A decisão não foi dita em palavras, mas foi selada no silêncio que se seguiu à mesa daquele escritório.
Sol permaneceu imóvel, as mãos pousadas sobre o contrato, como se o peso dele pudesse atravessar sua pele e marcar-lhe a alma. Dmitri observava-a em silêncio, imóvel como uma sombra com poderes absolutos. Finalmente, ela pegou a caneta, a ponta fria tocando o papel. Um traço, um som seco de tinta sobre o pergaminho — e o acordo foi firmado.
Ele não disse nada. Apenas guardou o documento, fez um gesto para ela se levantar e, com passos firmes, a conduziu pelo corredor.
Era o início de um caminho que ela não escolhera, mas para o qual não havia retorno.
Ao sair do escritório, Dmitri não se apressou. Guiou-a pelos corredores imensos do palácio, como se cada passo fosse parte de uma cerimônia. As paredes pareciam pulsar com o peso da arquitetura árabe misturada à modernidade: tapeçarias bordadas à mão, lustres dourados que refletiam luz suave e escadarias que se perdiam no alto, como passagens para outro mundo. O silêncio era absoluto. Nem sequer o som dos passos ecoava fortemente. Cada movimento parecia calculado, um convite à tensão. Sol caminhava atrás dele, sentindo o frio do mármore sob os pés e a opulência sufocante que parecia dizer: Aqui, tudo é dele. E agora, você também é.
Ele abriu uma porta dupla no final do corredor. Uma limusine preta os aguardava.
— Vamos — disse Dmitri, sem olhar para ela. — Temos compromissos.
Sol subiu no carro, ainda em silêncio. Ela não sabia para onde estavam indo, mas o frio em seu peito dizia que não seria algo simples. A cidade de Doha se revelou como um mar de luzes ao cair da noite. Arranha-céus cintilantes, avenidas largas, carros de luxo passando em silêncio como bestas modernas. Em pouco tempo, a limusine parou diante de um edifício imponente, sua fachada translúcida refletindo um brilho metálico.
A recepção exalava modernidade e controle absoluto: mármore polido, paredes de vidro, iluminação branca intensa. O ambiente parecia mais um centro cirúrgico do que uma clínica. Uma recepcionista elegante, com expressão neutra, conduziu-os a um elevador silencioso. Dmitri apertou um botão sem pressa. Quando as portas se abriram, um corredor iluminado de forma precisa deu passagem para uma sala ampla, de janelas altas e vistas panorâmicas da cidade. Dentro, uma mulher de bata branca os aguardava. Ela era elegante e firme, a presença dela transmitia autoridade clínica.
— Dmitri Valenko — disse ela, com um sorriso contido, inclinando ligeiramente a cabeça. — E a senhora Sol? — perguntou, olhando para ela como se avaliasse seu corpo em segundos.
Sol assentiu, mantendo a postura. Dmitri permaneceu calado, ao lado dela, observando a interação.
— Por favor, sigam-me — disse a médica, conduzindo-os até uma sala anexa equipada com tecnologia de ponta.
O processo foi meticuloso. Sol foi submetida a uma série de exames: sangue, ultrassom, testes hormonais e análises genéticas. Dmitri permaneceu ao lado dela em silêncio, como uma presença constante e controladora, observando cada detalhe, cada reação. Não houve toque desnecessário, mas havia um peso em seu olhar — um lembrete silencioso de que ela não estava ali por escolha, mas por um acordo que ele determinara.
Quando os exames foram concluídos, a médica pediu que se sentassem em uma sala reservada para consulta. Ela abriu uma pasta cheia de relatórios e gráficos.
— Sra. Sol — começou, a voz firme e precisa — seus exames mostram que há condições favoráveis para concepção, mas devemos considerar alguns cuidados.
Sol olhou para Dmitri, que permaneceu imóvel. Ele não disse nada, mas havia uma tensão quase tangível no ar.
— Recomendo alguns testes adicionais — continuou a médica — e alguns ajustes no seu ciclo. Além disso, para aumentar as chances, é essencial tentar com a maior frequência possível. A relação natural exige tempo, paciência e persistência.
