Enquanto isso, no hospital, o doutor Humberto luta pela vida. A cela era pequena, abafada, com cheiro de mofo e desespero. Ana tremia. Não sabia se era pelo frio, pelo medo ou pela sensação esmagadora de impotência que a consumia por dentro. — Eu só queria ajudar meu pai... — sussurrava para si mesma, encostada na parede fria, os olhos perdidos em um ponto qualquer, como se tentasse escapar dali com a força do pensamento. Horas se passaram. Talvez um dia inteiro. Ela não sabia. O tempo tinha deixado de fazer sentido. Até que uma chave girou na fechadura. — Levanta, moça — disse um policial de rosto sério, sem emoção. — O que aconteceu? Eu posso ir embora? Por favor, me diz o que tá acontecendo! — implorou Ana, a voz rouca de tanto chorar. — Você vai falar com o delegado de novo. Anda. Ela foi levada por corredores estreitos e escuros até uma sala iluminada apenas por uma luz fraca no teto. Lá dentro, um homem de meia-idade, com o terno amarrotado e um olhar cansado, a esperava. — Ana Damaceno — ele começou abrindo uma pasta. — Você está sendo acusada de tentativa de homicídio contra o doutor Humberto Alvarez, o diretor do Hospital São Rafael. — Eu não tentei matar ninguém! — ela interrompe, com a voz trêmula. — Eu vi aquele rapaz... ele colocou algo no suco... eu só queria impedir! — Que rapaz? — ele pergunta, olhando fixamente para ela. — O nome dele... eu não sei. Eu só vi... ele entrou na sala antes de mim! O delegado folheia os papéis, mas seu olhar revela desconfiança. — Ninguém viu esse homem entrar. E, por acaso, as câmeras deste corredor específico estão em manutenção. Você é a única suspeita. Ana sente o chão sumir sob seus pés. Tenta argumentar, mas a garganta se fecha. A imagem do doutor Humberto cambaleando, os seguranças entrando, os policiais a algemando... tudo gira em sua mente como uma tempestade. — Você tem alguém que possa confirmar sua história? — o delegado insiste.
Ana abaixa os olhos. Não tinha. Estava sozinha. Mas... a recepcionista o viu entrar. A recepcionista, no entanto, não se lembra de nada. — Então, até que o doutor Humberto acorde e possa depor, você ficará de da. Enquanto Ana era levada de volta à cela, no hospital, um monitor cardíaco apitava em ritmo irregular. Humberto permanecia inconsciente, entubado. Médicos e enfermeiras corriam contra o tempo. O que quer que estivesse no suco era forte. Os dias que se seguiram pareciam um pesadelo para a jovem Ana. A angústia esmagava seu coração, e suas esperanças escapavam por entre os dedos. Ela só conseguia pensar no pai — como estaria sua saúde? — e no desespero da mãe, sem noticias suas. Três dias se passaram, e Ana sentia-se como um lixo esquecido num canto daquele lugar frio e escuro. Batendo nas grades em desespero, ela implorava para sair dali. Seu coração se silenciou de repente ao ouvir passos firmes ecoando no corredor. Um policial, com expressão impassível, surgiu e disse com frieza: — Cala a boca. Não aguento mais te ouvir gritar. — Então me tira daqui. Eu preciso voltar para Linhares. Ele deu um leve sorriso de canto e respondeu com desdém: — Moça, você ainda não entendeu que não vai sair desse lugar tão cedo? — Por que está dizendo isso? O homem à sua frente simplesmente se virou e saiu, sem dar qualquer resposta, deixando-a submersa num turbilhão de emoções. Mas, naquele mesmo dia, ao cair da tarde, Ana o viu retornar. Havia em seu rosto um semblante indecifrável. — Ana, você teve sorte. O doutor Humberto acordou e quer ver você. Ela arregala os olhos. Seus batimentos se aceleram. Está cheia de dúvidas — não sabe se sente medo ou alívio. Ao chegar ao hospital, o policial a acompanha até o quarto. Mas, antes que possa entrar, encontra a recepcionista, que a encara com desprezo e diz em alto e bom som: — Assassina... Ana não responde. Apenas entra no quarto. Lá está ele, sentado na cama, com o semblante preocupado. — Ana, aproxime-se. Preciso falar com você. Policial, pode nos deixar a sós? — Doutor... não sei se isso é uma boa ideia. — Não se preocupe, eu ficarei bem. Aguarde na porta. Qualquer coisa, eu grito. O policial hesita, mas logo sai e fecha a porta. — Ana, me diga... o que você viu naquele dia? Ela reluta por um momento antes de responder:
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Atualizado até capítulo 53
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