Depois de agradecer, Ana seguiu até o ponto de ônibus e, de lá, para o hospital. Ao chegar, conferiu mais uma vez o endereço, sem acreditar. Nunca tinha visto algo tão luxuoso. A recepção era chique, com cinco recepcionistas atendendo simultaneamente. Uma delas, ao notar Ana, a olhou dos pés à cabeça com desdém e disse:
— Pois não... Aqui dentro não é permitido pedir esmola.
Ana quis argumentar, mas o foco naquele momento era seu pai. Então, foi direto ao assunto:
— Eu sou Ana Damaceno. Vim falar com o diretor, o doutor Humberto. O doutor Oscar me enviou.
— Você tem hora marcada? — questionou a recepcionista.
— Como assim? — Ana perguntou, sem entender.
— Moça, o doutor Humberto é um homem muito ocupado. Não tem tempo para falar com qualquer pessoa. Por favor, se retire. — Moça, o doutor Oscar me enviou. Por favor, diga a ele que estou esperando.
A recepcionista, com uma expressão nada amigável, percebeu que não se livraria de Ana tão facilmente. Com relutância, discou para o doutor Humberto. Minutos depois, olhou para Ana e disse, em tom de desprezo: — Ele está em uma reunião. Pediu para você esperar. Durante longas horas, Ana permaneceu na recepção do hospital. Seu estômago se contorcia de tanta angústia e fome. Ela dava passos longos e impacientes até parar em frente à recepção. Antes que pudesse dizer algo, um jovem rapaz — muito bonito, branco, de olhos extremamente verdes e cabelos loiros — se aproximou da recepcionista com ar de arrogância e indiferença. — O doutor Humberto está na sala dele? — Sim, senhor... Ana, rapidamente, seguiu o rapaz sem que ele percebesse. Sorrateiramente, andou por um enorme corredor. Nunca havia visto um hospital tão bonito — com salas e sofás espalhados entre os quartos. O ambiente era decorado em tons de verde-claro nas paredes e com telas que ela jamais imaginou encontrar em um lugar que, naquele momento, representava tanta incerteza e insegurança. Parou por alguns minutos em frente à porta onde o rapaz havia entrado, sem imaginar que aquele momento mudaria sua vida para sempre.
Observando pela fresta entreaberta, viu o jovem rapaz conversando com um senhor de costas, que observava a cidade viva e movimentada através de uma enorme vidraça. Disfarçadamente, o rapaz colocou algumas gotas em um copo de suco, discutiu algo sobre ações e herança, e saiu apressado, com o semblante irritado. Assim que ele saiu, Ana não esperou a porta se fechar e entrou de uma vez: — Doutor Humberto, eu sou Ana Damaceno. Vim por recomendação do doutor Oscar. Estou esperando há muitas horas. Preciso da sua ajuda. Meu pai está morrendo. — Ana, me desculpe. Hoje estou muito ocupado, mas diga... O que posso fazer por você? Ana inevitavelmente percebeu o semblante de cansaço do senhor, que a observava sem conseguir se concentrar — como se a visita do jovem rapaz ainda o tivesse abalando. — Meu pai precisa de um tratamento que só existe no seu hospital, mas é muito caro. Eu não tenho dinheiro... então vim oferecer meus serviços. Pelo amor de Deus, doutor, eu faço o que o senhor quiser. Só não deixe meu pai morrer! — Ana... é isso. O doutor Oscar já havia me falado do seu caso. Mas acredito que ele também deve ter mencionado o valor do tratamento. Eu só não sei... em que tipo de trabalho você poderia se envolver para cobrir essa despesa. — Doutor, eu faço qualquer coisa! Lavo, limpo este hospital, deixo tudo um brinco, pelo resto da minha vida, se for preciso. Posso cuidar da sua casa também! — Senhorita, por favor. Eu tenho muito trabalho, e o quadro de funcionários do hospital — e da minha casa — está completo. Saia. A jovem Ana sente as lágrimas quentes escorrerem por suas bochechas. Ao perceber que o homem era irredutivel, ela observa, impotente, enquanto ele pega o copo de suco e o ergue em direção à boca. — Doutor Humberto, não tome esse suco... Ela diz em um impulso, lembrando-se da cena que presenciara anteriormente. — Por quê? Não te entendo. Essa é minha dose diária de vitamina C — ele suspira. — Está deficiente no meu organismo. — Por favor... Em um ato instintivo, Ana tenta segurar o braço do médico, que a empurra com grosseria, chamando-a de louca. — Por favor! — ela grita, desesperada. Mas ele entorna o líquido sem dar atenção à súplica. Ana o observa pegar o telefone e começar a discar para a segurança. Antes que ele conclua a ligação, começa a passar mal. Em segundos, a sala se enche de seguranças. Ana grita, em pânico, enquanto o doutor Humberto é socorrido. O frio daquela sala se transforma em algo sombrio, mergulhando o cinza da vida de Ana em uma escuridão total, quando dois policiais entram, a algemam e a levam para a delegacia.
— Pelo amor de Deus, senhor delegado! Eu não sei de nada! Me tira daqui. Eu preciso voltar para o meu pai! — Ana grita, agarrada às grades da pequena cela.
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Atualizado até capítulo 53
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