PASSADO..

CAPÍTULO 4.

O broche ainda estava em sua mão.

Mesmo depois que Isadora deixara o quarto, mesmo depois que o silêncio retornara…

Adrien permaneceu ali, imóvel, com os dedos fechados sobre aquela pequena peça de metal e memória.

O castelo estava quieto. Mas dentro dele, o passado rugia.

Ele olhou ao redor do quarto antigo.

Nada havia mudado desde que ela partira.

Os lençóis, a penteadeira, o espelho coberto.

Tudo permanecia exatamente onde Ela havia deixado.

Ela.

O nome que ele não pronunciava há anos.

O nome que agora queimava atrás dos olhos desde que Isadora apareceu.

Ele se aproximou da lareira apagada.

Ficou ali por longos minutos, lembrando do cheiro de jasmim, do som dos passos leves… e da primeira vez que sentiu medo.

Porque com Ela, ele não amava.

Ele precisava.

E isso o destruiu.

Ela era frágil, bonita e obediente.

A esposa perfeita para as exigências da família Allencourt.

Mas a perfeição, ele aprendeu, tem um preço.

Ela não falava de dor.

Não chorava em voz alta.

Mas seus olhos, sim — e ele fingia não ver.

No fim, o castelo a engoliu em silêncio.

Dizem que ela adoeceu.

Que se trancou.

Que definhou sozinha até seu último suspiro.

Mas Adrien sabia a verdade.

Ele não a matou.

Mas a deixou morrer.

Agora, parado ali, ele sentia o eco de tudo isso…

E via Isadora Vellmont ocupando o mesmo espaço, respirando o mesmo ar.

Mas ela era diferente.

Isadora o enfrentava.

O olhava nos olhos.

Fazia perguntas que ele não queria responder.

E o pior: ela o fazia sentir de novo.

Adrien olhou para o broche. Apertou-o na mão até sentir a pele cortar.

— Você não é ela, — murmurou para si mesmo. — Você vai resistir.

Mas mesmo enquanto prometia isso, uma dúvida sussurrava no fundo de sua mente:

**

Na noite seguinte, ela o encontrou no salão de música.

Adrien estava sozinho. Sem luvas. Sem armadura.

— Não consigo dormir, — disse, ao vê-la entrar.

— É a culpa? Ou o medo de se ver por dentro?

Ele não respondeu.

— Você me odeia por ter te trazido? — perguntou ele, baixando os olhos.

— Ainda não sei o que sinto. Mas sei que não pertenço a você.

Mesmo assim, ele se aproximou.

E a tocou de novo. O rosto. A pele fria.

— Então fique, mesmo sem pertencer.

Mas naquele instante, Damon apareceu, sorrindo como um veneno antigo.

— Cuidado, irmão. Você toca o que não sabe segurar.

Adrien o ignorou.

— Vá embora.

— Com prazer. Mas não diga que não avisei. A última que você tocou assim… morreu entre estas paredes.

O silêncio caiu.

Isadora se afastou.

E quando ficou sozinha no quarto naquela noite, sentiu o peso do olhar dos dois.

Um queria possuí-la.

O outro queria quebrá-la.

Mas nenhum deles a amava.

Os dias foi passando e Isadora evitava a todo custo os irmãos.

**

Dois dias depois, ela foi chamada ao saguão principal.

Adrien estava lá. Alto. Imponente. Frio novamente.

— O casamento será anunciado amanhã.

Ela franziu o cenho.

— Pensei que não havia pressa.

— Não há.

Ele a olhou por longos segundos.

— Mas quero você agora. Com meu nome. Com meu anel.

Isadora sentiu a garganta fechar.

— É por vingança? Por posse? Ou porque quer enterrar outra mulher com meu corpo?

Ele se aproximou. Mas não a tocou.

— É porque, entre tudo que me foi imposto, você foi a única coisa que escolhi.

Ela não respondeu.

Nem disse "sim".

Nem disse "não".

Mas na manhã seguinte, as criadas preparavam o vestido.

E a igreja já estava sendo enfeitada.

