Desculpe por Existir!
Faz muito tempo desde o dia em que o mundo mergulhou no caos. Não sei ao certo quanto tempo passou... só sei que já se perdeu na memória.
> “O mundo já foi um lugar onde a vida prosperava...”
Mas isso ficou no passado. Nem mesmo os nobres podiam dormir em paz depois do acontecimento de três anos atrás. Desde então, o sangue marcou o solo, a tristeza se espalhou e a fome consumiu povos inteiros. Guerras se tornaram comuns — um reino tentando usurpar o lugar do outro, cada clã buscando provar sua supremacia.
E, no centro dessa história, estava o nome de uma única menina: Kilni Quinuer, a menina do Núcleo da Morte.
Kilni nasceu no Norte, em uma terra pobre chamada Quinuer, onde viviam poucas famílias. Seu nascimento, no entanto, não foi comum. A menina veio ao mundo no Palácio de Cristal, um local sagrado onde apenas pessoas abençoadas poderiam entrar.
Um ancião havia profetizado que, no Norte, nasceria uma criança escolhida com um poder capaz de mudar o destino. Os habitantes acreditavam que essa criança seria portadora do Núcleo da Vida, o poder da criação.
Mas, três dias após o nascimento de Kilni, a verdade foi revelada: o portador do Núcleo da Vida já havia nascido cinco anos antes. A pequena Quinuer não carregava a bênção da criação, e sim a marca do fim. Ela era a portadora do Núcleo da Morte.
Aos cinco anos, a tragédia em sua vida começou. O líder do Morro das Nuvens, temendo o poder adormecido da garota, enviou seus homens para exterminar toda a família Quinuer. O sangue manchou as ruas, e Kilni viu seus pais serem assassinados diante de seus olhos.
Junto de seus irmãos, Chen-lin e Katara, ela conseguiu escapar.
Mas, uma semana depois, já perseguidos com uma recompensa por suas cabeças, a desgraça voltou a atingi-los. Chen-lin foi morto por discípulos do Primeiro Mestre de Cultivação.
A partir daquele dia, Kilni deixou de ser apenas uma sobrevivente. Dentro dela nasceu um único desejo: vingança.
Os anos se passaram. O mundo já não era um lugar de inocência, e Kilni aprendeu isso cedo demais. Cresceu como fugitiva, até se tornar uma das ladras mais habilidosas do Sul.
Todos a conheciam como a Ladra de Jade. Nunca era vista, mas sua presença era inconfundível. Um perfume doce, misturado com um leve aroma de veneno, denunciava sua passagem.
Ao lado dela, estava Katara, agora uma jovem de treze anos. Diferente da irmã, Katara era doce, carinhosa e aparentemente comum, com cabelos mais curtos e pele saudável. Mas sob a aparência delicada, escondia a astúcia e o treinamento que recebera de Kilni.
As duas viviam fora dos muros da Cidade da Terra do Sol, escondidas entre florestas e vilarejos esquecidos. Embora os boatos sobre a herdeira de Quinuer tivessem diminuído, o perigo nunca deixava de rondar.
Kilni se tornou uma jovem de beleza singular. Seus longos cabelos desciam até a cintura, sua pele era pálida como a lua, e seus olhos castanhos — escuros e profundos — guardavam uma delicadeza que não refletia a realidade. Baixa e magra, com mãos calejadas de tanto treinar nos troncos da floresta, ela carregava um corpo marcado por disciplina e sofrimento.
Mas o que a distinguia verdadeiramente era seu poder.
Kilni não possuía apenas o Núcleo da Morte. Durante sua jornada, ela absorveu dois outros poderes espirituais:
A Runa – legado de uma feiticeira de beleza incomparável que viveu duzentos anos antes. Morta por veneno, alvo da inveja de todos, sua essência sobreviveu na forma de runas místicas.
A Magia Maligna – a herança de um espírito corrompido pela raiva de um antigo feiticeiro. Criado do ódio e da vingança, sobreviveu por quinhentos anos até encontrar em Kilni uma nova morada.
E, por fim, o seu verdadeiro fardo:
O Núcleo da Morte – um poder que dá à portadora o direito de ceifar vidas com simples gestos. Um poder quase ilimitado, temido como maldição, mas capaz de alterar todo o destino do mundo.
Kilni não aprendera a dominar o Núcleo da Morte. Antes que pudesse ser treinada, sua família foi destruída. Por isso, ela recorreu à combinação da Runa e da Magia Maligna.
Essa fusão, embora poderosa, trazia um preço: uma morte lenta que corroía o corpo por dentro. Kilni sabia disso. Sabia que cada uso a consumia. Mas também sabia que, quando unidas, a Runa e a Magia Maligna produziam um poder que poderia ser comparado com o do Núcleo da Morte.
Na prática, sua força já alcançava o nível de um cultivador de Primeiro Grau.
Mas, para Kilni Quinuer, isso ainda não era suficiente.
Muito antes de Kilni Quinuer nascer, o mundo já havia se curvado diante de uma criança.
