O Hóspede do Quarto 1105

ISADORA

Eu estava exausta. Como sempre.

Naquela noite, a lavanderia industrial do hotel tinha parado de funcionar, e o turno da noite estava desfalcado. Eu, que já tinha limpado quatro suítes e dobrado mais lençóis do que gostaria de contar, fui chamada para repor toalhas nos andares superiores.

— Quarto 1105. Executivo. Cliente internacional. Vai com cuidado — disse Marcie, a supervisora, me entregando o kit de luxo com as toalhas bordadas.

Subi o elevador empurrando o carrinho de reposição, tentando ignorar o cansaço nas pernas e a leve dor na lombar. Meu uniforme simples estava impecável, mas meus olhos denunciavam as noites mal dormidas. Ser faxineira não era o que eu sonhava. Mas entre isso e ver meu pai afundar de vez na depressão...a escolha estava feita.

A porta do 1105 estava entreaberta. Toquei duas vezes, como instruído, e anunciei:

— Serviço de quarto. Vim repor as toalhas.

Nenhuma resposta. Estranhei, mas empurrei devagar.

O quarto estava mergulhado em silêncio. As luzes da sacada estavam acesas e a janela de vidro aberta, deixando a brisa morna da noite entrar. Lá fora, de costas para mim, um homem alto, vestindo apenas calça social e uma camisa parcialmente aberta, observava a cidade como se carregasse o peso de um império nas costas.

Não sabia quem ele era. Ainda.

Coloquei as toalhas no lugar com discrição e me preparava para sair, quando ouvi sua voz pela primeira vez.

— Você trabalha aqui há muito tempo?

Sua voz era grave, firme, com um leve sotaque que eu não soube identificar de imediato.

Me virei, surpresa. E ali, pela primeira vez, nossos olhos se encontraram.

Ele era… impressionante.

Moreno, olhar cinza penetrante, barba bem feita e um ar de quem estava sempre à frente de tudo. Mas havia cansaço nos ombros dele. Uma tristeza silenciosa nos traços do rosto.

— Um ano e meio… mais ou menos — respondi, com a voz baixa. — Posso ajudá-lo com algo mais?

Ele me encarou por mais tempo do que qualquer hóspede jamais havia feito.

— Já me ajudou — disse, com um meio sorriso. — Você trouxe silêncio.

Engoli em seco. Não era uma cantada. Era quase um pedido de paz.

Agradeci com um aceno tímido e saí, sentindo as bochechas queimarem. A porta fechou atrás de mim. Eu não sabia, mas ali começava tudo.

O nome dele?

Stephanos Theodorakis Vasilis.

E naquela noite… o magnata grego entrou na minha vida sem pedir permissão.

ISADORA

Tentei não olhar para trás. Mas a verdade é que nunca me senti tão… vista.

Não era como os olhares rápidos dos homens na rua. Nem como os flertes desrespeitosos que algumas funcionárias sofriam dos hóspedes bêbados. O que aquele homem fez foi me observar como se estivesse procurando algo. E, por algum motivo que eu não sabia explicar, parecia que ele havia me encontrado em mim.

Voltei para o elevador com o coração acelerado e as mãos suadas. Meus pensamentos giravam ao redor daquele nome que vi mais tarde no sistema de hóspedes:

"Stephanos T. Vasilis – suíte executiva 1105. Estadia: 7 dias. Nacionalidade: grega."

Era só mais um hóspede. Devia ser. Eu não podia me permitir pensar diferente. A vida que eu levava era prática, simples, com metas pequenas e urgentes: pagar a conta de luz, comprar os remédios do papai, economizar para o conserto da caldeira. Paixões não cabiam na minha lista de prioridades.

Mas naquela noite… eu sonhei com ele.

STEPHANOS

Ela era jovem demais. E ainda assim... parecia ter a alma mais antiga da sala.

Desde que cheguei à América, nada me causava tanto impacto quanto aquela faxineira de passos leves e olhos cansados. Eu observei pelo reflexo do vidro: a forma respeitosa como ela trocava as toalhas, a postura digna mesmo vestindo um uniforme sem brilho. Havia algo raro naquela mulher.

Talvez fosse o silêncio.

Ou o modo como ela não me reconheceu como "importante".

Não me pediu selfie, não sorriu em exagero. Apenas cumpriu seu papel com graça e saiu. Sem esforço para chamar atenção — e talvez por isso tenha me conquistado no primeiro olhar.

Mas eu não vim aqui para me apaixonar.

Estava em uma missão séria: fechar um contrato naval com os americanos, consolidar uma parceria que sustentaria as próximas gerações do império da minha família. Eu não podia errar.

Nem me distrai.

E mesmo assim, naquela noite, quando fechei os olhos, não vi gráficos nem números.

Vi olhos azuis.

É um nome que eu ainda não sabia.

ISADORA

Na manhã seguinte, voltei ao hotel. Olhei para o quadro de avisos e, mais uma vez, lá estava: quarto 1105 – troca especial de enxoval. Marcie me lançou um olhar rápido.

— Parece que ele gostou do seu atendimento.

— Deve ter sido coincidência.

Ela sorriu. Mas eu sentia que não era.

O elevador subia devagar. Meu coração, não. E ali, entre os andares da rotina, nasceu um caos que mudaria tudo.

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Comments

khun :3

khun :3

Adoro como esse livro é envolvente e me faz esquecer do mundo ao meu redor.

2025-06-23

3

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