E naquele castelo amaldiçoado…

o casamento não era o começo de um amor.

Era o começo de um julgamento.

"E se o castelo quiser levá-la também?"

O vestido branco repousava sobre a cama como um véu de silêncio.

Não era bonito.

Era pesado.

Como tudo naquele castelo.

As criadas entraram, ajustaram tecidos, prenderam fitas — mas Isadora não sentia nada.

Ela estava ali.

Mas não estava.

Até que uma voz suave rompeu o vazio:

—Iza..

Isadora se virou devagar.

Eloise estava na porta.

Vestia azul. O cabelo loiro solto nos ombros.

Trazia no rosto um sorriso forçado… e nos olhos, lágrimas presas.

Isadora quase desmoronou.

— Você veio.

— Acharam que eu não viria? Eu te daria minha vida, Isadora.

As criadas saíram.

As duas ficaram sozinhas.

Eloise caminhou até ela e passou os dedos pelos detalhes do vestido.

— Não é justo, — sussurrou. — Você devia estar casando por amor. Não por obrigação.

Isadora tentou sorrir, mas não conseguiu.

— Se eu dissesse não… alguém sofreria no meu lugar. Talvez você. Talvez todos os Vellmont.

— E você acha que isso é certo?

— Não. Mas já não importa o que eu acho. Só o que esperam de mim.

Eloise segurou suas mãos.

O toque era quente, de irmã, de lar.

— Ele te machucou?

— Ainda não. Mas não confio nem quando ele é gentil.

— E o outro? — perguntou Eloise. — Damon.

Isadora abaixou os olhos.

— Damon é um espelho torto. Me olha como se já soubesse o fim da minha história. E parece querer apressá-lo.

— Então fuja agora, Iza. Ainda dá tempo.

Isadora se aproximou do espelho, olhando para seu próprio reflexo.

Não viu uma noiva.

Não viu uma dama.

Viu uma prisioneira vestida de branco.

— Fugir seria me condenar de outro jeito. Eu não tenho mais escolha, Eloise.

— Você tem a mim.

Isadora a abraçou forte.

— Promete que não vai esquecer de mim? Mesmo que eu mude? Mesmo que eu não consiga voltar?

Eloise fechou os olhos com força.

— Eu nunca te esqueceria. Nem que o mundo inteiro tentasse me obrigar.

O tempo ali dentro pareceu parar.

Só existiam elas duas.

Antes que a porta se abrisse novamente…

Antes que o sino da igreja começasse a soar ao longe.

Estava chegando a hora.

E Isadora sentiu, pela primeira vez, que aquele vestido não era só um símbolo de união…

era um aviso...

A carruagem deslizava devagar pelas pedras úmidas que levavam à antiga capela da propriedade Allencourt.

Lá fora, o céu estava cinzento.

A névoa parecia se erguer do chão, como mãos puxando de volta quem ousasse avançar.

Isadora, dentro da carruagem, apertava os dedos sobre o colo. O vestido branco parecia mais um laço de corda do que seda. O corset sufocava — ou talvez fosse o próprio medo.

Ao lado dela, nenhuma dama de companhia.

Adrien preferiu que ela fosse sozinha.

Disse que queria vê-la apenas no altar.

Como se ela fosse um segredo prestes a ser revelado.

Ela inspirou fundo, tentando manter o controle. Mas quando a carruagem parou subitamente, o coração quase parou junto.

— Por que paramos? — ela perguntou pela janelinha.

Mas o cocheiro não respondeu.

Em vez disso… a porta da carruagem foi aberta.

E ali, parada, envolta em um manto escuro e capuz abaixado, estava uma mulher desconhecida.

Seu rosto era pálido. Os olhos, duros.

Os lábios, marcados com algo entre desprezo e pena.

— Você é a nova noiva. — disse ela, em tom neutro.

Isadora se encolheu para trás no banco.

— Quem é você?

A mulher não respondeu. Subiu um degrau e entrou na carruagem sem ser convidada.

— Você está indo direto para o altar com um homem que já matou o amor antes.

