A Mansão Kim erguia-se imponente no coração de Gangnam, um símbolo de tradição e poder que atravessava gerações. Suas paredes de mármore branco reluziam sob a luz dourada dos candelabros, e os amplos salões ecoavam risadas, tilintar de taças e o murmúrio constante de conversas. Para qualquer estranho, a cena seria a definição de harmonia familiar: uma mesa farta, coberta com pratos refinados de bulgogi, kimchi artesanal e banchan meticulosamente arrumado, reunia três gerações da família Kim. Lewis Kim, o patriarca de 87 anos, presidia a mesa com sua postura rígida, os olhos penetrantes observando cada movimento, cada palavra. Ele sempre dizia que uma família unida era sinal de força, um lema que repetia como um mantra, mas que, para Elliott Kim, soava cada vez mais como uma corrente apertada em torno de seu pescoço.
Elliott, aos 42 anos, ocupava seu lugar de sempre na longa mesa de carvalho, entre um primo mais novo e sua tia Hye-jin, uma ômega de língua afiada e sorriso venenoso. Ele mantinha a cabeça baixa, mexendo distraidamente no arroz com seus hashi, enquanto tentava se fundir ao ambiente, tornar-se invisível. Era uma habilidade que ele havia aperfeiçoado ao longo dos anos, especialmente em jantares como aquele. A sala estava cheia: seus pais, seus tios, seus primos, os cônjuges e até os bisnetos do patriarca, que corriam e riam em outra sala, longe da conversa dos adultos. O ar cheirava a carne grelhada e a tensão disfarçada por sorrisos educados.
Por um breve momento, Elliott permitiu-se acreditar que aquela noite seria diferente. Não havia olhares de canto de olho, nem sussurros mal disfarçados. Talvez, pela primeira vez em anos, ele pudesse comer em paz, sem o peso das expectativas da família caindo sobre ele como uma guilhotina. Mas essa esperança, frágil como vidro, estilhaçou-se com uma única frase.
— E então, Elliott? Quando vai se casar? — A voz de sua tia Eun-ji cortou o ar como uma lâmina, carregada de um sarcasmo que fez as conversas à mesa diminuírem. Ela o encarava com um sorriso torto, os olhos brilhando com uma mistura de diversão e desprezo. — Você não está ficando mais jovem, sabe.
Elliott sentiu o estômago revirar. Ele conhecia aquele tom, aquela pergunta, como se fosse uma música que tocava em looping em sua mente desde os 21 anos. Ele suspirou, os ombros tensos, e forçou um sorriso educado, mesmo sabendo que qualquer resposta seria usada contra ele. Os olhares de todos na mesa se voltaram para ele, alguns curiosos, outros julgadores. Até as crianças na sala ao lado pareciam ter silenciado, como se o peso daquele momento tivesse atravessado as paredes.
— Eu… não sei, tia. — respondeu ele, a voz baixa, quase engolida pelo tilintar de talheres. — Ainda não encontrei meu alfa.
A frase pairou no ar, e ele imediatamente se arrependeu de tê-la dito. Era a verdade, mas também era a isca perfeita para o ataque que ele sabia que viria. Seu primo Min-ho, um alfa de 35 anos com um sorriso arrogante, revirou os olhos e deixou escapar uma risada abafada.
— Sério, Elliott? Todos os primos já estão casados. Até o Ji-hoon, que tem o quê? Vinte e cinco anos? Já tem dois filhos.
O comentário foi como uma facada. Elliott sentiu o calor subir ao rosto, mas manteve a compostura, os dedos apertando o garfo com mais força do que o necessário. Ele poderia ter respondido, poderia ter apontado que Ji-hoon quase havia se casado com um beta por um casamento arranjado, algo que, para um ômega como ele, era impensável. Mas ele sabia que qualquer defesa seria inútil. A família não queria explicações; queria sangue.
O patriarca, Lewis Kim, que até então observava a cena em silêncio, inclinou-se para frente, os olhos estreitos fixos em Elliott. Sua voz, grave e cortante, ecoou pela sala.
— Você está envelhecendo, Elliott. Quarenta e dois anos e ainda não encontrou seu alfa destinado. Está planejando morrer solteiro? É isso que quer para o nome dos Kim?
