O silêncio naquela casa era sólido, quase opressor, como se o próprio ar fosse moldado por regras invisíveis. Sol acordou mais tarde naquela manhã ainda com o peso do anúncio de Dmitri martelando na mente: ela seria a escolhida para gerar o herdeiro dele. A frase ecoava repetidamente como um aço frio na sua consciência. Ela já estava acostumada com o palácio, com a rotina, com tudo o luxo que a cercava. Agora ela estava recuperada, completamente bem e o passado não a assustava mais, mas agora chegou o momento de enfrentar o que o futuro cobrará seu preço.
— Senhorita, siga-me. — Era a mesma enfermeira, que agora trazia uma postura ainda mais formal.
Ela se levantou lentamente, enquanto a mulher abria a porta e conduzia Sol por um corredor de mármore branco. O som dos passos ecoava, limpo, pesado, como se o palácio respirasse sob seus próprios pés. O que ela encontrou ao avançar era algo que parecia tirado de outro mundo.
O palácio de Dmitri Valenko não era apenas uma casa. Era uma fortaleza de luxo, um reino privado que parecia existir fora do tempo. Uma construção monumental no coração de Doha, com arquitetura árabe moderna mesclada a traços clássicos: paredes de mármore esculpido à mão, colunas douradas que se erguiam como pilares do poder, e tetos altíssimos adornados com mosaicos que pareciam conter segredos antigos. O chão refletia a luz suave dos lustres de cristal pendendo como constelações artificiais. Tapetes persas gigantes cobriam corredores inteiros, cada um bordado com desenhos complexos, suaves ao toque e carregados de história. Nas paredes, quadros contemporâneos e peças orientais se alternavam, criando um contraste de eras e estilos, como se todo o mundo estivesse dentro daquela casa.
Os jardins internos eram outro universo: fontes de água cristalina se espalhavam entre caminhos feitos de pedras polidas, palmeiras altíssimas balançavam lentamente, e o ar estava sempre perfumado com flores importadas e especiarias raras. Um silêncio quase religioso envolvia o lugar, quebrado apenas pelo som da água e pelo eco distante de passos.
Ela abriu passagem para um salão ainda maior, um hall de entrada que parecia um trono para o próprio mundo. Cada detalhe era pensado para impressionar, para impor: esculturas enormes, candelabros dourados, painéis ornamentados. Tudo ali gritava poder e riqueza.
— Siga-me — disse a enfermeira, conduzindo-a por um corredor lateral até um conjunto de salas menores. A cada porta aberta, Sol sentia-se mais distante do mundo que conhecia. Até que pararam diante de uma porta ampla, adornada com arabescos dourados e uma maçaneta pesada de bronze.
Sol respirou fundo e atravessou a porta.nO escritório de Dmitri era imenso, um ambiente que misturava imponência e austeridade. Paredes de mármore negro refletiam a luz dos lustres, criando sombras dramáticas. Uma mesa larga de madeira escura ocupava o centro, impecavelmente organizada. Livros encadernados em couro descansavam em prateleiras altas, ao lado de objetos de arte cuidadosamente posicionados. Atrás da mesa, uma poltrona enorme, feita de couro negro, como um trono silencioso.
Ele estava ali, sentado, como se aguardasse aquele momento desde sempre. Dmitri Valenko. A presença dele ocupava todo o espaço. Quando Sol entrou, ele não se levantou imediatamente. Limitou-se a erguer o olhar, fixando-a como se medisse cada detalhe dela — desde a postura até a respiração.
— Entre — disse finalmente, com a voz baixa, firme. — Feche a porta.
Ela obedeceu, sentindo um frio rastejar pela espinha. Ao fechar a porta atrás de si, Dmitri ergueu-se lentamente, caminhando até ela. Cada passo dele reverberava pelo chão de mármore como um aviso.
— Hoje vamos formalizar algo que você já sabe. — Ele parou a poucos metros dela. — Um contrato.
Sol engoliu seco.
— Um contrato?
— Sim. Um acordo. — Ele abriu a porta de sua mesa e retirou uma pasta negra, pesada, marcada com o selo dele. — Aqui estão as cláusulas. Tudo muito claro. Você não terá dúvidas.
Ele a guiou até uma cadeira diante da mesa, sem pressa, com um gesto frio, calculado. Ela sentou, o corpo tenso. Ele abriu a pasta e estendeu o documento, o papel branco contrastando com o peso do escritório.
— Você vai ler. — Dmitri falou devagar, olhando-a nos olhos. — Não há margem para emoção nisso. Apenas escolha.
