...Clara Amorim:...
Esquentei mais um pouco de água para colocar no saco térmico. A cólica estava insuportável, e detalhe, nem estou nos meus dias. Pensando bem… estou atrasada faz mais de um mês. Já marquei uma consulta com minha ginecologista para amanhã. Ela recomendou repouso e compressa quente para aliviar as dores.
Essa cobertura era enorme, mas mesmo assim me sentia apertada dentro de mim mesma. Alfi, meu cachorro, dormia mais do que eu, encolhido na caminha macia do quarto enquanto eu me revirava na cama, tentando encontrar uma posição confortável.
O quarto estava gelado, como sempre, mas a bolsa térmica ajudava um pouco. Eu usava uma camisa do Alexandre — bem maior do que eu — e meias grossas para proteger do frio das cerâmicas. Em dias normais, estaria na empresa, trabalhando ao lado dele. Hoje, só conseguia resmungar de dor e desconforto.
Acabei pegando no sono. Não sei por quanto tempo dormi, mas acordei com mãos quentes tocando minha testa. Abri os olhos devagar e vi Alexandre sentado à beira da cama, me olhando com aquele olhar preocupado.
— Tá se sentindo melhor, linda? — ele perguntou, a voz num sussurro gentil, como se não quisesse assustar meu cansaço.
— Um pouquinho… — me sentei devagar, ainda tonta. — Acabei pegando no sono.
— O que foi que te derrubou assim? — perguntou, afastando delicadamente uma mecha do meu cabelo e colocando atrás da orelha. Seu toque era uma promessa de cuidado.
— Cólica. Muita cólica... — confessei com a voz baixa.
— E você não me falou nada, Clara? — ele disse, quase num tom de bronca doce. — Se tivesse me avisado, eu teria trazido remédios, chá, seus chocolates preferidos... qualquer coisa pra te ver melhor.
— É que… não tô menstruada, Alex. — falei, hesitante. Seus olhos arregalaram na hora.
— E... é normal sentir tanta dor assim, mesmo não estando nos seus dias?
— Eu costumava sentir quando a menstruação estava pra vir… mas já tem mais de um mês de atraso. — confessei, meio envergonhada. Não costumávamos falar sobre coisas femininas com tanta naturalidade, mas com ele, tudo parecia mais fácil.
Ele não se incomodou. Pelo contrário, olhou pra mim com ainda mais cuidado.
— Você já comeu alguma coisa hoje? — perguntou com aquela preocupação que me fazia sentir tão amada.
Neguei com a cabeça.
— Então faz o seguinte: toma um banho bem quente, relaxa, e eu vou preparar algo gostoso pra gente comer. E depois, se você quiser, a gente deita no sofá e assiste qualquer coisa que te faça esquecer essa dor, nem que eu tenha que decorar todos os episódios de alguma série boba.
Ele sorriu e beijou minha testa com ternura, como se aquele gesto pudesse me curar. E saiu do quarto.
E eu fiquei ali, com o coração derretendo, tentando entender como esse homem que entrou na minha vida pra ser só uma noite… virou abrigo.
Fui para o banheiro, deixando de lado as roupas que usava, e entrei debaixo da ducha quentinha. A água caiu sobre meus ombros como um alívio temporário. Enquanto passava o sabonete líquido pelo corpo, apoiei a mão sobre a barriga. Um arrepio me percorreu inteira.
Estava um pouco inchada. Talvez fosse só por causa da cólica forte… mas, no fundo, uma parte de mim se perguntava se poderia ser outra coisa. Eu não podia estar grávida… Eu tomava o anticoncepcional certinho, todos os dias no mesmo horário, e Alexandre não podia ter filhos.
Respirei fundo e tentei afastar aquele medo da cabeça.
Depois do banho, vesti um pijama de moletom macio, tentando me livrar do frio que insistia em me deixar arrepiada. E olha que eu já tinha desligado o ar-condicionado e ligado os aquecedores.
Caminhei até a cozinha. Alexandre estava lá, cozinhando como se fosse a coisa mais natural do mundo. Usava só uma calça de moletom cinza. Suas costas largas e definidas estavam expostas, e só de olhar meu peito se apertou. Me sentei na ilha da cozinha e ele se virou, revelando aquele peitoral que eu já conhecia tão bem.
— Tô fazendo macarrão com queijo ao molho — avisou, com aquele jeito calmo que sempre me desarmava. — Era a única opção mais rápida.
— Tudo bem — murmurei, sentindo o rosto esquentar.
— E tuas dores, melhoraram?
— Graças a Deus… tão fraquinhas agora, quase sumiram.
— Que bom — ele disse, soltando um suspiro discreto. — Como você não tava bem, só reforcei o suco de maracujá que a Francinete preparou hoje cedo. Pra ver se te ajuda a ficar tranquila.
