SEGREDOS?!

CAPÍTULO 3.

O quarto que Isadora recebeu era grande, alto, frio.

Tinha cortinas pesadas, uma lareira que nunca era acesa, e um espelho antigo onde sua imagem parecia pertencer a outra época. Ali, ela não era dama. Nem criada. Era apenas... isolada.

Os dias no castelo Allencourt passavam lentos, quase imóveis.

Adrien desaparecia por horas — às vezes dias.

Damon surgia e sumia como fumaça, sempre com frases que beiravam o deboche, sempre observando.

O único som constante era o relógio do saguão marcando o tempo.

E o tempo ali… era uma prisão invisível.

Até que, numa manhã, bateram à porta.

— Milady, — disse uma criada, evitando seu olhar. — Há uma visita.

Isadora franziu o cenho.

Ninguém a visitava.

Desceu as escadas em silêncio, com o coração inquieto — e parou quando viu o vestido azul claro, os cabelos loiros, os olhos cheios de saudade.

Eloise.

— Iza! — a irmã correu até ela, abraçando-a forte.

Pela primeira vez desde que entrou naquele castelo, Isadora sentiu calor.

— Você veio… — sussurrou ela, surpresa, a voz tremendo pela primeira vez.

— Claro que vim, — disse Eloise, sorrindo com ternura. — Você achou que eu ia deixar você se perder nesse lugar gelado?

As duas sentaram-se num dos jardins internos. O vento era frio, mas a presença de Eloise era como verão.

— Eles tratam você bem? — Eloise perguntou, olhando ao redor com desconfiança.

— Depende do que você chama de “bem”, — Isadora respondeu com ironia leve.

— E Adrien? Ele… é cruel com você?

Isadora pensou.

Cruel? Não com palavras.

Não com mãos.

Mas sim… com o silêncio.

Com a presença constante. Com o controle disfarçado de gentileza.

— Ele me observa como se fosse dele, — respondeu. — E age como se eu não tivesse escolha.

Eloise pegou sua mão com força.

— Então fuja. Eu levo você comigo agora,mamãe vai odiar, mas—

— Não posso.

— Por que não?!

— Porque esse casamento já é um jogo entre famílias, Eloise. Eu sou uma peça. Se eu fugir, o tabuleiro vira. E alguém sangra. Talvez você.

Elas se calaram.

Eloise, com lágrimas nos olhos.

Isadora, com raiva nos punhos.

Ambas sabiam que já não estavam mais no mesmo mundo.

Antes de ir, Eloise se virou.

— Prometa uma coisa.

— O quê?

— Não deixe que eles apaguem você, Isadora. Mesmo que tudo que reste seja cinza… lembre quem você é.

Isadora assentiu.

— Vellmont. Até o fim.

Eloise sorriu e logo foi embora com seus criados.

Mais tarde naquele dia.

A chuva escorria pela vidraça do quarto, como se o céu também tivesse desistido de resistir.

O vento sussurrava contra as pedras do castelo.

E Isadora, sozinha diante do espelho antigo, vestia o silêncio como um manto.

Os criados deixaram comida sobre a mesa. Ela não tocou.

O fogo na lareira não fora aceso. Ela não pediu.

Tudo nela ardia por dentro.

Ela fechou os olhos — e lembrou.

"Aquela noite..."

A música pairava leve no ar do salão dos Fontenelle.

Os vestidos giravam, as luzes brilhavam.

Isadora estava encostada em uma coluna, invisível como sempre.

Até que ele entrou.

Adrien.

Silencioso, mas com presença suficiente para fazer todos os outros parecerem sombras.

Ele olhou ao redor como um rei entre cortesãos… e a viu.

Seus olhos encontraram os dela.

E o salão inteiro pareceu sumir.

Isadora quis recuar. Fugir. Sumir.

Mas não conseguia se mover.

Quando ele se aproximou, todos abriram caminho.

Como se até o destino soubesse que aquela noite tinha dono.

E então, sem sequer se apresentar, ele disse:

— Você é Vellmont.

Ela não respondeu.

Ele apenas sorriu, frio.

— Então é você.

"A sala dos Fontenelle..."

Ela fora chamada como se fosse uma criada.

Mas ali, na frente da matriarca Fontenelle e daquele homem de pedra, tudo mudou.

— Você será minha esposa.

