O Homem de Preto

O corredor parecia não ter fim. O ar estava tão denso que Ethan sentia dificuldade para respirar.
Cada passo que dava ecoava como um trovão no vazio, e as sombras nas paredes pareciam se mover sozinhas. Ele apertava a barra de ferro com tanta força que os nós dos dedos estavam brancos.
Ethan
Ethan
— Não faz sentido — sussurrou, a voz rouca.
Ethan
Ethan
— A saída estava ali… eu vi a maldita porta!
Noah, caminhando um passo à frente, olhou por cima do ombro com uma calma que beirava o irritante.
Noah
Noah
— É o lugar, Ethan. Ele se dobra sobre si mesmo. — Seu tom era quase… interessado. — Como se não quisesse que a gente saísse.
Ethan parou de repente, uma tontura forte subindo por sua cabeça.
O ar parecia se fechar em volta dele. Imagens começaram a vir, rápidas demais: o rosto do pai gritando, a mãe caída no chão, sangue na parede. Ele apertou os olhos e se curvou, o estômago se contraindo violentamente. Vomitou no canto, os soluços misturados ao gosto ácido na boca.
Ethan
Ethan
— Merda… — sussurrou, tremendo.
Noah parou ao lado dele, agachando-se devagar. Seus dedos frios tocaram a nuca de Ethan num gesto quase íntimo, forçando-o a levantar a cabeça. O olhar de Noah era sereno, quase hipnotizante.
Noah
Noah
— Respira. — A voz dele era baixa, firme. — Isso tudo quer quebrar você. Não deixa.
Ethan afastou a mão dele com um tapa fraco.
Ethan
Ethan
— Como você consegue ficar tão calmo? — gritou, o peito arfando. — Isso não é normal!
Noah apenas sorriu, um sorriso lento e perturbador.
Noah
Noah
— Quem disse que eu sou normal?
Antes que Ethan pudesse responder, um barulho pesado ecoou atrás deles. Passos. Arrastados, firmes. Algo grande vinha se aproximando.
Noah
Noah
— Corre — Noah disse, com uma tranquilidade absurda, e então o puxou pelo braço.
Eles correram pelo corredor estreito, desviando de portas caídas e pedaços de madeira podre.
Ethan olhou para trás por um segundo… e quase tropeçou.
Uma figura enorme vinha atrás deles. Um homem muito alto, vestido dos pés à cabeça de preto, com um capuz cobrindo o rosto. Ele não corria. Ele caminhava. Mas a cada passo, parecia encurtar a distância entre eles.
Ethan
Ethan
— Que porra é essa?! — Ethan gritou.
Noah
Noah
— Alguma coisa que não quer que a gente saia daqui — Noah respondeu, virando por um corredor lateral.
Os dois entraram em uma ala cheia de quartos antigos. As camas enferrujadas estavam cobertas por lençóis mofados.
Ethan ouviu algo cair atrás deles, um estrondo como se o homem tivesse destruído uma porta com o próprio corpo.
Ethan
Ethan
— Não vamos conseguir escapar! — Ethan se apoiou na parede, o peito subindo e descendo rápido.
Noah caminhou até ele, aproximando o rosto devagar. Mesmo com o barulho da perseguição, sua voz era um sussurro:
Noah
Noah
— Vamos. Mas você precisa confiar em mim.
Antes que Ethan pudesse protestar, Noah puxou-o de novo e apontou para uma parede rachada no fim do corredor.
Noah
Noah
— Ali.
Ethan
Ethan
— É concreto, idiota! — Ethan gritou.
Noah
Noah
— Acha que eu me importo? Arromba. Agora!
Eles começaram a golpear a parede com a barra de ferro e tudo que tinham em mãos.
Cada pancada parecia ecoar pelo prédio inteiro. O homem de preto se aproximava. Já podiam ouvir sua respiração — pesada, gutural.
Ethan olhou para trás e viu a mão enorme se estendendo em direção a eles.
Noah
Noah
— Mais forte! — Noah gritou.
Com um último golpe desesperado, a parede cedeu. Um buraco estreito se abriu.
Noah empurrou Ethan primeiro e, em seguida, passou por ele. O ar frio da noite os atingiu como uma lâmina.
Quando se viraram, o homem de preto estava parado do outro lado da parede, imóvel. Ele apenas os observava, o rosto oculto, como se estivesse esperando.
Ethan caiu de joelhos na grama molhada, tremendo. Noah ficou ao lado dele, ofegante, mas ainda com aquele sorriso estranho.
Ethan
Ethan
— Você… você viu aquilo? — Ethan perguntou, a voz fraca.
Noah olhou para o buraco na parede, depois para Ethan.
Ajoelhou-se ao seu lado e aproximou o rosto, tão perto que Ethan pôde sentir sua respiração quente.
Noah
Noah
— Vi. E vou te contar um segredo… — Noah roçou os lábios no ouvido dele. — …eu gostei.
