Capítulo 13

Elis seguia à frente de Nina com suas tranças finas, feitas desde a raiz do cabelo, e Nina se perguntava em quem manteve o penteado. Não pôde calcular quanto tempo ficaram no porão, mas sabia ter sido muito, e não seria possível que a negra à sua frente tivesse mantido o cabelo tão cheiroso e cuidadosamente preso por tanto tempo. Alguém trançou mechinha por mechinha. Enquanto na masmorra, de sua alcova, via Cibele na cela adiante, e parcialmente Lana e Lívia nos cubículos que ladeavam a prisão da amiga, e grogues, como ficavam a maior parte do tempo, nenhuma controlava direito os próprios movimentos, sequer conseguiam comer sem se emporcalharem.

Eleonor, amparada pela gentileza de Elis, a aporrinhava com a tensão entre sua falta de controle e a tentativa de reprimi-la.

— Os gritos de Cibele não param de se repetir dentro da minha cabeça — murmurava Eleonor. As palavras saíam ligeiras, entrecortavam a respiração acelerada, como se não tivesse ar suficiente para uma frase inteira. — Eles são lobisomens de verdade — repetiu várias vezes como se não acreditasse no que dizia. — Vão nos matar, Elis. — Pranteou e tornou a se controlar, afundou os dedos na carne macia do braço negro. — Eles vão nos matar.

— Viu como ela se estrebuchou como uma minhoca? — perguntou Alice.

— A pobrezinha estava com muita dor. Se mijou toda — assegurou Lívia.

— Para onde será que Pierre a levou? — perguntou Elis e entrelaçou os dedos na mão de Eleonor, que continuava sussurrando feito uma doida.

— Fiquem quietas! — ordenou a Velha na dianteira da fila. — Saibam que o que aconteceu com Cibele acontecerá com todas vocês se não obedecerem.

Nina não suportava mais chorar e menos ainda se culpar por tudo o que estava acontecendo. Foram claros, Cibele morreria com a mordida do lobo Gama. Por causa dela. E nem mais acreditava que levar a amiga para a festa tinha sido o começo. Não. O começo foi quando se encontrou com Cibele na companhia de Arthur. O namorado não escondia o interesse pela amiga de Nina. Constrangedor lembrar-se do ciúme que sentiu naquele dia.

Agora sabia. Ele analisava Cibele. Por isso que naquela noite ficou um longo tempo induzindo-a a contar como as duas se conheceram, da amizade delas, se importar-se-ia de os três transarem juntos. Nem a decoração luxuosa do restaurante e sequer os pratos franceses e vistosos sobre a mesa retiravam a atenção de Arthur de Cibele. Nunca contou à amiga, temia que pudesse se interessar pelo namorado e acabar sozinha.

E Cibele e Alan estavam se entendendo, ao menos parecia em dada situação. A amiga falava muito pouco sobre seus sentimentos, sempre preocupada em explicar o mundo, orbitava assuntos os quais julgava mais interessantes. E odiava-se por se prender nas lembranças como se a amiga já estivesse morta.

Cibele, filha de uma das empregadas da família de Nina, acompanhava a mãe em sua jornada de trabalho após a escola, e Nina gostava de brincar com ela. Sua mãe implicou um pouco de início, pois Nina preferia a companhia da filha da empregada em vez das coleguinhas da escola e suas primas. Cibele sempre se mostrou brilhante e esperta, conquistou o coração de seu pai quando foi encontrada na biblioteca dele lendo um livro de História. Não ficou bravo, ao contrário, começou a emprestar seus preciosos e se encantou com a inteligência da menininha pobre. Viajavam juntas para toda parte como se fossem irmãs e rapidamente se tornou parte da família, a ponto de ser acolhida na adolescência quando a mãe faleceu. Só deixou a casa de Nina quando se formou.

Nina era a última da fila, fungava e seguia as outras para o Quarto da Noiva. Para onde Pierre teria levado Cibele? Os pelos de Nina se eriçaram ao lembrar-se dos gritos dela, da poça de sangue que se formou ao redor do corpo que se retorcia em dor e agonia, dos dentes tingidos de vermelho do lobisomem horroroso. Esforçava-se como se quisesse falar, repetia “vermelho” sem parar. Teria a ver com o veneno dos lobos? Será que era tão tóxico a ponto de fazer Cibele alucinar?

