Em um hospital público, não muito distante, Jonas estava cercado por um grupo de médicos. Eles discutiam qual seria o melhor tratamento para um paciente com um grave caso de trombose pulmonar. Jonas tem 34 anos e ama sua profissão. Para ele, o mais importante é salvar vidas. É um jovem médico muito bonito, com traços marcantes: seus cabelos castanhos dourados contrastavam com o verde intenso dos olhos — uma herança de seu pai, um renomado médico que ele jamais conheceu. Sua mãe dizia que o pai a abandonou para se casar com outra mulher. Magoadíssima, pois o amava profundamente, ela voltou para a Itália grávida, sem olhar para trás. Lá, Jonas nasceu, cresceu, estudou e se formou. Tempos depois, voltou ao Brasil com a mãe. Izabel, sua mãe, tinha uma boa condição financeira graças à herança dos pais: uma rede de hotéis. Mas nem todo o dinheiro que possuía era capaz de trazer paz ao seu coração. A dor de ter perdido o grande amor de sua vida a transformou: ela passou a viver apenas para o trabalho e para o filho — que a decepcionou ao decidir seguir a mesma profissão do pai, mesmo sem saber de sua origem, em vez de assumir os negócios da família. Em um longo corredor claro, com algumas marcas nas paredes, Jonas caminhava com passos firmes, segurando uma pilha de fichas de pacientes que aguardavam atendimento. Ao final do corredor, algumas enfermeiras o observavam, sem conseguir esconder a admiração por sua beleza e dedicação. — Senhorita Sibele, pode chamar o próximo — disse ele, encarando a enfermeira, que suspirou profundamente, tentando se concentrar no trabalho. — Senhorita Sibele, vamos. Rápido. Temos muitos pacientes esperando — reforçou ele, com a voz firme, sem entender a distração da moça. — Sim, doutor, já estou indo. Me desculpe. — Doutor Jonas, o senhor é um problema... — disse uma voz bem-humorada atrás dele. Era Eva, a chefe das enfermeiras. Uma mulher de 44 anos, de lindos cabelos ruivos, aproximava-se com um tom de preocupação leve. — Não entendi, Eva. Por que sou um problema? — Ah, doutor Jonas, não se faça de desentendido. Você sabe que, com essa sua beleza, as enfermeiras não conseguem trabalhar direito. Precisa arrumar uma namorada logo, para que elas desviem os olhos de você. Vivo tendo que chamar a atenção delas... Ele sorriu de canto, um pouco sem graça. — Eu não tenho nada a ver com isso. — Sei, doutor... sei que o senhor é discreto, mas as meninas não têm limites. — Vamos trabalhar, Eva. Os dois saíram rindo juntos.
Naquele dia, Jonas se dedicou intensamente a seus pacientes. Ao anoitecer, ao chegar em casa, encontrou a mãe rodeada de papéis, com uma expressão preocupada. — Oi, mamãe. O que está te tirando a paz? — Meu filho, estou com um problema sério em um dos hotéis de Verona. Não poderei ir até lá esta semana, porque tenho um congresso com todos os hoteleiros da região. Isso está tirando meu sono. E você, como foi seu dia no hospital? — Como sempre. Corrido, cansativo. — Eu não entendo você, Jonas. Poderia escolher hospitais de renome para trabalhar, ou montar seu próprio consultório, mas insiste em se matar nesse hospital público, em pronto atendimento ainda... — Mamãe, muito me admira você com esse pensamento. Sempre foi tão justa. Você sabe: eu quero passar por esse processo. Preciso disso para minha carreira, para minha evolução como homem e como médico. Preciso enfrentar dificuldades — e não há nada mais justo do que começar com os que mais precisam. — Mas, filho, você anda exausto, sem tempo. Nem uma namorada tem! Tudo seria mais fácil se estivesse aqui comigo, trabalhando nos hotéis. — Já conversamos sobre isso, dona Izabel.
— Eu sei... Seu sonho de ser o melhor médico, o melhor cirurgião... — Herança... — sussurrou a mãe, com um resquício de decepção na voz. — Oi, mãe? Ele perguntou, sem saber se havia ouvido direito, mas ela rapidamente mudou de assunto. — Desculpe, filho. Estou sobrecarregada com tudo isso. — Mamãe, a partir dessa semana vou tirar dez dias de férias. Pretendo descansar. Os olhos de Izabel brilharam com o comentário do filho. — E o que vai fazer, filho? — Dormir até o meio-dia todos os dias. — Filho, por favor... vá viajar, reveja seus velhos amigos, arrume uma namorada, vá curtir! — Mamãe... — Nada de "mamãe"! A Itália te espera! — Engraçadinha... Você está querendo me usar para seus interesses. — Filho, eu não posso ir para a Itália essa semana. Tem o congresso. Jonas caminhou até o fim da ampla e bem-iluminada sala. A decoração era simples, mas elegante. Ele se perdeu em seus pensamentos, se imaginando em uma viagem. Mas, no fundo, tudo que queria era dormir até tarde. — Está bom, mamãe... você venceu. Irei à Itália.
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Atualizado até capítulo 52
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