Heranças que Ferem
O silêncio no escritório era insuportável.
Marco fechou a porta, deixando Dante e Elena sozinhos.
Ela estava pálida. As mãos trêmulas. O coração batia alto demais.
— Fala. — A voz dela saiu mais firme do que ela esperava. — O que você sabe sobre o meu pai?
Dante recostou-se na escrivaninha. Não tentou se aproximar.
Seu rosto carregava um peso diferente agora.
— O nome dele era Carlos Costa, certo? Trabalhava como mecânico. Mas ele também fazia pequenos serviços… fora da lei. Lavagem de dinheiro, transporte para gente que queria ficar invisível.
Elena balançou a cabeça em negação.
— Não… meu pai era honesto. Ele… ele só queria sustentar a gente!
— Eu acredito nisso. Mas ele se envolveu com pessoas erradas. Fez um trabalho para uma célula ligada a uma facção rival da minha. E foi pego no fogo cruzado de uma dívida antiga.
Ela sentiu o chão sumir.
— Você está me dizendo que ele… morreu por culpa de vocês?
Dante olhou nos olhos dela.
— Ele morreu por culpa de um mundo que eu ajudei a construir.
Elena deu dois passos para trás. Estava prestes a desmoronar.
— Você sabia disso desde o começo?
— Não. Descobri hoje, com você aqui. Se eu soubesse antes, talvez… — ele parou. Respirou fundo. — Talvez eu tivesse feito tudo diferente. Ou talvez não.
Ela o olhou com raiva, dor, confusão.
— Eu te odeio.
— Pode odiar. Eu mereço.
Ela se virou para sair, mas ele segurou seu braço. Não com força, mas com necessidade.
— Elena, me escuta. O seu pai não era um santo. Mas ele tentou proteger você. Fez o que achou que era certo. E eu… eu jurei nunca mais machucar inocentes.
— Tarde demais pra isso.
Ela se soltou, mas não saiu. Ficou ali, de costas, respirando rápido. Em guerra com tudo dentro de si.
— Por que não me matou, Dante? — a voz dela veio baixa, ferida.
— Porque no segundo em que vi seus olhos naquela noite,
eu soube que você ia mudar tudo.
E eu deixei.
Ele se aproximou devagar, colocando a mão sobre o ombro dela. Elena não se afastou.
— Você tem todo o direito de me odiar. Mas se quiser respostas… eu vou te dar. Todas. Eu não vou esconder nada mais de você.
Ela se virou, lentamente. Seus olhos estavam marejados.
— E se eu não aguentar o que descobrir?
— Então eu carrego esse peso por nós dois.
Houve um longo silêncio entre eles. Ela não o abraçou. Ele não a beijou. Mas algo aconteceu. Algo mais forte do que desejo.
Confiança quebrada. Mas não destruída.
Dor compartilhada. E isso os uniu.
Naquela noite, Elena não dormiu. Ficou sentada na janela do quarto, olhando o céu escuro sobre Nova York, sentindo o mundo desmoronar. Mas, no meio da angústia, uma certeza crescia:
Ela não era mais apenas uma garota perdida em um mundo de máfia.
Agora, ela era parte dele.
E, talvez… parte dele também.
Já passava da meia-noite. A casa estava silenciosa, mas o coração de Elena batia alto demais para deixá-la dormir.
Sentada no parapeito da janela do quarto, com os joelhos abraçados e o cabelo solto, ela olhava para o jardim escuro lá embaixo. As luzes da cidade piscavam ao longe, frias e distantes. Tão diferentes da pequena vida que ela tinha no Brooklyn.
Agora ela estava ali. No centro de um mundo que parecia de cinema — e que, na verdade, era feito de sangue, mentiras e promessas quebradas.
Ela ouviu passos.
Virou o rosto e viu Dante parado na porta, sem paletó, camisa semiaberta, olhos cansados. Mas, mais do que isso… vulneráveis.
Era a primeira vez que ele parecia um homem comum, e não um império vestido de carne.
— Não consegui dormir — ele disse, parando na entrada. — E pensei que você também não.
Ela não respondeu. Mas não disse para ele ir embora.
Dante entrou, fechou a porta atrás de si. Sentou-se na poltrona perto da janela. O silêncio entre eles era cheio. Denso. Quase terno.
— Quando perdi meu irmão — ele começou, a voz baixa — prometi que nunca mais me apegaria a ninguém. O apego, no meu mundo, é fraqueza.
Mas aí você apareceu. E, pela primeira vez em anos, eu... senti medo de novo. Medo real. De perder. De falhar. De te ferir como feri tantos outros.
Elena o olhava, em silêncio. Havia dor no olhar dela… mas também havia escuta. Ele percebeu isso e continuou.
— Eu construí isso tudo com as mãos sujas. Com escolhas erradas. Mas mesmo no fundo disso tudo, há algo em mim que ainda quer... redenção. E você trouxe isso. Você me obriga a me olhar no espelho.
Ela desceu da janela devagar, se aproximando.
— E se eu quiser ir embora, Dante? Você me deixaria?
Ele fechou os olhos por um instante.
— Eu deixaria. Se isso te fizesse feliz.
Mas eu passaria o resto da vida querendo que você voltasse.
O peito dela apertou.
Ela parou diante dele, com os olhos fixos nos dele.
— Eu não sei se posso te perdoar. Ou se consigo viver com tudo isso.
— Eu não te peço isso agora. Só… não me odeie por tentar ser diferente com você.
Elena estendeu a mão. Tocou o rosto dele com leveza. Dante a segurou, como se aquele gesto fosse a única coisa que ainda o mantinha inteiro.
— Não sei o que está acontecendo entre nós — ela sussurrou. — Mas estou com medo de descobrir.
— Então a gente descobre junto.
E naquele momento, não houve beijo. Nem promessas.
Só o toque de duas pessoas quebradas… tentando segurar uma à outra no meio da queda.
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Atualizado até capítulo 28
Comments
Pluto
Romântico que aquece! 💕
2025-07-27
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