Pai de alma

STEPHANOS

No outro dia, saí do hotel mais cedo. Estava exausto de salas frias e apertos de mão sem alma. Meus sócios queriam resolver tudo ali, nos Estados Unidos, antes de voltarmos à Grécia. Eu só queria vê-la.

Eu não a procurei diretamente. Ainda não.

Mas chamei um carro e pedi para o motorista me deixar a duas quadras de distância da casa onde vi o pai dela na tarde anterior. Caminhei com calma pelas ruas do bairro humilde, mas bem cuidado. Um lugar simples, onde flores nas janelas compensavam a falta de luxo, e as pessoas se cumprimentavam pelo nome.

Havia uma banca de jornal na esquina. Um mercadinho. E logo ali a casa modesta de número 42.

Vi Edward, o pai dela, sentado na varanda. Sozinho. Com uma caneca de chá na mão e um livro no colo. O olhar distante. A pele pálida. Mas vivo.

Ele estava vivo.

E só isso me fez respeitar ainda mais aquela jovem que limpava banheiros de luxo com o mesmo cuidado com que tratava o próprio pai.

Respirei fundo. Me aproximei.

Ele me viu e franziu o cenho.

— Boa tarde, senhor...?

— Stephanos. Stephanos Vasilis.

— Não me lembro de tê-lo visto por aqui.

Sorri, respeitoso.

— Sou hóspede no hotel onde sua filha trabalha. Vi o senhor outro dia. Notei seu esforço e sua força. Vim apenas lhe dar boa tarde. Prometo que não vou atrapalhar.

Ele pareceu surpreso. Depois, relaxou um pouco. Fez um gesto com a cabeça.

— Gosta de café?

Assenti.

— Sempre.

— Aqui não é como o da Grécia, imagino — disse ele, com um leve sorriso. — Mas é quente e sincero.

E então me ofereceu uma cadeira.

ISADORA

Saí mais cedo do refeitório naquela tarde. Marcie me liberou depois de três horas dobradas. Resolvi passar no mercado e comprar leite e pão antes de voltar para casa. Quando dobrei a rua e vi a varanda, parei no meio do caminho.

Stephanos estava ali.

Sentado. Conversando com meu pai.

E o pior meu pai estava sorrindo.

O coração acelerou.

Por que ele foi até lá? O que ele queria?

Acelerei os passos, já imaginando o pior.

— Papai?

— Filha! — ele sorriu mais ainda. — O senhor Stephanos estava me fazendo companhia. O café estava bom, e a conversa melhor ainda.

Stephanos levantou-se com respeito.

— Espero não ter invadido nada. Só achei que o senhor merecia uma boa tarde tranquilamente.

— E mereceu mesmo — meu pai respondeu antes que eu pudesse falar algo.

Tentei não encarar Stephanos com intensidade demais. Mas foi difícil. Ele usava jeans escuros, uma camisa branca dobrada nos cotovelos e um perfume discreto, mas que mexia com minha memória como um assobio chamado de um pássaro.

— Se me der licença, Isadora, foi um prazer rever você e conhecer seu pai.

Assenti, sem encontrar palavras.

Ele se afastou devagar, sem pressa. Como se não tivesse feito nada demais.

Mas dentro de mim, algo estava em colapso.

EDWARD

— Ele é bom moço, filha.

— Ele não devia ter vindo aqui.

— E por quê? Porque te trata bem? Porque parece gostar de você? Porque é educado?

— Porque — engoli o seco. — Porque ele é perigoso. Ele não sabe o que está em jogo.

Meu pai se calou. Me observou com os olhos firmes.

— Isadora você não pode fugir para sempre.

Senti as lágrimas queimarem atrás dos olhos.

— Eu não fujo, papai. Eu protejo.

Ele não respondeu. Apenas tocou minha mão.

Como sempre fez.

Como se dissesse: estou com você — mesmo que eu não concorde com tudo.

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Comments

Gislaine Duarte

Gislaine Duarte

tá certíssima 👏

2025-06-27

0

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