O peso daquelas palavras caiu sobre Elliott como uma avalanche. Ele já esperava o julgamento, mas a desaprovação crua no olhar de seu avô, o homem que ele crescera admirando, era um golpe que nunca se tornava mais fácil de suportar. Durante 21 anos, desde que completara a idade em que a maioria dos ômegas encontrava seus alfas, ele enfrentava essa mesma conversa. Era um ciclo interminável de humilhação, um lembrete constante de que, apesar de sua carreira brilhante como CEO de uma das maiores marcas de moda da Coreia do Sul, apesar de seu rosto estampado em revistas internacionais e de sua conta bancária que rivalizava com a de qualquer alfa na mesa, ele era, aos olhos da família, um fracasso. Um ômega velho, virgem, sem alma gêmea.
Elliott pausou os hashi no ar, os olhos fixos no prato intocado à sua frente. A raiva borbulhava em seu peito, mas ele a engoliu, como sempre fazia.
— Eu não tenho culpa.— disse ele, a voz firme, mas tremendo nas bordas. — Não posso me envolver com ninguém que não seja meu alfa destinado. Você sabe disso, avô.
Um silêncio pesado caiu sobre a mesa, interrompido apenas pela risada estrondosa de seu tio Dae-sung, um alfa corpulento com um senso de humor tão cruel quanto sua arrogância.
— E se o seu alfa já estiver morto, Elliott? Já pensou nisso? Ou pior, e se ele nem existir?— Ele se inclinou para frente, o sorriso largo mostrando os dentes. — Você já passou dos 40. Talvez o destino tenha esquecido de você.
As palavras de Dae-sung ecoaram na mente de Elliott, cada sílaba como uma agulha perfurando sua alma. A possibilidade de um alfa destinado morto ou inexistente era rara, mas não impossível. Quando isso acontecia, o ômega ou alfa sobrevivente era condenado a uma vida de isolamento, marcado pela sociedade como uma aberração, uma relíquia de um destino quebrado. Aos 45 anos, se ainda não tivesse encontrado sua alma gêmea, o destino de Elliott estaria selado: humilhação, solidão e dor. Ele já podia sentir o peso daquele futuro se aproximando, como uma sombra que crescia a cada ano que passava.
Do outro lado da mesa, seu primo Tae-joon, que até então permanecera em silêncio, soltou uma risada abafada.
— Talvez seja isso mesmo.— disse ele, os olhos brilhando com malícia. — Talvez o destino de Elliott seja ficar sozinho. Um ômega sem alfa, que tragédia.
Elliott sentiu o sangue pulsar em suas têmporas. Ele desviou o olhar para seus pais, sentados a poucos lugares de distância. Seu pai, um alfa de 65 anos com o rosto marcado por rugas e uma expressão de desaprovação, evitava seu olhar. Sua mãe, uma ômega de 60 anos que sempre fora sua maior defensora, agora o encarava com uma mistura de frustração e vergonha.
— Mãe, pai!— disse ele, a voz quase suplicante. —Vocês não vão dizer nada? Não vão me defender?
Sua mãe franziu o cenho, os lábios apertados em uma linha fina.
— Dizer o quê, Elliott? retrucou ela, a voz cortante.— Eles têm razão. Você já teve tempo suficiente.
O mundo pareceu desmoronar ao redor de Elliott. Até seus pais, as únicas pessoas que ele acreditava que ainda poderiam estar ao seu lado, haviam se voltado contra ele. Ele sentiu um nó na garganta, os olhos ardendo com lágrimas que ele se recusava a deixar cair. Sem dizer mais uma palavra, ele largou os hashi com um estrondo, empurrou a cadeira para trás e se levantou.
— Perdi a fome.— murmurou, pegando sua bolsa de couro com gestos bruscos. Sem olhar para trás, ele atravessou o salão, os olhares da família queimando em suas costas como brasas.
No carro, estacionado na entrada da mansão, Elliott finalmente deixou as lágrimas caírem. Ele segurou o volante com força, os nós dos dedos brancos, enquanto soluços silenciosos sacudiam seu corpo. Ele era Elliott Kim, o renomado CEO da Kim Atelier, um ícone da moda cujas criações eram usadas por celebridades em tapetes vermelhos do mundo inteiro. Ele tinha dinheiro, fama, poder. Mas, naquela noite, sentado sozinho em seu carro, ele sentia que não tinha nada. Porque, na sociedade em que vivia, nada disso importava se ele não tivesse o que era mais valorizado: seu alfa destinado.
