples, com metas pequenas e urgentes: pagar a conta de luz, comprar os remédios do papai, economizar para o conserto da caldeira. Paixões não cabiam na minha lista de prioridades.
Mas naquela noite… eu sonhei com ele.
STEPHANOS
Ela era jovem demais. E ainda assim... parecia ter a alma mais antiga da sala.
Desde que cheguei à América, nada me causava tanto impacto quanto aquela faxineira de passos leves e olhos cansados. Eu observei pelo reflexo do vidro: a forma respeitosa como ela trocava as toalhas, a postura digna mesmo vestindo um uniforme sem brilho. Havia algo raro naquela mulher.
Talvez fosse o silêncio.
Ou o modo como ela não me reconheceu como "importante".
Não me pediu selfie, não sorriu em exagero. Apenas cumpriu seu papel com graça e saiu. Sem esforço para chamar atenção — e talvez por isso tenha me conquistado no primeiro olhar.
Mas eu não vim aqui para me apaixonar.
Estava em uma missão séria: fechar um contrato naval com os americanos, consolidar uma parceria que sustentaria as próximas gerações do império da minha família. Eu não podia errar.
Nem me distrai.
E mesmo assim, naquela noite, quando fechei os olhos, não vi gráficos nem números.
Vi olhos azuis.
É um nome que eu ainda não sabia.
ISADORA
Na manhã seguinte, voltei ao hotel. Olhei para o quadro de avisos e, mais uma vez, lá estava: quarto 1105 – troca especial de enxoval. Marcie me lançou um olhar rápido.
— Parece que ele gostou do seu atendimento.
— Deve ter sido coincidência.
Ela sorriu. Mas eu sentia que não era.
O elevador subia devagar. Meu coração, não. E ali, entre os andares da rotina, nasceu um caos que mudaria tudo.
ISADORA
O restaurante do hotel cheirava a café moído na hora, croissant recém-saído do forno e gente importante. Ali, não se comia. Se negociava. Se fechavam contratos com um aperto de mão, e sorrisos eram usados como armas diplomáticas.
Mas eu só queria limpar as mesas e sair dali.
— Mesa três precisa ser liberada — murmurou Luan, o garçom. — O executivo grego pediu aquela vista.
— Tudo bem. — Peguei meu pano e me aproximei, discreta.
Foi quando o vi.
Sentado na poltrona de couro branco, lendo algo no tablet com expressão grave, ele parecia pertencer àquele lugar. Tão naturalmente quanto o mármore nas colunas. Era imponente, refinado. Estava de terno agora. Azul-marinho, camisa branca. Nada nele era exagerado, mas tudo nele chamava atenção.
E então ele me viu.
Nosso olhar se cruzou. E por um instante, tudo parou.
A bandeja na minha mão tremeu. Eu respirei fundo e virei o rosto. Não podia me dar ao luxo de parecer desconcentrada.
Mas então…
— Senhorita? — a voz dele ecoou atrás de mim.
Parei. Olhei por cima do ombro.
Ele estava de pé, alto, elegante, como se o mundo ao redor não existisse.
— Sente-se comigo. Por favor.
Eu o encarei, sem entender.
— Perdão, senhor? Eu estou em serviço.
Ele deu um meio sorriso.
— Só por um minuto. Prometo que não vou causar problemas à sua supervisora. — E apontou para a mesa com dois lugares. — Eu só quero conversar. É meu primeiro café do dia, e digamos que prefiro boa companhia.
Meu coração deu um salto. Eu não deveria. Eu sabia.
Mas algo no olhar dele não era arrogante. Era quase solitário.
Assenti, hesitante. Olhei para Marcie, do balcão. Ela ergueu uma sobrancelha, mas não impediu.
Sentei devagar. Cruzei as mãos no colo.
— Qual o seu nome? — ele perguntou, a voz baixa.
— Isadora.
— Isadora — repetiu, como se estivesse provando o som. — Bonito. Firme. Espanhol?
— Espanhol-americano.
Ele assentiu, os olhos fixos nos meus.
— Stephanos — disse, estendendo a mão.
Apertei com cuidado. Era quente. Forte. Mas ele não apertou demais. Não tentou me dominar com o toque.
— O que faz aqui, Stephanos? — perguntei, surpreendendo a mim mesma.
Ele sorriu com um canto dos lábios.
— Trabalho. Diplomacia. Interesses comerciais. Nada poético.
— E costuma chamar funcionárias para o café?
— Nunca. Você foi a primeira.
A respiração me faltou por um segundo. Desviei o olhar. Meu rosto queimava.
— Deve dizer isso para todas.
— Eu nunca digo nada que não sinto.
O silêncio entre nós se estendeu. E foi… confortável.
Até que o rádio da recepção chiou, e meu nome foi chamado.
— Isadora, retorno imediato ao setor da lavanderia. Agora.
Suspirei.
— Foi um prazer, senhor Vasilis.
— Stephanos — corrigiu, com firmeza e gentileza.
