— Gente que sangra por mim, normalmente, me deve algo — disse, por fim. — E dívida é o tipo de coisa que nunca deixo passar.
Virou-se então, os olhos fixos nela, e caminhou de volta com passos lentos, precisos. A cada passo, o ar do quarto parecia se contrair.
— Mas, por enquanto, só precisa sobreviver. — Tocou o lençol perto do braço dela, sem encostar na pele. — Já fiz minha parte. Agora é com você.
Ele se afastou antes que ela pudesse responder. Parou à porta e olhou uma última vez.
— Aqui ninguém entra sem minha permissão. Ninguém te tocará — nem para o bem, nem para o mal — enquanto eu decidir que você me pertence.
Sol ficou em silêncio, o coração descompassado.
A porta se fechou com um clique quase inaudível. Ela respirou fundo, tentando entender o que significava “pertencer” para um homem como ele. Mas havia uma certeza latejando sob a dor: fosse o que fosse, ela havia saído do inferno apenas para cair em outro. E, ainda assim, algo dentro dela — talvez a mesma parte que sempre acreditou — não conseguia odiá-lo completamente. Não ainda.
Naquela noite, a dor do ferimento se misturava ao som distante de chuva batendo nos vidros da casa. Sol não sabia onde estava, nem o que o destino planejava, mas uma coisa era clara: Dmitri Valenko não a salvara por piedade.
E, cedo ou tarde, ele cobraria o preço.
Ela não sabia quanto tempo dormira, mas acordou num quarto diferente, vasto e silencioso, onde o ar tinha um perfume frio e metálico — como se fosse misturado a algodão e couro caro. A janela diante dela revelava um mar de luzes artificiais: Doha brilhava noite adentro, como uma cidade que não dormia. Arranha-céus cobertos de vidro refletiam néons coloridos, e a paisagem árida lá fora parecia ter sido esquecida sob a opulência.
O quarto onde despertava era um santuário de luxo extremo. Paredes de mármore branco, tapetes persas finíssimos, uma cama enorme com lençóis que pareciam flutuar sob o corpo. Ao redor, mobiliário impecável — mesas em ébano, vasos de cristal com flores perfumadas, obras de arte modernas pendendo como enigmas silenciosos. O silêncio era quase absoluto, interrompido apenas pelo leve pulsar da cidade além do vidro.
E ele estava ali. Dmitri Valenko. Encostado no batente da porta, imóvel, observando-a dormir. Era um homem que parecia talhado para dominar qualquer ambiente. A camisa preta aberta na gola revelava um peito firme, a pele marcada por cicatrizes que pareciam ter histórias próprias. O cabelo escuro levemente desalinhado, a barba bem aparada, o olhar pesado como chumbo. Havia nele a calma controlada de quem se sente dono não apenas do espaço, mas das próprias vidas ao seu redor.
E ele não tirava os olhos dela.
Sol dormia ainda, o corpo relaxado na cama enorme, ferido mas intacto. O tecido fino dos lençóis revelava contornos suaves, uma vulnerabilidade que ele estudava como quem analisa um mapa de território conquistado.Sol dormia ainda, o corpo relaxado na cama enorme, ferido mas intacto. O tecido fino dos lençóis revelava contornos suaves, uma vulnerabilidade que ele estudava como quem analisa um mapa de território conquistado.
A face dela tinha a inocência da madrugada e a força da madrugada quebrada. Pele clara, quase translúcida, como porcelana delicada, tingida por um leve rubor natural nas maçãs do rosto. O contorno dos lábios, rosados e suaves, carregava uma expressão involuntária de serenidade — como se ignorasse a dor e o perigo. O nariz pequeno e perfeitamente desenhado, arqueando-se com delicadeza sobre traços harmoniosos, dava-lhe um ar quase angelical, como se tivesse saído de uma pintura clássica. Os cabelos caíam sobre o travesseiro em cascata, sedosos, com reflexos dourados que se misturavam ao escuro da noite, criando mechas que lembravam fios de luz e sombra. Alguns caíam sobre o rosto, roçando a pele com leveza, quase como se protegessem o segredo de sua fragilidade.