Quando chegou ao seu apartamento em um dos condomínios mais exclusivos de Seul, Elliott jogou a bolsa no sofá e desabou no chão, as pernas dobradas contra o peito. O silêncio do apartamento era ensurdecedor, um contraste cruel com o barulho da mansão Kim. Ele olhou para as janelas panorâmicas, que revelavam as luzes brilhantes da cidade, e sentiu a solidão apertar seu coração como uma garra. Mais uma vez, sua noite fora arruinada pela própria família. E, pela primeira vez, ele se perguntou se eles estavam certos. E se ele realmente estivesse destinado a viver sozinho? E se seu alfa nunca aparecesse?
Ele fechou os olhos, as lágrimas escorrendo pelo rosto, e deixou a dor consumi-lo. Naquela noite, Elliott Kim, o homem que o mundo admirava, era apenas um ômega quebrado, preso em um destino que ele não podia controlar.
OBS: Elliott é um Ômega travesti, então ele usará roupas femininas.
Elliott Kim, 42 anos \= Ômega puro.
Em Busan, a noite pulsava com vida, um caos vibrante de luzes neon, música alta e risadas que ecoavam pelas ruas estreitas cheias de bares e clubes. Alex Lee, um alfa de 20 anos com um sorriso perigoso e olhos que prometiam problemas, estava no seu elemento. Ele era o tipo de jovem que parecia sugar a energia de qualquer lugar onde estivesse, com seu cabelo bagunçado, jaqueta de couro e uma postura que exsudava confiança — ou talvez arrogância. Sua vida era uma sequência interminável de festas, bebidas caras e betas que caíam aos seus pés, atraídos pelo charme irresistível de um alfa dominante. Alex não se preocupava com o futuro, muito menos com o conceito de um ômega destinado. Para ele, o destino era algo que se moldava na próxima dose de soju ou no próximo flerte passageiro.
No bar lotado onde ele e seus amigos se reuniam naquela noite, o ar cheirava a cigarro, perfume doce e álcool. Alex estava encostado no balcão, esperando o bartender preparar sua bebida, quando seu amigo Jae-hoon, um beta com um sorriso travesso, cutucou seu ombro e apontou para o outro lado do salão.
— Mano, aquele beta ali não tira os olhos de você — sussurrou Jae-hoon, inclinando-se tão perto que Alex sentiu o hálito quente de cerveja.
Alex virou o rosto, os olhos encontrando um jovem beta de pele clara e cabelo tingido de loiro, que o encarava com um misto de curiosidade e provocação. Ele riu, o som baixo e rouco, e inclinou a cabeça para Jae-hoon.
— Ele não sabe o que tá pedindo, mas não vou deixar passar. Hoje é dentro.
Na sociedade rigidamente estruturada onde viviam, os betas eram o equilíbrio entre alfas e ômegas. Enquanto ômegas eram obrigados a manter a castidade até encontrarem seus alfas destinados, os alfas tinham liberdade para se divertir com betas, saciando seus instintos sem compromisso. Casamentos, no entanto, eram outra história: alfas e ômegas só podiam se unir com seus destinados, e betas deveriam se casar entre si. Era a lei, um código não escrito que regia cada interação, cada olhar, cada toque.
Alex atravessou o bar com passos confiantes, o sorriso torto que já havia conquistado tantos corações brilhando em seu rosto. Ele parou ao lado do beta, inclinando-se até que seus lábios quase tocassem a orelha do jovem.
— Sabe, eu tava pensando… seus olhos tão me dizendo que você quer me conhecer melhor. Que tal a gente descobrir o quanto você aguenta?
O beta riu, o rosto corando levemente, mas seus olhos brilharam com interesse.
— Você é um louco, né? — respondeu, a voz leve, mas com um toque de desafio.
Alex aproveitou a brecha, seu sorriso se alargando.
— Louco o suficiente pra te levar pra um lugar mais… reservado. Topa?
O jovem hesitou por um segundo, mas o brilho em seus olhos já entregava a resposta. Ele assentiu, e Alex, sem perder tempo, pagou a conta do bar — sua bebida e a dos amigos — com um maço de notas que tirou do bolso sem nem olhar. Ele pegou a mão do beta e o guiou para fora, o ar fresco da noite de Busan contrastando com o calor abafado do bar. Seu carro, um conversível preto que gritava dinheiro e imprudência, estava estacionado a poucos metros. Eles entraram, e o motor ronronou enquanto partiam para um hotel próximo.
No trajeto, o beta, agora mais à vontade, virou-se para Alex com um sorriso provocador.
— Então, o que você tá planejando fazer comigo, alfa?
Alex riu, uma risada grave que encheu o carro.
