Capítulo 14

Sasha se deitou, agradava o aroma da madeira da cama, apertou os lençóis contra o nariz, cheiravam a novos, e adorava o cheiro de coisa nova. O leito possuía um design moderno, simples, porém aconchegante, daqueles que se pode encontrar em qualquer loja. Teriam as mulheres anteriores ficado naquele mesmo quarto? O que aconteceu com elas? Morreram todas? Se ao menos uma estivesse ali para contar como foi o período de acasalamento delas. Rolou para um lado, depois para o outro, e se sentou.

As meninas rodeavam Lana, sentada no centro da colcha brilhante e azul, gesticulava enquanto falava. Devia estar contando alguma de suas histórias mirabolantes sobre lobisomens. Todas queriam saber o que mais poderia acontecer. Se tinham esperança de serem Onnir ou de escapar, Sasha não sabia. Não gostava da maioria. Contudo, compartilhava da mesma agonia, ansiosa, o futuro a inquietava de igual modo. O que aconteceria?

Lembrava-se do teatro de horror ao qual acabaram de presenciar e repassava cada rosto. As meninas observavam os lobos o tempo todo, possível que ficassem perguntando “O que eles farão agora?”, “O que será de nós?”, “Teremos o mesmo fim que Cibele?”. Encolhiam-se quando Adruna ou Pierre se moviam, ainda que o movimento fosse inofensivo como avançar alguns passos até um membro do bando. E se ressentia em esperar que fossem diferentes. 32 lobisomens estavam presentes naquela câmara, contou três vezes para se certificar. O que dez mulheres assustadas poderiam fazer contra eles?

Cibele dissera que tinham que conhecer os hábitos dos lobisomens, queria acreditar que a amiga tivesse algo em mente, um tipo de plano, porém, não sabia se ainda estava viva, se podia contar com ela. Fechou os olhos quando o lobisomem a mordeu, não teve coragem de assistir e analisar. E quando os abriu, as marcas sangrentas deixadas pelas patas de Vicente se destacaram, e seguiam até Cibele se contorcendo sobre a poça, delirando de dor. Por mais que quisesse afastar a imagem, repetia-se como um filme.

Quem ou o que era Linaet? Pierre reagiu a isso. Cibele afogaria no próprio sangue não fosse por dizer que seu nome era Linaet. Não fazia qualquer sentido. Nina poderia dizer se Linaet era seu sobrenome, entretanto, desaparecera. Foi procurar pela amiga? Sasha abanou a cabeça e riu de si mesma. Pensar que Nina faria algo assim. Que ridículo! Nina não fazia outra coisa que não fosse chorar e pedir para as outras que a servissem como se fossem suas empregadas. Ainda assim, onde Nina e Cibele estavam?

Linaet devia ter algum significado, quiçá por isso Pierre tomou Cibele nos braços e a levou para outro lugar. Mas, onde? Lisandra dissera que o Alfa poderia prepará-la para suportar a mordida. Conseguiria fazer isso depois de Vicente a morder? Porque, com certeza, Pierre não teria feito coisa alguma, importava-se mais com a honra de Adruna. Elas não significavam nada para os lobisomens. Embora Olavi dissera que a protegeria. E tão logo pensava nas palavras dele, Lana emergia em sua mente falando que os lobos mentiam e que a enganaram.

— Sabe quem é Linaet, Lana? — disse ao se aproximar, assim que as mulheres a abandonaram.

— E por que acha que eu saberia, Sasha?

— Fala dos lobos como se os conhecesse bem.

— Minha vó contava histórias sobre eles quando eu era pequena. Ela dizia que viveu com um. Filha de um abuso, ao menos era assim que minha vó dizia a respeito de seu próprio nascimento. Minha mãe falava que minha vó era maluca e estava caduca, e que eu não deveria levá-la a sério. Ainda assim, todas as noites, gostava de fugir para o quarto dela e ouvir suas histórias até pegar no sono.

Lana pegou a flor do vaso e cheirou.

— Minha vó contava que seu pai era um lobisomem, um Lypus, e que ficou aterrorizada quando o viu, porque era pálido igual um cadáver, e os olhos vermelhos brilhavam como lâmpadas de abajur...