O sol batia forte na quadra, e Helena observava os meninos jogando futebol enquanto tentava ignorar o calor. Ela não era muito de esportes, mas gostava de assistir, principalmente porque sempre rolava algo interessante.
No meio da movimentação, seus olhos encontraram Miguel. Ele jogava sem esforço, como se não estivesse nem tentando, mas ainda assim, conseguia driblar e fazer gols com uma facilidade absurda. O cabelo desgrenhado, a camisa meio para fora da calça—ele definitivamente não parecia se encaixar no padrão dos outros garotos da escola.
— Vocês tão bem próximos, hein? Quando foi que começaram a se falar? — perguntou Clara, se aproximando e cruzando os braços.
Helena olhou para ela de canto de olho, sem entender direito o tom da pergunta.
— Bom… na festa. Ele é bem legal.
Clara ergueu a sobrancelha, como se não estivesse convencida.
— Ele nem deveria estar nessa escola.
— Por quê? — Helena perguntou, franzindo a testa.
— Olha pra ele. Parece um marginal. Nem usa o uniforme direito.
Helena sentiu um incômodo naquelas palavras. Ela olhou novamente para Miguel, que ria de alguma coisa com os amigos. Ele definitivamente não parecia se importar com o que os outros pensavam.
— Acho melhor você começar a falar melhor dos outros. — Helena retrucou, sem paciência para aquele tipo de julgamento.
Clara riu de leve, levantando as mãos em rendição.
— Tá defendendo ele, é?
— Não julga os outros pela aparência.
Clara deu de ombros e mudou de assunto, mas Helena ficou com aquilo na cabeça. Era engraçado como as pessoas tinham essa mania de definir alguém antes mesmo de conhecê-lo.
Depois da aula – Um caminho diferente
Quando a aula acabou, Helena pegou sua mochila e saiu devagar pelo portão da escola. O dia estava bonito, mas o calor continuava forte. Foi quando ouviu uma voz conhecida ao seu lado.
— Tá fugindo de mim, é?
Ela olhou para o lado e viu Miguel, caminhando tranquilamente ao lado dela, as mãos no bolso e um sorriso de canto no rosto.
— Se eu tivesse fugindo, cê nem ia me ver. — ela brincou, arqueando uma sobrancelha.
Miguel soltou uma risada baixa e olhou para frente.
— Hm… esperta.
Os dois seguiram andando no mesmo ritmo. Era engraçado, mas ela não sentia aquela tensão que costumava sentir com outras pessoas.
— E aí, o que tão falando de mim na escola? — ele perguntou, jogando a conversa no ar.
Helena hesitou por um segundo, mas decidiu ser sincera.
— Ah, coisas normais… que você não devia estar lá, que parece um marginal…
Miguel gargalhou, jogando a cabeça para trás.
— Essa foi boa. E você, concorda?
Helena olhou para ele de lado, analisando.
— Acho que cê tem um jeito meio largado, mas isso não define quem você é.
Ele sorriu, genuíno, e chutou uma pedrinha na calçada.
— E você? Como se define?
Helena ficou pensativa por um momento.
— Sei lá… normal?
Miguel fez uma cara de quem não comprava a resposta.
— Não, normal não. Cê tem cara de quem vive num mundinho fechado.
— Ah é? — ela cruzou os braços.
— É. Tipo, cê acha que já conhece tudo, mas tem um monte de coisa por aí que nem imagina.
Ela sorriu de canto.
— E você? Se acha o quê?
Miguel encolheu os ombros, sem pressa na resposta.
— Acho que sou só eu. Sem rótulo, sem caixinha. Só Miguel.
Helena gostou da resposta. Eles continuaram andando, e a conversa fluía como se eles se conhecessem há mais tempo do que realmente conheciam.
— Você não é tão diferente assim do pessoal da escola. — ela comentou.
Ele olhou para ela com um brilho de desafio nos olhos.
— Ah não? Então um dia eu te mostro o meu mundo. Aí cê me diz.
Helena riu, sem saber se ele estava brincando ou falando sério.
— Fechado.
E, pela primeira vez, ela sentiu que talvez Miguel não fosse só mais um rosto na multidão. Talvez ele fosse algo novo. Algo diferente. Algo que ela ainda não entendia, mas queria descobrir.
Helena chegou em casa e logo foi recebida pelo barulho da televisão ligada. Seu pai estava sentado no sofá, folheando algumas folhas de trabalho. Ele ergueu os olhos para ela por um breve momento.
