O sol mal nascia no horizonte quando Celso cruzava a longa varanda da mansão silenciosa. Já fazia seis meses desde que Helena entrara pelaquela porta como uma simples babá recomendada por Miguel, e agora, sem que ele mesmo percebesse, ela já fazia parte do cotidiano como se sempre tivesse pertencido àquela casa. Era discreta, atenta, cuidadosa com Carlos e, acima de tudo, respeitosa com o espaço que Celso tanto zelava. Nunca invadira seu mundo, nunca insistira em conversas. A amizade surgiu como um sussurro, nascida da dor compartilhada.
Carlos, com seus dois aninhos, já não perguntava mais pela mãe. A transição fora lenta e dolorosa, mas real. A ausência de Lavínia era agora um espaço que Helena preenchia com afeto sutil, sem prometer substituições. Celso observava os dois com um aperto no coração. Helena se tornara a mulher que ajudava sua casa a respirar. Uma amiga. Uma figura quase familiar.
No início, haviam dividido silenciosamente as cicatrizes. Ela contou sobre o marido morto numa missão da LME, tentando salvar Enzo Castellazzo. Celso lhe contou sobre Lavínia, sobre como ela o deixara para correr atrás de um passado que já não existia. Não entraram em detalhes. Apenas sabiam: ambos tinham buracos no peito.
Mas Celso tinha medo. Um medo que crescia toda vez que pensava em deixar alguém se aproximar. Seu coração ainda sangrava por Karina, sua irmã, que ele afastara com atitudes impulsivas. Sua única família de sangue, além de Carlos, e agora completamente distanciada. Pensar em abrir espaço no peito para outra pessoa causava pânico. A verdade era simples: ele não queria que ninguém mais o amasse. Só permitia que Carlos e Karina tivessem esse privilégio.
Mas não podia seguir assim. Algo dentro dele gritava. Era saudade, culpa, e uma necessidade profunda de perdão.
Uma noite, depois de colocar Carlos para dormir, Celso sentou-se no sofá da sala, com o laptop no colo e o coração inquieto. Resolveu buscar notícias. Precisava saber onde estava Karina. Queria saber se ela estava bem. Não importava o quanto tivesse errado com ela, era sua irmã. Ele não podia apagá-la da vida.
Foi então que encontrou. A notícia caiu como uma bomba.
"Guilherme Schmit Castellazzo é o novo Dom da máfia Battist e vive agora em Florença com sua esposa, Karina Castellazzo, que dá à luz ao primogênito do casal, Lion Castellazzo."
Celso parou de respirar por um momento. Os olhos fixos na tela. As palavras dançavam. Karina era mãe. Ela havia se tornado a Dama da máfia. E ele? Ele estava aqui, separado dela por escolhas que o ego não o permitira consertar antes.
Mas agora ele precisava. Pela primeira vez em muito tempo, Celso deixou o orgulho de lado. Não podia deixar que a distância virasse um abismo. Aquela notícia tocou seu peito de um jeito tão profundo, que ele levantou decidido. Iria até Florença. Iria pedir perdão.
E ele sabia que não podia fazer isso sozinho.
Na manhã seguinte, acordou Helena com delicadeza. Carlos ainda dormia.
— Preciso te pedir algo, — ele disse, com os olhos cansados. — Preciso ver minha irmã. E quero que você venha conosco.
Helena, surpresa, ergueu as sobrancelhas.
— Eu? Tem certeza?
— Carlos precisa de você. Não quero afastá-lo de quem ele confia.
Helena apenas assentiu. Compreendia mais do que ele dizia.
Duas semanas depois, estavam em Florença. O clima italiano acolheu Carlos com um vento morno e brisas de um novo mundo. Helena cuidava dele com a mesma ternura de sempre, e Celso, com um aperto constante no peito, seguia em direção à mansão da máfia Battist.
Não sabia como seria recebido. Não sabia nem mesmo se teria coragem de olhar Karina nos olhos. Mas sabia que precisava tentar. Pela irmã que ele tanto amava. Pela família que ele não podia continuar deixando para trás. Pela paz que ele ainda buscava.
E por fim, por ele mesmo.
A grande porta da mansão foi aberta. Guilherme estava lá, imponente, com o pequeno Lion nos braços. Karina surgiu logo atrás, os olhos marejados, mas firmes.
Celso deu um passo à frente, segurando Carlos pela mão, com Helena logo atrás.
A imagem era simples. Uma família. Inteira. Viva. Feliz.
E Celso sentiu o chão vacilar sob os pés.
Um nó se formou em sua garganta, tão denso quanto os anos que os separaram. Era como se tudo o que ele sempre quis estivesse diante de si, mas não lhe pertencesse. Sua irmã, a única pessoa que o amou mesmo quando ele foi falho. A menina forte que se tornara mulher, mãe, e que agora brilhava com uma luz que não lhe dizia respeito.
Ele tragou em seco.
Por que não esteve lá? Por que permitiu que a sede de poder o afastasse da única parte da família que ainda pulsava verdadeiramente? Viu o marido dela sorrir e tocar seu rosto com ternura, e isso foi como uma lâmina em sua memória — ninguém nunca tocara Lavínia daquela forma, com real afeto.
Karina havia vencido.
Ela ergueu um império diferente do seu — feito de amor, não de controle.
E Celso... apenas sobreviveu.
Seus olhos marejaram, mas ele não se permitiu fraquejar. Apenas contemplou a vida que poderia ter compartilhado. O sobrinho recém-nascido. A irmã sorridente. O cunhado honrado. A felicidade que cresceu à margem da destruição que ele mesmo causou.
Mais uma vez, a culpa lhe mordeu o peito.
Não apenas por Karina. Mas por si mesmo. Pela ausência. Pela distância. Pela arrogância.
Ele não sabia se ela o perdoaria, mas, naquele momento, Celso só desejava uma coisa: fazer parte, nem que fosse pela beirada, da vida que ela construiu
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Atualizado até capítulo 68
Comments
Marli Batista
Oh meu Deus que emoção esse capítulo ♥️❤️♥️❤️
2025-04-13
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Ana Karol Campos
gente, que livro intenso! que capítulo carregado de emoções! 🥺🥺🥺
2025-05-02
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Regilene Avelino
nossa q capitulo de emoção
2025-04-20
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