Sol Nascente o Coração Fechado do Dom da Máfia
O silêncio que ficou após a partida do jatinho foi mais cruel que qualquer grito.
Celso observava a pista vazia da propriedade à beira do mar, os olhos fixos no céu acinzentado onde o avião de Lavínia desaparecera há poucos minutos. Não houve palavras de despedida, não houve adeus. Ela o olhou uma última vez antes de subir a escada da aeronave, acreditando ingenuamente que tinha vencido — que tinha enganado o homem que um dia jurou amar.
Ele apenas sorriu. Um sorriso amargo, frio. Quase piedoso.
Lavínia acreditava que estava indo embora livre. Mas estava apenas sendo entregue à própria sentença. A LME — a Liga dos Mafiosos Europeus — não falhava em suas decisões. Ela seria punida por tudo: por ter tentado manipular o Dom da Sol Nascente, por ter se passado por mãe carinhosa, por ter planejado o aborto de uma mulher inocente apenas por obsessão. Por ter se perdido de si.
Celso sabia de cada plano. As mensagens apagadas. As chamadas codificadas. Os bilhetes escondidos. Nada escapava ao seu controle. Ele a deixou acreditar que estava livre, apenas para assistir a queda ser ainda mais cruel.
A brisa fria cortava o rosto dele quando ele se virou, os passos lentos em direção à mansão silenciosa.
Carlos dormia no berço, alheio ao peso do mundo que o esperava. Um bebê de apenas um ano, tão pequeno... tão inocente. Celso se aproximou e, pela primeira vez em meses, se permitiu sentar ao lado do filho com os ombros curvados.
O Dom não chorava. Mas naquela madrugada, ele respirou como se segurasse o próprio choro no peito.
Ele passou os dedos pelos cabelos claros do menino, idênticos aos seus. Carlos resmungou no sono, virando-se levemente. E foi ali, naquele pequeno gesto, que Celso sentiu — pela primeira vez em muito tempo — que ainda havia algo pelo qual lutar.
Não pelo poder. Não pela vingança. Mas por aquele pequeno ser que agora dependia apenas dele.
— Você vai ser diferente de mim... — murmurou em voz baixa, quase um sussurro. — Vai crescer longe da sujeira. Longe da dor que sua mãe causou.
Mas nem ele acreditava plenamente nisso.
O mundo em que vivia não permitia inocência por muito tempo. E Celso sabia que a única forma de proteger Carlos era permanecer forte, frio, impenetrável.
Fechou os olhos por um momento, escutando o leve som da respiração do filho. A raiva, o desprezo e o rancor ainda queimavam dentro de si como brasas incandescentes, mas agora estavam direcionados. A Lavínia ele já havia deixado para trás. O que viesse a acontecer com ela nas mãos da LME não era mais problema seu.
Miguel que cuidasse dela.
Ele cuidaria de Carlos.
Levantou-se com calma, ajeitando o cobertor sobre o menino. O olhar dele estava diferente agora — mais duro, mais sombrio. O Dom da máfia Sol Nascente estava de volta, mais implacável do que nunca. Mas por trás de toda sua frieza, havia algo que nenhum inimigo imaginaria existir: o instinto feroz de um pai que não mediria esforços para proteger aquilo que amava.
A partir daquele momento, Celso Farias havia enterrado o último vestígio do homem que um dia amou Lavínia Makrov.
E jurou silenciosamente que nunca mais daria a alguém o poder de destruí-lo.
- - -
A noite caiu com o peso de uma sentença.
O silêncio da mansão já não era novidade, mas agora parecia mais espesso. Pesava sobre os ombros de Celso como um manto feito de arrependimento e solidão.
Carlos dormia — como sempre, alheio a tudo — e Celso, por um momento, desejou ser como ele: inocente, alheio ao mundo que consumia os homens por dentro antes mesmo de matá-los.
A notícia veio naquela manhã, pelas mãos de um informante da LME.
Lavínia havia sido capturada oficialmente. Estava sob custódia, internada no manicômio particular da Liga dos Mafiosos Europeus. Um lugar onde não havia janelas, nem nomes, nem esperanças. Somente gritos abafados e almas condenadas à própria insanidade.
