...Alexandre Monteiro...
Rubens me avisou que Clara tinha ido até a casa de uma amiga. Isso me fez erguer as sobrancelhas, porque ela mesma já tinha dito que não mantinha amizades próximas. Mas não mandei mensagem perguntando, nem liguei. Resolvi respeitar o espaço dela.
Além disso, eu tinha pendências demais para resolver antes de sair da empresa. Estava na minha sala, revisando um projeto importante, quando duas batidas firmes ecoaram na porta.
— Pode entrar — disse, sem levantar o olhar dos relatórios.
— Você disse que sua namorada viria hoje, Alexandre — a voz fria de Luíza soou logo que ela cruzou a porta, com os braços enlaçados sobre o peito.
Ergui os olhos, inspirando fundo.
— Ela precisou ir ao hospital. Não estava se sentindo bem — falei num tom contido. — E você já não resolveu isso? Então, por favor, deixa Clara quieta.
— Não se trata de deixar quieta. — O tom dela soou ainda mais firme. — Trata-se do fato de que a sua… namorada… não respondeu nenhuma das mensagens que meu secretário mandou pra ela.
— Luíza, pelo amor de Deus… — levei a mão ao rosto, massageando a testa.
Ela me fuzilou com aqueles olhos azuis cristalinos que herdou de Angélica. Às vezes, era impossível não enxergar nossa madrasta nela. Mesma postura elegante. Mesmo ar de superioridade. Mesma frieza que congelava qualquer ambiente.
Luíza era praticamente uma cópia mais jovem da mãe, alta, magra, pele clara quase translúcida, cabelos castanhos lisos sempre caindo impecáveis pelos ombros.
Eu ainda lembrava de Angélica tentando empurrá-la para os desfiles de moda. Luíza, com dez, doze anos, sempre quieta, nunca questionava nada. Apenas fazia o que mandavam. Era a bonequinha perfeita, a marionete da nossa madrasta.
Talvez por isso hoje ela tivesse essa necessidade de manter tudo sob controle. Até mesmo a vida dos outros.
Mas, por mais que eu entendesse o que a tornou assim, não ia permitir que ela despejasse essa rigidez sobre nenhum de nós.
— Assim que ela estiver melhor, vai responder — finalizei num tom firme. — E se não for urgente, sugiro que a gente foque no que interessa.
Luíza apertou os lábios num traço fino e pareceu ponderar por um instante antes de falar:
— Você se envolve demais. Isso te enfraquece.
Eu a encarei em silêncio, sentindo aquela pontada incômoda que sempre vinha quando ela dizia algo assim.
— A vida não é uma negociação, Luíza — retruquei, finalmente. — E, se pra você é, talvez seja por isso que tudo precise parecer tão frio.
Ela não respondeu. Apenas virou nos calcanhares e saiu, deixando a porta se fechar com um clique suave que soou alto demais na minha cabeça.
Suspirei e apoiei as mãos na mesa. Por mais que ela me tirasse do sério, eu sabia que, no fundo, cada um de nós carregava cicatrizes demais pra saber amar direito.
Deixei tudo que estava fazendo e resolvi subir pro terraço. Era o único lugar onde eu realmente me encontrava, como se lá em cima minha mãe ainda estivesse comigo. Peguei o elevador, precisando daquele silêncio que só o céu sabia dar.
Quando as portas estavam quase fechando, ouvi um gritinho:
— Tio Alex!
Segurei o elevador e vi Alice correndo com o uniforme azul e a mochila balançando nas costas.
— Pra onde você vai? — perguntou, ofegante, com aqueles olhos grandes curiosos.
— Pro terraço — respondi, soltando o botão.
Ela arregalou os olhinhos.
— A mamãe diz que lá é perigoso. Que não pode ir pra lá.
Sorri, me abaixando pra ficar na altura dela.
— É perigoso se você for sozinha, meu amor. Mas se tiver com alguém responsável, não tem perigo nenhum.
Ela pareceu pensar um instante, avaliando se aceitava meu argumento. Quando assentiu, dei a mão pra ela e esperei que o elevador chegasse ao topo.
Assim que a porta se abriu, Alice arregalou os olhos e soltou um suspiro:
— Uau… A vista é linda, titio!
— É, é linda mesmo. — Apertei de leve a mãozinha dela. — Vem cá.
Caminhamos até o parapeito. Eu a ergui no colo com cuidado, pra que ela pudesse ver a cidade toda lá embaixo. Alice abriu um sorriso banguela que sempre derretia meu coração.
— Às vezes eu venho aqui conversar com a sua vó — contei, com a voz mais baixa.
— A vovó estrelinha? — perguntou, olhando o céu claro.
— É… a vovó estrelinha. — Respirei fundo. — Eu vejo ela em cada céu bonito. Principalmente no pôr do sol. Eu converso com ela e quase sempre falo de você. Conto que você trouxe luz pra nossa vida… e o quanto ela ia te amar se estivesse aqui.
Alice encostou a cabecinha no meu ombro.
— Eu queria ter conhecido ela — disse baixinho, com aquela sinceridade pura que só criança tem.
