Sinais na Carne

A chuva diminuiu, mas o céu ainda estava coberto por nuvens densas e escuras quando o carro preto de Luck encostou no posto.
Ethan saiu correndo em direção ao veículo assim que o viu, com um alívio genuíno estampado no rosto pela primeira vez em horas.
Luck saiu do carro imediatamente, o rosto tenso
Era mais velho, mais forte, com um olhar firme e protetor que sempre carregava desde que conheceu Ethan.
Luck
Luck
— Você tá bem?! — ele segurou o rosto de Ethan com as duas mãos, avaliando os machucados, os olhos fundos, o cansaço. — Que porra aconteceu com você, moleque?!
Ethan
Ethan
— Longa história… — Ethan respondeu, tentando sorrir, mas era um sorriso pálido. — Tô vivo. É o que importa.
Luck olhou por cima do ombro de Ethan, notando Noah pela primeira vez.
Noah estava parado perto da entrada do posto, encostado na parede com a câmera pendurada no pescoço, o cabelo molhado colado na testa, e um sorriso enigmático nos lábios.
Luck o encarou com um olhar instintivamente protetor, como se algo naquele garoto acendesse um alarme silencioso dentro dele. Ainda assim, tentou ser cordial.
Luck
Luck
— Você é o… amigo que estava com ele?
Noah
Noah
— Noah — ele respondeu, sem se mover.
Luck
Luck
— Valeu por ajudar meu irmãozinho. Quer uma carona também?
Noah inclinou levemente a cabeça.
Noah
Noah
— Não costumo aceitar caronas de estranhos.
Luck
Luck
— Então somos dois — disse Luck, sem esconder o tom direto.
Mas antes que a tensão aumentasse, Ethan interveio:
Ethan
Ethan
— Anda logo, Noah. Vai chover de novo. Aceita.
Noah olhou para Ethan, e por um momento seus olhos pareciam queimar em silêncio. Então assentiu com lentidão.
Noah
Noah
— Ok.
O carro seguiu pela estrada sinuosa, os pneus cortando a água acumulada.
Ethan sentou no banco da frente ao lado de Luck, enquanto Noah permaneceu no banco de trás, em silêncio, observando as fotos na câmera.
Luck
Luck
— Agora fala — disse Luck, lançando um olhar rápido para Ethan. — Que inferno foi esse?
Ethan respirou fundo.
Ethan
Ethan
— A gente entrou num sanatório abandonado. Tinha alguma coisa lá dentro. Não sei explicar. Portas sumiam. Corredores mudavam de lugar. Um homem… de preto… perseguiu a gente.
Luck soltou uma risada curta.
Luck
Luck
— Cês tavam chapados?
Ethan
Ethan
— Não, porra. Eu tô falando sério. — Ethan se virou, irritado. — Eu vomitei. Achei que ia morrer.
No banco de trás, Noah sorria. Passava calmamente as fotos uma a uma. Algumas estavam borradas. Outras mostravam Ethan em momentos que ele nem lembrava ter sido fotografado. Mas então...
Ele parou.
A imagem era de um corredor escuro, tirada segundos antes da parede ser arrombada. No canto da foto, parcialmente oculto pela sombra, havia algo… grotesco.
Uma criança, sentada, a pele pálida e rachada, os olhos negros como buracos. Da boca escancarada, uma cobra fina e comprida saía, se arrastando pelo chão. A expressão da criança era vazia, morta.
Noah observou aquilo por longos segundos, os olhos fixos. E então, lentamente, um sorriso enorme e silencioso surgiu em seu rosto.
Ele não disse nada. Apenas apagou a imagem.
Quando chegaram na frente de uma casa antiga, com janelas cobertas por cortinas pesadas e um portão rangendo com o vento, Noah abriu a porta do carro.
Noah
Noah
— É aqui.
Ethan se virou para ele.
Ethan
Ethan
— Ei. Me avisa se precisar de algo.
Noah hesitou por um segundo.
Noah
Noah
— Me passa seu número.
