Capítulo 2

A Gaiola de Ouro

Na manhã seguinte, Elena acordou com o som suave de passos no corredor. A luz do sol entrava pelas enormes janelas com cortinas de veludo, revelando um quarto que parecia saído de um filme — móveis antigos, uma lareira de mármore, lençóis brancos e pesados. Tudo era bonito… e sufocante.

Ela não sabia se era prisioneira ou hóspede.

Talvez um pouco dos dois.

Tentou abrir a porta. Estava destrancada.

Do lado de fora, um corredor comprido e silencioso se estendia, com obras de arte penduradas nas paredes, vasos imensos com flores frescas e um perfume suave de jasmim no ar. A casa era elegante, mas fria. Sem sinais de vida. Sem risos. Como se ninguém ali realmente vivesse — apenas sobrevivesse.

— A senhorita Elena? — uma voz feminina chamou, gentil.

Uma mulher de meia-idade, vestida como empregada, apareceu no final do corredor. — O senhor Moretti pediu que a senhora tomasse o café da manhã. Está esperando na sala de jantar.

Elena hesitou, mas seguiu. O coração apertado.

A sala de jantar era imensa. Uma mesa longa, digna de palácio. Dante estava sentado na ponta, lendo o jornal. Sem olhar para ela, fez um gesto para que sentasse à sua frente.

Ela obedeceu, em silêncio. O estômago revirava.

— Dormiu bem? — ele perguntou, sem levantar os olhos.

— Não. — respondeu firme, antes que a coragem fugisse. — Estou sendo mantida aqui contra a minha vontade.

Ele finalmente a olhou. Os olhos escuros analisaram cada detalhe do rosto dela.

— Está viva. Isso já é um privilégio.

— Não pedi pra ser salva.

— Não? — Dante recostou-se na cadeira. — Poderia ter morrido naquela rua. Ou pior. Eu a tirei de lá. E, agora, você faz parte de algo maior do que imagina.

Ela estreitou os olhos.

— Eu não quero fazer parte disso. Eu tenho minha vida, meus sonhos... Eu não pertenço ao seu mundo.

Dante sorriu, sem humor.

— Ninguém pertence ao meu mundo, Elena. Nem mesmo eu.

O silêncio caiu entre eles.

Enquanto ela comia lentamente, observava-o de soslaio. Ele era bonito, sim — mas havia algo quebrado ali. Um tipo de solidão cruel, escondida sob a aparência de controle. E mesmo que tudo gritasse perigo, algo dentro dela… queria entender. Queria ver quem era o homem por trás do mafioso.

— Você está me observando — ele disse de repente, sem tirar os olhos do jornal.

Elena corou, desviando o olhar.

— Eu estou tentando entender o que você ganha mantendo alguém como eu aqui. Eu não sou útil. Nem uma ameaça. Só… uma garota comum.

Dante largou o jornal.

— É exatamente por isso que você é perigosa, Elena.

Você é o que esse mundo não conhece. Inocência. Esperança. Liberdade.

Ela não soube o que responder.

Naquela manhã, Elena percebeu duas coisas:

Primeiro, que não poderia fugir tão facilmente.

E segundo… que aquele homem, por mais sombrio que fosse, também estava preso.

Preso em um mundo de sangue, silêncio…

E agora, preso nela.

O resto do café da manhã foi silencioso. Dante falava pouco, mas seus olhos diziam muito — sempre observando, analisando. Elena se sentia pequena diante dele, mas não por fraqueza. Era como estar diante de algo que não se conseguia decifrar… um enigma perigoso e sedutor.

Quando ela terminou de comer, ele se levantou.

— A partir de hoje, você terá liberdade dentro da casa. Pode andar, ler, usar o que quiser. Mas não ultrapasse os portões. Nem tente sair.

— E se eu tentar? — ela desafiou, mesmo com medo da resposta.

Ele parou na porta, de costas.

— Vai se arrepender.

E sumiu no corredor.

Mais tarde, Elena explorava a mansão, tentando entender o espaço que agora era sua prisão. Descobriu uma biblioteca imensa, com lareira acesa, prateleiras que iam até o teto e cheiro de papel antigo. Havia uma estufa com rosas vermelhas e brancas perfeitamente cuidadas. Um piano antigo em uma sala silenciosa. Tudo indicava riqueza... e solidão.

No final da tarde, enquanto caminhava pelo jardim, avistou dois homens armados conversando discretamente perto do portão. Um deles a viu e rapidamente colocou a mão na cintura, onde a arma estava escondida.

Ela congelou.

Era real. Tudo aquilo era real. Ela estava vivendo dentro do coração de algo que até então só tinha visto em filmes.

Mais tarde, enquanto lia na biblioteca, ouviu vozes baixas vindo do andar de cima. Curiosa, se aproximou discretamente da escada e ouviu o final de uma conversa entre Dante e um homem desconhecido:

— A garota não pode ficar aqui por muito tempo, Don. É um risco.

— Ela fica — respondeu Dante, com a voz firme. — E quem levantar um dedo contra ela… morre.

O silêncio que se seguiu foi mais forte do que um grito.

Elena recuou, assustada.

Por que ele a estava protegendo daquele jeito?

Mais tarde, naquele mesmo dia, ela encontrou um bilhete dobrado em cima de sua cama. A caligrafia era firme, limpa:

Você não está tão segura quanto pensa. Cuidado com quem confia.

Ela olhou em volta, o coração acelerado.

A mansão, antes tão silenciosa, agora parecia respirar pelas paredes.

Como se ela estivesse sendo observada o tempo inteiro.

Mas, naquela noite, enquanto tentava dormir, a última imagem que veio à mente foi o olhar de Dante — frio, mas carregado de algo mais.

Ele era perigoso. Mas por algum motivo, ela não conseguia odiá-lo.

E isso… a assustava ainda mais.

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Comments

Fátima Silveira

Fátima Silveira

Estou gostando da história ela é não sei como dizer silenciosa diferente 🤔🤔🤔🤔

2025-07-30

0

Katherine Caman

Katherine Caman

Essa autora nunca decepciona! 👏

2025-07-26

0

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