— Eu sei, princesa. Mas tenho certeza que foi ela quem mandou você pra gente. — Beijei a testa dela. — Pra alegrar nossa família.
Ela ficou quietinha, observando a vista. Até que soltou, quase num sussurro:
— Mas eu não alegrei a tia Luíza…
O coração apertou. Segurei o rostinho dela e a fiz olhar pra mim.
— Ei. A tia Luíza paga de durona, mas por dentro tem um coração enorme. — Falei com calma. — Ela te ama muito, só não sabe demonstrar direito às vezes.
— Você acha mesmo? — Os olhos âmbar brilharam.
— Eu tenho certeza. — Sorri. — Ela só precisa de um tempinho. Mas um dia, você vai ver, ela vai te dar tanto abraço que você nem vai conseguir contar.
Alice riu baixinho, encostando outra vez no meu ombro.
...[...]...
Dirigi até a cobertura de Clara já passava das sete e pouco. No caminho, parei no restaurante favorito dela e pedi seu prato preferido.
O porteiro me cumprimentou com a cabeça quando entrei. Subi até a cobertura e assim que a porta se abriu, Alfi veio correndo abanando o rabo, língua pra fora, todo feliz por me ver.
— E aí, garotão? — passei a mão na cabeça dele, sorrindo. — Cadê sua mãe, hein?
Joguei uma bolinha pro canto da sala e ele disparou atrás, frenético. Deixei as sacolas na mesa.Subi as escadas em silêncio, sentindo um peso no peito que eu não sabia explicar.
Quando cheguei ao quarto, vi as portas da sacada escancaradas, deixando o vento gelado entrar. Hoje estava frio pra caramba, mas Clara estava lá fora, sentada numa poltrona com o olhar perdido no céu escuro.
— Oi… — falei, me aproximando. — O que você tá fazendo aqui nesse frio todo?
Ela demorou um instante antes de responder, a voz quase sumindo no vento:
— Vim respirar um pouco de ar puro.
— Você foi visitar uma amiga hoje? — perguntei, puxando outra cadeira e sentando ao lado dela.
— Fui… — Ela respirou fundo. — Uma amiga antiga. Precisava de uns conselhos.
— Tá se sentindo melhor? — insisti, tentando decifrar seu semblante.
Ela apenas assentiu, sem muito convencimento. O silêncio se prolongou até ela virar o rosto e finalmente me encarar.
— Alexandre… a gente precisa conversar.
Meu peito apertou.
— Claro — respondi baixo. — Mas… vamos lá pra dentro? Não quero que a gente pegue uma hipotermia aqui fora.
Ela concordou. Entramos. Eu fechei as portas da sacada e puxei as cortinas. Clara caminhou até o closet e voltou segurando um papel. O jeito que ela andava… parecia que o chão podia desabar a qualquer segundo.
Eu a olhei, preocupado. Será que algum exame tinha dado algo ruim? Um diagnóstico sério?
Ela parou na minha frente e estendeu o papel, a mão tremendo. Peguei e li devagar. O logo da clínica, algumas linhas técnicas… e ali no meio, em negrito, a palavra que saltou aos meus olhos:
POSITIVO.
Mas não dizia positivo pra quê. Eu ergui o olhar, confuso.
— Positivo pra quê? — perguntei, sentindo o coração disparar. — Você tá doente?
Ela respirou fundo, engolindo seco antes de falar:
— Eu tô grávida, Alexandre.
Fiquei olhando pra ela. Não entendi. Não podia ser.
— O quê?
— Eu tô grávida — repetiu, baixinho. — De um mês e meio.
Meu peito se apertou de um jeito que me deu náusea. Ela não podia estar grávida. Não de mim. Porque…
— Eu sou estéril, Clara.— minha voz saiu rouca.
Ela ergueu os olhos, cheios de uma angústia que eu nunca tinha visto ali. Parecia genuína, tão vulnerável que me deu vontade de puxá-la pra perto. Mas tudo que eu conseguia pensar era no passado, no golpe, na desconfiança que sempre voltou pra me assombrar.
Eu lembrava perfeitamente da última vez. Uma mulher que jurou que estava grávida de mim, dizendo que era o grande amor da vida dela. Quando eu contei que era estéril, ela implorou por exames. Fiz todos. E, claro, o filho não era meu. No fim, tudo que ela queria era dinheiro pra sustentar a própria vida.
E agora… aquilo estava acontecendo outra vez?
Olhei pra Clara, meu peito fervendo entre a incredulidade e uma pontada amarga de decepção que eu odiava sentir.
E, mesmo assim, por um segundo, algo em mim queria acreditar nela.
.........
...Oiiie, é necessário que ele não acredite nela no início para coisas boas e mocinho arrependido vir aí. Mas calma, vai dar certo!...
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Atualizado até capítulo 42
Comments
É a Yas 💅🏻
calma amor pra que isso
2025-07-10
0
Fatima Sitta Vergueiro
como ja aconteceu uma vez talvez vai ficar c difícil para Clara
2025-07-17
1
Ireki Gaiwyko kaiabi
Confio em vc autora, continue
2025-07-05
3