Aruna
A noite caiu sobre Terridea, silenciosa e pesada, mas dentro de mim, o silêncio não existe. Rolo de um lado para o outro na cama feita de peles, o tecido já colado ao meu corpo por causa do suor que insiste em brotar, mesmo com o vento frio que entra pela fenda da tenda.
Estou queimando. Literalmente.
Minha respiração está descompassada, arfante, como se tivesse corrido por horas. Me sento de súbito, os cabelos colando no rosto úmido, o coração batendo em um ritmo que não entendo.
— O que é isso...? — sussurro, passando as mãos pelo rosto.
É como se algo dentro de mim estivesse vibrando, pulsando... Chamando.
Ou... respondendo. A ele.
Ao deus lobo diferente. Como se existisse um fio invisível entre nós, quente como brasa viva, apertando-se cada vez mais. Uma força que não compreendo, mas que não consigo — nem quero — resistir.
Me levanto. Nem penso. Apenas ajo. Como se meu corpo tivesse uma vontade própria.
Pego uma pequena tocha acesa próxima à entrada da tenda e saio correndo. A noite engole tudo ao redor, mas minhas pernas sabem o caminho. Não hesitam.
Elas o querem. Assim como todo o resto de mim.
A trilha da montanha se ergue escura, o céu começa a gritar em trovões ensurdecedores, como se os próprios deuses estivessem zangados.
Mas eu não paro. Não posso.
A tocha ilumina meu rosto em flashes trêmulos enquanto subo sem pausa. Quando os primeiros pingos grossos da chuva caem, o fogo morre num sibilo, e fico envolta apenas pela escuridão e pelos meus próprios pensamentos.
A pedra sob meus pés está escorregadia, e ainda assim eu sigo. Cada passo é impulsionado por algo muito mais profundo do que a razão. É instinto. Desejo. Ligação.
E então, chego.
O grande altar ancestral se ergue diante de mim, imponente mesmo sob a fúria da tempestade. Raios rasgam o céu e iluminam a antiga estrutura em tons fantasmagóricos.
Pelos deuses. Eu não devia estar aqui. Eu sei disso.
Mas já é tarde demais.
As luzes cintilantes surgem no ar como antes — pequenas faíscas dançantes que prenunciam a abertura entre os mundos. O ar fica denso. Elétrico.
E então... ele vem.
Mas não como um lobo. Desta vez vem, em sua forma celestial.
Meu corpo estremece ao vê-lo atravessar o portal dourado, como se o próprio ar reconhecesse sua presença. Ele é maior do que minha mente consegue processar.
Mas o que realmente me prende...
É o olhar.
Um olhar que me devora. Que me conhece.
Cada passo dele até mim faz o chão parecer tremer. O trovão ecoa ao fundo, a chuva despenca do céu em rajadas violentas, encharcando minha roupa, meus cabelos, meu corpo — mas eu não me importo.
Só vejo ele.
Ele para diante de mim, imenso, imponente... e real. Meus olhos se erguem até alcançar os dele, e apesar de tudo dentro de mim gritar que devo desviar, não o faço.
Minha tocha, agora apagada, escorrega de meus dedos e cai ao chão, produzindo um som pequeno e insignificante diante da magnitude do momento.
Ele se aproxima ainda mais.
Com dedos longos e fortes, toca suavemente meus lábios. A ponta gélida de sua pele contrasta com o calor que me consome por dentro. Meu corpo inteiro reage ao toque — não apenas fisicamente, mas espiritualmente.
Então, ele fala.
Sua voz é rouca, carregada de algo ancestral. Ela vibra dentro de mim como se não tivesse sido dita em palavras, mas em pulsos de energia.
— Eu senti você me chamar. — Sua mão permanece acariciando meus lábios, gentil, mas firme. — Seu corpo gritou pelo meu.
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Atualizado até capítulo 40
Comments
Elizabeth Paula
Mais por favor Aurora linda 🤩
2025-07-07
1
Lourdes Antonelli
autora pq só cinco capítulo quero mais ,,por favor posta mais estou gostando
2025-07-06
2
Cléo
/Plusone//Pray/
2025-07-07
0