Sora deu um pulo quando o velhote se aproximou de supetão. Ele agarrou o rosto dela, apertando e esticando suas bochechas como se estivesse analisando um extraterrestre.
"Qual é a desse velhote?" ela sibilou para Aby, olhando indignada para o homem que cheirava a sabão em barra da pior qualidade.
Aby, rindo da situação, respondeu: "Sora, esse é o nosso xamã da vila, o senhor Rikka."
O velho, sem perder tempo, maravilhado com sua descoberta (Sora), deu um grito de euforia: "Ah! Estou completamente em êxtase! Uma maravilha, uma maravilha!"
Sora, sem entender bulhufas, retrucou: "Você é algum tipo de velho tarado xamânico?"
Sem prestar atenção no que ela dizia, o velho gritou: "A PROFECIA! TEMOS A PESSOA DA PROFECIA!"
Sora, chocada com o rumo das coisas, agarrou o pobre xamã pelos ombros e o balançou. "Desembucha, velho!"
O velho se desvencilhou e andou apressadamente em direção a uma porta entalhada de madeira, coberta de desenhos de estrelas. Ele a abriu e entrou. Quando Sora e Aby o seguiram, curiosas. Uma sala rústica, abarrotada de grandes estantes de madeira e papiros espalhados por todo lado.
Quebrando o silêncio, o velho jogou um papel desgastado em cima de uma mesa rústica. "A profecia... Olhe, veja! Estava escrito que alguém com os olhos de duas cores chegaria e traria bênçãos ao nosso mundo. A pessoa com os olhos do céu e da terra." Ele apontou para Sora. "Seus olhos. Um azul, um âmbar."
"Bênçãos?" exclamou Sora em alto e bom som. "Velho! Você devia diminuir a dose do chá de cogumelo! Está alucinando!" Ela se jogou em uma cadeira de madeira. "Bênçãos? Eu? Fala sério! Que loucura!"
Aby entrou na conversa, séria pela primeira vez. "Sora, isso é sério. Todo mundo da vila sabe sobre essa profecia. Eu realmente acredito que você foi enviada por um propósito! Você seria como uma salvadora para nós, que veio curar os enfermos com seus poderes de cura!"
Sora soltou uma risada aguda e alta, cortando o ar solene. "Poder de cura? Tipo magia? Não me diga que uma luz muito forte vai brilhar atrás de mim e do nada vou virar a Madre de Calcutá e sair curando as pessoas!"
Aby piscou, confusa. "Quem é essa... Mãe de Calcular?"
Sora olhou para ela indignada, mas deu de ombros, com preguiça de explicar.
Então o xamã concluiu, com uma gentileza inesperada: "Senhorita. Mesmo que não acredite, você veio para iluminar nossas vidas. Por favor, fique conosco. Você será nossa família."
Sora ficou pensativa. Ela estava perdida num mundo de pessoas-lobo, sem a menor ideia de como voltar para casa. Ela refletiu por um segundo e decidiu que aceitaria o título de "salvadora da pátria".
"Tudo para sobreviver a essa merda", ela murmurou baixo para si mesma.
Então, ela forçou um sorriso e concordou com eles. A reação de Aby foi imediata: ela soltou um grito de alegria que quase fez Sora infartar de susto.
"Certo, certo!" disse Aby, batendo palmas. "Bom, se você vai ficar conosco, precisamos arrumar um lugar para você morar. Minha casa não tem espaço e construir uma cabana agora seria inviável... mas acho que tenho um lugar perfeito para você! Enquanto te levo para sua nova moradia temporária, vou te mostrar a vila."
Sora, ouvindo atentamente, respondeu em tom debochado: "Árvores e mato? Não, obrigado."
Aby insistiu, e Sora, vendo que não tinha escolha, acabou cedendo.
Enquanto caminhavam pela vila, Sora pôde ver mais casas, pessoas pescando em um riacho próximo, plantações... e uma multidão, predominantemente feminina, se reunindo perto da entrada principal da vila.
"O que tá rolando ali?" Sora perguntou, cutucando Aby.
Aby abriu um sorriso. "Ah, nada boba você! As mulheres da vila costumam esperar os homens voltando da caça. É um bom momento para flertar."
Sora cutucou o ouvido com a ponta do mindinho, em tom desinteressado. "Ah, claro! Tudo o que eu queria... Homens suados cheirando a sangue de algum animal abatido. Uau, que tesão."
Aby riu e revirou os olhos.
Assim que chegaram próximas à multidão, Sora ouviu um nome sendo repetido com euforia: "Kael!" "Você viu o Kael?".
Os caçadores começaram a chegar, trazendo suas presas nos ombros. Claramente, um homem se destacava entre eles. Era o guardião demoníaco.
"Puta merda", Sora pensou, tentando dar meia-volta e sair de fininho.
Ela falhou miseravelmente. Uma mão gigante agarrou o colarinho do seu moletom e a ergueu do chão, deixando seus pés balançando no ar.
"Aonde essa pirada acha que vai?" uma voz grossa e furiosa disse atrás dela.
"Irmão! Solte ela! Agora!" Aby gritou, batendo os pés no chão em sinal de irritação.
A voz continuou, ignorando Aby. "Você deveria estar presa em alguma jaula."
Aquelas palavras inflamaram um ódio explosivo em Sora, que começou a se sacudir igual a uma minhoca no anzol. "Me solta, seu esquisito!"
Ele riu, uma risada rouca e perigosa. "E se eu não soltar?"
Sora parou de se debater. Ela fez um sinal com seu minúsculo dedo indicador, chamando-o para mais perto. "Chega mais."
Movido pela pura curiosidade, Kael, o pobre lobo, aproximou seu rosto do dela.
"Se você não me soltar," ela sussurrou, "eu vou gritar pra todo mundo que você me apalpou na floresta e que por isso eu desmaiei."
Kael congelou. A incredulidade tomou conta de seu rosto. "Você... você está blefando. Eu vou te levar presa daqui, sua surtada!"
Sora deu um sorrisinho conspiratório. "Então olha só, seu babaca."
Ela encheu os pulmões e, forçando as lágrimas mais convincentes da sua vida a caírem dos olhos, chamou a atenção de toda a multidão com um choro falso e agudo.
"POR FAVOR!" ela gritou. "Você não cansa de me traumatizar?! Primeiro na floresta e agora isso..."
Antes que ela pudesse terminar de falar as atrocidades que estava inventando, Kael, absolutamente horrorizado, tapou a boca dela com a mão e a jogou no chão. Ele olhou em volta, vendo todos os olhares chocados da vila sobre ele, e saiu pisando duro, quase explodindo de raiva.
Aby, que assistiu a tudo de boca aberta, finalmente desabou, rindo até não aguentar mais.
Sora se levantou do chão e bateu os resquícios de poeira da roupa.
"Uh! Que mau gosto pra irmão o seu, em?" ela disse para Aby. "Dizem que meu temperamento é ruim, mas aquele cara?" Ela fez um sinal de negação com os dedos. "Um porre, isso que ele é."
Aby, recuperando o fôlego, limpou uma lágrima. "Kael pode ser meio chato às vezes, mas é muito protetor. Apesar de jovem, ele tem a responsabilidade de comandar e proteger a vila como Chefe. Ele leva isso muito a sério." Ela deu um sorriso suave. "Apesar de toda essa aparência, depois que você desmaiou na floresta, foi ele quem te trouxe rapidamente para a vila em busca de ajuda. Ele é uma rocha de coração mole."
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Atualizado até capítulo 27
Comments
Marie
Kkkkkkkkk gente! Estou amando
2025-10-23
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