— Você não faz ideia, mas prometo que vai ser uma noite inesquecível.
Quinze minutos depois, eles chegaram a um hotel de luxo no centro de Busan. Alex reservou uma suíte com a facilidade de quem fazia isso com frequência, e logo os dois estavam no elevador, o silêncio entre eles carregado de expectativa. No quarto, a tensão explodiu em movimento. Alex puxou o beta para si, os lábios encontrando os dele em um beijo faminto, cheio de urgência. Suas mãos percorreram o corpo do jovem, deslizando por baixo da camisa, sentindo a pele quente e macia sob seus dedos. O beta gemeu baixinho, um som que fez Alex sorrir contra sua boca, enquanto suas mãos apertavam a cintura dele, puxando-o ainda mais perto. Beijos se transformaram em chupões no pescoço do beta, deixando marcas vermelhas que ele sabia que seriam um lembrete daquela noite. O jovem se arqueava contra ele, os dedos agarrando o cabelo de Alex, os arrepios visíveis em sua pele enquanto suspiros e gemidos suaves preenchiam o quarto. A cama rangeu sob o peso dos dois, e as roupas caíram no chão, esquecidas, enquanto a noite se desenrolava em um borrão de toques e calor.
Na manhã seguinte, o sol entrava pelas cortinas finas da suíte, iluminando o quarto bagunçado. Alex já estava de pé, abotoando a camisa enquanto o beta dormia, os lençóis cobrindo parcialmente seu corpo. Ele olhou para o jovem por um instante, sem emoção, como se fosse apenas mais um item riscado de uma lista interminável. Era assim que funcionava: uma noite, um momento, e nada mais. Alex pegou sua jaqueta, deixou um maço de won na mesa de cabeceira — um hábito que ele nem questionava mais — e saiu sem olhar para trás.
Enquanto isso, em Gangnam, Seul, a manhã de Elliott Kim começava de forma bem diferente. O despertador não tocou, mas o telefone sim, vibrando incessantemente na mesa de cabeceira. Ele abriu os olhos devagar, o peso da noite anterior ainda pressionando seu peito como uma pedra. A ligação era de seu assistente, Min-kyu, lembrando-o das reuniões e prazos que o aguardavam na Kim Atelier. Elliott gemeu, esfregando o rosto. Ele não queria trabalhar. Não hoje. Mas o trabalho era sua única distração, o único lugar onde ele podia se esconder do vazio que o perseguia.
Ele se levantou, o corpo pesado, e caminhou até o banheiro. O chuveiro quente ajudou a aliviar a tensão em seus ombros, mas não o nó em sua mente. Enquanto se vestia, Elliott escolheu com cuidado uma saia lápis preta que abraçava suas curvas, uma blusa de seda creme e saltos altos que ecoavam sua determinação. Ele era travesti, e cada peça de roupa era uma armadura, uma declaração de quem ele era, mesmo que o mundo tentasse reduzi-lo a um ômega sem alfa. Ele arrumou o cabelo com precisão, aplicou uma maquiagem leve que destacava seus olhos expressivos e pegou sua bolsa, jogando dentro alguns documentos e as chaves do carro. Antes de sair, ele olhou-se no espelho, ajustando a postura. Ele era Elliott Kim, o CEO implacável da moda. Pelo menos no trabalho, ele tinha controle.
O trajeto até a empresa foi um borrão de ruas movimentadas e pensamentos sombrios. Na noite anterior, enquanto chorava sozinho em seu apartamento, Elliott tomara uma decisão: não voltaria aos jantares da família Kim. Ele estava cansado — cansado das humilhações, dos olhares de desaprovação, das risadas cruéis. Até seus pais, as últimas pessoas em quem ele buscava refúgio, o haviam abandonado. A dor de sua rejeição era um corte profundo, mais afiado do que qualquer insulto de seus tios ou primos. Ele sempre acreditara que, com o tempo, sua família mudaria, que veriam além de sua condição de ômega solteiro. Mas agora, aos 42 anos, ele percebia que estava sozinho. Mais sozinho do que nunca.
Na Kim Atelier, o dia passou em uma sucessão de reuniões, relatórios e decisões. Elliott se movia com a precisão de uma máquina, aprovando designs, revisando contratos e coordenando entregas para uma nova coleção que seria lançada em Paris. O trabalho era sua âncora, sua fuga. Enquanto se concentrava nas planilhas e nos croquis, ele podia esquecer a noite anterior, esquecer a voz de seu avô ecoando em sua mente, esquecer o vazio que crescia dentro dele. Mas, no fundo, ele sabia que era uma ilusão. O trabalho podia preencher suas horas, mas não seu coração. Aos 42 anos, Elliott havia perdido a esperança. O destino, ele acreditava, o havia esquecido de vez.