— Você fala de Adrien? — Isadora perguntou, tentando não demonstrar medo.

— Falo da mulher que ele trancou neste castelo até ela esquecer o próprio nome. Até o dia em que parou de respirar.

Isadora sentiu o sangue gelar.

— Você a conhecia?

A mulher sorriu, mas era um sorriso morto.

— Eu era irmã dela.

Silêncio.

O mundo pareceu girar.

— Você vai ocupar o lugar que ela odiava. Usar o nome que ela quis arrancar da pele. Dormir na cama onde ela chorou até morrer em silêncio.

Ela se inclinou.

— Você ainda pode voltar atrás.

— Não posso. — Isadora respondeu, com a voz embargada. — Há pessoas que eu preciso proteger. Se eu fugir, elas pagarão.

A mulher observou por alguns segundos.

Depois tirou algo do bolso.

Um anel.

— Ela deixou isso escondido no assoalho do quarto. Nunca foi enterrado com ela. Porque, no fundo, ela nunca quis pertencer aos Allencourt.

Ela deixou o anel cair no colo de Isadora.

— Se você sobreviver… jogue isso fora. Não carregue a alma dela com a sua.

A porta se abriu sozinha.

E a mulher desapareceu na névoa.

O cocheiro retornou, como se nada tivesse acontecido.

A carruagem seguiu.

Isadora segurava o anel entre os dedos trêmulos.

E, por um instante, quis saltar dali.

Correr para longe.

Mas o som dos sinos já ecoava à frente.

E a capela estava à vista.

Era tarde demais para fugir.

Mas talvez ainda não fosse tarde para resistir.

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Comments

Joelma Oliveira

Joelma Oliveira

senhoor! os mistérios só aumentam!!!!

2025-07-10

2

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Capítulos
1 Apresentação dos personagens
2 A ESCOLHA DO LOBO
3 SEGREDOS?!
4 PASSADO..
5 CASAMENTO.
6 A CEIA DOS SILENCIOSOS!
7 A CARTA!
8 O LUGAR ONDE ELA CAIU!
9 O NOME QUE AINDA ECOA.
10 CAPÍTULO 9.
11 LÁGRIMAS GUARDADAS.
12 ACORDAR EM TEMPESTADE.
13 VICTOIRE!
14 CAPÍTULO 13.
15 VENENO..!
16 CAPÍTULO 15!
17 PALAVRAS NÃO DITAS!
18 NEM TUDO SERÁ O FIM!
19 VINGANÇA!
20 NOVO LAR?!
21 CAPÍTULO 20!
22 CAPÍTULO 21.
23 A BUSCA!
24 HIDDEN PAIN!!
25 O BEBÊ!
26 ENTRE SANGUE E AMOR!!
27 NOVA HÓSPEDE/CIÚME!
28 CAPÍTULO 27!
29 CAPÍTULO 28!
30 VERDADES!
31 CAPÍTULO 30!
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66 CAPÍTULO 65!
67 CAPÍTULO 66!
68 CAPÍTULO 67!
69 CAPÍTULO 68!
70 CAPÍTULO 69! / A VERDADE!!
Capítulos

Atualizado até capítulo 70

1
Apresentação dos personagens
2
A ESCOLHA DO LOBO
3
SEGREDOS?!
4
PASSADO..
5
CASAMENTO.
6
A CEIA DOS SILENCIOSOS!
7
A CARTA!
8
O LUGAR ONDE ELA CAIU!
9
O NOME QUE AINDA ECOA.
10
CAPÍTULO 9.
11
LÁGRIMAS GUARDADAS.
12
ACORDAR EM TEMPESTADE.
13
VICTOIRE!
14
CAPÍTULO 13.
15
VENENO..!
16
CAPÍTULO 15!
17
PALAVRAS NÃO DITAS!
18
NEM TUDO SERÁ O FIM!
19
VINGANÇA!
20
NOVO LAR?!
21
CAPÍTULO 20!
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A BUSCA!
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HIDDEN PAIN!!
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