Ethan o empurrou, o coração disparado. Mas parte dele… parte dele sentiu que Noah não estava falando só do lugar.
Gotas grossas batiam no rosto de Ethan como pequenas agulhas. Ele se levantou com dificuldade, sentindo o corpo inteiro tremer – parte pelo frio, parte pelo que acabou de viver.
Ethan
Ethan
— A gente precisa sair daqui agora — disse Ethan, a voz rouca. — Antes que… que aquela coisa apareça de novo.
Noah, ainda ajoelhado na grama molhada, ergueu os olhos para ele. Por um instante, parecia estar considerando ficar ali.
Mas então, com um aceno lento, levantou-se e passou a mão molhada pelos cabelos.
Noah
Noah
— Ok. Você lidera.
Ethan não esperou mais nada. Começou a correr pela mata, sentindo os galhos e folhas encharcadas arranharem seus braços.
Noah o seguia, passos leves, como se estivesse mais curioso do que assustado.
O som da chuva abafava tudo – o vento, os trovões, até os próprios pensamentos.
O tempo parecia distorcido, mas finalmente a vegetação começou a rarear. As luzes de um posto de gasolina brilharam ao longe como um farol. Ethan sentiu um nó na garganta.
Ethan
Ethan
— Ali! — gritou, puxando Noah pelo braço.
Eles atravessaram a estrada e invadiram o posto, ensopados, cobertos de lama e arranhões.
Dois atendentes estavam ali, um rapaz mais velho e uma mulher com expressão cansada. Ambos olharam para eles com espanto.
Atendente
Atendente
— Pelo amor de Deus, vocês tão bem? — a mulher perguntou, já pegando algumas toalhas do balcão.
Ethan
Ethan
— A gente… a gente precisa ligar pra alguém nos buscar — disse Ethan, tentando recuperar o fôlego. — Por favor.
O atendente mais velho fez que sim, apontando para um telefone atrás do balcão.
Atendente
Atendente
— Claro. Podem usar. E toma… — ele entregou uma toalha para Ethan e outra para Noah. — Vocês parecem ter passado por um inferno.
“Mal sabe ele”, pensou Ethan, enxugando o rosto rapidamente antes de discar o número.
O som do telefone chamando pareceu durar uma eternidade, até que uma voz conhecida atendeu.
Ethan
Ethan
— Luck? — Ethan respirou fundo. — Sou eu. Eu preciso que você venha me buscar agora. É sério.
Do outro lado da linha, a voz de Luck ficou tensa.
Luck
Luck
— O que aconteceu? Onde você está?
Ethan olhou em volta, tentando encontrar algum nome ou referência.
Ethan
Ethan
— Um posto de gasolina na rodovia velha, depois da curva da serra. Você vai ver o letreiro, é o único lugar aberto por aqui.
Luck
Luck
— Ethan… você tá bem?
Ele olhou para Noah, que estava sentado em uma das cadeiras do posto, a toalha largada no colo enquanto mexia calmamente na câmera.
Ethan
Ethan
— Eu… tô vivo. É o que importa. Consegue vir?
Luck
Luck
— Já estou a caminho. Aguenta firme.
Ethan fechou os olhos por um instante, sentindo um alívio que quase doía.
Ethan
Ethan
— Obrigado, Luck. — E desligou.
Quando se virou, encontrou Noah do mesmo jeito: relaxado, como se estivesse em uma cafeteria e não num posto de gasolina no meio da madrugada, depois de quase morrer.
Ele olhava para as fotos que tinha tirado dentro do sanatório, e um grande sorriso crescia em seu rosto.
Ethan se aproximou devagar, a toalha apertada entre as mãos.
Ethan
Ethan
— Você tá sorrindo? — perguntou, quase sem acreditar.
Noah levantou os olhos, os cantos da boca ainda erguidos de forma perturbadora.
Noah
Noah
— Olha isso, Ethan… — Ele virou a tela da câmera. As imagens estavam distorcidas, cheias de vultos que não haviam visto no momento. Rostos embaçados, sombras grotescas próximas demais. — É lindo.
Ethan sentiu um arrepio subir pela espinha.
Ethan
Ethan
— Lindo? Você tá brincando comigo, né?
Noah riu baixo, fechando a câmera e encarando Ethan com aquele olhar intenso que sempre parecia atravessá-lo.
Noah
Noah
— Talvez eu só veja beleza em coisas que te assustam.
Ethan desviou o olhar, sentindo a respiração pesar. Do lado de fora, a chuva parecia cair ainda mais forte.
Continua...
Mais populares

Comments

Luana Silva

Luana Silva

esse menino não bate muito bem da cabeça não

2025-08-01

2

(ㆁᴗㆁ✿) ρυɱႦα

(ㆁᴗㆁ✿) ρυɱႦα

ninguém, mas a gente já percebeu isso a muuuuito tempo

2025-08-01

4

🦽Sheila meusako♿️

🦽Sheila meusako♿️

tô ficando com medo doc

2025-08-01

2

Ver todos

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!