capítulo 3

A Linha que Não Devia Cruzar

O bilhete não saiu da cabeça de Elena.

“Você não está tão segura quanto pensa.”

Aquilo era um aviso? Uma ameaça? Uma dica?

Na manhã seguinte, ela caminhava pela estufa quando viu os portões da mansão abertos por poucos segundos, enquanto um dos carros saía. Um dos seguranças — jovem, distraído — ficou alguns segundos olhando o celular.

Era sua chance.

Sem pensar muito, correu por trás do jardim, o coração disparando. Quando chegou perto da saída lateral, conseguiu se esgueirar por um portão de manutenção destrancado. Correu pela rua como se sua vida dependesse disso — porque, no fundo, ela sabia que dependia.

Mas não chegou nem a duas quadras.

Um carro preto surgiu como um vulto, e dois homens desceram rapidamente.

— Senhorita Costa. Volte agora, antes que piore pra você.

Ela tentou resistir. Gritou. Mas ninguém respondeu.

Quando voltou, o rosto de Dante estava mais escuro do que a noite.

— Eu dei liberdade dentro da casa, Elena — ele disse, com a voz baixa. — Mas você ultrapassou o limite.

Ela estava ofegante, com os olhos marejados, mas firme.

— Eu não sou sua prisioneira. Eu tenho uma vida! Não pedi nada disso!

Ele se aproximou devagar.

— E você acha que eu pedi a vida que tenho?

— Ao menos você escolheu esse caminho!

Dante a encarou por longos segundos. Então, algo que ela não esperava aconteceu: ele suspirou. Não de raiva… mas de cansaço.

— Vá para o quarto. Depois conversaremos.

---

Horas depois, já noite, Elena ainda estava trêmula. Não sabia se seria punida, ignorada ou simplesmente eliminada. Estava deitada na cama quando ouviu batidas leves na porta.

Era Dante.

Sem terno. Apenas com a camisa branca, os primeiros botões abertos. O cabelo um pouco bagunçado. Pela primeira vez, parecia… humano.

— Posso entrar?

Ela assentiu, hesitante.

— Desculpa — ele disse, com sinceridade inesperada. — Eu devia ter sido mais claro desde o início. Você não está aqui por capricho. Está aqui porque, lá fora, você seria morta. E eu não vou deixar que isso aconteça.

Ela olhou para ele, desconfiada.

— Por quê? Por que se importa comigo?

Ele se aproximou devagar, parando ao lado da cama.

— Porque você é… diferente. Você me lembra do que eu era antes de me perder nesse mundo.

O silêncio entre eles era quase um toque.

— Isso é errado — Elena sussurrou. — Nós dois. Isso tudo.

— Eu sei.

— Então por que continua?

Dante se inclinou um pouco mais, e por um segundo, ela achou que ele fosse beijá-la. Mas ele apenas roçou a ponta dos dedos no rosto dela, como se estivesse memorizando seu traço.

— Porque quando estou com você… eu esqueço quem sou.

E então, ele saiu.

---

No dia seguinte, Elena descia as escadas quando viu Dante conversando com uma mulher alta, belíssima, loira, com um vestido colado ao corpo e sorriso confiante. Ela falava em italiano, tocava o braço de Dante como se já fossem íntimos.

Elena sentiu algo que nunca tinha sentido antes. Um incômodo estranho. Um calor no peito.

Ciúmes.

Não fazia sentido. Ela nem queria estar ali. Nem sabia o que sentia por aquele homem. Mas vê-lo sorrindo para outra, tão à vontade… doeu.

Mais do que deveria.

A mulher virou o rosto, lançando um olhar direto para Elena. Avaliador. Como se dissesse: você não pertence a esse lugar.

E, pela primeira vez, Elena se perguntou se talvez…

já fosse tarde demais para fugir desse mundo.

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Poplar Taneshima

Poplar Taneshima

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2025-07-26

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