— Chegou tarde.
— Fiquei conversando com uma pessoa.
Ele franziu a testa.
— Clara?
— Não… um colega novo da escola.
O pai de Helena colocou os papéis de lado e a olhou com mais atenção.
— E que colega é esse?
— Miguel. Ele entrou há pouco tempo.
— Miguel? — ele repetiu, como se o nome já fosse um alerta. — Que tipo de garoto é ele?
Helena cruzou os braços, já se preparando para o sermão.
— É um cara normal.
— Normal como? Anda com quem? Vem de onde?
— Pai, eu só conversei com ele. Não tô casando.
Ele suspirou e voltou a mexer nos papéis, como se aquilo encerrasse a conversa.
— Só toma cuidado, Helena. Você não conhece todo mundo como pensa.
Ela bufou e subiu para o quarto, sem vontade de prolongar o assunto.
No outro dia – Encontros inesperados
Helena encontrou Clara no corredor da escola logo cedo.
— E aí, sumida! — Clara chamou, puxando a amiga pelo braço. — O que aconteceu ontem? Me largou sozinha!
— Não sou muito de festa, você sabe.
Clara revirou os olhos.
— Você que é muito na sua. Devia aproveitar mais.
Antes que Helena respondesse, sentiu um esbarrão leve e ouviu uma voz conhecida.
— E aí, patricinha, já esbarrou comigo duas vezes. Cê tá me seguindo?
Era Miguel, com aquele sorrisinho de canto, a camisa do uniforme meio aberta e o jeito relaxado.
— Se alguém tá seguindo alguém aqui, acho que é você. — Helena rebateu, cruzando os braços.
Ele riu, se apoiando no armário ao lado.
— Gostei da resposta. Mas fala aí, dormiu bem depois daquele papo cabeça?
— E por que não dormiria?
— Sei lá, às vezes as mina que convive só com gente certinha fica meio bugada depois que fala comigo.
Helena riu, balançando a cabeça.
— Acho que você se acha demais.
— Talvez. Mas cê riu, não riu?
Helena percebeu que sim. Sem querer, Miguel tinha aquele jeito de tornar a conversa mais leve. Clara, que observava tudo, pigarreou.
— Vamos, Helena. Se não a gente se atrasa.
— Relaxa, princesa, deixa ela curtir a resenha. — Miguel soltou, piscando pra Helena.
Clara bufou e puxou a amiga pelo braço.
— Esse cara é cheio de marra, hein? — comentou, enquanto caminhavam para a sala.
Helena apenas sorriu, sem responder.
Depois da aula – Entre conversas e despedidas
Quando a aula acabou, Helena pegou suas coisas e seguiu para a saída. Para sua surpresa, Miguel apareceu do nada ao seu lado, andando no mesmo ritmo que ela.
— Já tá fugindo de novo, é?
— Eu tava indo embora.
— Sozinha? Pô, vai dizer que ninguém vem te buscar?
— Eu sempre vou sozinha.
Miguel assobiou baixinho.
— Patricinha e independente, gostei de ver.
— Para de me chamar assim.
— Mas é, ué. — ele sorriu de canto. — Me diz, já viu como é o lado de cá da cidade?
Helena franziu a testa.
— O lado de cá?
— É. O lado onde os ônibus demoram e as ruas não têm asfalto. O lado onde os moleque aprende a correr antes de aprender a andar.
Helena ficou em silêncio por um instante.
— Nunca fui pra esses lados.
— Sabia. Um dia eu te levo pra ver. Mas só se tiver coragem.
Ela riu, cruzando os braços.
— Tá querendo me assustar?
— Não. Tô querendo te mostrar que o mundo é maior do que cê pensa.
Os dois pararam perto do ponto de ônibus.
— Bom, vou nessa. — Miguel disse, já dando alguns passos para trás. — Mas olha, cê devia sair um pouco da sua bolha. O mundo não é só a escola, o bairro rico e os rolê chique. Tem muita coisa além disso.
— E você quer ser meu guia turístico?
— Se quiser, faço preço bom. — ele brincou.
Ela balançou a cabeça, rindo.
— Vai embora logo, Miguel.
Ele piscou pra ela.
— Se cuida, patricinha.
E saiu, deixando Helena com um sorriso preso nos lábios.
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Comments
Mưa bong bóng
Vou acompanhar com prazer
2025-03-21
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