Sorri, sem conseguir disfarçar.
Não tinha como não se apaixonar por esse homem. Essa era a versão dele que quase ninguém conhecia. Era a skin premium do Alexandre Monteiro, e eu tinha consciência de que não eram todos que podiam tocar essa parte tão boa dele.
Ele não tinha obrigação nenhuma de estar aqui. Afinal, nós éramos — ou pelo menos fingíamos ser — apenas um caso casual, feito de sexo e algumas noites quentes que sempre acabavam sem promessas.
Mas ele estava aqui. Cozinhando pra mim, cuidando de cada detalhe, mesmo tendo milhões de outras coisas mais importantes pra resolver.
Senti meus olhos se encherem de lágrimas quando ele colocou o prato à minha frente e ajeitou o copo de suco do meu lado.
Eu não era uma pessoa tão sensível assim, mas vê-lo desse jeito, tão genuinamente preocupado comigo, desmontou qualquer defesa que eu ainda fingia ter.
— Ei… — ele disse, a voz baixa, os olhos verdes presos nos meus. — Por que tá chorando, minha linda?
— Alex… obrigada — sussurrei, tentando conter o nó na garganta.
— Por fazer o mínimo? — ele perguntou com um sorriso pequeno, quase triste.
— Por cuidar de mim. Mesmo não tendo obrigação nenhuma… — respirei fundo, sentindo meu peito apertar. — Porque, no fim das contas, eu sou só… — engoli seco. Eu não sabia nem que palavra usar. Eu não queria dizer que era só a mulher que ele procurava quando queria se esquecer do mundo na cama.
— Para com isso, Clara — ele interrompeu, a voz firme e suave ao mesmo tempo. Ele se aproximou e segurou meu queixo com delicadeza, me obrigando a olhar pra ele. — Para de se martirizar assim. Eu tô aqui porque eu quero. Porque me importo com você. Não tenta diminuir o que existe entre a gente, por favor.
Meu peito doeu de um jeito doce. Ele se sentou na minha frente e se serviu também. Comecei a comer devagar, sentindo o gosto maravilhoso da comida. Era impossível negar: Alex cozinhava tão bem que até a dor parecia se distrair.
— Eu tenho um evento nos Estados Unidos — ele começou, mexendo no garfo antes de me olhar. — Um projeto importante vai ser apresentado, e você, como minha diretora de criação… bem, precisaria estar lá comigo. Mas… — ele fez uma pausa, o olhar mais suave — eu queria que fosse como minha acompanhante.
— Acompanhante? — ergui as sobrancelhas, surpresa.
— Sim — ele disse, dando de ombros, como se fosse óbvio. — Não quero chegar numa festa de alto padrão sozinho. Tenho certeza que vai ter mulher se jogando em cima de mim a noite inteira, e… — ele respirou fundo, olhando direto nos meus olhos — eu prefiro estar bem acompanhado. Com você.
Soltei um riso baixo pelo nariz, tentando disfarçar o jeito que meu coração disparou.
— Se você quiser, claro — completou, com aquela voz mais baixa que ele usava quando ficava meio sem jeito. — Está convidada.
— Quando? — perguntei, a boca ainda meio trêmula.
— Hm… esse final de semana. A gente pega o voo sábado de manhã. O evento é domingo à noite — explicou.
Eu assenti devagar. Ele sorriu, e aquele sorriso me deu a sensação estranha de que, por alguns instantes, não existia nada além daquela mesa, daquela cozinha, e daquele homem olhando pra mim como se eu fosse a única pessoa que importava.
— Obrigado — disse, baixinho, como se minha resposta tivesse sido mais importante do que qualquer negócio.
Depois do jantar, ajudei Alex a colocar a louça na máquina de lavar. Tudo parecia tão natural que por alguns minutos quase esqueci que, tecnicamente, éramos só um caso casual.
Quando terminamos, fomos juntos para o quarto. Ele se acomodou na cama comigo e aceitou assistir qualquer série boba que eu quisesse, sem reclamar, como se não tivesse nada mais urgente pra fazer no mundo.
Eu me aconcheguei no peito dele, sentindo seu corpo quente me envolver como um cobertor vivo. O coração dele batia calmo, num compasso que me deixava em paz.
Ali não havia maldade, não havia malícia. Não precisava. Era só cuidado, silêncio e uma presença que me fazia esquecer de tudo.
Dormimos assim. Como se aquilo fosse a coisa mais certa que já fizemos.
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Atualizado até capítulo 42
Comments
Fatima Sitta Vergueiro
com.certeza ela está grávida de Alex
2025-07-17
1
Anonymous
Pqp pena que vai acabar 😬
2025-08-02
1
Beah 💋
Deus se for da tua vontade tua filha está pronta 🙏🏻
2025-07-10
1