Até Que O Destino Nos Una
A Mansão Kim erguia-se imponente no coração de Gangnam, um símbolo de tradição e poder que atravessava gerações. Suas paredes de mármore branco reluziam sob a luz dourada dos candelabros, e os amplos salões ecoavam risadas, tilintar de taças e o murmúrio constante de conversas. Para qualquer estranho, a cena seria a definição de harmonia familiar: uma mesa farta, coberta com pratos refinados de bulgogi, kimchi artesanal e banchan meticulosamente arrumado, reunia três gerações da família Kim. Lewis Kim, o patriarca de 87 anos, presidia a mesa com sua postura rígida, os olhos penetrantes observando cada movimento, cada palavra. Ele sempre dizia que uma família unida era sinal de força, um lema que repetia como um mantra, mas que, para Elliott Kim, soava cada vez mais como uma corrente apertada em torno de seu pescoço.
Elliott, aos 42 anos, ocupava seu lugar de sempre na longa mesa de carvalho, entre um primo mais novo e sua tia Hye-jin, uma ômega de língua afiada e sorriso venenoso. Ele mantinha a cabeça baixa, mexendo distraidamente no arroz com seus hashi, enquanto tentava se fundir ao ambiente, tornar-se invisível. Era uma habilidade que ele havia aperfeiçoado ao longo dos anos, especialmente em jantares como aquele. A sala estava cheia: seus pais, seus tios, seus primos, os cônjuges e até os bisnetos do patriarca, que corriam e riam em outra sala, longe da conversa dos adultos. O ar cheirava a carne grelhada e a tensão disfarçada por sorrisos educados.
Por um breve momento, Elliott permitiu-se acreditar que aquela noite seria diferente. Não havia olhares de canto de olho, nem sussurros mal disfarçados. Talvez, pela primeira vez em anos, ele pudesse comer em paz, sem o peso das expectativas da família caindo sobre ele como uma guilhotina. Mas essa esperança, frágil como vidro, estilhaçou-se com uma única frase.
— E então, Elliott? Quando vai se casar? — A voz de sua tia Eun-ji cortou o ar como uma lâmina, carregada de um sarcasmo que fez as conversas à mesa diminuírem. Ela o encarava com um sorriso torto, os olhos brilhando com uma mistura de diversão e desprezo. — Você não está ficando mais jovem, sabe.
Elliott sentiu o estômago revirar. Ele conhecia aquele tom, aquela pergunta, como se fosse uma música que tocava em looping em sua mente desde os 21 anos. Ele suspirou, os ombros tensos, e forçou um sorriso educado, mesmo sabendo que qualquer resposta seria usada contra ele. Os olhares de todos na mesa se voltaram para ele, alguns curiosos, outros julgadores. Até as crianças na sala ao lado pareciam ter silenciado, como se o peso daquele momento tivesse atravessado as paredes.
— Eu… não sei, tia. — respondeu ele, a voz baixa, quase engolida pelo tilintar de talheres. — Ainda não encontrei meu alfa.
A frase pairou no ar, e ele imediatamente se arrependeu de tê-la dito. Era a verdade, mas também era a isca perfeita para o ataque que ele sabia que viria. Seu primo Min-ho, um alfa de 35 anos com um sorriso arrogante, revirou os olhos e deixou escapar uma risada abafada.
— Sério, Elliott? Todos os primos já estão casados. Até o Ji-hoon, que tem o quê? Vinte e cinco anos? Já tem dois filhos.
O comentário foi como uma facada. Elliott sentiu o calor subir ao rosto, mas manteve a compostura, os dedos apertando o garfo com mais força do que o necessário. Ele poderia ter respondido, poderia ter apontado que Ji-hoon quase havia se casado com um beta por um casamento arranjado, algo que, para um ômega como ele, era impensável. Mas ele sabia que qualquer defesa seria inútil. A família não queria explicações; queria sangue.
O patriarca, Lewis Kim, que até então observava a cena em silêncio, inclinou-se para frente, os olhos estreitos fixos em Elliott. Sua voz, grave e cortante, ecoou pela sala.
— Você está envelhecendo, Elliott. Quarenta e dois anos e ainda não encontrou seu alfa destinado. Está planejando morrer solteiro? É isso que quer para o nome dos Kim?
O peso daquelas palavras caiu sobre Elliott como uma avalanche. Ele já esperava o julgamento, mas a desaprovação crua no olhar de seu avô, o homem que ele crescera admirando, era um golpe que nunca se tornava mais fácil de suportar. Durante 21 anos, desde que completara a idade em que a maioria dos ômegas encontrava seus alfas, ele enfrentava essa mesma conversa. Era um ciclo interminável de humilhação, um lembrete constante de que, apesar de sua carreira brilhante como CEO de uma das maiores marcas de moda da Coreia do Sul, apesar de seu rosto estampado em revistas internacionais e de sua conta bancária que rivalizava com a de qualquer alfa na mesa, ele era, aos olhos da família, um fracasso. Um ômega velho, virgem, sem alma gêmea.
Elliott pausou os hashi no ar, os olhos fixos no prato intocado à sua frente. A raiva borbulhava em seu peito, mas ele a engoliu, como sempre fazia.
