Dama e Vagabundo
Capítulo 1 – O mundo de Helena
O cheiro de café fresco tomava conta da cozinha, misturado ao leve perfume das flores que decoravam a mesa de jantar. Helena sempre achou engraçado como sua mãe mantinha a casa impecável, como se, a qualquer momento, uma revista de decoração fosse aparecer para fazer uma sessão de fotos.
Sentada à mesa, ela mexia distraidamente no pão com requeijão, ouvindo os passos apressados do pai pelo corredor. Ele era um homem meticuloso, que nunca se atrasava para nada. Nem para reclamar.
— Helena, já viu as notícias? — Ele ergueu o jornal, dobrando-o com perfeição antes de pousá-lo sobre a mesa. — A violência na cidade está piorando. Nem pense em sair sozinha.
Ela suspirou. O mundo do pai sempre foi cheio de regras e limites. Mas ela estava acostumada.
— Sim, pai.
A mãe, sentada à sua frente, sorriu de leve.
— O seu motorista já está te esperando, querida. É melhor ir logo.
E assim começava mais um dia previsível.
A rotina imutável
A escola de Helena ficava em uma das melhores áreas do Rio de Janeiro. O prédio era enorme, moderno e com jardins bem-cuidados. Os alunos andavam pelos corredores como se estivessem em um desfile, sempre arrumados, sempre no controle.
Helena não era uma das populares, mas também não era invisível. Ela se encaixava no grupo das “boas alunas”, aquelas que sempre tiravam notas altas e tinham um futuro promissor.
— Helena! — Clara apareceu do nada, puxando-a pelo braço. — Você não vai acreditar!
— O quê?
— Aluno novo! E dizem que ele é... bem diferente do nosso padrão.
Helena ergueu a sobrancelha.
— Diferente como?
Clara se inclinou, como se estivesse contando um segredo proibido.
— Ele não vem de uma escola particular, nunca estudou em colégio de elite. Dizem que ele conseguiu uma bolsa.
Helena franziu a testa. Não era tão comum alguém de fora entrar ali.
O novo aluno
A sala estava movimentada quando a professora entrou, batendo duas palmas para chamar a atenção.
— Bom dia, turma. Temos um novo aluno hoje. Espero que sejam receptivos.
Todos olharam curiosos enquanto um garoto entrou.
Ele tinha a pele levemente bronzeada, o cabelo bagunçado e um jeito descontraído, como se não se importasse muito com os olhares sobre ele. A roupa, apesar do uniforme da escola, não parecia se encaixar no estilo engomado dos outros.
— Esse é Miguel. Ele veio de uma outra escola e vai estudar conosco a partir de agora. Seja bem-vindo.
Miguel levantou a mão em um aceno casual, sem dizer nada.
Helena observou enquanto ele caminhava pelo corredor, procurando um lugar para sentar. Alguns cochichavam, outros apenas o ignoravam.
Clara cutucou Helena.
— Ele é bem... interessante, né?
Helena não respondeu. Algo naquele garoto era diferente. Não só pelo fato de ele ser novo, mas pela forma como ele parecia alheio a tudo. Como se não pertencesse àquele lugar, mas também não se importasse com isso.
E, sem saber, aquele era o primeiro dia de algo que mudaria sua vida
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O dia seguiu como qualquer outro. Helena fez o trajeto de volta para casa, entre a escola e o ambiente familiar, tudo de maneira mecânica. Mas algo estava diferente. A imagem de Miguel, sentado na carteira nova, seus olhos atentos, mas ao mesmo tempo distantes, parecia rondar seus pensamentos.
— Ele não tem medo de parecer diferente. — Ela pensou, quase em voz alta.
Sua mãe a cumprimentou com um sorriso, mas Helena não estava totalmente presente, a mente ainda em outro lugar. O jantar foi tranquilo, com os mesmos diálogos sobre o dia de trabalho do pai e as fofocas de sempre. Clara, no entanto, não deixou a curiosidade sobre o novo aluno descansar.
— Eu não paro de pensar no Miguel! — Ela disse, enquanto pegava o celular para ver alguma coisa nas redes sociais. — Você viu o jeito dele, Helena? Super... natural, sabe?
Helena deu um sorriso sem graça.