Levantei. Fiz menção de sair, mas ele se curvou levemente, como se estivesse em outro século.
— Obrigado pelo café silencioso.
Não foi um flerte. Foi… um elogio à minha existência.
E eu saí dali sabendo que algo havia mudado.
O problema é que, quando algo muda, o coração começa a se apegar.
E eu não podia me dar esse luxo.
STEPHANOS
Não consegui focar no contrato naquela manhã.
E isso era raro.
Eu nunca deixava nada me distrair em viagens de negócios — muito menos uma mulher. Mas havia algo em Isadora que me desarmava sem esforço. Ela não flertava, não provocava, não sorria para me agradar. Ela existia em sua própria órbita — e talvez por isso tenha se tornado o centro da minha.
Isadora. Um nome bonito demais para ser esquecido.
Na sala de reuniões, minha mente vagava entre documentos e memórias recentes: o toque leve das mãos dela, o olhar abaixado, os cabelos castanhos presos de qualquer jeito... e aquele uniforme que tentava esconder o corpo feminino e curvilíneo que ela carregava com uma dignidade que eu raramente via no meio em que vivia.
Meu assistente falou algo sobre cláusulas de renovação. Eu assenti no automático. Mas minha atenção já tinha ido embora.
Depois do almoço, discretamente, pedi acesso aos dados do hotel. Eu queria saber mais — só o suficiente para satisfazer minha curiosidade. Um nome completo, talvez.
Isadora Rivera Walsh.
O “Walsh” me chamou atenção. Típico sobrenome americano. Mas o “Rivera”…
Havia sangue espanhol ali. E algum tipo de história que eu queria desvendar.
No fim do expediente, ao sair para respirar um pouco, a vi de novo — do outro lado do estacionamento interno, ajudando um senhor a se apoiar no braço.
Era um homem mais velho, com roupas simples, aparência cansada e o olhar apagado. Ele andava com dificuldade, mas havia doçura no gesto dela ao seguro.
Então aquele era o pai.
Um aperto inesperado me invadiu o peito. Eu sabia, por poucas palavras, que ela soltou, que ele enfrentava alguma doença. E a forma como ela cuidava dele explicava tudo: por que ela trabalhava tanto, por que seus olhos tinham mais história do que idade.
Ela o ajudou a entrar num táxi. Sorriu para ele com ternura, ajeitou o casaco no peito dele com um gesto maternal, quase infantil. Ele segurou a mão dela com força e beijou seu rosto, emocionado.
Eu me escondi instintivamente atrás de um pilar.
Não queria que ela me visse.
Ainda não.
Alguma coisa em mim… queria observar mais antes de me aproximar.
Com ela, eu não podia errar.
ISADORA
Ele estava me vendo. Eu sentia.
O olhar dele tinha um peso que queimava nas costas, mesmo que eu fingisse não notar.
Stephanos Vasilis. O homem que apareceu na minha vida como uma brisa estrangeira — e que já começava a bagunçar meu fôlego como um vendaval.
Depois do café da manhã, eu tentei ignorar o que sentia. Me escondi no trabalho. Cuidei do meu pai, levei-o à consulta marcada com o psicólogo da clínica e o deixei em casa. Mas, à noite, quando voltei para o hotel para o segundo turno, meu nome estava de novo no papel da suíte 1105.
E lá estava ele.
De pé, de frente para a janela, como da primeira vez. Só que dessa vez… ele se virou quando me ouviu.
— Boa noite, Isadora.
Eu congelei na porta. Com as toalhas na mão.
— Boa noite, senhor Vasilis.
— Stephanos — corrigiu de novo, sem perder a suavidade.
— Estou apenas trazendo os itens solicitados. Depois disso, preciso continuar o expediente.
— Eu sei — disse ele. — Mas... posso te fazer uma pergunta?
Ergui o olhar devagar. Ele estava mais próximo agora. Os olhos cinzentos me estudavam.
— Seu pai está bem?
Meu coração tropeçou.
Como ele…?
— Eu o vi mais cedo — completou. — Você cuidou dele com tanta atenção… me lembrou algo que ando esquecendo há tempo.
— Ele é tudo que eu tenho.
— E você é tudo que ele tem?
Assenti com um aceno contido. Eu não queria me abrir. Mas com ele… era como se minha alma falasse antes da boca.
— Ele teve tempos difíceis… — murmurei. — Mas está melhor agora.
— Se precisar de ajuda, qualquer ajuda, eu conheço excelentes médicos. Clínicas. Psicólogos. Posso...
— Não — cortei, um pouco mais seca do que gostaria. — Agradeço sua gentileza, mas estamos bem.
Ele não se ofendeu. Sorriu, como quem entendia. Como quem respeitava.
— Entendo. E admiro.
Nos encaramos por alguns segundos.
Silêncio.
Então, ele deu um passo para o lado e estendeu a mão, gentil:
— Boa noite, Isadora.
Apertei sua mão, e senti algo pulsar.
Aquele homem era perigoso para o meu coração. E eu... já estava em apuros.
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