Alex Lee, 20 anos \= Alfa dominante.
A semana passou como um borrão para Elliott Kim, cada dia uma batalha para manter a fachada de controle enquanto o vazio dentro dele crescia. Em Gangnam, Seul, ele mergulhava no trabalho como se fosse uma tábua de salvação, revisando croquis, aprovando tecidos e liderando reuniões com uma precisão quase mecânica. Mas, por dentro, o peso da noite na mansão Kim ainda o assombrava, as palavras cruéis de sua família ecoando em sua mente como um disco quebrado. Ele decidira não voltar aos jantares familiares, mas a solidão que isso trouxe não era exatamente um alívio. Era apenas um tipo diferente de dor.
Enquanto Elliott se afogava em sua rotina, do outro lado da Coreia do Sul, em Busan, Alex Lee seguia sua vida de excessos com a mesma despreocupação de sempre. Mas, naquela sexta-feira, o destino estava prestes a mostrar que até os alfas mais confiantes não estavam imunes às consequências de suas ações.
Na universidade onde Alex estudava, o dia parecia comum. Ele estava sentado em uma das salas de aula, meio desleixado na cadeira, conversando com seu amigo Jae-hoon sobre um projeto empresarial que o professor havia passado. A discussão era mais sobre como minimizar o esforço do que sobre o conteúdo do trabalho, com Alex jogando ideias desconexas enquanto Jae-hoon ria de suas piadas. O ambiente era leve, até que a porta da sala se abriu com um estrondo e um colega, um alfa chamado Min-jae, entrou gritando o nome de Alex.
— Alex Lee! — berrou Min-jae, o rosto vermelho de raiva e um brilho provocador nos olhos.
Alex suspirou, passando a mão pelo cabelo.
— Lá se vai minha paz — murmurou para Jae-hoon, que balançou a cabeça, já prevendo problemas.
— Ignora ele, cara — disse Jae-hoon, mantendo a voz baixa. — Ele só quer atenção.
Era exatamente o que Alex pretendia fazer. Ele não era de briga, apesar de sua fama de festeiro. Gostava da paz, ou pelo menos da versão dele de paz, que envolvia festas, bebidas e betas dispostos a ceder aos seus encantos. Mas Min-jae não estava disposto a deixar barato. Ele se aproximou, parando na frente de Alex com um sorriso malicioso.
— Ouvi dizer que você é um completo brocha! — disparou Min-jae, alto o suficiente para que toda a sala ouvisse.
Risadinhas e murmúrios explodiram entre os colegas, alguns cochichando entre si:
— Será verdade?
— Como pode um gostoso desses ser brocha?
Alex sentiu o sangue subir ao rosto, os punhos se fechando automaticamente. Ele tentou ignorar, morder a língua, mas Min-jae não parou.
— Vocês ouviram, né? O gostosão da turma é brocha! Não aguenta nem um minuto na cama!
Aquilo foi o estopim. Alex se levantou em um pulo, os olhos faiscando de raiva.
— Qual é o teu problema, seu idiota? — gritou, avançando sobre Min-jae.
Antes que o outro pudesse reagir, Alex desferiu um soco no rosto dele, seguido de outro no estômago. Min-jae cambaleou, mas revidou com um empurrão, e logo os dois estavam trocando golpes enquanto os colegas gritavam, alguns gravando com os celulares.
— Para com isso! — Jae-hoon tentou intervir, mas a confusão já havia tomado conta da sala.
O barulho atraiu o professor, um homem de meia-idade chamado Sr. Park, que entrou correndo e se colocou entre os dois.
— O que está acontecendo aqui? — exigiu o professor, segurando os ombros de Alex para afastá-lo de Min-jae.
Alex, ainda fervendo de raiva, apontou para o colega.
— Pergunta pro merda ali, ele que começou!
— Respeite-me, Lee! — retrucou o professor, a voz firme. — Vocês dois, para a diretoria, agora!
Alex riu, o deboche transbordoando.
— Não vou a lugar nenhum, ainda mais por causa desse pedaço de bosta!
Ele tentou se desvencilhar, mas o professor agarrou seu braço com mais força. Num impulso, Alex se virou e acertou um soco no rosto do homem, o impacto ecoando pela sala.