Ethan o encarou. Por um instante, quase disse "não". Algo no peito o alertava.
Mas havia também uma sensação estranha… como se já estivesse preso a Noah desde o momento em que o viu.
Ethan
Ethan
— Tá. — Ele passou o número.
Noah
Noah
— Obrigado pela carona. — Ele olhou para Luck com aquele mesmo sorriso carregado de algo indefinível. — E por confiar em mim.
Luck não respondeu. Apenas observou Noah entrar na casa, fechando o portão atrás de si.
No carro, o silêncio se estendeu por minutos.
Luck
Luck
— Esse cara não é normal — disse Luck, por fim.
Ethan
Ethan
— Eu sei — Ethan respondeu, encarando o vazio. — Mas nada na minha vida é.
Horas depois, Ethan mergulhava o corpo na água quente da banheira, deixando os músculos afrouxarem. A luz fraca do banheiro criava sombras nas paredes, e o vapor encobria o espelho.
Ele fechou os olhos, tentando apagar as imagens. A risada no corredor. O homem de preto. As portas desaparecendo. Noah sorrindo… como se estivesse exatamente onde queria estar.
Seu peito doía. Não de medo, mas de algo mais profundo… uma sensação de que havia cruzado uma linha invisível, e que a volta não era mais possível.
Quando saiu da banheira e se jogou na cama, o corpo exausto finalmente cedeu ao sono.
Mal sabia ele… que aquela noite tinha sido apenas o primeiro passo.
Sua vida estava prestes a se tornar uma tortura lenta.
No outro dia O despertador tocou com um som seco, mas Ethan já estava acordado. Tinha os olhos abertos há minutos, encarando o teto, sentindo uma pressão incômoda no pescoço.
Ao se levantar, foi direto ao espelho do banheiro.
A primeira coisa que viu foi a pequena marca no lado do pescoço — como uma queimadura ou… uma mordida? Era quase invisível, mas estava ali, vermelha, como se tivesse sido deixada por algo quente demais.
Ele tocou com os dedos e sentiu uma leve ardência.
Em seguida, tirou a camiseta e olhou os arranhões profundos nos braços e nas costelas, ainda marcados da noite anterior. Não eram imaginários. Eles doíam.
Ethan
Ethan
— Merda…
Jogou água no rosto, respirou fundo e tentou se concentrar.
Precisava ir pra escola. Precisava agir como se a vida ainda fosse normal.
Vestiu um casaco escuro, escondendo os machucados, e saiu com passos rápidos, como se o simples ato de caminhar pudesse afastar tudo que ainda o perseguia.
O pátio da escola estava barulhento, cheio de vida e vozes.
Era como se o mundo não tivesse ideia do que acontecia. E talvez não tivesse mesmo.
Ethan viu Kiria primeiro: baixinha, cabelo amarrado num coque torto, óculos vermelhos e um casaco dois números maior que ela. Estava encostada na mureta comendo salgadinhos e soltando piadinhas para um grupo de calouros que passava.
Kiria
Kiria
— Se vocês forem reprovados, podem repetir tudo… menos a roupa, pelo amor de Deus! — gritou, fazendo uma careta.
John apareceu em seguida, encostando ao lado dela com uma expressão cansada, segurando um café.
Jonh
Jonh
— Kiria, já é 8h da manhã, pode esperar pelo menos até o segundo período pra começar a ofender as pessoas?
Kiria
Kiria
— Amado, é pra isso que eu vim — respondeu ela, dando um tapa no ombro dele.
Dia chegou por último, descendo de um carro com um salto mais caro que a mensalidade da escola. Era uma patricinha com personalidade, e sabia disso. Mas por trás do gloss e da bolsa de grife, ela era mais amiga do que muita gente que se dizia “real”.
Dia
Dia
— Por que eu sinto que acordei num episódio de "American Horror Story: Ensino Médio"? — disse ela, se aproximando com os olhos semicerrados.
