⚠️ esse capítulo por ser sensível para algumas pessoas, pois contém um gatilho delicado.
...Clara Amorim:...
Dizem que o tempo é relativo. Talvez seja mesmo. Ontem, a essa hora, eu estava morrendo de cólicas em casa, chorando por algum filme bobo enquanto abraçava meu saco térmico.
E hoje… hoje eu segurava nas mãos um exame de sangue com a palavra POSITIVO em negrito, como se quisesse gritar na minha cara.
— Isso é… possível? — perguntei, a voz saindo mais baixa do que eu pretendia. Eu não conseguia desviar os olhos do papel. — Meu parceiro é estéril…
— Oh… — doutora Estela arregalou os olhos, surpresa. — Bem… temos um caso raro, mas não impossível. Homens diagnosticados como estéreis podem, sim, engravidar uma parceira. É raro, mas acontece. No caso dele… aconteceu.
— Mas… — minha voz morreu no ar. Eu não sabia nem que pergunta fazer.
— Clara, você está de um mês e duas semanas — ela disse, com uma calma que parecia tão distante de tudo que eu sentia. — Como sua ginecologista, vou te encaminhar para a melhor profissional que conheço. Ela vai acompanhar você em todos os pré-natais e no parto. Doutora Maya Franklin é excelente tanto em obstetrícia quanto em pediatria.
Eu só conseguia encarar o papel, sentindo um frio estranho no peito.
Dá pra acreditar? Em um dia você é uma mulher realizando todos os seus sonhos. E no outro, está grávida do seu chefe. Do homem que, até ontem, tinha certeza de que nunca poderia ter filhos.
O que ele vai pensar de mim?
O que vão pensar de mim?
O medo começou a me corroer de dentro pra fora, me fazendo lembrar, contra a minha vontade, da garota que eu fui um dia. Aquela menina de dezessete anos, trancada no banheiro da escola, chorando em silêncio enquanto encarava outro teste positivo nas mãos e pensando no quanto minha vida estava arruinada.
Eu tinha sido ingênua. Tinha caído no papo de garotos mais velhos, tinha acreditado que aquilo era amor. No fim, tudo que restou foi humilhação. Porque além de corna, eu ainda tinha virado “a menina que engravidou”.
Mas aquela vida não durou muito. Talvez tudo seja mesmo premeditado e aconteça conforme as vontades d’Ele.
Talvez, dessa vez, não seja o mesmo roteiro.
Mas, naquele instante, tudo o que eu conseguia sentir era pavor.
Rubens me levou de volta pra casa. Assim que fechei a porta, só consegui largar minha bolsa no chão e me jogar no sofá.
O exame repousava na mesa de centro, encarando de volta como se quisesse me desafiar a fingir que aquilo não estava acontecendo.
Já eram três da tarde. A última mensagem de Alex ainda brilhava na tela do celular, perguntando se eu tinha comido alguma coisa. A comida que ele tinha mandado entregar — num gesto tão típico dele — já estava fria sobre o mármore da ilha da cozinha.
Alfi se sentou ao meu lado, silencioso. Colocou a cabeça no meu joelho, como se entendesse que sua dona não estava nada bem e que havia alguma coisa muito errada.
Peguei o celular.. Eu não tinha pra quem ligar, não tinha uma família pra desabafar, já que a minha me julgaria, tenho certeza. Não tinha amigas que sobraram da correria dessa vida. Mas, rolando a lista de contatos, meu olhar parou num nome.
Sarah.
Eu ainda tinha o número dela.
Sarah tinha sido minha melhor amiga no ensino médio. A primeira pessoa que soube da minha gravidez. A garota que me viu dar meu primeiro beijo. Aquela que segurou minha mão quando tudo parecia insuportável. Mas a vida adulta chegou feito um vendaval, e a gente deixou de se falar depois que ela casou com Erick Santos, ano passado. Eu fui madrinha do casamento, mas nossa amizade nunca mais voltou a ser a mesma por causa da distância. Ela se mudou pro Rio logo depois, mas voltou pra casa nos últimos meses.
Ainda assim, meu dedo apertou o ícone de chamada antes que eu perdesse a coragem.
Sarah: Alô? Oi, Clarinha. — ela atendeu com aquela voz doce que eu lembrava tão bem.
— Sarah, eu… — minha voz saiu falha, quebrada.— Que foi? Que voz é essa? — ela interrompeu, já séria. — Amiga, eu sei que a gente não se fala há uma porrada de tempo, mas ainda reconheço quando minha irmã de alma não tá bem.
Irmãs de alma.
Deus, que saudade eu tenho dela.
Saudade da nossa vida antes da vida adulta chegar e roubar tudo que a gente tinha de mais leve.
Sarah agora era mãe do Felipo, do Breno e da Mariáh. Uma mãe incrível, do jeito que sempre soube que ela seria.
— Eu… eu preciso conversar. Você tem um tempo? — perguntei, com a voz quase sumindo.
Sarah: As crianças foram pro CT com o Erick. A casa tá quieta. Podemos conversar sim.
