O hospital Santa Vita cheirava a desinfetante vencido e a resignação. No quarto 212, a luz fluorescente piscava em intervalos irregulares, lançando sombras nas paredes de azulejo branco já amarelado pelo tempo. O ar era seco e morno, como se os corredores engolissem qualquer traço de esperança.
Maelys estava sentada ao lado da cama, segurando a mão do pai. A televisão do quarto passava um programa de notícias com o volume baixo, mas ela não ouvia nada. A cabeça pesava. O corpo doía. Mas ela permanecia ali, firme, com os olhos fixos no monitor cardíaco que apitava devagar, compassado.
O pai dormia, o rosto pálido e afundado no travesseiro. A respiração era irregular, mas calma.
Ela não sabia quanto tempo ficou ali sem se mover. Só percebeu que alguém havia entrado quando sentiu o perfume.
Não era de hospital. Nem de corredor sujo. Era sofisticado, discreto… familiar.
Quando ergueu os olhos, o coração deu um salto.
Ciro Alvarén estava parado na porta, vestido com um sobretudo escuro, o cabelo perfeitamente penteado, mas sem a gravata, sem o terno habitual. Apenas ele. Impecável, como sempre. E, ainda assim, estranhamente fora de lugar.
Ela se levantou num sobressalto.
— O que está fazendo aqui?
Ele caminhou lentamente até o meio do quarto, com as mãos nos bolsos do casaco. Não havia arrogância no olhar dele naquele instante. Apenas um tipo estranho de atenção.
— Você não foi trabalhar. E eu… quis saber como seu pai estava.
Maelys o encarou como se ele fosse um quebra-cabeça com peças trocadas.
— Isso não é papel do meu chefe.
— Não sou só seu chefe.
— Não mesmo. — Ela cruzou os braços. — Mas ainda assim, o que exatamente você está tentando com isso, senhor Alvarén? É algum tipo de gesto ensaiado? Uma forma de suavizar a sua imagem?
Ele a olhou, e por um instante, não disse nada. Depois, respirou fundo.
— Você acha que tudo em mim é estratégia.
— Porque tudo sempre parece ser.
Ele desviou o olhar para o pai dela, deitado na cama. A fragilidade daquele corpo contrastava com tudo o que ele conhecia. E, mesmo assim, havia ali uma dignidade incômoda. Algo que ele não sabia nomear. Talvez fosse isso que o havia feito sair de casa e atravessar a cidade: a vontade de entender o que movia Maelys. O que a mantinha de pé, mesmo quando tudo ao redor ameaçava desabar.
— Não vim para te comprar, Duarte — ele disse, por fim. — Nem para te comover. Vim porque... você me tirou do eixo. E eu odeio não entender o que me desestabiliza.
Maelys piscou, confusa. As palavras dele pareciam sinceras demais. Intensas demais. Humanas demais.
Antes que ela pudesse responder, a porta se abriu novamente.
— Maelys? — disse a médica, entrando com uma prancheta nas mãos. Era uma mulher alta, elegante, de cabelos presos e olhos atentos. — Preciso revisar os exames do seu pai e discutir com você uma possível transferência de unidade…
Ela parou ao ver Ciro. Por um instante, a postura dela mudou.
— Senhor Alvarén?
Maelys franziu o cenho, surpresa com a familiaridade.
Ciro deu um leve aceno de cabeça, contido.
— Doutora Inara.
— Faz tempo. — O sorriso dela foi discreto, quase profissional demais. — Não imaginei encontrá-lo aqui.
— Nem eu.
Maelys olhou de um para o outro, e a suspeita lhe subiu como uma brasa pela garganta.
— Vocês se conhecem?
— A doutora Inara já prestou consultoria médica à nossa fundação. — Ciro respondeu antes que a médica pudesse dizer algo mais. — Nada relevante.
Mas Maelys percebeu que havia mais naquela história do que ele dizia. Havia uma história ali, talvez uma daquelas que ele mantinha trancadas como contratos confidenciais.
— Maelys — disse Inara, tentando retomar o foco —, se puder me acompanhar até o posto, posso te mostrar os novos exames.
Ela assentiu, ainda desconfiada. Antes de sair, virou-se para Ciro.
— Não sei o que está tentando. Mas não quero confusão na minha vida, senhor Alvarén. Meu mundo já é complicado o bastante sem jogos de gente rica.
Ele a olhou. Havia cansaço nos olhos dele. Ou talvez fosse algo mais próximo de frustração.
— Talvez seja por isso que eu estou aqui. Porque seu mundo não gira ao redor de apostas.
Maelys não respondeu. Apenas saiu com a médica.
Ciro ficou no quarto por mais alguns minutos. Olhou para o homem adormecido na cama, depois para a cadeira onde Maelys estivera sentada por horas. Havia marcas de dedos na xícara de isopor sobre a mesa, uma pasta com exames manuseada ao ponto de estar desbotada nas bordas. A vida dela não era uma vitrine. Era real. Crua. Feita de renúncias.
E pela primeira vez em anos, ele sentiu vergonha de si mesmo.
A aposta começava a pesar como um erro que ainda não se permitia admitir.
Horas depois, Maelys voltou ao quarto e o encontrou vazio. Ciro havia partido. Apenas um bilhete restava sobre a mesa, escrito com a mesma letra firme que ela reconhecia dos contratos.
"Seu pai é um homem forte. Como você."
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Atualizado até capítulo 56
Comments
Danielle Pereira
concerteza ele já comeu a vagabunda da médica esses homens são todos iguais podre e nojento 😝 😝
2025-07-04
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Danielle Pereira
tomará q ela não se apaixonar por ele pois ele não prestar
2025-07-04
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bete 💗
❤️❤️❤️❤️❤️
2025-07-03
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