— Eu não tenho culpa.— disse ele, a voz firme, mas tremendo nas bordas. — Não posso me envolver com ninguém que não seja meu alfa destinado. Você sabe disso, avô.
Um silêncio pesado caiu sobre a mesa, interrompido apenas pela risada estrondosa de seu tio Dae-sung, um alfa corpulento com um senso de humor tão cruel quanto sua arrogância.
— E se o seu alfa já estiver morto, Elliott? Já pensou nisso? Ou pior, e se ele nem existir?— Ele se inclinou para frente, o sorriso largo mostrando os dentes. — Você já passou dos 40. Talvez o destino tenha esquecido de você.
As palavras de Dae-sung ecoaram na mente de Elliott, cada sílaba como uma agulha perfurando sua alma. A possibilidade de um alfa destinado morto ou inexistente era rara, mas não impossível. Quando isso acontecia, o ômega ou alfa sobrevivente era condenado a uma vida de isolamento, marcado pela sociedade como uma aberração, uma relíquia de um destino quebrado. Aos 45 anos, se ainda não tivesse encontrado sua alma gêmea, o destino de Elliott estaria selado: humilhação, solidão e dor. Ele já podia sentir o peso daquele futuro se aproximando, como uma sombra que crescia a cada ano que passava.
Do outro lado da mesa, seu primo Tae-joon, que até então permanecera em silêncio, soltou uma risada abafada.
— Talvez seja isso mesmo.— disse ele, os olhos brilhando com malícia. — Talvez o destino de Elliott seja ficar sozinho. Um ômega sem alfa, que tragédia.
Elliott sentiu o sangue pulsar em suas têmporas. Ele desviou o olhar para seus pais, sentados a poucos lugares de distância. Seu pai, um alfa de 65 anos com o rosto marcado por rugas e uma expressão de desaprovação, evitava seu olhar. Sua mãe, uma ômega de 60 anos que sempre fora sua maior defensora, agora o encarava com uma mistura de frustração e vergonha.
— Mãe, pai!— disse ele, a voz quase suplicante. —Vocês não vão dizer nada? Não vão me defender?
Sua mãe franziu o cenho, os lábios apertados em uma linha fina.
— Dizer o quê, Elliott? retrucou ela, a voz cortante.— Eles têm razão. Você já teve tempo suficiente.
O mundo pareceu desmoronar ao redor de Elliott. Até seus pais, as únicas pessoas que ele acreditava que ainda poderiam estar ao seu lado, haviam se voltado contra ele. Ele sentiu um nó na garganta, os olhos ardendo com lágrimas que ele se recusava a deixar cair. Sem dizer mais uma palavra, ele largou os hashi com um estrondo, empurrou a cadeira para trás e se levantou.
— Perdi a fome.— murmurou, pegando sua bolsa de couro com gestos bruscos. Sem olhar para trás, ele atravessou o salão, os olhares da família queimando em suas costas como brasas.
No carro, estacionado na entrada da mansão, Elliott finalmente deixou as lágrimas caírem. Ele segurou o volante com força, os nós dos dedos brancos, enquanto soluços silenciosos sacudiam seu corpo. Ele era Elliott Kim, o renomado CEO da Kim Atelier, um ícone da moda cujas criações eram usadas por celebridades em tapetes vermelhos do mundo inteiro. Ele tinha dinheiro, fama, poder. Mas, naquela noite, sentado sozinho em seu carro, ele sentia que não tinha nada. Porque, na sociedade em que vivia, nada disso importava se ele não tivesse o que era mais valorizado: seu alfa destinado.
Quando chegou ao seu apartamento em um dos condomínios mais exclusivos de Seul, Elliott jogou a bolsa no sofá e desabou no chão, as pernas dobradas contra o peito. O silêncio do apartamento era ensurdecedor, um contraste cruel com o barulho da mansão Kim. Ele olhou para as janelas panorâmicas, que revelavam as luzes brilhantes da cidade, e sentiu a solidão apertar seu coração como uma garra. Mais uma vez, sua noite fora arruinada pela própria família. E, pela primeira vez, ele se perguntou se eles estavam certos. E se ele realmente estivesse destinado a viver sozinho? E se seu alfa nunca aparecesse?
Ele fechou os olhos, as lágrimas escorrendo pelo rosto, e deixou a dor consumi-lo. Naquela noite, Elliott Kim, o homem que o mundo admirava, era apenas um ômega quebrado, preso em um destino que ele não podia controlar.
OBS: Elliott é um Ômega travesti, então ele usará roupas femininas.
Elliott Kim, 42 anos \= Ômega puro.
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Atualizado até capítulo 33
Comments
Cadelinha do Yoon
Eu só não gostei da forma que ela apresentou o Eliot, aqui onde eu moro chamar de "travesti" é algo ofensivo
2025-09-06
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Monica De Carvalho Carvalho
Família invejosa, recalcada, ficam maltratando o Eliot em vez de dar apoio, infelizmente existem famílias ainda assim, sem nada para dar.
2025-09-03
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Monica De Carvalho Carvalho
Uau! que ômega lindo é o Elliot! Se todos os ômegas fossem velhos assim, meu Deus, seria um sonho.
2025-09-03
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