As palavras saíram da boca de Adrien como ordens, não como pedido.

— E se eu recusar? — ela ousou dizer.

— Você não pode.

E naquele momento, ela soube:

Não havia escolha. Não havia liberdade. Havia Adrien.

**

Isadora abriu os olhos de volta ao presente.

A chuva ainda caía.

Seu reflexo parecia mais pálido, mais duro.

“Ele tirou minha voz”, pensou.

“Mas não vai tirar quem eu sou.”

Ela caminhou até a janela, encostando a testa no vidro frio.

 “Se ele pensa que me possui… ainda não viu o quanto posso resistir.”

Mas lá embaixo, no pátio do castelo, Adrien Dorne a observava da varanda oposta, mãos cruzadas nas costas, como se soubesse exatamente o que ela pensava.

E mesmo a essa distância…

Ela sentiu.

Ele ainda a escolhia.

E não iria desistir.

Dois dias antes do casamento!

Era noite.

O castelo Allencourt parecia ainda mais vivo à meia-luz. As velas tremeluziam nos corredores, e cada som ganhava mais peso entre as pedras escuras.

Isadora caminhava sozinha, envolta num manto cinza que não a protegia do frio nem dos olhos que sentia nas costas.

Adrien estava ausente há dias.

E com sua ausência, veio o silêncio.

E com o silêncio… ele.

— Você realmente não sabe onde está se metendo, não é?

A voz surgiu como uma lâmina macia atrás dela.

Isadora se virou rápido.

Damon Asheroft estava ali — encostado à parede, braços cruzados, sorriso torto nos lábios.

— Está me seguindo? — ela perguntou, mantendo a compostura.

— Quem sabe. — Ele deu um passo à frente, calmo, perigoso. — Talvez estivesse curioso pra ver até onde você ousa andar sozinha neste castelo...

Isadora recuou um passo. Não por medo. Mas porque o olhar dele queimava.

— Se está tentando me assustar, vai ter que se esforçar mais.

— Ah, não quero te assustar. — Ele parou bem à frente dela. — Quero entender o que meu irmão viu em você.

Ele ergueu uma mecha do cabelo dela, analisando como se fosse uma joia curiosa.

— Você não tem sangue puro, não tem dote, não tem nome forte. Só tem… esse orgulho teimoso. Isso é o que atrai Adrien? — sussurrou.

Isadora agarrou o pulso dele, firme.

— Não sou sua distração, Damon. Nem sua curiosidade.

— Mas está aqui. No castelo dos Dorne. Dormindo sob o mesmo teto. Usando o nome que não devia. Sozinha. Fraca.

Ele se inclinou mais, os olhos nos dela.

A respiração dele era quente contra sua pele.

— Sabe o que eu acho, Isadora?

— Diga. — ela disse, gelada.

— Você vai acabar devorada… e nem sabe ainda quem será a primeira fera a morder.

Ele a soltou. Deu dois passos para trás e sorriu, satisfeito.

Mas antes de se virar, murmurou:

— Cuidado com meu irmão. Adrien quer o que não pode quebrar. E quando não consegue… ele destrói.

E então sumiu no corredor como uma sombra.

Isadora permaneceu parada ali, o coração descompassado, o corpo inteiro em alerta.

O castelo não era um lar.

Era uma cela.

E dentro dela, os monstros não estavam presos. Ela estava.

O corredor voltou ao silêncio, mas Isadora não conseguia respirar direito.

O toque de Damon ainda parecia marcado em sua pele — não pela força, mas pela

insolência.

Pela forma como ele a estudou, como se fosse uma moeda rara prestes a ser roubada.

Ela passou a mão pelos cabelos, tentando recuperar o controle.

Mas ali, no castelo dos Allencourt, controle era uma ilusão frágil.

Isadora se virou e continuou a caminhar.

Sem rumo. Sem destino.

Só sabia que não podia voltar para o quarto agora.

Não com aquele calor estranho ainda no corpo.

Não com aquele nome ecoando em sua mente.

“Adrien destrói o que não pode quebrar.”

As palavras de Damon martelavam com o vento.

E o castelo parecia ouvir.

Isadora subiu uma escada lateral, escondida atrás de tapeçarias antigas.

Era uma parte da ala leste que ainda não conhecia.

Ali o ar era mais frio.

Mais… esquecido.

Ela caminhou devagar. O chão rangia sob os pés.