O futuro jovem Mestre foi anunciado pelos anciões como o escolhido, o portador do Núcleo da Vida, um poder que trazia a essência da criação. Desde o momento em que abriu os olhos, o destino já o aprisionara.
Diferente de outras crianças, o jovem mestre jamais conheceu o calor da infância. Desde os três anos de idade, foi entregue ao Templo das Origens, onde sábios e mestres cultivadores o moldaram como se fosse uma arma sagrada.
Brincadeiras, amizades, risos — tudo lhe foi negado. Em vez disso, recebeu treinamentos rígidos, castigos impiedosos e o peso de carregar o mundo nos ombros.
Enquanto outros pequenos aprendiam a caminhar pelo campo, o jovem mestre aprendia a curar feridas, restaurar colheitas e até mesmo reverter doenças. Cada gesto seu era uma dádiva… mas também uma prisão.
“Você não pertence a si mesmo, jovem mestre. Você pertence ao mundo.”
Essas palavras eram repetidas como uma maldição em seus ouvidos.
Com o tempo, o menino de olhos azuis cresceu. A cada ano, suas habilidades floresciam mais, e o mundo o reverenciava como uma divindade viva. Mas, dentro de si, o jovem mestre não conhecia liberdade, nem ternura. Apenas regras, dever e a ordem de proteger a harmonia.
Assim, quando rumores surgiram sobre uma criança no Norte que havia herdado o Núcleo da Morte, o conselho dos mestres não hesitou:
— Essa herdeira não pode viver. O equilíbrio será quebrado.
Com treze anos, não questionou. Sua mente, moldada pela rigidez, não via uma menina, mas sim uma ameaça.
— Se a Vida existe para florescer, a Morte existe para ser contida — disse ele, aceitando sua missão.
Foi então que o destino de Kilni e do jovem mestre se entrelaçou.
Sob ordens do conselho e guiado pelos mestres cultivadores, o futuro primeiro mestre cultivador liderou a investida contra a pequena vila Quinuer. Com apenas um gesto de suas mãos, flores murcharam, rios se secaram e o solo se abriu, permitindo que os soldados avançassem.
Kilni, ainda criança, assistiu horrorizada enquanto os poderes do Núcleo da Vida e as lâminas dos seguidores dos Mestres ceifavam a vida de seus pais. Para ele, não havia maldade no ato — apenas dever.
Mas, para Kilni, aquele menino de olhos azuis seria para sempre o responsável por sua tragédia.
O mundo o chamava de “O Filho da Vida”, o salvador que curava e protegia. Mas, para Kilni Quinuer, ele não passava de um carrasco cruel, o algoz que havia destruído tudo o que ela amava.
E assim, no mesmo mundo que os moldou de formas opostas, nasceram duas forças destinadas a se confrontar:
O jovem mestre, o portador da Vida, o símbolo da ordem.
Kilni, a herdeira da Morte, a chama da vingança.
O equilíbrio entre criação e destruição nunca mais seria o mesmo.
O tempo havia passado como uma lâmina afiada.
A menina de olhar inocente que chorava sob a chuva já não existia mais. Aos 17 anos, Kilni Quinuer era uma sombra afiada, moldada pela dor, pelo sangue e pela solidão.
Seu corpo, antes frágil, agora era marcado por treinos incessantes. Suas mãos calejadas não carregavam apenas a lembrança da infância perdida, mas também o peso da fúria acumulada. Cada golpe contra os troncos das árvores da floresta, cada movimento de lâmina, cada vez que forçava o próprio corpo até a exaustão, tinha um único propósito: vingança.
— Primeiro Mestre Cultivador — ela murmurava o nome como se fosse veneno em sua língua. — Um dia, vou arrancar de você tudo o que tirou de mim.
Kilni não sonhava mais com um lar, nem com a paz que outras garotas de sua idade poderiam desejar. Para ela, o mundo inteiro havia se tornado um campo de batalha. Seu coração, uma fornalha de ódio.
Todas as noites, a lembrança voltava: os gritos de sua mãe, o olhar desesperado de seu pai, a figura de um menino que não hesitou em liderar o massacre.
O portador da Vida.
O suposto salvador.
O carrasco que o mundo venerava.
Enquanto o império o chamava de “Filho da Vida”, Kilni só via nele um tirano mascarado de herói.
Em uma noite Kilni fez uma promessa ao luar:
— Se a Vida é dele... então eu serei a Morte.
A chama da vingança queimava dentro de seus olhos castanhos, agora escurecidos pelo fardo de seus poderes. O Núcleo da Morte pulsava em seu corpo, pedindo para ser libertado, para ceifar, para destruir.
E ela não temia mais. Se antes via aquele poder como maldição, agora o abraçava como arma.
Kilni Quinuer não vivia mais para sobreviver.
Ela vivia para se vingar.
E todo o império tremeria no dia em que a herdeira da Morte se erguesse contra o filho da Vida.
***12 anos depois do acontecimento de Quinuer***
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Atualizado até capítulo 23
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