Mas havia nela algo além da doçura: uma feminilidade intensa, natural, impossível de ignorar. As linhas do pescoço eram elegantes, o ombro descoberto pelo lençol revelava a curva suave e firme de uma mulher jovem, ainda envolta numa aura de inocência, mas já marcada pelo mundo. Havia uma harmonia delicada entre sua fragilidade e a força que seu corpo insinuava — aquela combinação de pureza e presença fazia com que ela parecesse ao mesmo tempo uma criatura etérea e alguém inteiramente capaz de resistir ao peso do mundo.
Não havia desejo declarado naquele olhar, apenas algo que beirava estudo, curiosidade e propriedade. Ela era pequena diante dele, ainda indefesa, e havia algo naquela cena que o prendia mais que qualquer contrato ou dívida. Ele permaneceu ali por minutos, em silêncio absoluto, até que ela respirou fundo e abriu os olhos.
Sol despertou com um sobressalto. O ar fresco da noite e a visão dele diante da porta fizeram-na prender a respiração.
— Você acordou — disse Dmitri, a voz baixa, carregada de um sotaque árabe pesado. Não era pergunta. Era constatação.
— Onde estou? — ela perguntou, a voz rouca e lenta, a dor ainda a rasgar-lhe o ombro.
Ele avançou alguns passos, fechando a distância até encostar-se à lateral da cama. Olhava-a como quem observa um quadro raro — com atenção e paciência cirúrgica.
— Está em Doha. — A resposta foi simples, mas carregada de peso. — No Qatar.
Sol piscou, tentando processar.
— Por quê?
— Porque é mais seguro aqui. — Ele recostou-se ao batente da porta, cruzando os braços. — Aqui eu controlo tudo. E é assim que funciona comigo: nada acontece sem meu conhecimento.
Ela cerrou o lábio, olhando-o com uma mistura de medo e dúvida.
— E eu? O que sou aqui?
Ele se aproximou, mas manteve distância, como quem impõe um território.
— Você é minha dívida — respondeu, com a voz tão fria que soou como sentença. — Eu te salvei da morte. Em troca, existe um preço. E esse preço... você ainda vai descobrir qual é.
Sol engoliu em seco, tentando falar, mas ele ergueu uma mão em gesto simples, cortando qualquer tentativa dela.
— Não tenho interesse em sua resistência agora. Você precisa primeiro entender onde está.
Ele caminhou até a janela, olhando para a cidade iluminada.
— Eu sou árabe, mas não sigo a religião islâmica. O que importa é o poder. E o meu poder me permite decidir quem vive e quem morre. Quem pertence a mim e quem não pertence.
Sol ficou calada, tentando assimilar. A sua mente corria por mil possibilidades, todas dolorosas. Ela queria se levantar, fugir, gritar. Mas a dor no ombro e o cansaço a mantinham imóvel.
— Então... qual é o preço? — ela perguntou finalmente, quase sussurrando.
Ele se voltou, o olhar fixo nela, penetrante.
— Gerar meu herdeiro.
A frase caiu como chumbo sobre a sala silenciosa.
Sol piscou, incrédula.
— O que...?
Ele não respondeu de imediato. Aproximou-se dela com passos lentos e medidos, como quem escolhe cada palavra antes de pronunciá-la. Parou ao lado da cama, a sua presença pesada como um território inalcançável.
— Você vai ter um filho meu — disse ele finalmente. — É simples. Eu quero minha linhagem. Minha herança. E você será a escolhida.
O silêncio se alongou, carregado de choque e incredulidade. Ela queria responder, gritar, negar. Mas nenhuma palavra saiu. Só havia um eco frio dentro dela: pertencimento. Não por escolha dela, mas pela força dele. E, para Sol, não havia mais volta.
— Quando você estiver melhor, totalmente recuperada, falaremos sobre todos os detalhes.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 60
Comments
Auxiliadora Silva
vice Maria....ele. é muito arrogante.😭
2025-10-26
0
Patricia Sousa
eita porra o árabe é direto e firme
2025-10-26
0