Jonh
Jonh
— Porque a cafeteria só serve café queimado e o banheiro tem um cheiro de morte — respondeu John.
Ethan
Ethan
— Ei — disse Ethan, se aproximando do grupo. — Preciso contar uma coisa.
Kiria
Kiria
— Ih, lá vem fanfic — murmurou Kiria, sorrindo.
Ethan começou a contar. Tudo. A chuva, o sanatório, Noah, o homem de preto, o poste de gasolina… os arranhões.
Ethan
Ethan
— Eu tô falando sério! Eu tenho marcas! — ele insistiu.
John cruzou os braços.
Jonh
Jonh
— Cê tem certeza que não caiu da escada e sonhou isso tudo?
Dia olhou pra ele com uma expressão mais curiosa do que cética.
Dia
Dia
— Ethan… você não usou nada, né? Nenhuma substância…?
Ethan
Ethan
— Eu não tava drogado, droga! — disse ele, frustrado.
Kiria mordeu o lábio, tentando segurar a risada.
Kiria
Kiria
— Desculpa, mas “homem de preto” me lembrou daquele meme do Zé Gotinha.
Ethan revirou os olhos. Sabia que eles não entenderiam.
Ethan
Ethan
— Esquece.
O sinal tocou. As aulas começaram. Mas Ethan não conseguia prestar atenção. A sensação de estar sendo observado persistia, cada sombra no canto da sala parecia um vulto. Até que, no intervalo, ele foi até o bebedouro.
O corredor estava… estranhamente vazio.
Não havia passos. Vozes. Nada. Apenas o som metálico do gotejar contínuo da água.
Tic… tic… tic…
Ele se aproximou do bebedouro, apertou o botão. A água jorrou fria, normal. Mas havia algo errado. Algo no ar.
Foi quando ele parou, sentindo um calafrio subir pela espinha. Silêncio demais. Atmosfera errada.
Então ouviu.
Um grande arranhão no metal, logo atrás do bebedouro. Como se garras raspassem no ferro.
Ethan prendeu a respiração. Não olhou. Não correu. Apenas se virou e voltou lentamente pelo corredor, suando frio.
Quando entrou na sala, o barulho voltou ao normal. As vozes dos colegas, o som da lousa. Como se nada tivesse acontecido. Mas seu celular vibrou no bolso.
Uma mensagem.
Noah
Noah
[NOAH] – “Você está livre hoje à noite? Quero te ver.”
Ethan ficou parado, encarando a tela.
Seu coração bateu mais rápido.
Algo dentro dele dizia pra não responder. Mas outra parte… aquela que ainda carregava a marca no pescoço… queria vê-lo de novo.
E naquele instante, sem saber o porquê, Ethan sentiu que a tortura real… estava apenas começando
Continua...
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Idade: 19. Personalidade: Debochada, energética, leal. Acredita em: Espíritos, teorias da conspiração e que o mundo é uma piada mal contada.
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Idade: 20. Personalidade: Vaidosa, direta, protetora. Acredita em: Destino, energias e que tudo tem um preço — até o amor.
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Idade: 20 Personalidade: Cético, irônico, observador. Acredita em: Nada até que se prove. Ciência acima de tudo — exceto quando o silêncio é estranho demais.
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Idade: 22 Personalidade: Protetor, sarcástico, desconfiado. Acredita em: Que tudo tem dois lados — até as pessoas. E que confiar demais é o primeiro passo pra se ferrar.
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Comments

mihdominho

mihdominho

por que que eu só pego pra ler a noite em 😔💔

2025-08-02

1

(ㆁᴗㆁ✿) ρυɱႦα

(ㆁᴗㆁ✿) ρυɱႦα

Oi, Deus... Sou eu de novo-

2025-08-02

1

mihdominho

mihdominho

AMOOO

2025-08-02

0

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