Não houve tempo de gritar. A mão grande e firme tapou a boca de Nina e a puxou para um corredor escuro. O que estava acontecendo? Ofegou de terror. E surpreendeu-se quando numa saleta iluminada, Arthur a pressionou contra a parede.

— O que está fazendo? — Nina perguntou.

— Fale baixo. — Acariciou o rosto dela. — Estou aproveitando que Pierre está ocupado.

— Mentiu pra mim, Arthur — choramingou. — Se aproximou de mim só por causa de Cibele—

— Não, Nina, não menti e nem me aproximei de você por causa de Cibele. — Colocou uma mecha do cabelo dela atrás da orelha. — Quando me afastei de você, o fiz porque queria te proteger. Pierre sentiu seu cheiro em mim. Não tive outra escolha senão dizer a ele que sua amiga era uma possível Onnir.

— Por isso insistiu tanto que eu a levasse para sua festa?

Arthur consentiu com a cabeça.

— Eu dei o endereço de Cibele para Pierre e ele a vigiou por um tempo. Poderia ter invadido a casa dela e a levado sem qualquer problema, como fez com todas as outras. Mas, ficou interessado demais. Não queria assustá-la. Parece que se importa com o que sua amiga pensa dele. — Arthur meneou a cabeça como se o que dizia o confundisse. — Então Pierre descobriu que estávamos namorando e me prometeu que se eu organizasse a festa e levasse Cibele até ele, me permitiria ter você. Prometeu que não te tocaria, que você seria minha.

— Ó Arthur, o que você fez? — Nina balançou a cabeça. — Você entregou Cibele para um monstro em troca de mim? Como acha que vou conseguir conviver com isso? Como acha que vou suportar saber disso quando minha amiga estiver morta?

— Pierre é meu Alfa, Nina, preciso obedecê-lo. E você pode ser uma Onnir. Ele tem prioridade, seria dele se eu não fizesse esse trato e isso eu não suportaria.

— Fala como se estivesse apaixonado—

— Eu estou, Nina. Eu estou apaixonado por você. Não vê? A ametista em seu colar significa que é minha.

— Como assim? Cada pedra está relacionada a um de vocês?

— Sim. Só os Betas têm esse privilégio. Ametista é minha. Safira de Yan. Jade de Olavi. Rubi de Pierre. O que não significa que os outros não tentarão se aproximar quando estiverem no cio, mas estarão cientes com quem deverá brigar para conquistar a fêmea.

— Brigar?

— Somos assim. É instintivo. Os mais fortes ficam com a melhor porção de tudo. Os mais fracos obedecem, ou tentam a sorte nos enfrentando.

— Que coisa absurda.

— Eu vou te proteger. Não deixarei que ninguém se aproxime de você, nem mesmo Pierre. Eu prometo.

— Por que não me disse que era um monstro?

— Eu não sou um monstro.

— Claro que é, Arthur! — Bateu nos braços dele e se afastou. — Você não é humano, merda! Não pode me amar. Nem deve saber o que é amor.

— Claro que eu sei o que é amor. Sei bem mais o que isso significa do que qualquer humano poderia. Um lobo nunca abandonaria sua companheira, lutaria até a morte para protegê-la. O que humanos sabem sobre isso?

— O que você sabe sobre humanos? — perguntou, indignada.

— Eu caço humanos. Os analiso, reconheço todos os comportamentos, sei quais serão seus movimentos de acordo com suas emoções. Como um caçador que espreita e analisa todo o comportamento da sua presa, assim sou eu.

— Vai me devorar se eu não for uma Onnir? Deixará que seu Alfa se banqueteie de meu corpo?

Arthur silenciou.

— É sobre isso — disse Nina e se dirigiu para fora da sala.

— Você, Cibele, Sasha e Lana têm grandes chances de serem Onnir.

Nina mostrou o dedo do meio e seguiu para o Quarto da Noiva.

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Comments

Regiane Pimenta

Regiane Pimenta

Isso é horrível eu não vou aguentar ver isso

2024-04-10

2

Maria

Maria

E o babado é grande viu, tô amando a estória e a expectativa só aumenta 🤔🤔🤔🤫🤭🤭🤭🤭🤭

2024-03-29

2

Ver todos

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