— Quanto tempo você tem?
Sarah: Uma hora e meia. — a resposta veio firme.
— Eu chego aí em onze minutos. — falei, já me levantando.
Acariciei o pelo de Alfi, que me olhou com aqueles olhos que pareciam entender tudo. Respirei fundo e caminhei até o elevador, sabendo que, pelo menos por hoje, eu não ia precisar carregar esse peso sozinha.
...[...]...
Sarah e Erick tinham comprado uma casa linda perto da orla. O quintal era imenso, com brinquedos espalhados e um escorregador colorido no canto. Dentro, as paredes estavam cheias de porta-retratos das crianças — Felipo, Breno e Mariáh em todas as fases possíveis.
Eu contei tudo. Absolutamente tudo. Desde o dia em que Alexandre me contratou como diretora de criação, os projetos que construímos juntos, as reuniões intermináveis, os olhares que começaram a durar mais do que deviam, até aquela primeira noite em que tudo mudou.
Sarah ficou calada, escutando com atenção, o rosto sério. Nem uma interrupção, nem uma pergunta. E então, finalmente, eu respirei fundo e contei da gravidez.
— Eu não planejei isso, Sarah. Eu juro por Deus que não. — minha voz saiu trêmula. — Ele é estéril. Pelo menos… era o que sempre disse. E agora… agora eu não sei o que fazer. Eu não sei o que ele vai pensar de mim, o que as pessoas vão dizer…
Ela continuou em silêncio, olhando pra mim com aqueles olhos grandes que sempre pareciam enxergar além das minhas palavras.
— Fala alguma coisa — pedi, sentindo o nó na garganta subir de novo. — Por favor.
Sarah largou o copo na mesinha e se aproximou, segurando minhas mãos entre as dela.
— Eu vou te falar uma coisa que você provavelmente esqueceu — começou, com a voz firme e suave ao mesmo tempo. — Você é a mulher mais corajosa que eu conheço. Sempre foi. Você enfrentou tudo muito nova, você caiu e levantou sozinha. Você não tem que ter medo de ninguém agora. Nem dele. Nem da opinião dos outros.
— Mas… eu não sei como contar, Sarah. Eu não sei se ele vai achar que eu fiz de propósito, que eu… sei lá, que eu planejei pra segurar ele.
— Então você vai fazer o que sempre fez: vai contar a verdade. Vai sentar com ele, olhar nos olhos e dizer que não pediu por isso, mas que vai assumir a sua responsabilidade. E vai dar espaço pra ele decidir se vai ou nao ser homem de verdade e assumir essa criança.
Eu fechei os olhos, tentando conter as lágrimas.
— E se ele me virar as costas? — sussurrei.
— Então ele não merece nada do que você tem pra oferecer. — Ela passou a mão pelo meu cabelo, num carinho que parecia de irmã. — Você não tá sozinha, Clara. Eu tô aqui. Eu, o Erick, as crianças, seus pais...se você quiser, a gente vai estar com você em cada etapa. Mas não se esconda. Não tenha vergonha de viver isso. Você tá grávida, e isso não te diminui. Te faz mais forte.
Aquelas palavras foram entrando no meu peito devagar, como quem acende uma luz num cômodo escuro.
Por um instante, lembrei da menina de dezessete anos no banheiro da escola. Mas hoje… eu não era mais aquela menina.
— Obrigada — murmurei, a voz falhando. — Obrigada por ainda ser minha irmã de alma, mesmo depois de tudo.
eu — Eu sempre vou ser. — Sarah sorriu, os olhos marejados. — Agora vai lá e faz o certo. Sem medo.
Ela me aconselhou muito mais do que eu podia ter imaginado. Falou sobre força, sobre responsabilidade, mas também sobre esperança. Eu absorvi cada palavra, cada detalhe, como se precisasse anotar tudo na alma pra não esquecer quando o medo voltasse.
Eu sabia que não ia ser fácil. Nunca é. Mas, ainda assim, respirei fundo e decidi ali mesmo que pelo menos ia tentar. Não ia abrir mão dessa vida que estava crescendo dentro de mim. Já tinha perdido uma vez, e isso me marcou de um jeito que ninguém nunca entendeu por completo. Eu não ia deixar outro sonho escapar só porque estava apavorada. Não dessa vez.
Sarah também disse que os bebês sentem o que as mães sentem. E eu não queria que ele, ou ela, sentisse esse pavor, essa culpa, essa confusão que latejava no meu peito.
Não. Eu não ia deixar meu filho carregar esse peso junto comigo. Eu ia fazer diferente. Por ele. Por mim.
Eu ia ser corajosa.
.........
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Atualizado até capítulo 42
Comments
Alexsandra 😍
Qual será a reação dele
2025-07-04
2
Gislaine Duarte
já tô cm dó dela com antecipação 😢
2025-07-17
1
Aldeir Rodrigues
espero autora q ele não duvide q seja dele e faz exames pra comprovar q não é estéril
2025-07-04
4