Perdida em um Mundo de Pessoas Lobos
Se Sora tivesse que se definir em uma palavra, seria "desajustada".
Na escola, ela era a "louca barraqueira"; as meninas cochichavam quando ela passava, mas nunca falavam com ela. Os caras? Bom, os caras até achavam Sora bonita, com seus exóticos olhos de duas cores e o cabelo rosa que parecia algodão-doce, mas davam meia-volta assim que ela abria a boca. "Personalidade péssima" era o eufemismo que ela mais ouvia.
No fim das contas, ela sempre estava sozinha. E, dito isso, ela estava aproveitando suas recém-chegadas férias do trabalho da melhor maneira possível: acampando. Sozinha.
Ela tinha visto fotos de um lago incrível na internet, um lugar isolado, perfeito para pescar em paz. O problema era que a floresta da foto parecia muito menos densa do que a versão ao vivo. O sinal do GPS ia e voltava, e a trilha que ela deveria seguir... bom, não existia mais.
Sora parou, limpou o suor da testa e olhou para a tela do celular, que agora exibia apenas um ponto azul piscando no meio de um borrão verde.
"Puta que pariu," ela murmurou, a voz rouca. "Não acredito que me perdi."
A irritação, que vinha borbulhando sob a superfície por horas, finalmente explodiu. Ela estava cansada, com fome e coberta de picadas de mosquito. Num surto de raiva, ela largou a mochila e começou a chutar a árvore mais próxima com seu All Star sujo.
"Floresta estúpida! Árvore idiota!"
Tentando recuperar a sanidade, ela pegou o celular para tentar o GPS uma última vez. A tela piscou, exibiu o ícone de bateria vazia e morreu. 0%.
O silêncio da floresta foi quebrado por um grito agudo e histérico que provavelmente assustou pássaros a quilômetros de distância.
"VAI SE FODERRRR, FLORESTA IDIOTAAAA!"
Com toda a força do seu 1,60m, ela arremessou o celular inútil em direção a uma rocha grande e coberta de musgo. Mas o celular não bateu. Ele não se espatifou em mil pedaços como ela esperava.
Ele... atravessou.
Como se a rocha fosse fumaça.
Sora congelou. O grito morreu na garganta. "Tá maluco." Ela murmurou, dando um passo cauteloso para trás. "Já assisti muito filme de terror pra saber que a curiosidade matou o gato."
Fim da história. Não era problema dela. Ela deu meia-volta, decidida a tentar achar o caminho de volta na marra.
Mas ela parou.
"Drogaaaa!"
O rastreador. Se ela não voltasse para casa em dois dias, sua família usaria o rastreador do celular para encontrá-la. E se o celular estava... ali, eles nunca a achariam.
Com o coração batendo forte, ela pegou um graveto comprido e, com medo daquela fenda misteriosa, cutucou a rocha. O graveto também atravessou, mas ela sentiu algo sólido do outro lado, como se fosse um chão de terra.
"Ah, que se dane."
Tomando coragem num rompante, ela fechou os olhos e pulou.
A sensação foi de atravessar uma cortina de água fria e gelatinosa. Só que, do outro lado, não havia o chão sólido que ela sentiu com o graveto. Havia um buraco.
Sora caiu. E desceu rolando, rolando e rolando num túnel escuro de terra e raízes.
"Bem que meu horóscopo disse... que hoje não seria um dia bom... pra sair de casa..." sua voz foi diminuindo em eco conforme ela caía mais fundo.
Depois do que pareceu uma eternidade de pancadas, ela aterrissou bruscamente em uma pilha gigante de folhas mortas. O mundo girava violentamente. Ela se levantou, enjoada, segurando o vômito com dificuldade e limpando terra do seu moletom preto.
"Uma trabalhadora não tem direito de ter um dia de lazer?" ela resmungou para si mesma, furiosa. "Aqui estou eu, toda fodida, perdida no meio desse mato."
Foi quando ela ouviu. Um estrondo. Um barulho ensurdecedor de árvore caindo, muito perto dali.
Um lenhador! Alguém!
Pronta para implorar por ajuda, Sora saiu correndo em direção ao barulho, tropeçando nas próprias pernas. Mas, ao chegar na clareira de onde veio o som, não havia ninguém. Apenas uma árvore enorme, partida ao meio como se algo gigantesco a tivesse quebrado como um palito.
O estômago de Sora gelou. "Ok, talvez um tigre. Um urso muito grande."
Ela rapidamente procurou algo no chão para se defender e encontrou... um graveto fino.
"Uma floresta enorme dessa e não tem a porcaria de um pedaço de madeira decente?" ela pensou, indignada. "Só esse palito de dente? Ah, que seja. Qualquer coisa eu furo o olho do animal e saio correndo."
Reunindo o que restava de sua coragem, ela saiu andando na ponta dos pés, até que uma sombra gigante pulou da copa das árvores e pousou na frente dela, bloqueando o caminho.
"O que você está fazendo aqui?" A voz era grave, profunda e definitivamente humana.
Mas a aparência não era.
Sora soltou um grito estridente. Ela se jogou para trás e, por puro instinto, imitou uma posição de karatê que viu em algum filme antigo, segurando seu graveto como se fosse uma lança.
"Que porra é você?!" ela gritou. "É algum tipo de guardião demoníaco da floresta? Não chega perto! Eu tenho água benta na mochila! Demônios não gostam de água benta...né?"
O homem—se é que era um homem—era uma montanha. Tinha pelo menos 2,20m, um corpo atlético bronzeado coberto de tatuagens tribais e vestia apenas uma calça de couro rústica. Orelhas de lobo avermelhadas se mexiam no topo de sua cabeça, e uma cauda grossa, da mesma cor, balançava lentamente atrás dele. Seus olhos brilhavam num tom âmbar sobrenatural.
Ele olhou para ela, indignado. "Quem você está chamando de demônio, sua louca?"
Isso só irritou Sora ainda mais. "PODE VIM! CAI DENTRO!" ela berrou, o pavio curto finalmente queimando por completo. "Você é grande, mas não é dois! Eu sou uma, mas não sou metade!"
E com um grito de guerra patético, ela saiu correndo em direção a ele, com seu graveto perigosíssimo em riste.
Ela estava a três passos dele. Ele nem se moveu, apenas a observava com uma expressão incrédula. De repente, Sora parou. Ela levou a mão à barriga, o rosto ficando pálido.
"Espera... espera um minuto."
O homem-lobo, Kael, incrédulo com a cena bizarra, tentou abrir a boca para dizer algo, mas não deu tempo. O enjoo da queda no buraco venceu. Sora se curvou e vomitou violentamente... bem nos pés descalços do homem-lobo.
Um silêncio mortal caiu sobre a clareira. Kael olhou para baixo, para a sujeira em seus pés, e depois para a garota ofegante de cabelo rosa. Ele respirou fundo, e seu grito ecoou pela floresta:
"SUA LOUCAAAAAA!"
Sora, exausta, enjoada e agora completamente apavorada, apenas revirou os olhos e desmaiou.
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Atualizado até capítulo 27
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