— Não me toca!
A sala ficou em silêncio por um segundo, o choque pairando no ar. Bater em um colega era uma coisa; agredir um professor era outro nível. Alex percebeu tarde demais que havia cruzado uma linha.
Na diretoria, a situação foi resolvida com o que os Lee sempre usavam para apagar seus incêndios: dinheiro. O pai de Alex, um alfa de 57 anos chamado Joon-ho, e seu omma, um ômega de 50 anos chamado Soo-jin, foram chamados à universidade. Com uma quantia generosa, os vídeos foram apagados, o professor e Min-jae receberam dinheiro para não denunciar, e a poeira foi varrida para debaixo do tapete. Mas, em casa, a tempestade estava apenas começando.
No amplo apartamento dos Lee em Busan, Soo-jin enfrentou Alex com uma fúria que fez até as paredes parecerem tremer. Ele, um ômega de presença imponente, desferiu um tapa no rosto de Alex, que recuou, surpreso.
— Você não cansa de causar problemas, Alex? — perguntou Soo-jin, os olhos brilhando de frustração. — Bater no seu colega é uma coisa, mas agredir um professor? Até onde vai essa sua arrogância?
Alex riu, tentando manter a fachada de confiança.
— Eu não admito ser desrespeitado na frente de todo mundo, omma. Ele me provocou, e o professor não tinha que se meter!
Soo-jin riu, um som seco e sarcástico.
— Ninguém mandou o professor te tocar, é? E você acha que isso justifica tudo? — Ele se sentou no sofá, cruzando os braços, e encarou Alex com uma seriedade que fez o jovem engolir em seco. — Chega, Alex. Eu tomei uma decisão.
Alex suspirou, tentando apelar.
— Mamãe, não seja tão severo. Eu prometo que vou mudar, juro!
Soo-jin balançou a cabeça. Alex era o caçula, o único filho homem de uma família que sempre o mimara. Seus pais, Joon-ho e Soo-jin, desejaram tanto um filho que, quando ele nasceu, foi tratado como o rei da casa. Suas irmãs mais velhas, Hana e Ji-won, também o idolatravam, sempre cedendo aos seus caprichos. Mas Soo-jin, o ômega que comandava a família com mão de ferro, estava farto.
— Você está se encrencando demais, Alex — disse ele, a voz mais suave, mas firme. — Você vai para Seul. Vai estudar lá e vai ficar lá até aprender a se comportar.
Alex gelou, os olhos arregalados.
— Mamãe! — exclamou, a voz carregada de indignação. — Isso é exagero!
— É necessário — retrucou Soo-jin, sem ceder. — Vai te fazer bem.
Alex tentou argumentar.
— Eu vou me comportar, mamãe, juro! Não precisa chegar a esse ponto!
Ele se virou para o pai, que estava sentado em silêncio, os ombros curvados.
— Papai, me ajuda!
Joon-ho abriu a boca, hesitante, mas ao cruzar o olhar com Soo-jin, recuou.
— Sua mãe manda, Alex. Eu não vou contestar.
Desesperado, Alex olhou para suas irmãs, que assistiam à cena com expressões de pena. Hana tentou intervir.
— Mãe, talvez seja um pouco demais… — começou, mas Soo-jin levantou a mão, cortando-a.
— A decisão está tomada — disse ele, a voz final. — Você vai para Seul, Alex. E ponto final.
Alex ainda tentou apelar, virando-se para o pai mais uma vez.
— Papai, você não vai me ajudar? Mamãe, por favor, eu prometo mudar!
Mas Joon-ho apenas suspirou. — É a melhor decisão, filho.
Naquela mesma noite, Soo-jin e Joon-ho compraram um apartamento em Gangnam pela internet, uma decisão tão rápida quanto prática. Na manhã de sábado, a família acompanhou Alex ao Aeroporto Internacional de Gimhae. Ele ainda tentou apelar, arrastando os pés enquanto carregava sua mala, mas os olhares firmes de seus pais e o silêncio resignado de suas irmãs deixaram claro que não havia volta.
— Mamãe, por favor… — tentou ele, uma última vez, enquanto aguardavam o embarque.
Soo-jin apenas o encarou, impassível. — Boa sorte em Seul, meu amor. Não me decepcione.
Com o coração pesado e uma mistura de raiva e resignação, Alex entrou no avião. Ele não sabia que, ao pousar em Seul, sua vida estava prestes a mudar de maneiras que ele nunca poderia imaginar.
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