— É, bem... diferente.
— Diferente, mas de um jeito bom! Eu acho que ele tem tudo para ser o “bad boy” da escola.
Helena não disse nada, mas pensou consigo mesma: Bad boy? Não parecia tão... escuro assim. Na verdade, ela achava que Miguel tinha algo mais interessante. Algo misterioso, mas que ela não sabia identificar.
O encontro no intervalo
No dia seguinte, Helena entrou na sala um pouco mais cedo. Ela gostava dessa tranquilidade inicial antes da chegada dos outros alunos, uma paz que ela nunca queria perder. Mas, dessa vez, algo estava diferente. Miguel estava sentado sozinho, como se estivesse esperando algo.
Ele não se parecia com os outros meninos, sempre rodeados de amigos e risos. Miguel estava em um canto, distraído com seu celular, ouvindo música. Sua atitude parecia desconectada de tudo e de todos, como se estivesse em seu próprio mundo.
Foi Clara quem quebrou o silêncio, vindo até Helena com um sorriso malicioso no rosto.
— Vai conversar com ele? Acho que ele está esperando uma aproximação.
Helena olhou para Clara, sentindo uma leve pressão no peito. Não sabia bem por quê, mas a ideia de se aproximar de Miguel parecia estranha e excitante ao mesmo tempo.
— Não sei... Talvez mais tarde. — Ela respondeu, tentando disfarçar sua curiosidade.
Miguel não olhou para Helena, mas o simples fato de ele estar ali, sozinho, quase como se fosse um desafio, mexeu com ela.
A aula de história
Quando a aula de história começou, o professor pediu para que os alunos se organizassem em duplas para uma atividade em grupo. Helena sentiu um leve desconforto, como se a combinação de duplas fosse uma espécie de jogo do destino.
— Helena, vamos ser dupla? — Clara perguntou, com os olhos brilhando de expectativa.
Mas, antes que Helena pudesse responder, o professor anunciou algo que fez sua barriga gelar.
— Helena, você vai ser dupla com o Miguel.
Helena piscou, surpresa. Ela não esperava por isso. O novo aluno... ela mesma! Era como se o universo tivesse decidido que aquele momento tinha que acontecer.
Miguel olhou para ela pela primeira vez com mais atenção, seu olhar calmo, mas curioso. Ele parecia ligeiramente desconfortável com a ideia de trabalhar em dupla, mas algo em seu olhar indicava que não era o tipo de pessoa que recuaria facilmente.
— Então... o que a gente vai fazer? — Ele perguntou, quebrando o silêncio.
Helena se forçou a sorrir.
— Acho que precisamos discutir o projeto sobre a Revolução Industrial. Você tem alguma ideia?
Miguel deu um meio sorriso.
— Revolução... Não sei muito sobre isso, mas a gente pode ver o que encontra no celular. Vai ser divertido.
Helena não conseguiu evitar. Uma risada baixa saiu dela, surpresa com a forma descontraída com que ele lidava com tudo. Não era nada como os outros alunos. Ele não se importava com a forma como as coisas “deveriam” ser feitas.
A tensão crescente
Depois da aula, Helena percebeu que estava mais ansiosa do que o normal. O encontro com Miguel não tinha sido nada demais, mas sua presença, sua maneira de falar e agir, estava mexendo com ela de um jeito que ela não sabia explicar.
Clara, como sempre, não perdeu tempo.
— Então? Como foi trabalhar com o garoto “bad boy”? — Ela perguntou, com um sorriso travesso.
Helena olhou para Clara e hesitou. Ela não queria soar como se estivesse interessada demais, mas não conseguia esconder a inquietação.
— Ele é diferente... De um jeito... legal. Mas não sei o que pensar ainda.
Clara riu.
— Tá vendo? Eu disse que ele ia te deixar assim. Pode confiar, ele vai ser o tipo de pessoa que vai mudar tudo para você.
Helena deu um sorriso tímido, mas no fundo sabia que Clara tinha razão. Miguel já havia deixado uma marca em seu mundo, e ela não sabia se estava pronta para descobrir até onde isso iria a levar.
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Comments
Shoot2Kill
Não quero que essa história acabe nunca! (emoji triste)
2025-03-20
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