Ela se aproximou da mesa com passos medidos, apoiando-se levemente na superfície fria, seu olhar fixo nos relatórios abertos diante dela.
— Não é apenas biologia — disse com cuidado, a voz controlada, quase clínica. — É um processo delicado. Alimentação, descanso, controle de estresse… tudo influencia.
Sol manteve-se calada, absorvendo cada palavra, como se o peso delas fosse capaz de atravessar a própria carne. Dmitri permaneceu ao lado dela, imóvel, cruzando os braços como uma estátua viva. Seus olhos eram fixos nela, observando-a como um guardião de decisão definitiva.
— Então vamos fazer — disse ele, frio e direto, como quem proclama uma sentença. — Organize tudo. Ela estará à disposição.
A médica assentiu, tocando rapidamente o tablet. Sua expressão permanecia neutra, mas havia firmeza nas palavras.
— Vamos começar os procedimentos assim que possível. Quanto mais cedo, melhor.
Sol respirou fundo, encarando Dmitri. Não havia resposta em seus olhos, apenas a certeza de que ela estava completamente sob o controle dele.
Ele ergueu o olhar para ela pela primeira vez desde que entraram na clínica.
— É simples — disse, como quem dita uma sentença. — Se quisermos aumentar as chances, não haverá limites para quantas vezes tentaremos.
A médica ergueu a mão, interrompendo a tensão com a sua autoridade médica.
— Permita-me explicar — disse ela, aproximando-se levemente, como quem conduz uma lição. — A concepção natural é um processo que exige alinhamento perfeito entre vários fatores biológicos. Mesmo quando tudo indica que a fertilidade está boa, existem variáveis que podem interferir: ciclo hormonal, qualidade do esperma, sincronização dos períodos férteis… e até fatores psicológicos.
Ela abriu um relatório mais detalhado, deslizando o dedo pelas páginas enquanto falava.
— Estudos mostram que quanto mais frequentes forem as tentativas, maior a probabilidade de sucesso. Não é apenas uma questão de sorte, mas de estatística. Cada ciclo menstrual, cada momento propício aumenta exponencialmente a chance de concepção.
Sol desviou o olhar para Dmitri, que permaneceu impassível, como se a informação não lhe fosse novidade. A médica continuou, com firmeza.
— Além disso, existem fatores internos do corpo feminino — disse, olhando Sol diretamente — que podem interferir mesmo em condições ideais. A frequência é uma forma de garantir que as variáveis sejam trabalhadas a favor do resultado. Em outras palavras: quanto mais tentarmos, mais controlaremos as chances.
Sol sentiu um arrepio percorrer-lhe a espinha. Não era apenas uma questão médica. Era a confirmação de que Dmitri a controlaria totalmente — não só seu corpo, mas cada momento, cada gesto.
A médica fechou o relatório, olhando primeiro para Sol, depois para Dmitri.
— Por isso, recomendo que sejam determinados períodos regulares. Não apenas para otimizar a concepção, mas também para garantir que não haja perdas de tempo ou condições desfavoráveis. Em fertilidade, tempo é o fator mais decisivo.
Ela fez uma pausa, como se pesasse suas palavras.
— A decisão é sua. Mas biologicamente falando, quanto mais rápido e constante for o processo, maiores as chances de sucesso.
Dmitri permaneceu calado, seus olhos fixos em Sol.
— Então vamos fazer — repetiu, agora como um decreto final. — Não haverá limites. Quantas vezes forem necessárias.
Sol fechou os olhos por um instante. Sentiu o ar pesado ao seu redor, como se a frase dele fosse um selo cravado na sua pele. Ela sabia, naquele instante, que não havia volta. Que dali em diante, cada tentativa, cada consulta, seria parte de um caminho decidido por ele.
E que ela estaria completamente à disposição.
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Atualizado até capítulo 60
Comments
Rosilene Aparecida Vieira
que venha logo dois r que eles se apaixonem ela merece ser amanda e mimada ja sofreu muito com a familia .
e que ela volte para se vinga de Isadora
2025-10-11
1
Silvia Moraes
Sol nem fala, coitada
2025-10-27
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