Sol olhou para o documento. As palavras saltavam como uma sentença: “Gerar um herdeiro”. Não havia espaço para dúvidas. O contrato estabelecia claramente o preço dela, as obrigações e as condições. Não havia apelo.
Ela engoliu, o ar preso na garganta. O escritório parecia pequeno demais para conter o peso daquela sentença.
Ele se aproximou mais uma vez, o olhar fixo nela.
— Leia com atenção. Não é uma escolha emocional. É um contrato. — E então ele voltou a sentar-se atrás da mesa, deixando-a com o silêncio e o papel que decidiriam seu destino.
Dmitri permaneceu sentado atrás da mesa, com o olhar fixo em Sol. A pasta aberta diante dele era como uma chave para um destino selado. Ele retirou dela uma folha única, escrita em um papel grosso, com a caligrafia precisa e imponente. O selo no canto inferior parecia dizer: "Aqui está sua sentença".
Ele pousou o documento sobre a mesa e empurrou-o lentamente na direção dela.
— Leia — disse com calma absoluta. — Não vou repetir. É simples: aceitar ou recusar.
Sol engoliu em seco e inclinou-se para olhar. As palavras saltavam aos seus olhos como facas invisíveis. Ela começou a ler em voz baixa, quase um sussurro, tentando compreender.
Contrato de Herdeira — Cláusulas:
1. Ambas as partes deverão submeter-se a exames médicos completos, incluindo testes para doenças sexualmente transmissíveis e avaliação de fertilidade, antes de qualquer ato de concepção.
2. O bebê será concebido exclusivamente por meio de relação natural, sem qualquer procedimento artificial.
3. Nenhuma das partes poderá manter relacionamentos afetivos ou sexuais com terceiros, exceto contatos de natureza estritamente platônica.
4. Sol terá assegurada propriedade exclusiva em seu nome, incluindo uma residência de luxo em Doha, assim como acesso a veículos e bens definidos em anexo.
5. Dmitri compromete-se a fornecer mensalmente a quantia de 5.000.000 (cinco milhões) de dólares a Sol, enquanto o contrato estiver vigente.
6. O presente contrato terá validade até o nascimento do herdeiro e a formalização de sua custódia conforme decisão de Dmitri Valenko.
Sol leu a cláusula final pela terceira vez, tentando absorver o peso de tudo. Era uma sentença, um destino engessado, mas ao mesmo tempo uma proposta incomum: riquezas, segurança e poder, em troca de algo íntimo demais.
Ela ergueu os olhos para ele.
— É isso? Isso é tudo? — sua voz saiu firme, mas marcada pela incredulidade.
— Isso — confirmou Dmitri, sem tirar os olhos dela. — É o acordo. Sem margens. Sem atalhos.
Ela engoliu, tentando manter a compostura.
— E se eu recusar? — repetiu, mais uma vez.
Ele não respondeu imediatamente. Seu silêncio era pesado, calculado. Finalmente, ergueu-se lentamente, caminhando até a janela do escritório. Ficou alguns segundos olhando para a cidade iluminada de Doha, como se meditasse. Então voltou-se para ela..
— Então você volta para o seu inferno — disse, a voz fria. — E eu deixo você morrer.
As palavras caíram como pedras no ar. Ela engoliu em seco, sentindo a tensão apertar-lhe o peito.
— E se eu aceitar? — sua voz saiu quase num fio.
Ele sorriu, mas não havia calor naquele sorriso.
— Então assinamos. — Aproximou-se dela, tirando da gaveta uma caneta negra, pesada, com detalhes em ouro. — Um contrato não é apenas palavras. É uma marca. Uma prisão voluntária.
Sol hesitou. Seus olhos se prenderam à assinatura dele, à presença firme e ao peso de cada cláusula.
— Isso significa... — ela pausou, engolindo a dor — …que você me está prendendo à sua vida?
Dmitri inclinou-se levemente, o olhar fixo nela, como quem entrega a sentença.
— Significa que você pertence a mim, até que eu decida o contrário.
Ela olhou para o contrato mais uma vez. O papel não era apenas um documento: era o mapa de um futuro que ela não escolhera, mas do qual não conseguia fugir.
Ele pousou a caneta sobre a mesa.
— A escolha é sua. Assina, e estará comigo. Recusa, e... — ele fez uma pausa breve — …o inferno que você conhecia continuará, mas sem mim para proteger você.
O silêncio caiu, pesado como chumbo. Ela olhou para o contrato e depois para ele. Dmitri Valenko, o homem que a havia salvo da morte, agora segurava sua vida em uma assinatura.
E naquele instante, ela soube que não havia volta.
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Atualizado até capítulo 60
Comments
Alexandra Leite
Aguardando as cenas dos próximos capítulos 😍
2025-10-28
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