As paredes estavam cobertas por retratos — homens e mulheres sérios, de olhos vazios.

Nenhum deles sorria.

Até que algo chamou sua atenção.

Uma porta entreaberta, de madeira escura, escondida atrás de uma cortina.

Isadora olhou ao redor.

Ninguém.

Ela empurrou a porta.

Dentro, havia um quarto abandonado.

O espelho coberto por um lençol branco.

O cheiro de flor seca.

E sobre a penteadeira… um broche com a insígnia dos Allencourt.

Ela o reconheceu.

Era o mesmo que Adrien usava em seus casacos.

Mas este era feminino.

Mais delicado.

Antigo.

Ela se aproximou e, ao tocá-lo, ouviu.

Um ranger.

Atrás dela…

A porta estava fechando sozinha.

— Você não devia estar aqui.

A voz a fez congelar.

Isadora virou-se devagar.

Adrien Dorne estava ali.

Sem casaca, sem luvas, com os olhos acesos como o fogo mais frio que ela já vira.

Ele entrou no quarto e fechou a porta atrás de si.

— Por que está aqui? — ele perguntou, a voz baixa.

Ela ergueu o broche.

— Quem era ela?

Ele olhou para o objeto. Ficou em silêncio por longos segundos.

E então respondeu:

— Minha esposa.

Isadora sentiu o sangue gelar.

— Aquela que dizem que…

— Morreu. — ele cortou. — É tudo o que precisa saber.

Mas algo em seu tom… não era dor.

Era raiva contida.

Como se o passado ainda estivesse vivo.

Como se alguém estivesse mentindo.

— Ela dormia neste quarto?

— Sim. Sozinha. — ele deu um passo à frente. — Assim como você tem dormido.

Isadora não recuou.

— Vai me isolar como fez com ela? Até desaparecer?

Adrien parou diante dela.

— Você não é ela. — disse. — Você luta. Você sangra. Você me olha nos olhos.

Ele ergueu a mão. Tocou seu queixo com um dedo.

— E é por isso que eu ainda te quero.

O coração de Isadora bateu com força.

Mas não por desejo.

Por medo.

Porque agora ela sabia:

O castelo guardava memórias.

E talvez, nem todas estivessem mortas.

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Joelma Oliveira

Joelma Oliveira

1° conversa depois de dias e é desse jeito! só tenha muito cuidado com esse cunhado... é fogo e confusão pura

2025-07-10

2

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Capítulos
1 Apresentação dos personagens
2 A ESCOLHA DO LOBO
3 SEGREDOS?!
4 PASSADO..
5 CASAMENTO.
6 A CEIA DOS SILENCIOSOS!
7 A CARTA!
8 O LUGAR ONDE ELA CAIU!
9 O NOME QUE AINDA ECOA.
10 CAPÍTULO 9.
11 LÁGRIMAS GUARDADAS.
12 ACORDAR EM TEMPESTADE.
13 VICTOIRE!
14 CAPÍTULO 13.
15 VENENO..!
16 CAPÍTULO 15!
17 PALAVRAS NÃO DITAS!
18 NEM TUDO SERÁ O FIM!
19 VINGANÇA!
20 NOVO LAR?!
21 CAPÍTULO 20!
22 CAPÍTULO 21.
23 A BUSCA!
24 HIDDEN PAIN!!
25 O BEBÊ!
26 ENTRE SANGUE E AMOR!!
27 NOVA HÓSPEDE/CIÚME!
28 CAPÍTULO 27!
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30 VERDADES!
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67 CAPÍTULO 66!
68 CAPÍTULO 67!
69 CAPÍTULO 68!
70 CAPÍTULO 69! / A VERDADE!!
Capítulos

Atualizado até capítulo 70

1
Apresentação dos personagens
2
A ESCOLHA DO LOBO
3
SEGREDOS?!
4
PASSADO..
5
CASAMENTO.
6
A CEIA DOS SILENCIOSOS!
7
A CARTA!
8
O LUGAR ONDE ELA CAIU!
9
O NOME QUE AINDA ECOA.
10
CAPÍTULO 9.
11
LÁGRIMAS GUARDADAS.
12
ACORDAR EM TEMPESTADE.
13
VICTOIRE!
14
CAPÍTULO 13.
15
VENENO..!
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NEM TUDO SERÁ O FIM!
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