— Como é? — Isabela encarava Marina com as sobrancelhas erguidas, a pasta nas mãos e o coração acelerando antes mesmo de saber os detalhes.
— A filial de Campinas está com problemas sérios no contrato com fornecedores. Dante decidiu resolver pessoalmente. E quer que você vá junto — disse Marina, como se fosse a coisa mais natural do mundo.
— Mas por quê? Não sou advogada ainda. Estou só estagiando.
— Você tem sido eficiente. Ele confia na sua leitura de cláusulas e quer alguém que conheça o contrato original.
— Ou ele só quer me provocar de perto.
Marina sorriu de lado.
— Os dois podem ser verdade.
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O carro executivo preto a aguardava na frente do prédio às seis da manhã. Isabela respirou fundo antes de abrir a porta. Usava calça social escura, blusa bege de manga comprida, salto baixo e cabelo preso em um coque prático. Na cabeça, o mantra: "Profissionalismo acima de tudo."
Dante já estava no banco traseiro, com o celular na mão e os olhos cravados na tela. Quando ela entrou, ele levantou o olhar lentamente.
— Pontual. Gosto disso.
— Eu sou uma profissional. Não uma celebridade — respondeu ela, colocando a bolsa no colo.
— Ainda bem. Já tenho o suficiente disso no espelho.
Ela se controlou para não sorrir. Ele adorava provocar.
— Qual o objetivo da viagem? Preciso saber se haverá reuniões ou apenas avaliação documental.
— Reunião com diretoria local, revisão de documentos e uma visita à nova estrutura física. Tudo no mesmo dia. Retornamos amanhã.
— Dormir lá?
— Infelizmente, sim. A reunião vai terminar tarde. Reservei dois quartos no hotel parceiro da empresa.
Isabela assentiu e pegou o tablet para revisar os relatórios. O silêncio se instalou, mas não era confortável. Era carregado. A tensão entre eles pulsava como eletricidade suspensa no ar.
Por várias vezes, ela sentiu os olhos dele sobre si. Mas não desviou o foco. Ela precisava manter o controle. Ele podia ser charmoso, magnético e ter aquele sorriso irritantemente sexy, mas ela não era uma distração fácil.
— Está nervosa? — ele perguntou após quase uma hora de estrada.
— Não.
— Sempre tão confiante. Gosto disso.
Ela fechou o tablet devagar.
— Por que sempre faz isso?
— Isso o quê?
— Tenta me desequilibrar. Fica jogando essas frases de efeito, como se estivesse testando meus limites.
Dante deu um leve sorriso.
— Porque você é difícil de ler. E eu gosto de desafios.
— Não estou aqui pra ser seu quebra-cabeça. Estou aqui pra trabalhar.
Ele assentiu.
— E faz isso muito bem. Mas será que sabe se divertir?
Ela o encarou com um olhar cortante.
— Eu me divirto sozinha. Não preciso de homens com ego inflado pra isso.
Dante riu, surpreso com a resposta.
— Justo. Mais um ponto pra você.
Ela voltou ao tablet e ignorou o olhar que ele manteve sobre ela por mais tempo do que o necessário.
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A reunião na filial foi longa e tensa. Isabela anotou tudo, sugeriu alterações com segurança e, mais uma vez, impressionou até os gestores mais experientes. Ao fim da tarde, recebeu elogios discretos de dois diretores locais e um agradecimento formal do coordenador jurídico.
Enquanto voltavam ao hotel, Dante caminhava ao lado dela.
— Você é rápida. Consegue prever onde o problema vai surgir antes mesmo de acontecer.
— É isso que bons advogados fazem.
— Está quase pronta pra ser uma.
— Só falta o diploma.
— E você vai pegar o mercado desprevenido.
Isabela sentiu um pequeno calor subir pelas bochechas. E odiou isso.
— Obrigada. Mas prefiro mostrar do que ouvir elogios vazios.
— Não são vazios. Eu não costumo elogiar ninguém.
Ela parou diante do elevador do hotel e virou-se de frente para ele.
— Não me elogie. Me respeite. Isso basta.
Os dois entraram no elevador em silêncio. Quando as portas se fecharam, o clima ficou ainda mais denso.
Dante se encostou na parede e cruzou os braços, observando-a como se tentasse decifrar algum código secreto.
— Sabe o que eu acho mais interessante em você, Isabela?
Ela não respondeu.
— Você se controla tanto, que parece ter medo de... se perder.
— Eu gosto do meu controle — respondeu sem hesitar. — E detesto quem tenta tirá-lo de mim.
Dante sorriu com os olhos.
— Eu não tento tirar. Só gosto de ver até onde ele vai.
A porta se abriu no oitavo andar. Cada um seguiu para um quarto diferente.
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No quarto dela, Isabela largou a bolsa sobre a cama e desabotoou lentamente a camisa social. Olhou-se no espelho por alguns segundos e passou as mãos no rosto.
Ela estava cansada. Exausta, na verdade. Mas o que mais a perturbava era a presença de Dante. Ele a testava, mas também despertava algo que ela não queria admitir.
Pegou o celular e digitou uma mensagem para Renata.
Isabela: “Me manda um meme idiota. Preciso rir. Passei o dia inteiro ao lado de um problema de controle emocional.”
Renata: “Dante Ferraz?”
Isabela: “Como você adivinha tudo?”
Renata: “Porque você nunca foi abalada por ninguém antes. Ele te irrita e te intriga. Cuidado.”
Isabela: “Tô sendo profissional. Só isso.”
Renata: “Só não deixa o jogo virar contra você.”
Ela bloqueou o celular e se jogou na cama. Precisava descansar. Tinha certeza de que o dia seguinte seria ainda mais desafiador.
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Na manhã seguinte, durante o café no restaurante do hotel, Isabela escolheu uma mesa no canto e se serviu de frutas e café preto. Quando Dante entrou, usando jeans escuro e camisa de manga dobrada, com um café nas mãos, ela sentiu o ar ao redor pesar de novo.
Ele se aproximou e, sem pedir permissão, sentou-se à sua frente.
— Dormiu bem?
— O suficiente.
— Sonhou comigo?
Ela ergueu os olhos lentamente.
— Sim. E você estava sendo processado por assédio moral.
Dante gargalhou, atraindo olhares ao redor.
— Definitivamente, você é minha pessoa favorita na empresa.
— Isso diz muito sobre o ambiente de trabalho que você criou.
Ele bebeu o café e ficou a observá-la em silêncio por um momento.
— Sabe, você é tão dura por fora que até esquece que pode ser leve.
— E você é tão acostumado a ser o centro de tudo que esquece como é ser ignorado.
Eles se encaram por longos segundos. Uma batalha silenciosa de vontades. De vontades não ditas.
— Vamos? — ele disse, levantando-se.
— Vamos — respondeu, mantendo a postura firme.
E, mesmo sem toque, sem romance, sem nenhum gesto explícito, o clima entre eles era um campo minado. A cada troca de olhar, uma explosão sutil. A cada provocação, uma faísca.
E o jogo... estava apenas começando.
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Atualizado até capítulo 42
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