A semana passou como um borrão para Elliott Kim, cada dia uma batalha para manter a fachada de controle enquanto o vazio dentro dele crescia. Em Gangnam, Seul, ele mergulhava no trabalho como se fosse uma tábua de salvação, revisando croquis, aprovando tecidos e liderando reuniões com uma precisão quase mecânica. Mas, por dentro, o peso da noite na mansão Kim ainda o assombrava, as palavras cruéis de sua família ecoando em sua mente como um disco quebrado. Ele decidira não voltar aos jantares familiares, mas a solidão que isso trouxe não era exatamente um alívio. Era apenas um tipo diferente de dor.
Enquanto Elliott se afogava em sua rotina, do outro lado da Coreia do Sul, em Busan, Alex Lee seguia sua vida de excessos com a mesma despreocupação de sempre. Mas, naquela sexta-feira, o destino estava prestes a mostrar que até os alfas mais confiantes não estavam imunes às consequências de suas ações.
Na universidade onde Alex estudava, o dia parecia comum. Ele estava sentado em uma das salas de aula, meio desleixado na cadeira, conversando com seu amigo Jae-hoon sobre um projeto empresarial que o professor havia passado. A discussão era mais sobre como minimizar o esforço do que sobre o conteúdo do trabalho, com Alex jogando ideias desconexas enquanto Jae-hoon ria de suas piadas. O ambiente era leve, até que a porta da sala se abriu com um estrondo e um colega, um alfa chamado Min-jae, entrou gritando o nome de Alex.
— Alex Lee! — berrou Min-jae, o rosto vermelho de raiva e um brilho provocador nos olhos.
Alex suspirou, passando a mão pelo cabelo.
— Lá se vai minha paz — murmurou para Jae-hoon, que balançou a cabeça, já prevendo problemas.
— Ignora ele, cara — disse Jae-hoon, mantendo a voz baixa. — Ele só quer atenção.
Era exatamente o que Alex pretendia fazer. Ele não era de briga, apesar de sua fama de festeiro. Gostava da paz, ou pelo menos da versão dele de paz, que envolvia festas, bebidas e betas dispostos a ceder aos seus encantos. Mas Min-jae não estava disposto a deixar barato. Ele se aproximou, parando na frente de Alex com um sorriso malicioso.
— Ouvi dizer que você é um completo brocha! — disparou Min-jae, alto o suficiente para que toda a sala ouvisse.
Risadinhas e murmúrios explodiram entre os colegas, alguns cochichando entre si:
— Será verdade?
— Como pode um gostoso desses ser brocha?
Alex sentiu o sangue subir ao rosto, os punhos se fechando automaticamente. Ele tentou ignorar, morder a língua, mas Min-jae não parou.
— Vocês ouviram, né? O gostosão da turma é brocha! Não aguenta nem um minuto na cama!
Aquilo foi o estopim. Alex se levantou em um pulo, os olhos faiscando de raiva.
— Qual é o teu problema, seu idiota? — gritou, avançando sobre Min-jae.
Antes que o outro pudesse reagir, Alex desferiu um soco no rosto dele, seguido de outro no estômago. Min-jae cambaleou, mas revidou com um empurrão, e logo os dois estavam trocando golpes enquanto os colegas gritavam, alguns gravando com os celulares.
— Para com isso! — Jae-hoon tentou intervir, mas a confusão já havia tomado conta da sala.
O barulho atraiu o professor, um homem de meia-idade chamado Sr. Park, que entrou correndo e se colocou entre os dois.
— O que está acontecendo aqui? — exigiu o professor, segurando os ombros de Alex para afastá-lo de Min-jae.
Alex, ainda fervendo de raiva, apontou para o colega.
— Pergunta pro merda ali, ele que começou!
— Respeite-me, Lee! — retrucou o professor, a voz firme. — Vocês dois, para a diretoria, agora!
Alex riu, o deboche transbordoando.
— Não vou a lugar nenhum, ainda mais por causa desse pedaço de bosta!
Ele tentou se desvencilhar, mas o professor agarrou seu braço com mais força. Num impulso, Alex se virou e acertou um soco no rosto do homem, o impacto ecoando pela sala.
— Não me toca!
A sala ficou em silêncio por um segundo, o choque pairando no ar. Bater em um colega era uma coisa; agredir um professor era outro nível. Alex percebeu tarde demais que havia cruzado uma linha.
