A Rainha da Máfia - O Preço da Coroa

A Rainha da Máfia - O Preço da Coroa

1 O luto de uma rainha

Dois dias.

Apenas dois dias se passaram desde que meu mundo foi despedaçado, e eu ainda sinto como se o chão tivesse sido arrancado sob os meus pés. Estou diante das covas abertas, observando a terra fria engolir os dois pedaços mais preciosos da minha vida.

Meus pais.

O véu negro cobre parte do meu rosto, mas não o suficiente para esconder os olhos inchados de tanto chorar. A cada punhado de terra que cai sobre os caixões, sinto como se fosse o meu coração sendo soterrado junto com eles.

Enrico segura meu braço com firmeza. Eu sei que, se ele soltar, eu desabo.

Enrico: — Eles não se foram em vão. Eu prometo, Amélia… Lúcia vai pagar por cada gota de sangue.

Fecho os olhos por um instante, respirando fundo para não gritar, para não arrancar aquele caixão de volta. As lágrimas escorrem quentes, mas, em meio à dor, algo começa a nascer dentro de mim.

Amélia: — Eu quero estar lá, Enrico. Quando ela morrer, eu quero olhar nos olhos dela. Quero que ela saiba que fui eu quem herdou a coroa. Eu. Não ela.

Sinto o olhar dele sobre mim, ardente, pesado como uma promessa de guerra. Seus dedos apertam os meus, como se me lembrassem de que não estou sozinha.

Enrico: — Você terá esse direito, minha Rainha. É a minha promessa.

Atrás de mim, ouço um soluço abafado. É Nina, sempre tão leal, mas incapaz de conter a dor diante do que aconteceu.

Nina: — Você nunca vai estar sozinha, Amélia.

Levanto o queixo, limpando as lágrimas com o dorso da mão. Se a máfia inteira está aqui para assistir ao meu luto, então verão também o nascimento da minha força.

O preço da coroa é cruel. Eu aprendi da forma mais dolorosa possível. Mas, se Lúcia acha que conseguiu me destruir, está enganada.

Porque, a partir de hoje, eu não sou apenas a esposa do Don.

Eu sou a Rainha.

E o sangue que ela derramou será a espada que eu mesma vou empunhar.

A mansão parecia ainda mais sombria naquela noite. Portões fechados, seguranças alinhados no pátio e o cheiro de flores pesadas preenchendo os corredores. Mal atravessei a porta e já fui engolida pelo peso das condolências.

Arranjos imensos chegavam a cada hora, vindos de todas as famílias poderosas da Itália e até de fora dela. Rosas vermelhas, lírios brancos, coroas adornadas com fitas pretas e brasões de clãs aliados. Cada presente trazia bilhetes solenes: “nossos sentimentos à família Bellucci”.

Eu não precisava abrir para saber. O papel perfumado escondia não só pesar, mas também política. Alguns vinham de inimigos disfarçados, aproveitando a tragédia para medir nossa fraqueza. Outros, de aliados que tentavam se aproximar, como urubus rondando um corpo ainda quente.

AMÉLIA (pensamento): O mundo inteiro parece assistir para saber se eu vou tombar.

Nina caminhava pelos salões, recolhendo flores, organizando tudo em mesas longas que já transbordavam de vasos e arranjos. Ela fazia isso em silêncio, como se fosse seu luto particular.

No andar térreo, alguns homens da máfia vieram cumprimentar Enrico. Cada um apertou a mão dele, reverente, lançando olhares furtivos para mim. Eu retribuí com um sorriso contido, mas por dentro queimava. Não queria pena. Queria vingança.

ENRICO: — Basta por hoje. Minha moglie precisa descansar.

Ele foi curto, direto, e ninguém ousou contrariar. Com a mão firme na minha cintura, me conduziu pelas escadas de mármore até o andar superior.

Quando a porta do quarto se fechou atrás de nós, o silêncio finalmente me envolveu. Olhei para Enrico, para a gravata frouxa e o cansaço em seus olhos. Mesmo assim, ele ainda parecia inabalável.

AMÉLIA: — Eles acham que eu vou me dobrar, Enrico. Que a dor vai me destruir.

ENRICO: — Eles não conhecem a minha moglie. — Ele se aproximou, tirando o véu do meu rosto com cuidado. — Você vai se erguer ainda mais forte.

Deixei-me cair sentada à beira da cama. O corpo pesava, mas a mente não desligava. Lá embaixo, eu ainda podia ouvir o movimento da casa: portas batendo, passos apressados, novos presentes chegando. Cada detalhe era um lembrete de que meu luto não seria só meu — seria exposto ao mundo.

AMÉLIA: — Eu queria… só por um instante… chorar sozinha. Sem olhares. Sem estratégias.

Enrico ajoelhou-se diante de mim, segurando minhas mãos. Seus olhos verdes ardiam, mas havia ternura neles.

ENRICO: — Então chore, mia moglie. Chore comigo. O mundo lá fora que espere.

Fechei os olhos, e as lágrimas finalmente caíram livres. Não eram apenas de dor, mas também de raiva. Raiva de Lúcia, raiva de uma guerra que eu não pedi, mas que agora era minha.

Ele me puxou para seus braços, e por alguns segundos eu fui só Amélia, a filha que perdeu os pais. Não a herdeira, não a esposa do Don. Apenas uma mulher órfã, que se apoiava no único homem capaz de segurar suas ruínas sem medo de se ferir.

AMÉLIA (pensamento): Mas amanhã… amanhã, todos verão que minha dor não me quebrou. Ela me transformou.

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Comments

BIBI🌕🌑

BIBI🌕🌑

to ansiosa pra ver oq ela vai fazer

2025-09-10

0

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