Ela teve um surto, segundo os registros. Quebrou vidros, tentou agredir os próprios aliados, dizia que precisava destruir uma criança que nunca nasceu — a mesma que tentou matar ao perseguir a noiva do ex-marido.
Celso não se surpreendeu.
“Somente uma louca seria capaz do que ela fez. Somente alguém sem alma...”
Por meses ele sustentou a farsa, a deixou acreditar que poderia recomeçar. A assistiu mentir, manipular, encenar o papel de boa mãe, enquanto armava pelas costas dele. Ele a monitorava com olhos invisíveis, ouvidos em todas as paredes.
Ela jamais soube — mas ele sempre soube de tudo.
Agora, ela estava incomunicável.
Ninguém poderia visitá-la. Nem notícias sairiam de lá.
Lavínia Makrov havia deixado de ser um problema.
Ela havia sido selada, enclausurada... controlada.
Mas Celso estava quebrado.
Pela dor. Pela traição.
E, principalmente, por saber que, mesmo livre dela, a ferida aberta em sua alma continuava sangrando.
Seu olhar se voltou para uma caixa trancada em uma gaveta de ferro — lá estavam os papéis do divórcio.
Agora, inúteis.
“Irônico,” ele pensou, “lutei tanto para mudar vida dele e agora... nem posso vê-la para dizer que acabou.”
Mas talvez fosse melhor assim.
Não havia mais o que dizer.
**
Ainda havia outro peso — um mais antigo, mais profundo.
Sua irmã... Karina.
A dor latejava, como uma ferida mal cicatrizada.
Ele havia falhado com ela.
Ele fechou os olhos e viu o rosto dela como era na infância. Risonha, cheia de vida. A garota que ele jurou proteger.
A quem ele prometeu ao pai — no leito de morte — que daria um futuro brilhante.
Mas ele falhou.
Miseravelmente.
Deixou-se cegar por Lavínia.
Permitiu que a esposa influenciasse suas decisões.
Tentou casar Karina com o filho de um Dom da máfia alemã. Um homem mulherengo, sem caráter, que só traria humilhação e infelicidade.
Ela implorou. Chorou. Suplicou.
Mas ele não ouviu.
Guilherme Castellazzo foi o único que estendeu a mão a ela.
Foi ele quem a tirou da armadilha.
Quem a protegeu.
E mesmo assim, Celso afundou ainda mais.
Manipulado por Lavínia, tentou roubar a herança da própria irmã.
Desprezou-a.
E hoje... tudo o que restava era saudade.
Karina era feliz agora — ou ao menos parecia ser.
Mas nunca o perdoou.
Como poderia?
Ele não teve coragem de procurá-la.
Não depois de tudo.
Não depois de pisar na promessa que fez ao pai.
Não depois de destruir a confiança de quem mais o amava.
— “Você era tudo que me restava...” — ele murmurou para o vazio.
A voz falhou.
A saudade não vinha sozinha.
Ela trazia vergonha.
Trazia a consciência de que o homem que ele foi não era digno do cargo que ocupava.
Nem do sangue que corria nas veias de Karina.
Lavínia havia sido neutralizada.
Mas o estrago que causou... esse ainda ecoava dentro dele.
Celso ergueu o olhar para o quarto onde Carlos dormia.
O menino tinha o sorriso da mãe, mas os olhos dele.
Era frágil.
Puro.
E era sua chance de fazer diferente.
De quebrar o ciclo.
— “Por você, filho... eu vou tentar ser melhor.” — sussurrou.
Mas mesmo ali, sozinho, ele sabia que até fazer as pazes com Karina, até conseguir o perdão dela, nada seria suficiente.
Nada apagaria o erro.
Mas talvez...
Só talvez...
Ainda houvesse tempo de reconstruir.
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Atualizado até capítulo 68
Comments
Elidiane Almeida Pinto
Bom dia querida autora!!
começando hoje 11/04/25 mais uma aventura que são tuas histórias...
2025-04-11
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Ana Karol Campos
começando dia 01/05/25... sei q essas estórias da nossa autora são intensas, vou ler devagar ... tô tentando maratonar todas, uma hora termino rs
2025-05-01
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Marli Batista
Começando hoje 11/04/25 Vamos lá ver o que vai acontecer ja sei que vou amar ler esta história maravilhosa ♥️❤️♥️❤️♥️
2025-04-12
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