Na diretoria, a situação foi resolvida com o que os Lee sempre usavam para apagar seus incêndios: dinheiro. O pai de Alex, um alfa de 57 anos chamado Joon-ho, e seu omma, um ômega de 50 anos chamado Soo-jin, foram chamados à universidade. Com uma quantia generosa, os vídeos foram apagados, o professor e Min-jae receberam dinheiro para não denunciar, e a poeira foi varrida para debaixo do tapete. Mas, em casa, a tempestade estava apenas começando.
No amplo apartamento dos Lee em Busan, Soo-jin enfrentou Alex com uma fúria que fez até as paredes parecerem tremer. Ele, um ômega de presença imponente, desferiu um tapa no rosto de Alex, que recuou, surpreso.
— Você não cansa de causar problemas, Alex? — perguntou Soo-jin, os olhos brilhando de frustração. — Bater no seu colega é uma coisa, mas agredir um professor? Até onde vai essa sua arrogância?
Alex riu, tentando manter a fachada de confiança.
— Eu não admito ser desrespeitado na frente de todo mundo, omma. Ele me provocou, e o professor não tinha que se meter!
Soo-jin riu, um som seco e sarcástico.
— Ninguém mandou o professor te tocar, é? E você acha que isso justifica tudo? — Ele se sentou no sofá, cruzando os braços, e encarou Alex com uma seriedade que fez o jovem engolir em seco. — Chega, Alex. Eu tomei uma decisão.
Alex suspirou, tentando apelar.
— Mamãe, não seja tão severo. Eu prometo que vou mudar, juro!
Soo-jin balançou a cabeça. Alex era o caçula, o único filho homem de uma família que sempre o mimara. Seus pais, Joon-ho e Soo-jin, desejaram tanto um filho que, quando ele nasceu, foi tratado como o rei da casa. Suas irmãs mais velhas, Hana e Ji-won, também o idolatravam, sempre cedendo aos seus caprichos. Mas Soo-jin, o ômega que comandava a família com mão de ferro, estava farto.
— Você está se encrencando demais, Alex — disse ele, a voz mais suave, mas firme. — Você vai para Seul. Vai estudar lá e vai ficar lá até aprender a se comportar.
Alex gelou, os olhos arregalados.
— Mamãe! — exclamou, a voz carregada de indignação. — Isso é exagero!
— É necessário — retrucou Soo-jin, sem ceder. — Vai te fazer bem.
Alex tentou argumentar.
— Eu vou me comportar, mamãe, juro! Não precisa chegar a esse ponto!
Ele se virou para o pai, que estava sentado em silêncio, os ombros curvados.
— Papai, me ajuda!
Joon-ho abriu a boca, hesitante, mas ao cruzar o olhar com Soo-jin, recuou.
— Sua mãe manda, Alex. Eu não vou contestar.
Desesperado, Alex olhou para suas irmãs, que assistiam à cena com expressões de pena. Hana tentou intervir.
— Mãe, talvez seja um pouco demais… — começou, mas Soo-jin levantou a mão, cortando-a.
— A decisão está tomada — disse ele, a voz final. — Você vai para Seul, Alex. E ponto final.
Alex ainda tentou apelar, virando-se para o pai mais uma vez.
— Papai, você não vai me ajudar? Mamãe, por favor, eu prometo mudar!
Mas Joon-ho apenas suspirou. — É a melhor decisão, filho.
Naquela mesma noite, Soo-jin e Joon-ho compraram um apartamento em Gangnam pela internet, uma decisão tão rápida quanto prática. Na manhã de sábado, a família acompanhou Alex ao Aeroporto Internacional de Gimhae. Ele ainda tentou apelar, arrastando os pés enquanto carregava sua mala, mas os olhares firmes de seus pais e o silêncio resignado de suas irmãs deixaram claro que não havia volta.
— Mamãe, por favor… — tentou ele, uma última vez, enquanto aguardavam o embarque.
Soo-jin apenas o encarou, impassível. — Boa sorte em Seul, meu amor. Não me decepcione.
Com o coração pesado e uma mistura de raiva e resignação, Alex entrou no avião. Ele não sabia que, ao pousar em Seul, sua vida estava prestes a mudar de maneiras que ele nunca poderia imaginar.
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Atualizado até capítulo 33
Comments
Edilaine Leticia
continua por favor
2025-08-27
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